sábado, 30 de junho de 2012

Tudo a Seu Tempo II

Muito bem! 

Seguindo a orientação da Saoki, aqui vai a coisa toda, finalizada! 
Não sei se é completamente compreensível pra todos, uma vez que me venho em um sonho - sim, uma vez, eu sonhei em quadrinhos! Mesmo! - e portanto é extremamente óbvia e simples pra mim.... 

Opiniões seriam muitíssimo benvindas e honestamente apreciadas! Principalmente à respeito da questão de sentido e legibilidade! 

Pra quem não conhece o sistema, é só clicar na primeira imagem e ir pressionando o botão da direita pra ler as páginas seguintes.









sexta-feira, 29 de junho de 2012

A Mão Esquerda da Escuridão



Um dos livros mais difícies que eu já li, apesar da leitura extremamente fácil. Sem galanteios, de uma concisão extremamente elegante, a obra de Ursula K. Le Guin é um estudo antropológico, filosófico, psicológico e político de um planeta alienígena, refletido magistralmente na nossa própria sociedade.

Le Guin nos leva ao planeta Inverno, (Gethen para os nativos) através dos olhos do explorador Genly Ai, cuja missão é agregar pacificamente esse mundo a uma união planetária soberana. Assim como no plano político de 1969, ano em que o livro foi publicado, Gethen está dividido em duas grandes nações: Karhide, uma representação do mundo ocidental liderado por um rei e Orgoreyn, o lado oriental e orientado para um governo pseudo comunista. A missão de Genly se inicia em Karhide, mas depois do que parece uma rejeição por parte do governo, ele parte para Orgoreyn, onde a máquina política parece mais simpática aos planos de Genly, ao menos até perceber-se que governos totalitários, alienígenas ou não, dificilmente são confiáveis.

Mas o que há de realmente interessante em Gethen é seu povo. Humanóides de aparência tão semelhante à nossa que Ai pode se passar por um deles, mas com uma característica física única: desprovidos de uma sexualidade definida, os gethenianos são andróginos, o que os torna desprovidos, na maior parte do tempo, das distrações sexuais e o dos impulsos sentimentais ou questões ligadas à relacionamentos. A sexualidade aflora apenas durante um curto período mensal de "cio", ou “kemmer”, onde dependendo das condições, o getheniano pode desenvolver tanto características masculinas como femininas. Essas características fazem com que parecem frios, distantes, lógicos, serenos, e propicia o desenvolvimento de uma sociedade onde o indivíduo busca o status social, mas todos são tratados como iguais, e a sobrevivência da comunidade é mais importante do que as necessidades do indivíduo.

O primeiro desafio de Genly Ai é justamente o de interagir corretamente com uma sociedade como essa, sem distinção sexual e com uma política isolacionista. Uma sociedade que o trata como um “pervertido”, já que mantém permanentemente sua sexualidade definida, em perpétuo “kemmer”. E há ainda a dificuldade de entender o lento desenvolvimento de uma sociedade cujo ponto principal da cultura, a base religiosa é o conceito de "nusuth", ou "não importa". Um conceito semelhante ao de algumas religiões orientais humanas, mas ainda mais forte e arraigado na cultura getheniana, que dita que nenhum esforço deve exceder seu resultado final, e nenhuma ação que não tenha um objetivo claro e proveitoso deve ser tomada.

Uma das características mais interessantes do livro, em termos de narrativa, é o fato de que cada capítulo é contado por um narrador diferente, e sempre com um tom de curiosidade alienígena, de incompreensão. As vezes temos o próprio Genly ai como narrador, as vezes relatos de lendas do planeta contadas por exploradores anteriores e ainda mais ignorantes sobre os gethenianos e as vezes temos os diários de Estraven, que geralmente tratam da natureza de Genly. Esse olhar estrangeiro sobre todos os pontos da história criam uma interessante atmosfera de verossimilhança, já que estamos continuamente vendo alienígenas olhando uns para os outros entre si, como nós mesmos fazemos quando encontramos pessoas de culturas diferentes da nossa. E Le Guin cria uma cultura extremamente rica, sólida, concisa e lógica, com diferentes nuances, com questões políticas e sociais muito bem atreladas entre si.

Estraven, alias, é um dos personagens mais perfeitos que já li. Suas intenções e ações, apesar de extremamente verossímeis, são extremamente alienígenas para o leitor e fazem com que seja impossível classifica-lo como herói, vilão, mártir, inimigo ou qualquer outro estereótipo padrão.

