sábado, 23 de janeiro de 2016

The Elfstones of Shannara

Esse livro, continuação de Sword of Shannara e parte integrante da trilogia ooriginal de livros desse cenário escritos por Terry Brooks veio junto com o livro anterior num pacotão de audiobooks em "fita k-7" - sempre acho engraçado quando termina uma parte da gravação e o narrador pede pro ouvinte virar a fita - que peguei quando me interessei pelo assunto. De fato, gostei tanto da experiência com audiobooks que, mal terminei de resenhar o livro anterior que tinha ouvido, já comecei este - e estou ansioso pra terminar essa resenha e ir pro próximo livro da trilogia de Shannara!

Esse livro, a continuação de Sword of shannara, é o segundo livro da assim chamada "trilogia original de Shannara" que são, basicamente, os três primeiros livros que Terry Brooks escreveu dentro desse cenário no final da década de 70. Esse livro me interessava ainda mais do que o primeiro por conta da série da MTV que adaptou os livros, e, como eu disse, foi parte do que me levou a catar esses audiobooks. 

E, como já se podia esperar, a adaptação guarda pouquíssimas semelhanças com o livro original fora os nomes de personagens e lugares. 

Ah, e aquele aviso amigo: Haverão revelações sobre a trama adiante! 

A primeira coisa que eu já tinha notado com relação à série dizia respeito ao druida Allanon. Nos livros, ele é um "Uma gigantesca figura negra  se assomando sobre os outros ao redor, com sua presença proibitiva". Sempre vestido em seus robes negros, com cara de poucos amigos, medindo mais de  2,10  de altura (sete pés no original) ele é sempre descrito como inquietante e amedrontador. O Allanon da série é um baixinho (ele é mais baixo que o Will, que é um meio-elfo!) fortinho com cara de perdido. Achei lamentável a escolha do ator. Outra coisa que me incomodou muito foi o fato do Will ter sido retratado como um caipira babaca, quado, no livro, ele é o cara que enrola os outros e aparece com os planos mais mirabolantes (que nem sempre dão certo, ok) pra sair de enrascadas. Fora isso, TODAS as relações entre personagens são completamente diferentes... Fora a linha geral da história (a árvore que prende os demônios fora do mundo está morrendo e a última guardiã precisa ser encontrada para restaura-la), a série e o livro não tem nada em comum. Mas ok, isso não invalida a série, que até é divertida, apesar de meio corrida demais (pelo menos os dois episódios que a MTV liberou no youtube). Só é pena que eu tenha escutado os livros porque, é aquela velha história: O livro é muito melhor. 

Esse livro tem bem menos personagens importantes do que o Sword of Shannara, focado principalmente em Will Ohmsferd (neto de Shea Ohmsferd, o portador da Espada de Shannara do primeiro livro) Amberle Elessedil (neta de Eventine Elessedil, que também aparece no primeiro livro e também é importante na história), na busca pelo bloodfire que permitirá reviver a aárvore mágica que mantém os Demônios banidos num outro plano de existência. Enquanto isso, Eventine e seu filho Ander Elessedil, ao lado do druda Allanon lutam para conter o avanço dos demônios que conseguem se libertar do Plano Proibido a medida que a Elcryst fica fraca e definha, tornando a barreira mais fraca. Poucos outros personagens têm peso relevante, incluindo Eretria, filha do lider de uma caravana de ladrões de estrada e Stee Jans, o personagem com o nome mais legal do livro, que é basicamente o guerreiro fodão da história. 

Elfstones of Shannara me tomou mais ou menos 22 horas e meia pra escutar, e deve muito pouco ao seu antecessor - apesar de, como bem definiu um amigo meu que já leu os livros, a série parecerem com filmes da sessão da tarde, uma definição pertinente que, de forma alguma diminui o divertimento oferecido pelas obras - na verdade, é um grande mérito, do meu ponto de vista! 

Assim como Sword of shannara, esse livro nunca foi traduzido para o português, mas recomendo fortemente a leitura pra aqueles que tiverem um bom domínio de inglês  - ou a "audição" se alguém se interessar em catar os audiobooks como eu fiz! Divertimento garantido! 

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

The Sword of Shannara

Bom, pra começar, esse foi o primeiro livro que eu não li. Eu ouvi. Já há algum tempo eu tinha ouvido falar sobre audiobooks, mas nunca tinha pensado em me aventurar neles. Recentemente, no entanto, eu fiquei extremamente curioso com a séie de livros de Terry Brooks sobre Shannara - eu já tinha ouvido falar sobre os livros, mas admito que foi a séria da MTV que me atiçou o suficiente pra ir deles de fato.

