terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Espaçonave Orion - MZ-4 Não Responde

Ficção científica. Esse foi o motivo que me levou a comprar esse pequeno livro. Imaginei que fosse um conto curto e provavelmente despretensioso, provavelmente do gênero hard-scifi, com escafabdros e sem viagens à velocidade da luz.

Me enganei redondamente.

Depois de ler o primeiro capítulo eu sabia que tinha entrado em uma daquelas séries de livros de ficção no melhor estilo Perry Rhodan. Pesquisando, depois, descobri que era quase isso.

A série Espaçonave Orion - escrita pelos mesmos autores da série Perry Rhodan - chegou a ter 145 volumes publicados em alemão. Desses, doze foram publicados no Brasil pela Ediouro. 


Basicamente, a história não tem nada de inovador. A tripulação da espaçonave Orion é a mais ousada e entrosada de todas e tem uma queda para a rebeldia. 


A tripulação é formada pelo Capitão Cliff McLane, uma versão do Capitão Kirk da Entrerprise com poucas diferenças (mulherengo, passional e competente). Além dele, a tripulação é formada por Atan Shubashi, o astronavegador, Helga Legrelle, especialista em vigilância espacial - basicamente a moça do radar -, Mario de Monti, o segundo em comando e especialista em computação e Hasso Sigbjörnson, gênio da engenharia. A esse grupo se junta a oficial Tamara Jagellovsk, agente da segurança que é colocada na nave para se assegurar que a tripulação da Orion ande na linha. É a tipica garota-bonita-sem-noção-da-realidade que só fala bobagem e cujas idéias são sempre muito ruins, mas cujas ordens devem ser seguidas.

Não, a nave não conta com um médico!



A trama básica é simplista: A Orion é colocada sob vigilância depois de uma besteira durante uma missão bem-sucedida, e é colocada "de castigo" em um ponto de vigilância num setor espacial onde nada acontece. Mas, claro, alguma coisa acontece! A estação espacial MZ-4 não responde às tentativas de comunicação, e a tripulação vai investigar. Daí temos alienígenas hostis, atos heroicos e muitas confusões. Típico livrinho "sessão da tarde". Não fiquei nada interessado em ler o resto da série... 


Em tempo: A série é da década de setenta - provavelmente tendo sido publicada até a década de oitenta - mas ainda assim eu considerei a leitura muito ruim. Muita 'linguagem técnica' pra não precisar explicar detalhes sem sentido, muitas idéias esquisitas - como a nave usar auto-propulsão gravitacional! que diabos é isso?! - e conclusões scooby-doo por todo o livro. 


enfim!

Pode ser que essa série seja um cult e eu esteja sendo precipitado em julgar a série toda pelo primeiro número, mas definitivamente a leitura não me atraiu nem um pouco. 

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Musicas que me fazem chorar

Mudando um pouco o foco da conversa, decidi falar um pouco sobre música.

Mas não quero vomitar meu gosto musical em ninguém, e não costumo ter interesse em ficar reverenciando o prodígio desse ou daquele músico/banda. Também não sou um grande conhecedor de música, não tenho conhecimento de teoria musical e nem conheço todas as classificações dentro de cada sub-tipo de cada categoria de música - na verdade, eu geralmente nem sei como classificar a maior parte das bandas que ouço!

Eu ouço muita música, porém. Via de regra como barulho de fundo pra trabalhar, as vezes pra ler. As vezes eu simplesmente sento com um cigarro e um café pra ouvir 'aquela' música.

E creio que todos tem aquelas músicas favoritas. Aquelas que lembrar de momentos importantes, ou que te fazem sentir de uma determinada maneira, relembrando ou incutindo um sentimento, seja por ter uma memória vinculada, seja pela musica em sí, simplesmente.

No meu caso, há cinco singelas musiquinhas que me fazem chorar.Cada uma delas por seus motivos particulares. Não são minhas músicas favoritas, e eu poucas vezes as escuto - não tenho vocação pra masoquista... - mas elas tem um lugar todo especial no meu coração.

Bueno, sem mais delongas, vamos à viagem!


Primeiro, Do The Evolution, do Pearl Jam. Não é uma das minhas bandas favoritas, e eu raramente escuto, na verdade - só quando outra pessoa bota pra tocar. Mas essa música, e esse clipe... Isolados, eles não me afetam. Mas ouvir a letra, a melodia, e ver a representação visual de todo o mal que o homem pode fazer à sí próprio... Eu choro pela minha humanidade cruel sempre que assisto o clipe.



Ayreon foi uma grata surpresa pra mim. Eu sou um fã de ficção científica, e o album Universal Migrator tem algumas excelentes faixas para 'embalar' leitura desse gênero. My House on Mars é uma delas. Infelizmente... Ela me faz chorar, e muito! Na minha opinião, essa é a música que mais perfeitamente sintetiza o sentimento de solidão. Ela conta a história do último humano que sobreviveu depois de uma grande guerra que dizimou a humanidade como um todo. Em seu leito de morte, ele reflete sobre as pessoas que o deixaram para trás, sobre as coisas que não pode vivenciar e sobre a solidão que sente. E o clipe (fanmade) é perfeito pra música.



Do mesmo album, Temple of The Cat é uma coisa linda! A voz de Lana Lane é absurdamente clara, limpa, harmoniosa. Ela é uma sacerdotisa maia indo para o templo do deus Jaguar, e está feliz. Mas nos sabemos o que acontece depois. E essa música me lembra dos deuses mortos, e de seus adoradores esquecidos. É uma ode à felicidade perdida, ao fim de civilizações e a morte da fé.
O vídeo em sí é bem ruim, mas como tinha a letra inclusa, achei válido.



I'll be my Mirror do projeto 8in8 é uma dessas músicas que te fazem pensar em todas aquelas coisas que tu é capaz de odiar em sí próprio. Na minha visão, essa é uma versão destilada e concentrada de Weird do Radiohead. Quem se identifica com aquela música, vai se identificar com essa - provavelmente!
O clipe é fanmade, e não é nada de espetacular. Mas eu tenho uma queda por desenho, então escolhi este!



Finalmente, mas não menos importante, uma música que eu 'ganhei' como uma espécie de declaração. E eu descobri, desde então, que não consigo ouvir sem chorar, imaginando se tudo isso pode mesmo ser real pra sempre, se tudo pode ser mesmo tão bom outra vez.



E assim termina essa lacrimosa viagem musical - ao menos até que novas canções sejam adicionadas à essa lista!

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

V for Vendetta


Ganhei essa edição de aniversário. Ganhei de um daqueles amigos que, mesmo quando se tornam distantes, ainda parecem sempre próximos. E que só precisam compartilhar com a gente um par de cervejas pra começar a rir com piadas ruins e fazer comentários sobre as moçoilas pedaçudas que passam pela rua.

Ou falar sobre a vida, o universo e tudo o mais.

Eu já tinha lido V de Vingança alguns anos atrás, bem antes de qualquer idéia de que o filme seria feito. Na época, eu lia HQs pela história e pela arte de forma auto-contida. Uma boa HQ era uma obra que continha, em sí própria, tudo o que precisava para ser uma boa história. A maior parte das HQs pode ser avaliada assim: O universo da história é verossímil? O roteiro tem elementos necessários pra valer o papel gasto na impressão? Vale como HQ, ou os quadrinhos podiam ser simplesmente tirados e a história ficaria igual? O desenhista se ajusta ao estilo da narrativa?

A maioria.

Mas V for Vendetta é uma dessas excessões felizes à regra.

Considerando todos os elementos acima, V for Vendetta é uma boa história. Só boa. Foi isso que eu achei na época em que li pela primeira vez. O climax parece estar no lugar errado, ou não possui todo o impacto que deveria ter, e o final é um anti-clímax total. Claro, isso se considerarmos a história em seu pequeno universo auto-contido.

Mas reler essa história hoje foi uma experiência muito diferente. Porque de dez anos pra cá, eu lí muito, eu refleti muito sobre a sociedasde, eu vi e ouvi coisas. Eu envelheci, enfim. E é necessário estar velho pra entender V for Vendetta e todas as suas implicações. É preciso ser capaz de ver o quadro todo da nossa sociedade pra entender a história por completo, creio eu. E isso demanda tempo.

Mas estou divagando, penso eu.

Acho que estou ficando velho...

Enfim!

A história todos já conhecem, afinal eles fizeram um filme... Mas como eu lembrava, o final da HQ é tão completamente diferente, que a idéia toda se perde graças ao final (quase literalmente) Scooby-Doo do filme. Excesso de grandiosidade, penso eu. Em Hollywood, tudo precisa ser grandioso. Mas o final "pequeno" e "humilde" da HQ dá um gosto muito mais forte de mudança do que o final monstro do filme.

E, claro, a arte de David Loyd é muito mais espetacular que qualquer produção hollywoodiana jamais será.

É interessante (e amedrontador) observar que estamos muito próximos da sociedade da HQ, hoje. Não tenho idéia de como um autor consegue extrapolar esse tipo de coisa, mas definitivamente Alan Moore fez isso com perfeição cirúrgica. Essa não é uma HQ oitentista. É uma HQ contemporânea. E será ainda mais daqui há dez anos!

O problema todo é que eu não consigo conceber um "V" no nosso mundo...

Recomendo que todos que tenham a oportunidade de ler V for Vendetta (sim, a minha edição é em inglês; eu não sou tão preciosista a ponto de usar o nome original dos livros e HQs que leio, se eu li em português) que o façam.

Depois podemos sair e tomar umas cervejas, rir de piadas ruins e comentar sobre aquelas moçoilas pedaçudas.

E esquecer as questões sobre esse mundo que nos cerca.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

O Herege


E cheguei ao fim da saga de Thomas de Hookton em busca do Graal.

Diferente dos dois livros anteriores, O Herege se passa em um espaço de tempo/espaço muito curto. Apenas o inicio e o final do livro são passados em regiões/momentos distantes. O miolo do livro, a história em sí, se passa toda em uma pequena região da França onde, supostamente, o Graal esteve pela última vez em que foi visto. Creio que essa escolha de narração tão próxima, tão dia-a-dia que Cornwell escolheu para o terceiro livro, nos aproxima terrivelmente da mente de Thomas, de suas crenças e convicções. E digo terrivelmente porque ele é um maldito cristão, e a maior parte de suas dúvidas e medos são em relação ao deus da mitologia católica e sua (de Thomas, não do tal deus) relação com a igreja.