Outra característica extremamente acertada, e que torna o romance extremamente vívido, é o fato de que não há um antagonista proclamado. Não há inimigos óbvios. Genly luta contra a cultura, a a distopia burocrática, a fisiologia dos gethenianos, e finalmente contra o próprio clima inóspito e mortal do planeta.

Ursula K. Le Guin cria um romance rico, que nos faz pensar sobre nossa própria cultura, nossa eterna busca por respostas, nossa incapacidade de nos desatrelarmos da nossa sexualidade no que diz respeito às nossas relações sociais, e nos leva a refletir sobre a mais simples e mais complexa das questões que permeia nossa sociedade: as diferenças entre os gêneros só existe nos olhos daqueles que não percebem que somos todos unica e simplesmente humanos.


“A luz é a mão esquerda da escuridão
e a escuridão é a mão direita da luz…”

terça-feira, 26 de junho de 2012

Tudo a seu tempo I




















Eu descobri que não gosto de desenhar histórias em quadrinhos. Diferente de ilustrações de RPG, quando eu faço uma página que não fica perfeita, eu me sinto extremamente decepcionado. E sempre parece que o trabalho ficou muito aquém do que poderia.

Mas acontece que essa HQ tem toda uma razão de ser - ela me veio num sonho, alguns anos atrás. Inteira, quadrinizada, pronta! Acordei no meio da noite, escrevi todo o roteiro e o storyboard! Na época eu trabalhava em um estudio de animação, então fui protelando o projeto.

Acabei por desenhar as páginas há uns três anos atrás... E então descobri que tinha perdido o roteiro original! Apesar de saber o plot central, e poder chutar o roteiro baseado na minha memória/storyboard, não importa quanto eu tente, eu sei que alguma coisa muito importante se perdeu no caminho...

A história travou mais uma vez nesse ponto, e agora, por questões pessoais, eu tinha decidido retomar o projeto. Encontrei uma boa oportunidade pra finalizar tudo.

Infelizmente, a oportunidade se perdeu...

Mas dessa vez, eu vou até o fim. Não vou mais ser atacado por essa história de sete páginas! Eu vou terminar isso, e passar pro próximo projeto! Tá mais que na hora de exorcizar esse demônio!

Os desenhos estão bem ruins, porque são de três anos atrás, e minha arte-final não é tão boa assim a ponto de salvar o trabalho. Além disso, como eu disse, o roteiro é uma reconstrução do original, e eu sei que ele tem... algo errado.

Mas não importa. Eu quero espantar esse fantasma, e com sorte alguns outros o sigam!

Ficam aí as duas primeiras páginas. Devo publicar as outras de duas em duas, ao longo do mês de julho.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Pesadelos

Hoje estava aqui dando uma arrumada no atelier, depois de pintar o lugar parcialmente, e encontrei uma pasta muito, muito velha, dessas de couro com fecho de metal, como as clássicas pastas de executivos. Cheirando a mofo, uma coisa fantástica... Abri a coisa, meio curioso, meio preocupado. 

Foi uma viagem ao passado. Milhões de poemas velhos - Deuses, como eu escrevia mal! - fichas de personagens, anotações de campanhas, rascunhos de cartas, resumos de aulas do ILA e conversas escritas em pedaços rasgados de papel entre mim e colegas de faculdade. Foi fantástico lembrar aquele tempo! Lembrar como eu era ingênuo, como eu sabia tão pouco de tudo, e como isso era absolutamente perfeito na época!

Algumas preciosidades apareceram: um cartaz de live, um rascunho pra uma capa de CD de uma banda que nunca aconteceu, contos e poemas de amigos, letras de músicas escritas por gente que já morreu... 

Tudo isso datado de 1999. Os desenhos tinham datas - nessa época eu usava datação nos meus desenhos - assim como as anotações de aula, e até algumas conversas tinham a data de 99. Não foi uma viagem pra um passado aleatório, ou pra uma época muito abrangente. Viajei de volta à um ano específico. Com um cigarro e um copo de coquetel, lembrei que na época eu não fumava nem bebia... Lembrei que não tinha namorado, e que aquelas amigas com quem eu conversava eram gurias com quem eu gostaria de namorar - não, em 99 eu nunca tinha namorado, ficado, beijado... Nada! 

Então, encontrei um envelope. Uma coisa verlha e manchada de ferrugem, sem nenhuma anotação externa. Dentro, um grosso volume de papéis dobrados em quatro. Abri, e dei uma olhada na primeira e percebi que se tratava de uma anotação rápida, nervosa, difícil de ler. 

Era um pesadelo. 

Contei as folhas. 12. Doze recordações dolorosas de noites interrompidas. 