Eventualmente vou falar sobre os "porques" e "comos" acabei pegando esse livro em audio, mas o assunto é suficientemente extenso pra uma postagem própria, então vou me ater ao livro em si aqui, ao invés da questão sobre audiobooks.

Ah, sim: Haverão revelações sobre a trama adiante. Apesar de eu não entregar coisas importantes, haverá uma boa série de revelações, deixo avisado.

Como escutei o livro ao invés de ler, não tenho idéia de quantas páginas tem o livro original - o audiobook que peguei tinha cerca de 26 horas e meia de audio. Como escutei quase todo o tempo enquanto trabalhava - exceto uma pequena parte no início do audio pra me acostumar e depois a hora final, que eu queria realmente aproveitar - eu praticamente nem me dei conta do tempo decorrido, e levei só 3 dias pra ouvir o livro todo.

Com relação ao livro em, si, admito que, nas primeiras horas, achei que seria uma espécie de "Senhor dos Anéis às avessas", com um grupo de personagens atrás de um artefato ligado ao Lorde Negro do Mal que comandava exércitos ao invés de tentando destruir um artefato ligado ao Lorde Negro do Mal que comandava exércitos. Após algum tempo, no entanto, me dei conta que Sword of Shannara é bem mais que isso.

A história se inicia com Flick Ohmsford encontrando o mago/guia/mentor do livro (que é um filho-da-puta enganador, secretista e intimidador ao contrário do que se espera) e, ao lado dele, indo até o irmão adotivo de Flick, Shea, que é um meio-elfo. O nosso druida (é, ele é um druida, não um mago) revela que Shea é basicamente o sujeito destinado a derrotar o Lorde Negro do Mal (que na verdade se chama "warlock Lord; eu só uso a alcunha Lorde Negro do Mal pra qualquer vilão malvado de séries), e a coisa começa a tomar uma forma mais ou menos lógica de formar um grupo e ir atrás do artefato. Nada de muito novo até aqui.

O grupo de aventureiros. Adivinha qual deles é o Druida? 
O grupo em si, na verdade, vai se formando aos poucos, e acaba se desmontando, reformando, mudando e alterando ao longo do livro todo. Gente morre, mais gente se junta á campanha, é uma coisa maluca tentar lembrar do nome de todo mundo (são oito pessoas no grupo original, depois o grupo se separa e de um lado entram mais dois e do outro nós temos um monte de gente nova por que se junta ao esforço de guerra). Sim, tem uma guerra. Nosso Lorde Negro do Mal está tentando conquistar a Terra-Mé... Digo! As Quatro Terras (Four Lands no original), afinal de contas. Alguns personagens são extremamente carismáticos - num grupo desse tamanho, alguns recebem mais atenção, também - e outros nem tanto. O Druida, Allanon, é tão carismático como uma ratazana (uma ratazana enorme, mas ainda assim, uma ratazana) mas ele é o personagem que amarra as pontas da história, então eu acabei ficando o tempo todo esperando as partes que ele ia aparecer e enrolar o pessoal mas um pouco. O desgraçado solta todas as informações aos pedaços, e quase sempre esconde um monte de informações que parecem interessantes (por exemplo: Qual a história dos Elfos? Porque eles são diferentes das outras raças em sua origem? Bom, espero descobrir nos próximos livros...). Mas os modos enigmáticos dele servem um propósito - Que geralmente me faziam pensar "Ah, por isso ele não explicou essa parte desde o início!".

A busca pelo tal artefato (a Espada de Shannara, obviamente) em si não é nada novo. Mas o jeito que é contado, com os vais e vens, os "quases" e as repercussões desses "quases", o sentimento de que a coisa toda vai ir por água abaixo e a expectativa de como a história vai se desenrolar a partir do momento que tudo dá errado (e tudo dá errado quase o tempo todo! O Lorde Negro do Mal do livro é um safado inteligente!) mantém o "leitor" preso à história.

Eu também gostei particularmente das descrições das raças (elfos, humanos, anões, gnomos e trolls) apesar das descrições geográficas em si me parecerem muito monótonas. A história das Four Lands é muito interessante, com uma série de guerras ancestrais entre as raças que têm um peso enorme no atual estado das coisas, e uma divisão política bastante interessante de como as raças se separaram e se tornaram inimigas. A história em si, alias, dá uma sensação de que estamos lidando com uma versão de um futuro distante da nossa terra, depois de uma catástrofe atômica ou algo do gênero! Novamente, espero descobrir mais sobre isso nos outros livros da série.