Além disso, depois de dois livros com batalhas épicas entre exércitos, que ocupavam páginas e mais páginas de descrições, neste aqui as batalhas são só pequenas escaramuças rápidas e brutais entre pequenos grupos de guardas, soldados, mercenários e bandidos de estrada.

No fim da leitura, fiquei com uma impressão de que cada um dos livros d'A Busca do Graal é uma obra completamente diferente das demais em termos de estilo e mesmo temática. Apesar de um protagonista em comum, a sensação de ler cada um dos livros é completamente diferente. Mas apesar disso, todos são bons livros, com boas histórias e narrativas competentes. Thomas me deixou com um certo amor pelo estilo de vida de arqueiro, e apesar dos personagens secundários não serem nem de longe tão carismáticos quanto aqueles d'As Crônicas Saxônicas, nem o cenário ser tão instigante e nem mesmo a busca do protagonista ser tão interessante, ainda assim a trilogia do Graal foi uma grata leitura.

Terei saudades de Thomas e Genevieve - adoro esse nome! - e até mesmo de Guy Vexille!

E que venham novos livros épicos e novos personagens marcantes de Bernard Cornwell!

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Bone

Acabo de terminar de ler a versão em um volume do épico Bone (1.332 páginas! É uma monstruosidade!).

Levei cinco dias pra ler a HQ, escalonando com O Herege (a última parte da trilogia do Grall). A razão disso é uma só: Bone é viciante. É impossível parar de ler, a menos que seja realmente necessário! O segundo dos três arcos em que a edição é dividida eu lí em uma sentada, numa noite, e mandei o sono passear!
Bone foi criado, roteirizado e escrito por Jeff Smith, que contou as aventuras de Fone Bone e seus primos, o ganancioso Phoncible P. "Phoney" Bone e o completamente desmiolado Smiley Bone ao longo de 55 edições, entre 1991 e 2004. Posteriormente as 55 edições foram republicadas em 9 volumes (entre 1995 e 2004) e finalmente ganharam uma versão única, comemorando os 10 anos de aniversário da série.

Bone começa como uma história bastante inocente e despretensiosa, e, na verdade, até o meio do segundo grande arco, eu não sabia muito pra onde a coisa ia. É quando tudo começa REALMENTE a acontecer, e daí não tem MESMO pra saber pra onde as coisas vão! Tudo foi muito surpreendente pra mim, e eu não esperava nenhum dos acontecimentos do final da série. Eu ia lendo e pensando "minha nossa, e agora, como isso vai se resolver?!?"

O estilo de Jeff Smith nessa história também é uma coisa muito surpreendente. Enquanto os primos Bone são absurdamente caricatos, todos os outros personagens são muito mais elaborados e realistas. O contraste não chega à causar estranheza graças ao estilo narrativo extremamente eficiente de Smith. Ao contrário, essa dicotomia é perfeita para uma série cômica, porém heroica ao mesmo tempo.

em tempo: Todos os personagens são muito bem construídos - exceto talvez pelo vilão encapuzado, que eu achei um personagem muito sem propósito; O vilão malvado do mal que tu não chega a odiar nem acha tão mal assim - numa história que não deixa pontas soltas. É um excelente roteiro, apoiado por um desenho perfeitamente concordante.

Altamente recomendado!

Ah, e sugiro que o leitor descubra algum lugar onde ele possa encontrar quiches pra comer, porque vai bater vontade de comer quiche durante a leitura - eu pessoalmente comi três, nesses cinco dias!

domingo, 4 de dezembro de 2011

O Andarilho


Se o livro anterior tinha me deixado com a sensação de que Cornwell conseguia descrever cenas de batalha e saque com crueza suficiente pro leitor se sentir na batalha, este livro me deixou a impressão de que Cornwell é um desgraçado com impulsos sociopatas!

O livro começa muitíssimo bem, com uma descrição de batalha campal extremamente bem orquestrada, com detalhes fantásticos, e que, diferente dos ataques à cidades fortificadas do livro anterior, não perde o foco nenhuma vez. É uma descrição longa, mas em momento algum é chata. Pelo contrário, tu fica querendo ir adiante e ler, ler, e continuar lendo pra ver como os eventos vão se desencadear. Realmente bastante empolgante!

Mas daí pra diante, o leitor sofre. E sofre muito!

Eu não falo sobre a trama dos livros que resenho, então não posso ser específico, mas os acontecimentos vão indo num crescente de dor e miséria até que, em determinado ponto do livro, eu tive que parar de ler! Chorei de raiva e desespero pelo protagonista, e teve um momento que eu cheguei a pensar em desistir de terminar o livro.

O terço final do livro é extremamente tenso e doloroso de ler, e em um determinado ponto da leitura eu só queria sair de casa com uma tocha, espancar o primeiro padre que eu encontrasse e depois sair incendiando igrejas!

Mas eu segui em frente, e o final do livro for catártico. Eu ria com os dentes cerrados, e fiquei feliz de um modo extremamente sádico no último capítulo!

Enfim, as coisas não terminam exatamente mal pro Thomas, mas fica um baita gosto amargo na boca, no final do livro. Imagino que esse vai ser o sabor predominante do próximo livro...

Estou sinceramente em dúvida se vou começar o Herege sem uma pausa, ou se vou tentar algo mais leve antes de terminar a busca pelo Graal...

Não recomendo pros fracos de espírito!

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Élia, Rainha de Júpiter


Livrinho de bolso, 144 páginas, mas levei quatro dias pra ler. Letrinha miúda, já meio apagada, em um papel amarelado. Fez meus olhos doerem várias vezes....

Apesar de ter uma imaginação extremamente fértil, povoando o planeta Júpiter - imagino eu pelo título, uma vez que o nome do planeta nunca é mencionado no texto em sí - com toda sorte de criaturas bizarras, de aracnídeos gigantes de 12 patas à cérebros humanos "evoluídos" pesando toneladas, a história em sí é bastante fraca.

Vejamos: Nosso herói, um jovem químico - cujo nome simplesmente me escapa, e não creio ser mencionado em momento algum, na verdade - enfadado com a pequenês de nosso pobre e sem graça planeta terra, vai à uma conferência ministrada por um sir Walter, sobre o qual não sabemos muito, exceto que se trata de um homem bem conceituado, embora desacreditado por alguns, com quem trava breve conversa sobre as maravilhas desfraldadas diante de sí por este brilhante orador. Sem se conhecerem melhor do que por este pequeno dialogo, sir Walter "desafia" o jovem químico à visitar sua casa na noite seguinte, caso se sinta seguro de que poderia empreender uma viagem interplanetária. Nosso herói, chegando a casa do tal sir Walter, é enviado sem grandes cerimônias, através de um tipo de processo hipnótico, em uma experiência de desdobramento espiritual até o longínquo planeta Júpiter. Tudo isso entre as páginas 5 e 9!

O que se segue, então, são as aventuras psicotrópicas do nosso herói - que eventualmente adota o nome de Consorte, depois de se apaixonar pela projeção de uma idílica Élia, rainha cronoparadoxal do tal planeta - enquanto derrota todos os seus improváveis inimigos e domina nações através de uma capacidade de trocar de corpos, um intelecto "superior" e a boa vontade de todos os cidadãos do planeta com quem trava contato, exceto pelos vilões do livro. Consorte nunca perde uma briga, nunca se engana, revoluciona toda a tecnologia do planeta e fica com a mocinha no final. Ele é humilde, honesto, bondoso, um estrategista nato e um intelectual brilhante. Jamais se assusta, nunca é surpreendido, não teme diante do perigo e é capaz de vencer todos os seus adversários em seus campos de atuação. Basicamente, ele é o Capitão América com poderes Jedi.

Acho que em 1959 as pessoas esperavam que os heróis fossem super-heróis, não sei bem...

O livro vale pela criatividade despirocada do autor, que cria uma sociedade utópica em que todos são felizes, exceto os vilões e aqueles a quem eles oprimem. O governo é baseado em amor, e todos são felizes com o que têm. E temos uma arena onde gladiadores se matam todos os anos pela mão de uma rainha que simplesmente esnoba todos eles enquanto espera seu verdadeiro amor... Além disso, ele apresenta uma série de alienígenas bastante interessantes, algumas idéias de culturas subterrâneas, engenhocas tecnológicas mirabolantes e situações inusitadas. Na verdade, é tentando imaginar o que Austin Tower tinha a me apresentar na próxima página que eu segui lendo o livro. E confesso que ele conseguiu me manter interessado na sua viagem de ácido através do imaginário planeta da rainha Élia até a última - e tão sem-sentido quanto todas as outras - página.

O fim é inesperado simplesmente porque eu achei que, em algum momento, alguma coisa ia acontecer! Eu queria um final "em algum lugar do passado" e tive que me contentar com um típico final feliz estilo Disney - e um monte de dúvidas sobre o que eles ficaram fazendo com o corpo terráqueo do Consorte!

enfim!

Se alguém aí quiser experimentar os efeitos da cocaína sem precisar enfiar nada nariz abaixo, tenho o livreco pra emprestar!

Ah, e ao contrário do que a capa do livro indica, nosso herói não é um piloto - bom até é... - e a rainha Élia não é verde - exceto pela densa cabeleira - nem tem sobrancelhas esquisitas...

domingo, 13 de novembro de 2011

O Arqueiro

Muito bem, voltando então às resenhas!

Demorei umas duas semanas pra conseguir ler esse livro, o primeiro de uma trilogia A Busca do Graal, muito mais pela falta crônica de tempo do que pela dificuldade da leitura - que, alias, diferente das Crônicas Saxônicas de Cornwell, não é tão fluida.

O livro conta a história do arqueiro Thomas, que jura vingança contra os franceses após ter sua vila atacada. Como o nome - em português - indica, vamos acompanhar os feitos e a história do arco longo inglês, mais exatamente durante a guerra dos cem anos. É, como os outros livros de Cornwell, uma aula de história com um aventureiro com objetivos próprios como nosso guia. E, como sempre, Cornwell faz um excelente trabalho em ambas tarefas.

A história de Thomas e todas as mirabolantes reviravoltas em seu destino e objetivos também é muito interessante, com a presença de uma série de personagens extremamente carismáticos. A trama e os personagens, alias, dão um tom de irrealidade e ao mesmo tempo de revisão histórica ao livro, uma vez que algumas situações beiram o absurdo, enquanto muitos personagens fogem dos estereótipos aos quais estamos acostumados.