Sofro de pesadelos desde que me lembro. Na verdade, eu raramente sonho - conto nos dedos de uma mão todos os sonhos que tive, excluídos os pesadelos, entre recorrentes e totalmente novos e inéditos...

Assim, decidi dar uma olhada naqueles garrachos nervosos. Aquela curiosidade mórbida de saber se ali haveriam alguns dos meus pesadelos recorrentes, se eu já havia sonhado com alguma daquelas coisas recentemente. Um momento de puro prazer masoquista dos auto-destrutivos. 

Um pesadelo recorrente. apesar de achar difícil ler, reconheci todos os sentimentos, as imagens. Mas a linguagem era estranha... Palavras que eu nunca usei, ou tempos verbais estranhos. Aquilo me causou uma sensação estranha, um medo esquisito, não sei bem como definir. 

Mas o horror se deu quando eu cheguei ao final da leitura. A última frase era:
"E acordei. Tateei Domênico ao meu lado e abracei-o, enquanto ele tentava, muito confuso, confortar-me." 

Levei um susto. Um frio me subiu pelo corpo. Peguei as outras folhas e li o final. Mais duas me mencionavam! 

Li os outos pesadelos. Um outro - dos quais eu não "aparecia" - era um dos meus pesadelos recorrentes. Os outros não são pesadelos que lembro de ter tido. 

Agora, estou aqui, tentando entender... Se não fui eu, quem escreveu isso? E como eu posso ser mencionado em 99, quando eu nunca tinha dormido com alguém? Se não era desse ano, então porque estão naquela pasta? Diabos, eu nem sequer consigo lembrar de ter sido acordado por uma das minhas namoradas por causa de um pesadelo!

E como alguém poderia ter os mesmos pesadelos que eu?!? 

Yule


Pois então chegou Yule. A época do ano que eu gosto de tirar pra fazer o balanço e refletir. Quando o inverno começa, quando o frio se anuncia, eu penso que é hora de organizar o pensamento, chegar em Yule com a alma leve e decidida.

Mas esse ano? Esse ano o frio da alma era maior que o do corpo. O fogo não fez sumir essa confusão toda. O inicio do frio trazia promessas que se perderam, tanta coisa se transformou e se despedaçou, e eu não consegui realmente pensar, refletir sobre nada. Meu coração é um turbilhão de dúvidas, certezas amargas e caminhos incertos.

Yule é época de recomeços e renascimentos. E sempre foi assim pra mim. Sentar na beira do fogo, com um bom vinho vagabundo e meia duzia de bergamotas ainda não tão doces assim, e há alguns, a última leva de pinhões da casa, guardada especialmente pra essa noite. O fogo é aceso com presteza, por conta do frio, e depois de alguns minutos tendo certeza que ele vai mesmo se manter, eu sento ali, no calor, meio enroscado no meu velho casaco e repenso todo o ano anterior, fazendo os planos pro próximo ano, me preparando pra aproveitar o frio do inverno e reconfortado em saber que em Imbolc o frio vai estar bom pra outro fogo, que aqueles desejos plantados em Yule vão ter crescido e estarão começando a brotar fortes!

No primeiro frio do inverno, eu tracei o primeiro plano pra Yule. Comemoraria uns dias mais cedo, pra poder estar acompanhado e, pela primeira vez, dividir reflexões e planos. E quando os pinhões começaram a rarear, separei um bom punhado deles, ainda gordos e brilhantes. Eu sabia que este Yule seria mais farto, mais completo, pela primeira vez. Cheio de planos bons!

Mas o inverno veio, e a medida que os dias frios avançaram meus planos foram morrendo. Finalmente, em algum ponto entre aquele dia frio e feliz de promessa de inverno e a noite de Yule, além de planos descontinuados, vieram incertezas e promessas macabras. os planos que eu consegui traçar não chegam a ser planos, só esperas.

Só o que pude pensar, sentado na beira do fogo, com aquelas bergamotas meio azedas e um embornal de pinhões crus foi que esperança é a única coisa que eu não posso perder nesse inverno. Que se não há planos, só esperas incertas, eu tenho que reunir toda a minha vontade pra que estas esperas se façam valer.  Se só me resta aguardar Imbolc e desejar que alguma coisa floresça desse tereno revolvido e sem nada plantado que ficou de Yule, eu devo procurar, observar e cultivar tudo o que germinar.

A noite de Yule foi muito triste, e o inverno que se anuncia será longo, solitário e muito, muito frio, mas nem assim eu me permitirei deixar morrer aquela chama que ainda queima no meu peito.