Sword of Shannara não é particularmente brilhante ou original, principalmente nos dias que correm, onde filmes de fantasia pululam nas telas de cinemas na forma de blockbusters cheios de efeitos especiais, mas ainda assim é uma obra digna, interessante e cativante, cheia de personagens bastante originais.

Apesar de não ter uma versão em português, recomendo fortemente que qualquer um capaz de ler literatura em inglês - ou ouvir literatura em inglês, como eu fiz! - procure por esse livro pra ler. Vale muito a pena!

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Pedaços do Passado

Revirando hoje minha pasta de documentos - sempre achei que isso fosse coisa de gente "adulta", mas na verdade tenho ela desde o meu segundo grau - por um documento que vou precisar nos próximos dias, acabei aproveitando a oportunidade pra escrafunchar um pouco no que tinha ali.

Acontece que, além de documentos, eu guardo tudo o que tem um certo valor sentimental na tal pasta. Foi interessante reencontrar algumas coisas, das quais eu nem lembrava, na verdade.

As mais relevantes - ou interessantes - em ordem cronológica, são:

Janeiro de 1914: Certidão de nascimento do meu avô, escrita a mão (Sim, escrita toda a mão! Numa caligrafia entendível, alias!) diretamente de um cartório de São Lourenço.

Algum momento entre 1900 e 1950 (não sei precisar a data de forma alguma, então vou dar um bom espaço de tempo aí): Recorte de jornal amarelado com fotos do meu bizavô e tio-avô, com a seguinte legenda:

"Estaspando o <<O TEMPO>> na sua edição de aniversário os cliches do coronel Estevam Ziglia e João Ziglia Filho, adeantados rizicultores Rio Grandenses, presta uma homenagem justa a dois homens de trabalho, laboriosos e empreendedores a quem o município deve não resta dúvida uma bela página de serviços em pról da sua vida econômica."

Não conheço o jornal, e mesmo fazendo algumas pesquisas internet afora, não consegui descobrir nenhum jornal com o nome O Tempo no Rio Grande do Sul (tem um jornal com esse nome em Minas, mas obviamente não é o mesmo)

Engraçado que ao lado dessas fotos tem uma notícia bizarra:
"Depois da lua de mel veio a lua de fél - no oitavo dia do consorcio, o casalzinho alarmou a pensão com gritos e ferimenttos
Rio, 17 (A.N) - Na manhã de hoje verificou se numa pensão, situada na rua Afonso Pena 148, uma tragédia passional da qual foram protagonistas um funcionário do Colégio Militar e sua esposa, com quem estava casado faz apenas oito dias.
Realizados os esponsais, o casal de noivos foi alegre e feliz habitar aquela pensão e hoje pela manhã, quando menos se esperava, a cena de sangue fez perturbar a alegria que naquela casa reinava.
A jovem, que se chama Maria Helena Continentino *falta uma parte do jornal* funcionária do Banco do Brasil, como *falta um pedaço do jornal* -rada banhada em *falta um pedaço do jornal* - pertou a pedir *falta um pedaço do jornal* o marido a *fim do que tenho da notícia*

Não sei se as pessoas se mataram ou não, mas admito que sempre fico curioso quando releio esse pedaço de jornal com a foto dos meus antepassados estampada.


06 de Setembro de 1984: Uma pequena folha amarelada, com um poema infantil escrito pela minha avó, com um desenho meu (o da esquerda; notem como eu já era bom em desenhar mãos!) e um dela (a cabeça flutuante da direita).

27 de Setembro de 1990: certificado de conclusão do curso de desenho J.A. Sempre sinto muita vergonha quando vejo a terrível assinatura que eu usava na época...

20 de Setembro de 1990 à 30 de Maio de 1994: Certificados de passagens de faixa Nihon Karate Kiokai (Shotokan). Só tenho três deles, infelizmente, de 5º, 7º e 8º Kyu. Os outros se perderam no tempo.

10 de Junho de 1997: Certificado de participação no curso de iniciação aos quadrinhos, ministrada por ninguém menos do que André Macedo! Um dia ainda mando enquadrar esse troço!

23 de Outubro de 1997: Certificado de participação na Feira de Ciências Feira Mix. Nome terrível, mas me lembro como achei divertido participar de uma feira de ciências! Pra mim isso era coisa de filme, até então - tinha até um vulcãozinho que expelia chocolate derretido!