Porém, nem tudo me agradou no livro. As batalhas são excessivamente descritas, criando momentos morosos justamente durante os combates. São, é claro, boas descrições, mas as vezes um tanto confusas, e por vezes com focos transitando tão rápido de um ponto para outro que é difícil acompanhar ser precisar reler alguns trechos. Isso cria um tom de realismo na descrição dos combates - que certamente era bem mais caótico do que a maior parte dos filmes de guerra medieval fazem parecer - mas torna a leitura pesada e um pouco pedante.

No geral, um bom livro. Personagens extremamente bem construídos, situações inusitadas e, claro, excelentes descrições de itens bélicos, formações de batalha e táticas de combate.

É um livro que recomendo principalmente para aqueles que, como eu, são interessados em questões militares históricas. Mas advirto que é um livro pesado em suas descrições, bastante violento e calcado em uma guerra, então os mais fracos de estômago deveriam ficar longe dele.

Em tempo: eventualmente lerei os outros dois livros que fazem parte da trilogia d'A Busca do Graal, mas provavelmente vou colocar algum outro livro na frente, pra desopilar as veias da violência d'O Arqueiro.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Ciclos

Aqueles que chegam até este ponto, neste dia, provavelmente são aquelas que eu gostaria que lessem o que tenho à dizer. Talvez haja algum leitor desavisado, atrasado ou totalmente desconhecido que tenha chegado até aqui por acaso, curiosodade ou porque simplesmente não quis ou não conseguiu ler estas palavrinhas antes. Hoje é o décimo primeiro dia do mês de novembro do ano de dois mil e onze, é meio da tarde, e o sol queima lá fora nessa tarde de primavera.

Vamos, então, sem mais delongas, áquilo que quero dizer hoje.

Depois de celebrar o casamento da minha melhor amiga, e muito devido aos acontecimentos que lá se desdobraram - embora certamente canalizados por acontecimentos que aconteceram algum tempo antes daquela noite - minha vida entrou numa espécie de maluquice magica induzida por ingestão massiva de alcool, paixão, caminhadas e conversas - uma combinação poderosa de aspectos dos quatro elementos, potencializada pelo meu estado de espírito inquieto pela lua em sua fase crescente. Tenho certeza que algumas pessoas podem fazer leituras diferentes disso, desconsiderar certas partes ou mesmo dizer que, procurando, eu chegaria à uma combinação adequada simplesmente porque eu desejo desta forma. Não importa. O que importa aqui e agora é que é assim que estou vendo a minha vida e os acontecimentos que nela se desenvolveram nessa semana. É nessa experiência quase ritual que vem me acompanhando pelos últimos dias que eu vou guiar meus passos pelo próximo ciclo, não importa quanto tempo ele dure. É essa sensação de encontro com algo além de mim mesmo que eu vou carregar no peito por muitos dias e noites ainda. E é essa experiência que quero compartilhar com vocês, pessoas que estão lendo estas palavras, nesse momento.

Decidi que sete seriam os dias durante os quais eu manteria viva em mim aquela chama brilhante e consumidora que se acendeu no dia do casamento. Era a chama de Beltane, apesar do dia torto. Era a chama que queríamos acender (aqueles que tinham consciência dela), mas que foi potencializada por um punhado de um combustível mais poderoso, depois que achei que o fogo ia começar à se amansar. Aquele punhado a mais de combustível aromático criou uma pira intensa, que nem mesmo uma noite de chuva pôde apagar, dias mais tarde. Aquele punhado de lenha inesperado me libertou de um grilhão de ferro, e tornou meu espírito livre. Aquele punhado de madeira de caneleira - ou será que era um punhado de açúcar? não sei bem - queimou rugindo por sete dias, mantendo meu espírito queimando, meu corpo aquecido e meu pensamento trabalhando frenético. Agora, tudo começa a aquietar. A chama se transforma eu uma brasa, esperando ser reacesa.

Como uma fase da lua, decidi manter aquela febre por sete dias. E por sete dias eu ví, ouvi, toquei, racionalizei e todo o mundo e todas as pessoas de uma maneira diferente, como se meus olhos tivessem sido abertos para uma realidade que simplesmente não estava lá antes.

Entre situações que eu não posso comentar e acontecimentos que eu não quero comentar (pois elas pertencem apenas à mim e aqueles que os experimentaram ao meu lado), foi a semana mais bizarra da minha vida! Uma semana de encontros, reencontros, de afirmações, de dissoluções, decisões e aprendizados que mudaram minha vida pra sempre, de um modo ou de outro. Estou dez anos mais jovem, e cem anos mais maduro.

Eu gostaria que todas as pessoas que eu conheço pudessem ter uma experiência como essa - e sobreviver! Creio que uma epifania como essa só acontece uma vez na vida. Não sei. O futuro talvez me contradiga.

11/11/11 no fim foi uma espécie de data cabalística pra mim. O fim de um pequeno ciclo que fecha um ciclo muito maior, dentro dessa grande roda que é a minha vida.

Sei que algumas pessoas vão entender parte do que eu estou falando, enquanto outras não vão entender nada. Mas eu gostaria a todas as pessoas que tiveram paciência de ler esse pequeno texto sobre fogo, água, terra e ar - que me acompanharam pela última semana, intensamente - saibam: a vida é algo mágico, cheio de pequenos milagres diários, e enquanto aquela pequena brasa de calor continuar queimando dentro da alma, sempre há a possibilidade de que um punhado inesperado de folhas, galhos e carvão seja jogado alí, reacendendo uma chama que as vezes nos podemos julgar apagada, morta ou que simplesmente ficou esquecida pelo pouco calor que fornecia.

Espero que, como aconteceu comigo nessa semana mágica, todos vocês possam passar por uma experiência de transformação e libertação um dia!

E agora, vou lá encontrar uns amigos, e terminar essa semana como se deve - seja lá como será que isso vai acontecer!

