quinta-feira, 30 de abril de 2020

The Fractal Prince

The Fractal Prince é o segundo livro de Hannu Rajaniemi, e é uma continuação direta de The Quantun Thief (que eu já resenhei aqui). Levei algum tempo pra descobrir que o livro original dessa atualmente) trilogia existia, e o audiobook ficou algum tempo esperando no HD do meu micro pra ser ouvido, enquanto eu escutava The Wheel of Time, o que, considerando que são 16 livros, levou algum tempo pra acontecer (mais especificamente, três anos inteiros).

Três anos. Eu não tinha me dado conta disso até esse momento. Definitivamente preciso fazer uma resenha da série como um todo....

Mas estou derivando.

Do momento que eu soube que este livro existia até o momento de começar a ouvi-lo de fato, a continuação dele foi lançada, e eu acabei baixando ela também, e certamente vou ouvi-la em breve. Mas definitivamente vai ter que ser depois de escutar alguma coisa menos.... Complexa.

Assim como seu predecessor, este livro é denso com idéias complexas e conceitos metafísicos. De fato, este livro é extremamente complexo, porque além das questões de transhumanismo e política em escala interplanetária, Rajaniemi escolheu contar a história do principe fractal como uma história das mil e uma noites, com contos dentro de outros contos. De fato, a coisa é feita de forma tão intrincada que inception (o filme com Leonardo DiCaprio, pra deixar bem claro) parece um episódio de Caverna do Dragão em comparação.

Le Flambeur conta histórias sobre seus sonhos e memórias enquanto está disfarçado como outras pessoas se passando por um impostor fingindo ser algum outro sujeito. E as histórias e contos que ele narra algumas vezes contem algum tipo de narrativa dentro delas mesmas. São tantas camadas de contos, uns dentro dos outros, que em dado momento fica difícil saber quem é o verdadeiro Le Flambeur dentro da trama como um todo, o que é totalmente intencional.

O livro abre com alguns capítulos realmente difíceis de deglutir, com conceitos exotéricos aparentemente narrados de forma que seja impossível de acompanhar - quase como criando uma atmosfera de sonho, uma realidade que não pode ser realmente compreendida porque não faz sentido. Ou isso ou eu realmente tenho sérias limitações em compreender conceitos de fisica e matemática, como por exemplo a idéia de alguém "surfando em um ângulo deficitário" - seja lá o que isso significa.... Bom, o livro (ou série, como já são três deles) tem inclusive um glossário de termos, pra que seja possível entender algumas coisas ao menos superficialmente sobre o cenário.

Mas, passados esses capítulos iniciais, o autor passa a trabalhar com uma narração mais direta - apesar da quantidade de conceitos extravagantes presentes na obra.

E não pensem que a analogia com as Mil e Uma Noites foi uma escolha incongruente. Este livro trás uma série de alegorias à cultura do oriente médio, algumas mais remotas, outras bastante diretas. De fato, a estrutura narrativa do livro e as alegorias que ele faz criam uma aura de misticismo ao redor da obra, que em alguns pontos quase se confunde com fantasia, embora seu tema central ainda seja um dos mais clássicos da ficção científica (o transhumanismo).

Assim como o anterior, este livro é extremamente bem escrito e tem uma história excelente, e se não fosse tão denso em idéias "não euclidianas" e com narrativas tquase kafkianas, eu iria para sua continuação imediatamente. Mas meu cérebro precisa se recuperar da quantidade de informação que precisou processar ao longo desse livro pra que suas válvulas não queimem - porque minha capacidade de processamento cerebral está bem mais próxima dos diodos, válvulas e pistões de um cenário steampunk do que do pós-humanista futuro de Jean Le Flambeur.

Assim como seu antecessor, leitura fortemente recomendada - de fato, eu espero pelo dia em que vou encontrar alguém que tenha lido algum dos livros da série pra poder comparar minha incompreensividade (esse termo existe...?) com relação à alguns dos conceitos do cenário!