18 de Agosto de 1998: Comprovante de compra do meu primeiro carro, com o qual posteriormente me acidentei e que me fez desenvolver um terror de dirigir. Engraçado que eu sempre achei que tinha comprado esse carro depois de 2000. Bom, documentos tão aí pra provar que a gente tá errado, né?

Fins de 1999: Lista de aprovados no vestibular pra Artes Visuais, com o meu nome e do um penca de outras pessoas que eu ainda mantenho contato!

20 de Outubro de 2000: Crachá de vendedor de seguros. Pois é, já vendi seguros de vida.

Algum ponto entre 2002 e 2004: Conversas escritas com uma colega de aula durante a faculdade. Algumas são absolutamente insólitas. Uma hora tenho que transcrever algumas aqui! Lembro que eu e essa minha colega tínhamos uma fascinação por nos "corresponder" durante as aulas. Sentávamos um do lado do outro e ficávamos escrevendo e desenhando. E não, nenhum interesse romântico envolvido.

10 de Outubro de 2006: Resultado de exame de gravidez (negativo) da minha namorada na época. Me lembro como foi terrível esperar por esse resultado. Ficou só entre agente, e acho que nunca cheguei a contar pra ninguém que tivemos que fazer esse exame. Bom 10 anos depois, acho que não tenho mais vergonha alguma de admitir que já passei por isso uma vez (e só uma, até hoje).

entre 1998 e 2009: Cartas. Não lembrava que eram tantas. As primeiras eram de completos desconhecidos - eu simplesmente escrevia cartas, escolhia nomes aleatoriamente na lista telefônica e enviava. Alguns deles responderam. Nunca recebi mais de uma resposta da mesma pessoa, por esse processo. Ainda assim, foi uma experiência interessante. Depois tem algumas cartas de amor, trocadas com minha primeira namorada. Essas, não eram enviadas pelo correio - as vezes a gente escondia as cartas no meio das coisas do outro, e esperava pra ver quanto tempo ia levar pra serem encontrada. Depois algumas cartas internacionais (usei o mesmo método das primeiras cartas, mas dessa vez mandei pra fora do país). Me correspondi com um português e uma russa que morava em Amsterdã por algum tempo. Nenhuma das outras cartas que eu enviei tiveram respostas (e eu nem lembro quantas foram), mas esses dois me renderam alguns anos de conversas. Finalmente, mais cartas com outra namorada. Essas eram trocadas pelo correio, mesmo ela morando em Pelotas, inicialmente, embora depois ela tenha se mudado e tenhamos nos correspondido por algum tempo ainda. São poucas, mas foi interessante reler e ver como a paixão inicial se transformou em um carinho profundo mesmo depois de termos terminado.

Oh, sim, há mais lembranças dentro daquela pasta de documentos (como todos os certificados de participação de exposições, os recibos de pagamento da sala onde funcionou o Estúdio 9, mais documentos muito, muito velhos de alguns de meus antepassados, o brazão da família Gay, fotos 3x4 de várias épocas diferentes da minha vida...) mas estes citados acima foram os que hoje, me trouxeram algumas lembranças mais "agudas", digamos.

Além disso, que graça teria se eu falasse de todas as coisas legais que uma pasta de documentos pode conter de uma vez só?

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

A Sexta Parte do Mundo

Em geral, gosto muito dos livros de Arthur C. Clarke. O Fim da Infância, a quadrilogia de Rama (lidos antes do surgimento do Café com Letra), Os Dias Futuros, Terra Imperial e meu favorito até aqui, Contos da Taberna são tods livros que lembro com carinho.

Graças à isso, A Sexta Parte do Mundo foi um proverbial banho de água fria. Nadei contra a correnteza do livro com braçadas cansadas por duas longas semanas. Um livrinho de bolso, com duzentas e poucas paginazinhas. Foi triste.

Adiante, revelações sobre a trama! Preciso falar dos pontos que me desagradaram no livro, e isso significa falar sobre a trama como um todo, incluindo vários pontos essenciais. Se não quer conhecer o conteúdo resumido do livro, é hora de abandonar essa leitura. Lamento.

Primeiro, com relação à datas . Em sua pequenina nota introdutória, Clarke diz que o livro começa 75 anos depois do ano que foi escrito (1957). Isso o situaria em 2032. Só que no final do livro (coisa de uns trinta anos mais tarde, ou seja, por volta de 2060) faz-se menção sobre "ano 4000". Uma discrepância bastante relevante! De fato, essa menção é a única feita no livro de fato, e as evoluções tecnológicas, econômicas e culturais da terra sofreram consideráveis mudanças, e eu não acharia estranho estarmos em algum ponto do quarto milênio, mas a Nota de Clarke me obriva a voltar pro século 21, e isso me incomodou. Tenho algum receio de que o problema tenha sido da tradução, mas não tenho como confirmar.