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Fotografia

Vitor entrou pela pequena porta do apartamento, batendo e pedindo licença, enquanto guardava as chaves no bolso.
- Alguém em casa? Ola?
Do banheiro, por baixo de um zunido alto de um secador de cabelos, ouviu uma voz responder algo que ele não entendeu.
- Está pronta? – perguntou, enquanto ia à direção do quarto. O secador foi desligado. Agora a voz feminina pode ser ouvida bem definida.
- O quê?
- Eu perguntei – disse Vitor sorrindo, enquanto olhava, do marco da porta do quarto, a porta entreaberta do banheiro, sem conseguir ver mais do que a sombra da sua interlocutora – se tu estás pronta.
- Quase. Estou terminando de secar o cabelo! Fico pronta em um segundo!
- Quanto tempo vai demorar esse segundo?
- Ah... Não tenho certeza – voltou a responder a voz.
Ouviu o secador de cabelo ser ligado.
“ok”, disse mais pra si mesmo do que para qualquer outra pessoa.
O secador parou de funcionar novamente.
- Se te apetecer pode comer alguma coisa. A geladeira está bem abastecida - O secador voltou a funcionar antes mesmo que ele pudesse responder algo.
Olhou para a cama desarrumada do quarto, sem realmente prestar muita atenção. Entrou na cozinha, e vasculhou entre alguns CDs espalhados sobre a mesa, ao lado de um CD player que ele nuca vira. Não reconhecendo nenhuma capa ou nome, escolheu um aleatoriamente. Uma voz feminina, muito lentamente começou a cantar uma música que parecia muito triste. Mas com o barulho concorrente do secador do banheiro, era impossível sequer saber qual a língua falada.
Voltou sua atenção para a geladeira. Abriu-a, e deu uma olhada no interior. Depois se abaixou, e começou a realmente estudar suas opções. Entre vários tuppowares com coisas que não podia identificar, acabou por não escolher nada. Levantou-se, fechou a geladeira e percebeu a foto em preto e branco colada no freezer. Nela, sua namorada aparecia sorrindo, olhando por sobre os aros grossos do óculo de grau.
- Onde foi tirada essa foto?
O secador de cabelo voltou a desligar.
- O que?
-Essa foto, na porta da geladeira, onde foi tirada?
-Ah, é do meu gato!
-Só se agora ele precisa de óculos de aro largo! – ele respondeu, rindo.
-Ah, a foto preto e branco?
-Isso.
- É das minhas últimas férias, em São Leopoldo.
- Não sabia que tinha um lago em São Leopoldo!
- Ah, wathever... – O secador voltou a ser ligado.
Olhou a foto demoradamente. Os olhos castanhos, o cabelo preto um pouco mais curto do que ele se lembrava, os aros dos óculos, o cachecol listrado, as pessoas ao fundo, à beira da água.
Então viu algo mais que reconheceu ali.
- Há quanto tempo tu disseste que essa foto foi tirada?
- Ah... Uns cinco meses. – veio a voz abafada pelo som do secador.
**
Caminhava letárgico num inverno particularmente frio, nas docas onde seu pai trabalhava. Gostava de ir até lá nas tardes frias dos fins de semana do meio do inverno. Era um sujeito solitário e quieto, sem muitos amigos, concentrado em tentar encontrar inspiração nas pequenas coisas do dia a dia. Parou para analisar os estivadores conversando à beira de um pequeno navio cargueiro. Alguém atrás de si pediu licença. Perdido como estava em suas divagações, não tinha percebido mais ninguém ali. Virou, e viu a garota de cabelo loiro, trançado numa longa corda largado sobre o ombro, segurando uma câmera fotográfica.
-Ah, desculpe.
Voltou a caminhar para sair do ângulo da câmera.
- não, tu entendeste errado. Eu queria saber se tu podias tirar uma foto minha.
-Ah, claro.
Aproximo-se e pegou a câmera. Ela foi até onde ele estava quando ela lhe chamou a atenção, lentamente, andando de costas. – sabes usar uma dessas?
- Sim, sim – ele respondeu enquanto analisava a máquina, para só então perceber que era analógica.
- tente pegar uma boa parte do navio, tá? Não precisa me deixar centralizada.
Vitor apontou a câmera na direção da garota, tomando cuidado para incluir o nome do barco inteiramente na foto, o que a deixava um tanto deslocada do centro.
- Certo, diga queijo.
- queijo? – ela perguntou com uma expressão de quem não tinha entendido a palavra corretamente.
Ele bateu a foto.
- isso, ficou ótima! – ele disse sorrindo.
Ela começou a rir.
- Ok, fui enganada! Tá, tira outra, sem queijo dessa vez.
- Certo, sem queijo.
Ele voltou a apontar a Câmera para a garota da trança, e ela sorriu um sorriso maroto. Vitor tirou outra foto, exatamente no mesmo ângulo.
- Ok. Pronto.
- Muito obrigada!
- não é muito comum ver esse tipo de câmera por aí, nesses tempos de tecnologia digital – disse ele analisando a câmera.
- Ah, sim, foi um presente do meu pai.
Ela pegou novamente a câmera, olhando com zelo para ela.
- eu sou Vitor – ele estendeu a mão.
-ah, um prazer! Eu sou Rosa! – ela respondeu apertando a mão dele.
- então, Rosa, tu não é daqui, certo?
-Ah, certo. Eu pareço bem deslocada, né?
Ele sorriu.
- Não, só não é muito comum as pessoas daqui virem passear no porto com câmeras fotográficas.
- É, eu sou de Porto Alegre.
- Bom, então que tal conhecer algum café aqui da cidade? – disse Vitor, antes mesmo de entender de onde a frase tinha saído.
Ela pareceu indecisa por um segundo. Olhou séria pra algum lugar perdido um pouco mais alto que o horizonte, por um segundo, depois prestou atenção na câmera em suas mãos, e então, colocando-a num estojo que carregava à tiracolo, olhou pra ele, sorrindo novamente.
- Tá, estou mesmo com fome.
**
-Então, teu pai é fotógrafo.
- Ah, não. Na verdade, ele tinha uma dessas casas que compram e vendem coisas usadas. Ele me deu essa câmera quando eu era ainda bem guria.
- Ah, é? E como era?
- Ah, era bem divertido! Tinha muitas coisas esquisitas, sempre chegando e saindo. O cheiro de mofo me acompanha até hoje!
- Bom, imagino que possas ter lugares piores no mundo pra se crescer.
- É, imagino que sim.
Um momento de silêncio pairou sobre a mesa do bar. Vitor tomou um gole de café, enquanto Rosa mexia distraidamente na câmera com uma mão e segurava o canudo de um milk shake com a outra. Deu-se conta que não fazia idéia de como tinha chegado até ali, e tinha menos noção ainda de que rumo tomar em seguida.
- Então, tu vieste só visitar Rio Grande?
- É, mais ou menos. Eu devo ficar na cidade por umas três semanas. Não conhecia a cidade, e resolvi vir pra um lugar onde não conhecesse ninguém pra curtir as minhas férias.
- Faculdade?
- Não, eu trabalho em um estúdio fotográfico. É da minha irmã mais velha, e eu já trabalho com ela fazem uns cinco anos.
- E é bom trabalhar com ela?
- Ah, eu adoro! Ela é quem tira as fotos, eu só faço as revelações. Na verde, eu praticamente vivo em uma sala escura!
Riram um pouco, cada um olhando encabuladamente para sua bebida.
- Eu não sei. Eu não confio em fotografias. – disse Vitor.
- O que? – ela perguntou meio incrédula, ainda sorrindo um pouco, esperando uma brincadeira.
- Sabe, - Vitor olhou por um momento para o teto, como se procurasse as palavras certas, depois fitou os olhos castanhos de Rosa - centenas de fotografias onde as pessoas sempre aparecem sorrindo. Não importa muito qual o estado de espírito das pessoas, elas sempre sorriem pra uma câmera. Ou fazem algo automático, uma pose pra foto. Não dá pra ver nada além de um sorriso pré-fabricado daquelas pessoas. Ou Fotos de lugares em que elas estiveram, mas de onde elas às vezes nem se lembram, a não ser por essas fotografias. Lugares que elas não pertencem, a não ser naquele momento. Não sei, me parece sempre uma grande encenação, uma felicidade forjada só pra aparecer naquela foto, naquele segundo, e depois a vida segue seu rumo normal.
O silêncio voltou aos dois. Vitor voltou a olhar sua taça de café, enquanto ela continuava a fitá-lo.
- Posso tirar um foto tua?
- O que?
Fora surpreendido com o pedido. Certa melancolia lhe abatera, mas aquele pedido o trouxe de volta à realidade.
- Ah, claro, porque não.
- Ótimo! – Ela pegou a câmera e começou a prepará-la. – Só continua falando.
- Ah... – todas as palavras fugiram dele.
- Me pergunta algo! – disse Rosa, sem tirar os olhos da máquina.
- Ah... Certo... Então, como é a tua casa?
- ela colocou a câmera em posição, à frente do rosto, de modo que ele não podia ver muito mais do que a boca de Rosa falando consigo.
- bom, é uma casa grande, mas um pouco, sabe, atulhada de coisas. Meu pai tem essa mania de levar trabalho pra casa, de uma maneira muito literal!
Ele riu.
- não ria! Essa é uma foto séria! – disse ela sorrindo.
- O que? – ele continuava a sorrir – Então eu não posso sorrir se quiser, pra tirar essa foto? Como quem diz “não olhe agora...”?
- E tenta não olhar pra câmera, tá? – disse ela, tirando a câmera da frente do rosto.
- Hum, só fui natural.
- Só não me olha assim – Ela voltou a apontar a câmera para Vitor.
Ele sorria. Ela tirou outra foto. Lentamente, ele ficou sério, enquanto ela tirava ainda outra foto.
- Então... Tu tens alguém? – ele perguntou, finalmente.
- Que pergunta. A escravidão foi abolida faz um tempo, sabia?
Ele voltou a sorrir, dessa vez meio sem graça.
- Ah, tu diz algo como um namorado? - ela disse, rindo alto - Não. Eu sou casada, tenho dois filhos.
Passou a mão no rosto dele, afastando pouco do cabelo que cobria os olhos. Ele estava sério novamente.
- só brincando. – ela disse ainda sorrindo. – e tu?
- Bom, eu tenho um marido, mas nenhum filho, ainda.
Ambos riram, ele bebeu um gole do café já meio frio, e voltou a fitar a caneca. Rosa ficou olhando pra ele. Lentamente, largou a câmera do lado da mesa, e se levantou. Ele levantou os olhos enquanto ela se aproximava. Ainda sorrindo, ela voltou a afastar o cabelo do rosto de Vitor. Aproximo-se, e eles se beijaram.
**
- Eu quero três filhos – disse ele.
Ela riu alto. Voltou o rosto na direção dele. Ainda suava um pouco. Os narizes de ambos tocaram-se.
- Tu sabes que isso não vai durar pra sempre, não é? Quero dizer, eu não quero te magoar, ou aos nossos filhos, mas...
Ficaram sérios.
- Eu sei. De verdade. Só quero ter certeza de que está tudo bem contigo também.
Ela abaixou o rosto, ele beijou-lhe a testa.
- Eu não quero ir... Mas, digo... Eu preciso voltar pro hotel, só paguei a semana passada, e ainda preciso acertar pra ficar essas últimas duas semanas...
- Porque ficar num hotel. Fica aqui, comigo.
- Sério?
- Claro. Isso é ridículo. Quero passar o maior tempo que der contigo. A gente já tem passado a maior parte do tempo juntos, de qualquer forma!
Ela voltou a sorrir, de um modo meio triste. Ele passou os dedos pelo rosto dela, depois desceu pelo pescoço. Quando chegou à clavícula, eles voltaram a se beijar.
**
Ele abriu os olhos, e a viu. Com uma blusa verde-água, terminando de amarrar o cabelo em uma trança. Ficou olhando seus movimentos, enquanto sentava ainda sonolento, na cama. Ela o vira pelo espelho, mas nada disse.
- Tu não precisa ir.
- Sim, preciso – Ela disse sem parar de arrumar a trança, diante do espelho. – nós já falamos sobre isso – Rosa terminou de atar a ponta da trança, mas não se virou, olhando Vitor pelo espelho.
- Só fica – Ele insistiu.
Ela riu amarga.
-Eu fiquei tanto quanto tinha planejado. Eu tenho uma vida pra tocar em Porto – Ela disse, enquanto arrumava as últimas roupas dentro da mala.
- Tu podes refazer a vida aqui, comigo. Tu sabes que eu posso manter nós dois por um tempo, até tu arranjares um emprego. – esperou uma reação que não veio, da parte dela. – Ou tu não queres ficar?
Ela riu pelo nariz – Claro que quero! Porque tu achas que eu passei contigo essas três semanas? – ela agora realmente ria.
- Bom, eu não sei, porque tu ficaste?
Ela parou de arrumar a mala. Ficou séria e voltou-se pra ele.
- Se tu realmente precisa me fazer essa pergunta, então eu não tenho uma resposta que vá te satisfazer.
**
A mulher, de cabelos negros e longos abraçou-o pela cintura.
- Oi, beibe. Desculpa pela demora.
Ele girou o corpo, passando o braço por sobre a cabeça dela, e então a beijou, brevemente, enquanto correspondia o abraço.
– Não, tudo bem. Pronta pra irmos?
- Uh-hum. Só vou pegar minha bolsa. Desliga o CD, por favor?
Ela se virou e saiu pela porta, na direção do quarto. Vitor ficou olhando enquanto ela se afastava, depois foi até a mesa e desligou o CD player. Ela passou pela frente da porta da cozinha, na direção da porta de entrada do apartamento, ajeitando os óculos de aros grossos. Vitor, ainda parado na frente da geladeira, voltou sua atenção para a foto, uma última vez, e então a seguiu, para a porta.
A fotografia na porta da geladeira mostrava o busto da dona do apartamento. Cabelos pretos e lisos até os ombros emoldurando o rosto sorridente com pequenos olhos negros sob óculos com aros largos e usando um cachecol listrado. No fundo, havia pessoas andando a beira d’água. Entre elas, uma mulher, com uma bolsa com um formato peculiar, o cabelo claro jogado sobre o ombro em uma trança, olhando para a lente com um sorriso maroto.