E se Yule não foi o que eu esperava, foi uma lembrança que não posso desistir. Que preciso ter esperança de que no próximo ano as bergamotas estarão mais doces, os pinhões mais fartos e a companhia presente!

sexta-feira, 15 de junho de 2012

No tempo de um cigarro I

Uma pequena série em histórias de uma página sobre aquelas pequenas coisas que podem acontecer no tempo de um cigarro.

Agradecimentos especiais ao Bruno Campelo, que compartilhou comigo a idéia original desse projeto e ao Leandro Peixoto que me ajudou no refinamento da idéia original!


Sugiro fortemente abrir a imagem no tamanho completo, pra ser possível ler minha terrível letra!

Comentários seriam MUITO benvindos (eu sou de Rio Grande, e é assim que se escreve lá!), principalmente sobre a legibilidade!

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Blog sob nova direção!

Bueno, minha gente... Já há algum tempo o blog estava praticamente nas mãos de apenas um dos fundadores. Agora a coisa é oficial. Ficou só o desenhista barbudo, sentimentaloide e sem nenhum traquejo social no comando do barco!

Algumas pessoas nem vão notar a diferença, já que eu vinha mesmo mantendo o lugar quase solito. Outras pessoas talvez notem, e algumas provavelmente vão parar de visitar o lugar. Enfim, mudanças são sempre assim: Algumas pessoas gostam, outras não, e tem aqueles que nem percebem!

Algumas das postagens foram apagadas, e o perfil por enquanto está esperando atualizações - alguém notou que ele tinha sido parcialmente apagado e ficou completamente sem sentido?! Eu só me dei conta disso hoje, por isso vim dar uma arrumada no lugar! Para aqueles que sentirem falta das postagens antigas - duvido que alguém realmente leia postagens mais antigas, e duvido que alguém realmente releia elas pra sentir falta... - só posso lamentar. elas foram embora, mesmo. O próprio "dono" do lugar, o Café com Letra, também não existe mais. A conta foi extinta. ficou só o Domênico, mesmo. Todas as postagens que não tinham sido originalmente escritas por mim foram apagadas, e é isso aí.

Bom, mas isso é sobre o conteúdo antigo. E daqui pra frente, o que muda?

Quando pensamos originalmente no blog, o objetivo era que fosse um local pra ensaios de escrita. Estávamos interessados em escrever e publicar. Inicialmente só pra nós mesmos, mas as pessoas começaram a visitar - e admito que EU gostei muito da ideia!

Atualmente, apesar de algumas postagens autorais, vez por outra, o Café com Letra se tornou basicamente um blog de resenhas. Bom, as resenhas vão continuar - porque eu continuo lendo bastante, e adoro dividir a experiência com os outros! - mas acredito que textos autorais vão aparecer com mais frequência. Talvez um conto, uma experiência pessoal, não sei bem. Ando muito inclinado a escrever ultimamente. Mas, como eu já disse, eu vinha mantendo o lugar, então acho que o conteúdo das postagens deve se manter mais ou menos no mesmo nível. Exceto que, agora, não existe mais nenhum tipo de sensor além do meu bom-senso - antes eu juro que eu tentava não ofender ninguém, direta ou indiretamente, nem colocar opiniões pessoais de forma muito explícita, quando estava escrevendo, porque a autoria do blog não era só minha! Não queria que outra pessoa saísse responsabilizada pela minha boçalidade eventual!  Agora? Bom, digamos que o meu bom-senso não é um sensor lá muito competente...

Ah, sim: Talvez - mas só talvez, mesmo - apareçam uns desenhos meus por aqui. agora que o blog tá linkado na minha conta principal, fica muito mais fácil administrar o lugar, então provavelmente vão rolar uns rabiscos de vez em quando!

Bom, pra finalizar essa postagem de "casa velha, inquilino novo", eu gostaria de pedir que as pessoas que costumam aparecer por aqui me deixem um Oi de vez em quando! É tri chato verificar que o blog teve trinta, quarenta visitas e nenhum comentariozinho...

Bueno, no mais, era só isso mesmo!

Um breve momento

Este é um pequeno relato escrito há alguns meses. Hoje, enquanto revisava o blog - o lugar precisava ser re-organizado, afinal... - acabei topando com essa insólita narrativa gravada mas não publicada. Foi uma interessante viagem no tempo até aquele momento. E ainda mais fascinante pelo fato de que, mais ou menos meio ano depois, estou revivendo aquele momento mais uma vez - exceto pelos malditos machucados na mão.