Enfim!

Outro dos fatores que me incomodou - mais profundamente, alias - é que o livro parece uma série de contos mais ou menos interligados. Tirando o nome dos personagens e o ambiente primariamente subaquático, é difícil fazer uma ligação entre cada uma das "sub-tramas" (entre aspas porque, na verdade, o livro não tem uma trama central). Basicamente, começamos o livro acompanhamos Don Burley em seu encontro com Walter Franklin, um novato com passado misterioso que é muito velho para ser simplesmente um cadete da marinha. Franklin é um personagem apagado, que quase não fala, e a trama na verdade roda ao redor de Don. Essa primeira parte termina com uma tentativa mal sucedida de sicídio pelo astronauta astrofóbico (sim, seu passado secreto era esse; ele sofreu um acidente no espaço e criou uma terrível aversão à viagens espaciais).

Temos um pulo de tempo de alguns anos e passamos a acompanhar Franklin, agora um guarda experiente, em seu dia-a-dia como guarda marinho, numa narrativa considerávelmente chata e honestamente desinteressante, até que ele se depara com um misterioso eco de 60 metros que não consegue desvendar. Essa parte do livro culmina com uma caçada á uma lula gigante (de consideráveis 40 metros) que me incomodou um pouco por ter um olho com cerca de 45 centímetros de diâmetro. Bem, a Mesonychoteuthis hamiltoni, o maior tipo de lula conhecida, pode chegar à 18 metros, e tem um olho com 30 à 40 centímetros di diâmetro. A lula monstruosa de Clarke deveria ter, portanto, um olho com pelo menos o dobro do diâmetro mencionado - aqui, novamente, eu tenho uma desconfiança que foi uma tradução mal feita que resultou nesses números. Um bocado de técnicas de mergulho e séries de mal-funcionamentos de equipamentos numa tentativa falha de criar tensão depois, essa parte do livro termina de forma no máximo morna, com a lula gigante dentro de um navio de pesquisa pra nunca mais ser mencionada.

Depois de pescar a maior lula da história temos Franklin, alguns anos mais velho, caçando sem sucesso o seu misterioso eco de 60 metros do capítulo anterior, num trágico fracasso que culmina na morte de Don Burley. Uma parte do livro que podia ser intensa, mas acaba sendo curta demais, infelizmente. E ninguém descobre o que o tal eco é de fato.

No próximo capítulo temos Franklin, agora diretor do departamento da marinha, às voltas com questões filosófico-religiosas trazidas por um budista que inicia uma campanha contra a exploração de carne de baleias. É interessante notar que, até aqui, nenhum tipo de aspecto religioso é sequer mencionado, e esse capítulo é recheado de explicações de como o budismo se tornou a religião mais importante daquele momento histórico, numa trama meio política que parece distante de tudo o que tinha sido visto até então no livro.

A trama vai um pouco adiante no tempo, e temos nosso protagonista se despedindo de seu filho - que virou astronauta e está indo pra vênus - e depois participando do resgate de um submarino. Tudo meio descolado do resto da trama.

O livro termina com Franklin apoiando o fim da exploração de baleias como gado de corte, algumas reflexões sobre ética e... Fim. O misterioso eco de 60 metros não é explicado, não temos idéia de como as decisões de parar de abater baleias vão impactar a economia mundial, não sabemos o que acontece com nenhum dos personagens da trama.

Em resumo, um livro sem uma trama central, que não vai a lugar algum, apesar de ter algumas reflexões interessantes sobre vegetarianismo, que infelizmente não recebem muita atenção (como, alias, nenhum assunto em particular recebe). Terminei o livro com a impressão que ele não tinha início, meio ou fim. Algumas idéias interessantes, todas mal aproveitadas, com personagens tão interessantes quanto um bando de morsas, e uma impressão de que a tradução foi extremamente incompetente (as pessoas usando o termo "mamute" pra se referirem à humanidade, em alguns momentos ou a mamíferos marinhos em outros, por exemplo, não fez sentido algum ao longo de todo o livro).

E é isso.

Me despeço da coleção Argonauta, provavelmente para sempre, e fico na esperança de que o próximo livro de Clarke que eu leia volte ao padrão de qualidade que eu me acostumei - acho, alias, que vou procurar a quadrilogia de Rama para reler. Parece uma excelente idéia!