sábado, 29 de outubro de 2011

O Velho Sábio da Montanha


O velho sábio da montanha sempre tem um conselho sábio, velho e montanhoso para dar. Ele sempre sabe o que dizer. Ele é aquela entidade para qual nenhum problema é grande demais, para qual toda questão tem uma solução.
O velho sábio da montanha sempre sabe o que dizer. Ele tem mais de mil anos, e, portanto, já passou por tudo o que há para passar. Já viu cem vidas, já foi do oriente ao ocidente, conhece tudo o que há para conhecer, viu tudo o que há para ver.
O velho sábio da montanha sempre foi velho, sábio e sempre esteve na montanha, onde se vai, em peregrinação, em busca de seus sábios conselhos. Ou até onde se chega em companhia de alguém que vai ver o velho sábio da montanha. O resultado é sempre o mesmo: Estupefação diante da antiga sabedoria da montanha.
Aqueles que aceitam os sábio conselhos do velho sempre voltam à montanha, não apenas para pedir novos conselhos, mas também para levar outras pessoas à montanha, onde se encontra a velha sabedoria. Ou apenas para aproveitar da companhia aprazível do velho - e da bela vista da montanha!
Mas... E o velho? Quando ele precisa de um conselho, pra quem pedir?
Quem poderia dar conselho pra alguém tão velho, sábio e montanhês?
Será que o velho não tem dúvidas? Será que passa os dias em sua montanha, simplesmente envelhecendo e crescendo em saber, a cada dia?
Não terá o velho subido a montanha porque não achava o que queria, o que precisava, la embaixo?
Será que o velho não desce da montanha por medo? Por medo de não estar lá quando alguém subir amontanha para pedir um conselho? Ou será, talvez, por medo de descer a montanha e só encontras as mesmas dúvidas que o fizeram subir, pela primeira vez, séculos atrás, a tal montanha?
Será que ele não se sente solitário, lá no alto, tá sábio, velho e sozinho?
E quando o velho está triste, será que alguém sobe a montanha para dar-lhe um abraço?
E quando o ele chora, quem pode oferecer um ombro amigo?
Pobre velho, em sua montanha.
Solitário em sua sabedoria.
Só, sábio e velho, lá, no alto...

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Frankenstein, O Prometeu Moderno


Muito bem. Nada de divagações, desta vez!

Vamos nos ater ao livro!

Começando de modo mais sóbrio, deixem-me dizer que o adaptador do livro é Leonardo Chianca. Apesar de ter escrito um bom punhado de livros - não lí nem reconheci nenhum deles - aparentemente Chianca se dedica, desde 1999 a adaptar clássicos, como peças de shakespeare, a odisseia e a ilíada gregas, Moby Dick, Drácula e o Frank aqui. Mas admito que, depois de ler a sua adaptação - em uma noite, para honrar a memória da "lenda urbana" que diz que Mary Shelley, a autora, teria escrito o livro em uma noite - eu fiquei com uma impressão de que alguma coisa estava errada. Não sei dizer muito bem o que é, mas me pareceu que ele escolheu as palavras erradas. Que faltou certa ênfase. Talvez o uso de palavras menos coloquiais em alguns momentos... Lí a obra em um tom monotônico, sem emoção. É, claro, uma ótima hstória, pela qual sou apaixonado, e é exatamente por isso que achei tão estranha a daptação. Não é a primeira vez que leio - inclusive não é a única versão do livro que possuo... - e provavelmente vou ler outras versões nos próximos tempos, para tentar entender o que eu achei tão "fora do lugar" nessa adaptação de Chianca.

De qualquer forma, como eu já disse, é uma excelente história. Estamos lidando aqui com um gênio, que faz uma descoberta que mudaria o mundo, apenas para perceber, com horror, que havia criado um monstro. Por mais que seja apenas um conto de ficção, eu nunca consigo deixar de traçar um paralelo entre Frankenstein e seu monstro e Einstein e a energia atômica - guardades as devidas proporções, é claro. Einstein não desenvolveu toda sua teoria em pouco mais de cinco anos, nem criou a bomba atômica por sí próprio, mas enfim, acho que dá pra entender a comparação - ou só eu vejo o paralelo...?

Enfim!

Para além disso, o livro trata de outras questões, que acredito nem serem do interesse direto da autora no primeiro momento. O medo da solidão - que me ataca sumariamente, alias; de todos os medos que eu posso ter, esse é com certeza o maior e mais pungente de todos - através da intolerância; o pré-julgamento pela aparência; o isolamento ao qual muitas vezes submetemos os outros baseados naquilo que vemos, e que não podemos aceitar. Não, o "monstro" não é humanos, mas ele não é atacado e banido por ciência sobre esse fato, e sim por simplesmente ter uma aparência deformada. Ele nunca ataca antes de provocado, e é sua simples visão que gera a agressão. E quantas vezes não vemos isso, ainda hoje, nos jornais? Este aspecto do livro de Shelley está tão ou mais vivo hoje do que quando a obra foi escrita.

Outro aspecto da história que me agrada sobremaneira é a decisão de Frankenstein de negar, no último instante, uma "igual" ao seu monstro original. É nesse momento que ele perde a oportunidade de redenção definitivamente. Ele poderia ter entendido o seu monstro durante a conversa que ambos travam nas montanhas, no seu primeiro encontro, mas não consegue perdoar a criatura pelo ato que cometeu. Ou não consegue se perdoar por ter criado algo que foi responsável por matar em seu nome. Mas, quando mais tarde, ele tem a oportunidade de terminar com a solidão da criatura, de criar um segundo monstro para aplacar a fúria do primeiro, para equilibrar a balança que ele próprio fez pender exageradamente, ele se mostra incapaz. Há tantas formas de se entender seus motivos quanto há de execrá-lo pelos mesmos. E, no fim, apesar de sabermos que ele está pagando pelos seus próprios erros, fica um gosto amargo na boa de que ele próprio podia ter feito tudo ficar em ordem, ou ao menos em uma relativa ordem. E por mais que a criatura seja passivel de compaixão, é impossível não odiá-la por matar inocentes de forma premeditada.

Este é um livro sobre monstros. É um livro sobre monstros mortos-vivos, e sobre homens enlouquecidos pelo seu orgulho monstruoso. É um livro sobre os monstros que nós somos diariamente.

Em tempo: Mary Shelley nunca disse que escreveu o livro em uma noite. Ela teria tido a ideia para o livro em uma noite de tempestade, depois de ouvir uma conversa sobre experiências com pernas de rãs que respondiam à impulsos elétricos. Isso teria acontecido no verão de 1816, e a primeira versão de Frankenstein, O Prometeu Moderno, só ficaria pronta na primavera de 1817. Mas a versão que conhecemos hoje é bastante diferente da original, tendo sido modificada por Mary Shelley ao longo dos anos, e a "versão definitiva" foi publicada apenas em 1831, desta vez com créditos à autora, que inclusive incluiu um prefácio explicando a origem do livro.

Frankenstein e o Ato Criador

Ah, Frankenstein. O Prometeu Moderno. O Adão de uma nova geração de homens.

O monstro do dr. Viktor Frankeinstein sempre produziu uma atração em mim. Eu não sei bem o que eu gosto na estória. Ou, na verdade, não sei exatamente o que mais me atrái na estória. Há, de fato, muitos aspectos no conto que simplesmente me atraem - ou me preocupam - em maior ou menor grau. A ideia de criar uma entidade capaz de se mover e agir por sí própria é algo que possivelmente atrai uma grnade parte da humanidade; Sim, há muitos de nós que se deliciam com a ideia da peternidade, mas à nós, meros homens, machos da espécie, fica relegada a função de acompanhar e apoiar apenas, enquanto é a mulher quem genuinamente gera a vida dentro de sí. Admito que essa capacidade criativa suprema sempre me causou algo de inveja da natureza feminina. E talvez daí venha esse meu fascínio pela ideia de poder criar. Eu sempre acreditei que, mais do que simplesmente uma questão de cultura, a absoluta superioridade de homens na arte se deve à esse único fato: Nó não podemos criar nada. Somos meramente observadores da maravilha da maternidade. Acredito que há, em todos nós artistas, um desejo ardente de sermos capazes de criar algo, de produzir ao menos uma faísca de vida, uma reprodução inanimada da vitalidade que apenas as mulheres são capazes de realmente criar.

Não creio, porém, que este seja um desejo restrito aos artistas, nem que todos tenham esse desejo, mas acredito que é muito dessa incapacidade que faz com que nós, machos, lutemos para nos tornarmos maiores, mais poderosos, reconhecidos, importantes. Para que se possa dizer que nós criamos algo por nós mesmos, que deixamos algo depois de nossa passagem mundana. Posto que, nossos filhos não são nossos frutos, mas sim de nossas fêmeas. E quão frustrante pode ser, para nós, machos, o fato de sabermos que, se uma mulher nos diz que "este filho não é teu!" nós nunca poderemos dizer com certeza que essa afirmação náo é verdadeira. Mas não se pode dizer o mesmo para uma mulher, posto que ela carregou a criança em seu ventre, e, não importa quem é o pai, aquele filho é, sem dúvida, sua criação!

Eu sempre acho estranho que, diante simplesmente deste único e simples fato, não sejamos todos nós, machos, convertidos em simples adoradores e cultistas das mulheres, que são Deusas incarnadas, capazes de fazer aquilo que nós jamais poderemos: Criar a vida.

Oh, sim... Frankenstein. Tenho mais coisas a dizer sobre o livro, e a história, mas agora se apodera de mim uma melancolia profunda.

Como somos pequenos nós, homens.

domingo, 2 de outubro de 2011

O Nome da Águia


"Oásis de Meribá, 3497 A.C.
Em uma das treze tribos que deram origem ao povo hebreu, nasce um conflito que se estenderá secretamente pelos próximos milênios, gerando guerras e deixando marcas profundas em nossa história.

Berlim, 2012 D.C.
às vésperas das eleições americanas, um grupo de arqueólogos faz uma descoberta surpreendente em um bunker enterrado desde a Segunda Grande Guerra. Uma descoberta que poderá transformar este conflito de bastidores - mais uma vez - em uma guerra declarada, mudando o futuro da humanidade."

Admito que, graças à contracapa, eu quase não lí o livro. Na verdade, depois de ver a capa em sí, e depois ler a contracapa, quando minha mãe me entregou o livro e disse "Olha, tua vó disse que tu ia gostar.", eu só coloquei o livro na lista de espera porque, bom, eu gosto de agradar a minha avó...

Todos hão de concordar comigo que, pela contra-capa, o que se imagina é um livro onde, outra vez, os nazistas malvados fizeram alguma coisa - mais! - errada e que os pobres judeus tinham algum ensinamento lindo de cinco mil anos escondido, pronto pra mudar o rumo da história.

