quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Élia, Rainha de Júpiter


Livrinho de bolso, 144 páginas, mas levei quatro dias pra ler. Letrinha miúda, já meio apagada, em um papel amarelado. Fez meus olhos doerem várias vezes....

Apesar de ter uma imaginação extremamente fértil, povoando o planeta Júpiter - imagino eu pelo título, uma vez que o nome do planeta nunca é mencionado no texto em sí - com toda sorte de criaturas bizarras, de aracnídeos gigantes de 12 patas à cérebros humanos "evoluídos" pesando toneladas, a história em sí é bastante fraca.

Vejamos: Nosso herói, um jovem químico - cujo nome simplesmente me escapa, e não creio ser mencionado em momento algum, na verdade - enfadado com a pequenês de nosso pobre e sem graça planeta terra, vai à uma conferência ministrada por um sir Walter, sobre o qual não sabemos muito, exceto que se trata de um homem bem conceituado, embora desacreditado por alguns, com quem trava breve conversa sobre as maravilhas desfraldadas diante de sí por este brilhante orador. Sem se conhecerem melhor do que por este pequeno dialogo, sir Walter "desafia" o jovem químico à visitar sua casa na noite seguinte, caso se sinta seguro de que poderia empreender uma viagem interplanetária. Nosso herói, chegando a casa do tal sir Walter, é enviado sem grandes cerimônias, através de um tipo de processo hipnótico, em uma experiência de desdobramento espiritual até o longínquo planeta Júpiter. Tudo isso entre as páginas 5 e 9!

O que se segue, então, são as aventuras psicotrópicas do nosso herói - que eventualmente adota o nome de Consorte, depois de se apaixonar pela projeção de uma idílica Élia, rainha cronoparadoxal do tal planeta - enquanto derrota todos os seus improváveis inimigos e domina nações através de uma capacidade de trocar de corpos, um intelecto "superior" e a boa vontade de todos os cidadãos do planeta com quem trava contato, exceto pelos vilões do livro. Consorte nunca perde uma briga, nunca se engana, revoluciona toda a tecnologia do planeta e fica com a mocinha no final. Ele é humilde, honesto, bondoso, um estrategista nato e um intelectual brilhante. Jamais se assusta, nunca é surpreendido, não teme diante do perigo e é capaz de vencer todos os seus adversários em seus campos de atuação. Basicamente, ele é o Capitão América com poderes Jedi.

Acho que em 1959 as pessoas esperavam que os heróis fossem super-heróis, não sei bem...

O livro vale pela criatividade despirocada do autor, que cria uma sociedade utópica em que todos são felizes, exceto os vilões e aqueles a quem eles oprimem. O governo é baseado em amor, e todos são felizes com o que têm. E temos uma arena onde gladiadores se matam todos os anos pela mão de uma rainha que simplesmente esnoba todos eles enquanto espera seu verdadeiro amor... Além disso, ele apresenta uma série de alienígenas bastante interessantes, algumas idéias de culturas subterrâneas, engenhocas tecnológicas mirabolantes e situações inusitadas. Na verdade, é tentando imaginar o que Austin Tower tinha a me apresentar na próxima página que eu segui lendo o livro. E confesso que ele conseguiu me manter interessado na sua viagem de ácido através do imaginário planeta da rainha Élia até a última - e tão sem-sentido quanto todas as outras - página.

O fim é inesperado simplesmente porque eu achei que, em algum momento, alguma coisa ia acontecer! Eu queria um final "em algum lugar do passado" e tive que me contentar com um típico final feliz estilo Disney - e um monte de dúvidas sobre o que eles ficaram fazendo com o corpo terráqueo do Consorte!

enfim!

Se alguém aí quiser experimentar os efeitos da cocaína sem precisar enfiar nada nariz abaixo, tenho o livreco pra emprestar!

Ah, e ao contrário do que a capa do livro indica, nosso herói não é um piloto - bom até é... - e a rainha Élia não é verde - exceto pela densa cabeleira - nem tem sobrancelhas esquisitas...

2 comentários:

  1. Esse personagem principal me parece um grande Mary Sue (acho que seria Marty Sue, nesse caso ;P). E a história, bom, me soou um pouco como um fanfic das Crônicas Marcianas, do Bradbury... Mas as coisas são assim.

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  2. Eu tive uma impressão muito semelhante... E como o livro foi lançado no vácuo do livro do Bradbury, creio que é exatamente um caso de um "genérico" pra tirar proveito.

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