Apesar de ter um começo, e uma evolução quase lógica, com certa coerência. esse pequeno... Momento não teve um final. então para aqueles que não gostam de narrativas interrompidas, sugiro pularem pra próxima postagem.

===***===

A manhã começa a raiar ao meu redor, enquanto sento desolado numa sala suja, envolto em fumaça de cigarro e cheiro de café.

Me dou conta que só há uma coisa que eu desejo nesse momento: escrever.

Um machucado com mais ou menos uma semana de vida estrategicamente localizado não permite que use minha mesa de desenho, indispensável para a finalização do meu trabalho. Para agravar o problema com desenhos, ontem, enquanto terminava de limpar os restos deixados pela festa de aniversário do sábado/domingo, feri os dedos da mão esquerda, e agora nem sequer consigo rabiscar de forma decente. E minha deadline já está estourada...

Por algum motivo estranho, eu simplesmente não sou mais capaz de dormir de forma... Extensiva. Se antes seis horas de sono me satisfaziam plenamente, agora eu não consigo permanecer adormecido por mais do que quatro. Eu simplesmente acordo e fico sonolento por cerca de meia hora. Passados os trinta minutos de sonolência, permanecer deitado se torna desagradável. Graças a isso, meus dias têm sido longos, muito longos! O fenômeno começou três semanas atrás, e o que pensei que seria uma situação passageira tem se mostrado uma condição insistente.

E recentemente, ainda há a questão do álcool. Tenho ingerido bem mais do que em minha rotina regular da vida anterior ao evento que me fez encher a cara de modo profissional pela primeira vez. O mais engraçado foi descobrir que eu sou muito, muito resistente à embriagues. O que parece não ser surpresa pra ninguém exceto pra mim mesmo - sim, eu fico surpreso, porque eu sempre acreditei que o hábito de beber ajudava a desenvolver resistência, mas parece que isso não faz lá muito sentido...

Ah, sim, eu estou devaneando sobre um assunto por parágrafo. Não é ótimo? Adoro escrita não-linear! Afinal, isso é um blog, não um documento oficial ou publicação série, então eu posso viajar tanto quanto quiser, não estou certo?

Uma pausa rápida pra preparar um café e um cachimbo.

Sete minutos.

Meus fósforos acabaram, então estou com uma vela acesa pra acender o fumo. Produz uma iluminação interessante...

Ganhei um cachimbo de presente de aniversário. Ele é minusculo, e toda vez que fumo nele imagino que ele foi desenvolvido especificamente pra fumar maconha, devido ao tamanho. O fornilho não é mais fundo do que uma unha. E não, eu não fumo maconha, então provavelmente nunca vou saber se ele (o cachimbo) é mesmo bom pra isso.

Escuto Amanda Palmer cantar com sua voz forte, limpa clara nos meus ouvidos. Uma canção alegre e rítmica cujo nome eu não sei, e na qual não presto realmente atenção. A voz é uma lembrança dos acontecimentos das últimas semanas. 

Um Cântico para Leibowitz


Um Cântico para Leibowitz é um desses livros que depois que a gente lê, fica pensando nas motivações do homem.

Apesar de ter algumas partes muito bem-humoradas, particularmente no início, Walter M. Miller Junior tece nesse romance uma complexa reflexão envolvente sobre crença e avanço tecnológico.

O livro gira, em suas três partes, em torno de um cenário passado num futuro onde a humanidade quase destruiu a sí própria em uma catástrofe nuclear.

Criando uma pantomima da história humana, a primeira parte, Fiat Homo, narra uma época em que a ignorância e o medo supersticioso são a lei, e o pouco conhecimento é mantido pela Igreja, que no entanto desconhece seu real significado. Uma interessante visão sobre a o quanto a fé precisa da ignorância para se manter.

Adiante, na segunda parte do livro, intitulada Fiat Lux, passamos por outras "versões" da nossa história, com uma visitação à um momento onde o conhecimento tecnológico torna-se uma meta, e a superstição, apesar de ainda estar presente, não é mais tão repressiva quanto as questões do estado e da busca pelo conhecimento.

Finalmente, em Fiat Voluntas Tua, o livro termina com uma visão de um futuro que vai além da nossa contemporaneidade, numa extrapolação possível sobre o nosso próprio futuro próximo, em um cenário onde os humanos atingem as estrelas mas ainda são incapazes de lidar consigo mesmos de modo coerente.

Num ciclo de destruição e renascimento, o livro cria uma visão pessimista sobre como o homem é incapaz de controlar seu impulso destrutivo, depois de controlar o mundo ao seu redor. Será que uma ignorância pacífica seria uma alternativa melhor à esse conhecimento devorador?