Já cansei de ver os nazistas como os vilões petulantes, prepotentes e irracionais todas as vezes. E não estava a fim de ler outra história que trouxesse isso - ainda mais com aquele Buda na capa do livro, o que provavelmente significava possivelmente algum tipo bizarro de livro de auto-ajuda, sei lá...

Enfim. Depois que meus livros todos acabaram - inclusive andei relendo alguns livros muito velhos de RPG só por diversão, porque estavam realmente escassos os livros "inéditos" por aqui... - eu decidi que era hora de dar uma chance à obra do seu Alexandre Lobão.

E não é que o livro era bom?

Não vai entrar pra minha lista de "top 10", mas é um livro que eu posso recomendar sem titubear.

A narrativa é extremamente ágil sem deixar de ser detalhistas nos momentos necessários, os capítulos curtos e com cortes extremamente "irritantes", daquele tipo que te fazem seguir lendo pra saber como vai continuar em seguida, além da escolha de estrutura, com capítulos focando em personagens diferentes alternadamente, fazem da leitura um ato quase compulsivo. É muito difícil deixar o livro de lado. De fato, apesar de ter 320 áginas, eu só levei dois dias lendo porque no meio do caminho eu precisava assistir aulas na faculdade e trabalhar - além das outras coisas menos importantes, como comer e dormir... Num período de férias, ou num fim-de-semana, o livro teria sido devorado em uma única tarde, com certeza.

Sobre a trama, sim, nós temos nazistas malvados, e os Judeus são mesmos os heróis do livro. Mas também temos hunos malvados, inquisidores malvados, romanos malvados e até judeus malvados! Alias, o livro tem um excelente "vilão-mór", com motivações muito bem explicadas ao longo do livro.

E apesar de termos mesmo um foco numa eleição estadunidense, coisa que eu achei bem desnecessária quando lí a contracapa - sério, a capa e a contracapa foram feitas pra o sujeito não ler o livro! - no fim isso fez muito sentido!

Eu já tinha uma boa ideia de como o livro ia acabar lá pela metade, admito, mas também é preciso dizer que isso não diminuiu em nada a vontade de continuar a leitura, porque eu ainda estava muito curioso pra saber como tudo ia se desenvolver. E o final, apesar de não ser exatamente surpreendente, é... Bom, surpreendente! Apesar do final ser realmente previsível, o modo como ele se desenrola não é. Ao menos, pra mim, não foi, nem um pouco!

Bom, o ponto negativo do livro é o romancezinho desnecessário. Não entendo porque todos os livros e filmes agora precisam ter a droga de um romancezinho no meio. Não ajuda em nada a narrativa, não faz nenhuma diferença pra estória, não atrai leitores - ou expectadores, no caso dos filmes - e continuam sendo insistentemente adicionados às obras! Sério, sempre que eu leio a descrição da "garota", eu fico pensando comigo mesmo que o autor teve uma paixonite por uma guria com aquela descrição ou então aquela é a "garota ideal" à qual ele dedica seus momentos de onanismo diários...

Ah, e pra finalizar esta resenha, deixa eu falar sobre uma coisa que me agradou sobremaneira: AS notas de rodapé! São 113, acho, ou algo muito próximo disso. É praticamente impossível virar uma folha e não ver ao menos uma notinha de rodapé te esperando alí, na próxima página! E eu adoro notas de rodapé! O livro tem uma quantidade absurda de informações interessantes, nos seus pés-de-página, e eu fiquei muito satisfeito em ler um livro que teve uma quantidade tão grande de pesquisa!

Bom, como nota final, devido à narrativa do livro, o assunto e a boa história, eu não me espantaria nem um pouco em ver o romance ser transformado em filme. Eu iria assistir, com certeza!

E levaria minha avó!

sábado, 27 de agosto de 2011

Maktub


Não, eu não andei lendo Paulo Coelho ultimamente.

Na verdade, muito antes de saber que o Mago tinha escrito um livro com esse título, eu já tinha lido Maktub de Malba Tahan. E eis que voltei a ler este livro por esses dias.

Este é um livro de contos curtos que fala sobre a cultura árabe, contando algumas lendas e muitas histórias que exemplificariam o modo de pensar desse povo.

O próprio título do livro vem da expressão do fatalismo muçulmano cujo significado seria "estava escrito, tinha que acontecer". É uma reafirmação do crente daquela religião de que seu espírito se acha plenamente conformado com os desígnios de Allah.

Interessante, porém, é saber que o ilústre Ali Yezid Izz-Eddin Ibn Salim Hank Malba Tahan era um professor de matemática, que rodou o Brasil dando palestras - quero crer que sobre a técnica de contar histórias aliada ao ensino de matemática, coisa que acho pra lá de misteriosa! - e que era brasileiro, e não árabe. E que se chamava Júlio César de Melo e Souza. Sempre achei esse personagem que ele criou muito interessante, e tive oportunidade de ler alguns de seus livros, dentre os quais, O Homem que Calculava é, provavelmente, o mais célebre.

Maktub é uma leitura leve, apesar de poder ser uma leitura que gera reflexão. Eu, particularmente, gosto do livro como um Guia de Referência Para um Mundo Árabe Fictício. Gosto muito de imaginar aquela cultura do modo que Malba Tahan nos apresenta, e acho que ser muçulmano naqueles termos seria definitivamente interessante. Mas, obviamente, a cultura árabe real é tão semelhante aquela descrita na obra de Malba Tahan quanto a Idade Média é semelhante ao ciclo arturiano... Provavelmente é exatamente esse aspecto de conto-de-fadas que me atrai tanto nos livro esse autor. Eu gosto de fugir da realidade quando assisto um filme ou leio um livro. Prefiro deixar os dramas, romances e histórias policiais para o nosso maçante dia-a-dia "real".

Enfim!

apesar de recomendar àqueles que nunca leram Malba Tahan o Homem que Calculava antes de tudo, Maktub é também um bom livro de fábulas. Simples, direto, ingênuo e divertido. uma excelente leitura pra quem quer um pouco de distração e relachamento.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

O Fortim


Lí esse livro num ritmo normal no começo, depois fui sentindo mais necessidade de ir adiante, de saber o que estava acontecendo. Por fim, do meio do livro em diante, não pude me conter, e sentei, com uma caneca de café e um cachimbo, e não larguei a leitura até chegar no final.

O livro tem um clima perfeito, muito bem trançado. Os personagens são ricos, palpáveis. Todos tem suas motivações e convicções bem claras, e absolutamente nenhuma decisão parece gratuita. O mesmo acontece com o ambiente. É fácil entrar no fortim do Passo Dinu, sentir o ar pesado, ver as cruzes entalhadas na pedra e ficar com frio nas noites de cerração e até mesmo ouvir os passos no pátio de pedra enquanto os soldados alemães andam de um lado pro outro instalando geradores, espalhando lâmpadas e fazendo ronda.

O problema é que tudo isso só se aplica justamente à primeira metade do livro... Os últimos três ou quatro capítulos, em especial, foram uma espécie de anticlímax. Excesso de explicações em um livro que eu vinha caminhando bem no limiar do crepúsculo, criando mais sombras à medida que lançava luz sobre as dúvidas que surgiam. Virou uma espécie de Conan encontra Drácula...

Enquanto temos basicamente os nazistas, com um esquadrão de regulares do exercito alemão e um grupo da SS em uma batalha velada causada pelos líderes, cujas ideologias os colocam em lados opostos dentro do mesmo exercito, tudo vai bem. Mas então o autor no apresenta um par de judeus (pai e filha), e - a extremamente melosa - Magda se torna personagem principal do livro, fazendo com que o livro perca o clima pesado pra se tornar em um romance tosco entre uma judia sem sal e um herói misterioso. E daí pra diante, a coisa toda só desanda...

Um bom livro, realmente, mas com um final que estraga uma experiência que podia ser perfeita.



ATENÇÃO! REVELAÇÕES SOBRE A TRAMA A SEGUIR! PARE DE LER AQUI SE AINDA NÃO LEU O LIVRO E NÃO DESEJA SABER O QUE O ESPERA NO FINAL!!!



A questão dos últimos capítulos é que eu esperava uma explicação mais simples, na verdade. Deuses vivos andando sobre a terra, imortais em uma luta sem fim, uma entidade que se alimenta do mal do mundo todo... Muito apocalíptico. Eu esperava algo realmente mais "vampiresco". Esperava que Molasar não pudesse sair do fortim devido ao córrego, ou mesmo por causa de alguma maldição. Imaginei que Glenn fosse algum tipo de vampiro também, e isso me animou bastante, ao vê-lo andando pela rua, sob o sol, tal como faria Drácula. Eu esperava talvez um combate entre vampiros que fossem adversários, não entre avatares de divindades esquecidas. Além disso, apesar de Molasar ser "mais poderoso" do que Glenn, a coisa da espada mágica me decepcionou um pouco. Porque o bem sempre tem acesso à artefatos que podem conter o mal, e o contrário nunca acontece?

Além disso o romance instantâneo entre Magda e Glenn, além de extremamente clichê, quebra o clima que tinha sido magistralmente construído até então. Temos excesso de alegria e felicidade em um livro que vinha justamente primando por um clima de desespero e opressão.

Acho que fiquei decepcionado com a complexidade de todos esses elementos, quando tudo o que eu queria era um monstro. Ou talvez dois. E uma luta final travada com espadas, estacas, presas e garras. Ok, talvez alguns zumbis, também... Mas não uma entidade maligna capaz de alterar os sentimentos dos seres humanos ao seu redor, criar psicopatas a partir de camponeses pacatos, controlar as estruturas da sua prisão e se banquetear com todos os males do mundo. E o pior é que ele é vencido por um pescador parrudo com uma espada... Oh, que ótimo!



FIM DAS REVELAÇÕES SOBRE A TRAMA! NÃO HÁ NADA MAIS ABAIXO QUE VÁ ATRAPALHAR SUA LEITURA DO LIVRO! é SÓ UM EPÍLOGO PARA ESTA RESENHA, MESMO... NÃO POSSO EVITAR!



Enfim. Algumas idéias realmente muito interessantes, um cenário bem desenvolvido, um clima apropriadamente tenebrosos e opressivo, e um final decepcionante. Mas que, por incrível que pareça, mesmo estragando o livro, abre a percepção para idéias novas. Ler este livro me deu muita vontade de escrever um conto sobre vampiros...

quem sabe?

domingo, 21 de agosto de 2011

As Viagens de Gulliver


demorei muuuuito tempo lendo esse livro. achei ele estupidamente chato, e com um final "critica social" muito pedante.

