quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Escrita constrangida

Volta e meia, eu decido tentar escrever alguma coisa. Qualquer coisa. Uma HQ, uma poesia, um conto. Em geral, desisto antes mesmo de começar. Sou muito ruim "parindo" idéias - e infelizmente não tenho um baúzinho delas guardada debaixo da cama.

Mas, em geral, essas tentativas geram descobertas interessantes. Mais de uma vez pesquisei um determinado assunto sobre o qual queria escrever, apenas pra encontrar tantas curiosidades sobre o objeto de pesquisa que acabo me perdendo na pesquisa e desisto de escrever - o que é sempre uma boa desculpa, pelo menos pra mim mesmo.

A última tentativa foi a de escrever um Acróstico - um texto em que a primeira letra de cada frase forma uma palavra ou frase. Acabei indo estudar o assunto e descobri que há várias formas de Escritas Constrangidas, isto é, uma técnica literária que impõe uma condição para a criação do texto (eu tentei achar piadas legais pra fazer com a expressão "constrangida", mas fui completamente ineficiente nisso, e desisti depois de quase cinco minutos escrevendo e apagando frases tão ruins que eu mesmo me sinto constrangido só de lembrar; olha, saiu a tal piada!). Há vários tipos de escrita constrangida:

Há os lipogramas, em que uma determinada letra é proibida. Essa forma de escrita gerou algumas obras interessantes através dos séculos, como versões dos poetas gregos Nestor de Laranda para a Ilíada de Homero sem nenhum "alpha" e a versão de  Tryphiodoros que teria escrito uma versão da Odisséia em que cada capítulo deixava de fora uma vogal. Além desses, temos Gadsby escrito em 1939 por Ernest Whright, que não contém nenhuma letra "E" em suas mais de 50.000 palavras, e ainda La Disparition escrito em 1969 por Georges Perec, e mais tarde traduzido para o inglês sob o título de A Void por Gilbert Adair, ambas as versões também evitando completamente a letra "E". Deve ser um exercício interessante de realizar - e provavelmente enlouquecedor!

O lipograma Inverso é um desafio um pouco maior, já que o texto deve ser escrito com palavras que tenham, todas elas, uma determinada letra. Se todas as palavras começarem com uma determinada letra, constitui-se um Texto Alier
ativo; Se a letra em questão for uma vogal, especificamente (aplicados aos dois casos acima, penso eu), chama-se a técnica de Literatura Univocálica. O supracitado Georges Perec escreveu uma novela em 1972 cujo nome é Les Revenentes que utiliza essa técnica. Esse cara certamente era maluco!

Temos ainda os Palíndromos, que são palavras ou frases que podem ser lidas de trás pra frente. Dessa técnica todo mundo conhece algum exemplo, como os famosos Roma/amor e a sem nexo "Socorram-me, subi no ônibus em Marrocos!", mas há vários exemplos, e na wikipedia tem uma lista enorme deles.

Finalmente, há os Anagramas, que é um tipo de jogo de palavras, que é feito rearranjando todas as letras de uma palavra ou frase para obter uma nova palavra ou frase. Um exemplo tupiniquim é Iracema, um Anagrama de América.

Pesquisar sobre o assunto também nos leva a outro assunto interessante, que são os jogos de palavras. Eu gostei da idéia de pesquisar sobre isso, e provavelmente vou fazer uma postagem sobre isso por aqui.

Em tempo: Eu tentei fazer dessa postagem um lipograma ou um acróstico, mas não fui feliz, e acabei desistindo. Assim, não tentem encontrar "pegadinhas" linguísticas no texto; não há nenhuma. É simplesmente uma postagem sobre curiosidades literárias, nada mais. ^_^

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

O Corsário Negro


Assim como ocorreu com o livro A Flecha Negra, comprei esse livro da coleção Grandes Clássicos Juvenis da Editora Globo por causa das ilustrações, e não pela história.

Assim como no caso de A Flecha Negra, esse livro não traz o nome do ilustrador, o que é lamentável. Apesar de não ser tão bom quanto o ilustrador do supracitado livro, o sujeito que fez as pinturas pra essa obra também produziu alguns trabalhos bastante evocativos - e o melhor, tratando de piratas!

A história em si, no entanto, é bem ruim. Emilio Salgari nos trás a triste história do pirata auto-intitulado Corsario Negro, em busca de vingança pela desonra dele e de seus irmãos pelas mãos de um político covarde e despótico. Nada de novo. A bizarrice começa quando tu descobre que os irmãos do Corsário Negro - que foram presos e executados pelo vilão, o tal político malvado - eram o Corsãrio Verde e o Corsário Negro. Daí que, considerando que o nosso "herói" tem o nome derivado da cor com a qual se veste predominantemente, temos uma imagem mental do baile de carnaval que deveriam ser os jantares dançantes da família Corsário...

Pra além disso, o livro trata basicamente da perseguição do Corsário atrás do vilão, enquanto este foge protegido pelos seus guardas através de uma ilha coberta com selva, com direito a areia movediça e emboscadas mal-sucedidas. Além de um amor à primeira vista com a filha do vilão, o Corsário encontra também um nobre honrado que defende os interesses da coroa, estando portanto no caminho da vingança do protagonista.

A coisa toda culmina no vilão escapando irremediavelmente, o Corsário matando de modo "cavalheiresco" o tal nobre honrado e a filha do vilão se suicidando para manter a "honra" da vingança do Corsário. E o livro termina com um pirata chorão. Tudo numa aparente tentativa patética de mostrar que a honra está acima de tudo e que os brutos também amam.

uma obra-prima do desnecessário. No fim do livro temos um pirata que perdeu um amor por conta de uma vingança, e o resto é encheção de linguiça. Muito ruim.

Não faço idéia se a obra original tinha algum nível de profundidade maior que justificasse o papel gasto pra imprimi-la, mas nessa versão infanto-juvenil só o que se salva são as ilustrações, mesmo.