Ok, é um conto de fantasia, mas que tenta encontrar soluções inteligentes - e que se mostram bem ingênuas - pro fato da um monte de terras estranhas com gente estranha nunca terem sido encontradas antes... Além disso, muita coisa simplesmente não faz sentido ou é excessivamente bobas.

A parte que mais me incomodou foi o fato de que todos os povos que Gulliver encontra em suas viagens parece mais simples, mais interessante e mais inteligente do que o povo europeu padrão da época. Jonathan Swift parece odiar toda a cultura europeia, principalmente a inglesa, e faz de tudo para diminuí-la. De acordo com o autor, todos os governantes são déspotas, todos os advogados são mentirosos, todos os juizes são corruptos e cada ser humano quer ver os outros pelas costas - ou sob seus pés.

Claro, é uma crítica ao estado inglês da época. Na primeira viagem, Gulliver chega a Liliput, que combatiam em uma guerra antiga com Blefuscu. O motivo da guerra seria o modo correto de se quebrarem os ovos, sátira óbvia ao pouco caso para com os assuntos urgentes da política, às picuinhas e às declarações de ódio aos homens de pensamento minimamente divergente dos seus. Como Swift era Irlandês, ele provavelmente estava fazendo sua crítica à situação política de Inglaterra e Irlanda.

Para mim, brasileiro do século XXI, pra quem a cultura inglesa de século XVIII já é quase uma cultura de fantasia, o livro parece ter sido escrito por um interno de um hospício que tem vários problemas mentais. Lemuel Gulliver fala sobre sí com muita freqüência na terceira pessoa, É megalomaníaco, convencido de que é extremamente sábio e mais capaz de analisar o mundo do que seus conterrâneos, considera a sí mesmo como uma pessoa extremamente agradável e magnética, é capaz de aprender qualquer língua em questão de dias e acredita em homens minúsculos, gigantes, cidades voadoras e cavalos que constroem casas! E tenta fazer seu interlocutor acreditar que é tudo a mais pura verdade!

Na humilde opinião deste leitor, uma crítica política ao estado ingês dos idos de mil e setecentos não tem o menor valor de crítica social, exceto pela graça. Sim, há muitas comparações possíveis entre aquela cultura e a nossa cultura contemporânea, mas no fim, misturar um conto de fantasia com crítica social pesada simplesmente faz com que a crítica pareça leviana e acaba por embotar a fantasia da leitura.

Principalmente porque, diferente da Revolução dos Bichos, por exemplo, As Viagens de Gullivertem uma crítica direta, não mascarada, que só me fazia querer pularumas páginas enquanto Gulliver demonstrava o quanto seu orgulho por sua pátria não passava de falsidade.

E cavalos que usam os cascos com tanta habilidade quanto um homem usa as mãos? Não, amigo, não me convenceu! Não mesmo! Fiquei só imaginando um cavalo tentando pregar as tábas de uma casa... Ai, ai...

Apesar de ser um clássico da literatura inglesa, eu definitivamente não recomendo.

sábado, 13 de agosto de 2011

Terra Imperial


Quando comprei esse livro - por R$ 1,00 - eu estava simplesmente procurando um passatempo. Estava com escassez de leitura, e fui no "balaião" da Monte Cristo pra ver se achava alguma coisa pra ler. No meio de um monte de romances água-com-açucar normais de serem encontrados entre livros em promoção, ví essa capa - essa mesma, já que não consegui uma foto mais decente na internet, e acabei scanneando a minha cópia; Sim, ela tá demolida; já chego lá!

Peguei o livro na hora, e apesar de ter dado ainda uma olhada nos outros títulos, eu sabia que ia ser esse o livro que eu ia levar.

Bom, é preciso dizer algumas coisas sobre a escolha: Eu peguei o livro pela capa. Foi o desenho que me atraiu. O nome podia ser qualquer coisa, porque eu sabia que o livro era de ficção, e era isso o que importava. E o autor? Bom, pode parecer bem idiota, mas quando eu lí o nome "Arthur Clarke" na capa, pensei "Hum, deve ser algum escritor babaca que teve a sorte de ter o nome parecido com o carinha do 2001... E Clark não tem E, acho..." porque faltava, alí no meio, o "C.". Sim, porque eu SEMPRE ouvi falar erm Arthur C. Clarke; mesmo quando alguém pronuncia o nome do sujeito, ele pronuncia assim, por extenso: "ártur cí clarc", e não simplesmente "ártur clarc". Então não desconfiei que fosse mesmo O Arthur C. Clarke! Alias, só descobri que era ele mesmo quando, depois de terminar a história em sí, lá nos agradecimentos, estava o nome do sujeito com aquele emblemático "C." entre o "Arthur" e o "Clarke". Junte-se à isso o fato do livro estar num balaião... O Oscar, depois me explicou: A capa tava tão detonada que ele não teve coragem de cobrar mais de um pila pelo livro. Bom, feliz eu!

Então, posso dizer que lí o livro sem nenhum tipo de expectativa. E, claro, o livro é fabuloso! É basicamente a história da viagem da segunda geração de clones de uma dinastia que praticamente comanda Titã, a lua de Saturno, que vai à terra para participar do evento de 500 anos da assinatura da Declaração de Independência dos EUA, e no processo criar a nova geração clonada da dinastia McKenzie.

Sim, é um livro tipicamente estadunidense, que descreve como, num futuro nem tão distante, os mais importantes homens de todo o sistema solar se reúnem na terra para prestigiar um evento dos EUA, num momento histórico em que, aparentemente, todo o planeta terra E as colônias do sistema solar inteiro seguem as regras dos "americanos" sobre conduta e bons costumes... Enfim...

Aforando-se isso, que, na verdade, é apenas o pano de fundo para uma excelente história de reflexão sobre o impacto da tecnologia no dia-a-dia dos seres humanos, quais os rumos que deveríamos seguir, quais poderíamos seguir e como os referenciais de cultura são importantes para a humanidade, temos um excelente livro sobre auto-descoberta. Sobre como, as vezes, uma pequena decisão, ou mesmo um pequeno conhecimento podem ser o ponto focal de todo o resto da vida de um ser humano.

apesar de muitos dos dados científicos que o autor levanta fugirem completamente do que eu particularmente poderia chamar de entendimento, as questões técnicas sobre gravidade, navegação interplanetária e fenômenos naturais de Titã dão um sabor especial ao livro, que provavelmente seria uma obra bastante chata se focasse simplesmente na viagem de um imigrante estadunidense, digamos, no japão, voltando de navio para o primeiro centenário da assinatura da independência... Lógico, que nesse caso não teríamos o final de Terra Imperial - ele seria, se não impossível, muito pouco plausível!

Enfim! É um bom livro, com um teor otimista para o futuro da humanidade e da terra, com uma boa história com subtramas interessantíssimas e uma narração bastante peculiar, que me ganhou já nos primeiros capítulos!

sábado, 30 de julho de 2011

Sherlock Holmes - Edição Definitiva


Um amigo me emprestou as duas primeiras edições dessa coleção, e eu terminei de ler apenas a primeira até aqui.

A definição "Definitiva" nunca me pareceu tão adequada. Além de notas explicando questões de cultura e hábitos, há uma explicação sobre locais, itens, veículos... E uma quantidade impressionante de notas - de relevância variável - sobre o que diversos autores que estudaram os escritos de Conan Doyle dizem a respeito de determinadas situações vividas por Holmes e Watson. Além de uma quantidade bastante relevantes de fotos de locais relevantes e também ilustrações realizadas para ilustrar as aventuras do detetive mais famoso da história.

Há um longo prefácio no livro, explicando tudo o que se sabe sobre a vida de Holmes, Watson e Conan Doyle, e o modo como o livro é escrito faz crer que todos os três realmente respiraram o ar londrino no século XIX. Absolutamente brilhante.

Eu não conhecia a maior parte dos casos apresentados no primeiro volume, e apesar de não ter ficado particularmente impressionado com nenhum deles, alguns são realmente bastante divertidos. Eu consegui desvendar o "Caso da Liga dos Cabeças Vermelhas" junto com Holmes, mas foi uma excessão. O poder de observação de Holmes é impressionante, e apesar de muitos dos mais relevantes detalhes serem dados ao leitor a medida que o detetive vai fazendo novas descobertas, é bastante difícil acompanhar a linha de raciocínio de Holmes. Estou realmente curioso pra ler os casos do segundo volume, e espero conseguir por as mãos nos outros três volumes da coleção!

Excelente leitura, pra qualquer um que tem um mínimo interesse em Sherlock Holmes, ou na sua época!

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Crônicas do Gelo e Fogo - A Fúria dos Reis


Bem, terminado este segundo livro das Crônicas de Gelo e Fogo de George R. R. Martin, eu decidi que definitivamente não vou ler mais nenhum dos livros deste senhor, por um bom tempo.

Talvez tenha sido a influência da leitura das Crônicas Saxônicas, que eu tanto gostei, e do estilo de Bernard Cornwell, que me agradou sobremaneira, mas o fato é que eu definitivamente não gosto do jeito que Martin escreve.

A história é boa, não há como negar, mas tantos detalhes me irritaram durante a leitura do livro, que simplesmente azedaram a leitura como um todo. Além de muitas coisas simplesmente não fazerem sentido nenhum, do meu ponto de vista.

Alguns destes detalhes podem não incomodar determinados leitores, mas a mim, incomodou sobremaneira, a ponto de eu estar pronto pra desistir de ler o livro até o final, quando cheguei ao final do segundo terço da leitura...

Eu pretendia fazer uma postagem sobre as questões que me incomodavam no livro, mas depois que terminei de escrever sobre os (muitos!) problemas sexuais dos personagens, acabei decidindo falar mal apenas da sexualidade do pessoal de Westeros, e deixar as outras questões para uma futura postagem.

Não gosto de "fazer spoiler", mas alguns dos hábitos sexuais dos personagens podem "gerar spoilers", então fica o aviso:

POTENCIAIS REVELAÇÕES SOBRE A TRAMA ADIANTE

Tyrion Lannister tem mania de se apaixonar por prostitutas. Nada grave, num primeiro momento, mas o fato é que ele sabe que isso não pode dar certo, mas mesmo assim vai em frente. Comportamento sexual auto-destrutivo na veia!
O rei Robert Baratheon era casado com Cerceis, e nem pra aproveitar a esposa prestava. Ao invés disso, só ia pra cama com... prostitutas - olha elas aí outra vez! Usar o sexo pra humilhar alguém numa corte de gente podre como a de Porto Real simplesmente não faz sentido. Isso pra mim é fixação, mesmo!
Alias, falando na corte de Porto Real, vejamos: O conselho é composto por um Eunuco, um cafetão e um velhote que usa viagra!
Nem o mais nobre dos personagens, Eddard Stark escapa das peripécias sexuais: Apesar de toda a sua conhecida honra, o sujeito foi pra guerra e voltou com um filho bastardo nos braços! Ninguém parece conseguir manter o pênis dentro das calças, na história...
A esposa do sujeito, a Senhora Catelyn, apesar de ser toda Grande Dama Certinha, foi deflorada pelo cafetão do conselho real, e não consegue esquecer o sujeito.
Theon Greyjoy? Sádico com as mulheres!
Khal Drogo, Sádico também!
Daenerys Targaryen acabou gostando do comportamento sexual do marido, o que não deixa de classificar a guria como masoquista.
Falando neles, os Targaryen tem uma tradição de incesto entre irmãos. Não, não foi o Drogo que deflorou a Dany, foi o irmão "furioso", Viserys.
Cerceis e Jamie, irmãos gêmeos, também curtem um incesto! A Cerceis ainda curte mais a coisa, porque não poupa irmãos, primos... Se é da família, tá valendo!
Sansa Stark tem seu complexo de Princesa em Apuros.
Brienee de Tarth e seu amor platônico por Renly Baratheon.
Lysa Arryn, do ninho da águias, e sua fixação doentia pelo próprio filho, que mama no peito apesar de já ter oito anos!
Palla, de Winterfel, uma ninfomaníaca declarada!
Hother Crowford, o Terror das Rameiras - título oficial e auto-explicativo...
Ainda há os Frey, com seu patriarca, Walder, que mantém as filhas e netas como esposas!
E isso me lembra o velho Craster, ao norte da muralha, que sacrifica todos os filhos homens para os Outros, e desposa todas as filhas e netas!

Ah, lembrei do "momento revolução francesa" em Porto Real: Todos os Cavaleiros e nobres pegos pela turba enfurecida foram mortos à pedradas e pauladas, exceto Lollys, a única mulher derrubada de seu cavalo, que foi estuprada por pelo menos quarenta cidadãos e depois largada, nua, na rua...

E não só os guerreiros Dothraki mas também todos os grupos de guerra dos três reis são compostos por bandos de estupradores convictos, que violentam todas as mulheres, guardando as mais jovens como prostitutas, as vezes inclusive deixando-as expostas em praça pública para serem "aproveitadas" por qualquer um que as queira!

E eu nem vou falar dos personagens com inclinação homossexual da trama, porque se eu colocar isso entre os personagens com "problemas sexuais", provavelmente os direitistas vão fazer escândalo... Mas há alguns destes também, inclusive alguns pedófilos...

FIM DAS POTENCIAIS REVELAÇÕES SOBRE A TRAMA

Oh, bem... Na verdade, ainda há outras questões no modo de escrever do sr. George que me incomodam, mas essa postagem vai ficar realmente longa se eu continuar, e posso guardar algumas opiniões para postagens posteriores - ainda quero falar um pouco sobre o primeiro e o segundo livro, comparando-os entre sí.

Enfim!

George R. R. Martin pode ser considerado por muitos como o "Tolkien Americano", mas pra mim, ele se parece muito mais com um nerd velho e gordo com problemas sexuais!

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Crônicas Saxônicas - Terra em Chamas


Findo o último dos livros das Crônicas Saxônicas ao qual tenho acesso. Não sei se mais algum já foi escrito ou traduzido, mas espero ansiosamente pela continuação da saga de Uhtred de Bebbanburg.

A leitura desse livro, assim como seu antecessor, foi gravemente perturbada pelo meu estado de espírito. Eu devorei este livro até a metade mais porque precisava ler algo pra manter a mente focada do que para apreciar a leitura. Como conseqüência, só consegui fruir do final do livro. Li um Readers Digest quando já tinha passado do meio deste quinto livro d'As Crônicas - cujas quatro histórias eram igualmente lamentáveis... - e assim, consegui ler os últimos cinco capítulos, apenas, com um mínimo de concentração na história.

Assim, não posso dizer muito sobre o livro. Tem um bom final, posso garantir, e poderia terminar ali mesmo, diferente dos três anteriores. O final é agridoce, bem ao meu gosto, e apesar de deixar uma vontade de ler o que acontece a seguir, me deixou satisfeito.

Uma das coisas que percebi nesse livro é que o tempo decorrido entre ele e A Canção da Espada foi longo, e muitas coisas mudaram entre os dois livros. Muitos personagens envelheceram, e eu não fui capaz de acompanhar esse envelhecimento. Não consigo imaginar o Uhtred deste livro, nem Ragnar ou mesmo Brida. Apesar de haver boas descrições destes personagens, eu simplesmente continuo lembrando de seus semblantes como um bando de jovens cheios de energia e vida, e não como pessoas mais velhas do que eu sou agora, cada um com suas características de "gente madura". Creio que isso foi muito devido à minha leitura sem foco completo no livro anterior e neste d'As Crônicas, mas não sei até onde isso é verdade, e até onde a culpa "real" é do autor. Quando reler essa saga novamente, espero que essa incapacidade de acompanhar o envelhecimento dos personagens seja sanada.

Enfim! Lamentavelmente desnorteado durante a leitura deste livro, só posso dizer que, apesar de tudo, Bernard Cornwell me levou em uma viagem maravilhosa pela Inglaterra medieval, me ensinando detalhes da vida daquele povo naquele período histórico que certamente enriqueceram meu pequeno livrinho de conhecimentos gerais! E me deixou boquiaberto com sua capacidade impar de descrever um combate!

terça-feira, 19 de julho de 2011

Crônicas Saxônicas - A Canção da Espada


Este é um livro que precisarei ler outra vez, algum dia.

Não apenas por ser um bom livro, mas, principalmente, porque ele não foi degustado como os anteriores. Ele foi muito usado como uma tábua-salva-vivas, enquanto eu me afogava num mar revolto e gelado de fim de namoro. O resultado, óbvio, é que lí, porque naquele momento, mais do que querer ler, eu precisava ler desesperadamente, e acabei não absorvendo a história do livro. Não "entrei" Wessex do século IX como nos livros anteriores.

Assim, esta é uma, digamos, "resenha parcial". Eventualmente, quando voltar a ler esse livro, eu farei uma resenha de verdade. Preciso ler de coração, pra poder escrever de coração, afinal de contas.

A Canção da Espada do título se refere ao sentimento de guerreiro que nosso amado Uhtred sente neste livro. Ele, aqui, é um guerreiro maduro, poderoso, no auge da sua capacidade, e com uma reputação terrível!

Não vou contar da história propriamente dita aqui, mas, como o próprio autor revela no final, em suas Notas históricas, este é o mais romanceado de todos os livros até aqui. E é exatamente essa a impressão que temos - ao menos quando lemos isso nas Notas Históricas. A história segue sendo contada do mesmo modo, e os personagens continuam com suas mesmas naturezas, mas há um "quê" de... Hum.... Não sei, conto de fadas, talvez.

Uhtred, nosso bom Uhtred, tornou-se um mestre da espada-escudo. Ele mata, destrói, esquarteja os inimigos sem dó nem piedade, e a maneira como Cornwell descreve essas ações nos fazem perceber que nesse ponto da historia, ele é seguro, confiante. Não há nada de indecisão em suas ações. Esse, na verdade, é o ponto mais interessante do livro. Perceber a evolução do personagem até esse ponto. É fabuloso se sentir como um expectador da história de Uhtred.

Um excelente livro de uma excelente saga. Não sei se o melhor de todos, porque, afinal, houveram muitos sentimentos pairando ao meu redor enquanto lia este capítulo da saga de Uhtred, mas com certeza um livro que te impulsiona na direção dos próximos capítulos.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Crônicas Saxônicas - Os Senhores do Norte


Depois da decepção do segundo livro, o terceiro livro das Crônicas Saxônicas me entusiasmou bastante a seguir acompanhando Uhtred em sua busca pela retomada de Bebbanburg! E dessa vez, desiludido com Alfredo, nosso "herói" parte pro ataque, contra os seus inimigos na Notúmbria!

Esse livro foi, até aqui, o mais emocionante de todos! Antigos personagens voltando a aparecer, novos dando as caras, e muitas viradas bizarras ao longo do livro - além de algumas boas batalhas! - realmente fizeram esse o meu livro favorito até aqui. Eu senti frio com Uhtred durante as noites chuvosas, passei fome e adoecí com ele no mar, odiei Kjartan mais do que já odiava, e tive muito medo da matilha de cães parida do caos!

Alias, eu preciso realmente falar sobree a maldita matilha de cães de Kjartan; eu comecei a ler o caítulo final do livro numa madrugada chuvosa de inverno, e acompanhei Uhtred e seus homens na invasão Dunholm debaixo de uma fria garoa e chicoteado por um vento tão frio que parecia que bicava a carne até chegar aos ossos, enquanto o grupo de invasores, por sua vez, se esgueirava debaixo de uma chuva torrencial em uma noite de inverno igualmente fria. Assim, eu "senti" o que eles sentiam, e minha experiência de leitura foi muito mais profunda do que fora até aqui. Dessa forma, praticamente ao lado dos homens de Wessex em seu ataque à fortaleza, eu fui surpreendido, e tremi paralizado de medo quando Kjartan soltou sua matilha de cães assassinos sobre nós. E quando ouvi o lamento de Thyra, e vislumbrei sua tétrica figura saindo do castelo, eu chorei, sentindo o mais puro terror. O medo cresceu a tal ponto, que precisei fechar o livro e interromper a leitura, que só foi retomada quando cheguei em casa e preparei uma caneca de café quante. Terminei o livro, ainda naquela manhã, com um céu cinzento e um vento úmido fazendo tremer minha janela e uivando como aquela matilha maldita.

Este livro me impressionou profundamente, não só pela capacidade de descrição de Cornwell mas também pela sua capacidade de criar situações inusitadas e inspirar o leitor ao longo da narrativa. Um livro perfeito, que com certeza vou guardar na lembrança como uma das melhores obras literárias que já tive o prazer de fruir!