sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Aniversários

Ah, os aniversário! Tanta felicidade! Bolos, docinhos, refrigerantes e chapéus cônicos coloridos! Ah, e balões! Não podemos esquecer os balões!

Eu realmente detesto aniversários.

Possivelmente tem à ver com o fato de que meu inferno astral - aqueles 30 à 40 dias em que o ponteiro do ascendente da revolução solar está transitando pela casa doze da roda zodiacal. A casa doze é a casa de Peixes, indicadora de karma, sofrimento, doenças, fatalidades e todas essas coisas tão legais - é sempre extremamente pronunciado. Um mês antes do meu aniversário, o meu mundo basicamente rui completamente, e precisa ser reconstruído aos poucos, dos escombros, pelo resto do ano seguinte - ate ruir novamente durante o meu próximo inferno astral.

É sempre assim. Todos os anos.

Claro, essa coisa toda de astrologia é uma grande bobagem. Minha mãe - que é uma metamorfose ambulante de esoterismos aleatórios, constantemente em mutação - foi quem me tornou cônscio desse fenômeno anual tão destrutivo. Claro que eu nunca dei bola. Sempre achei bobagem.

Mas todos os anos, um ou dois dias antes do meu aniversário, eu sento pra descansar a cabeça depois do meu pequeno mundinho ruir, e pensar "que merda está acontecendo na minha vida, porra?" e aí me dou conta que eu estava passando pelo maldito inferno astral.

É sempre assim. Todos os anos.

O problema é que meu inferno astral não termina no dia do meu aniversário. ele geralmente demora ainda uns dias pra ir embora de fato. são dias sempre bem tensos, em que fico esperando aquele golpe de misericórdia nas minhas fundações. Um fim de namoro inesperado. Uma demissão. Um amigo morto.

Raramente não acontece nada realmente ruim nos dias após meu aniversário. Mas mesmo quando não acontece, eu me desgasto esperando pelo pior. É sempre uma tensão sem tamanho. Aquela espera pelo inevitável.

É sempre assim. Todos os anos.

Então, enquanto as pessoas comemoram seu avanço de idade, seus novos ciclos, mais um ano de sobrevivência e de sabedoria em suas vidas, eu estou na expectativa de alguma coisa muito ruim, que pode acontecer à qualquer momento.

então levantem suas taças e regozijem-se em suas comemorações, enquanto eu fico no meu pequeno mundinho de aflição, esperando o próximo movimento que a vida - aquela meretriz! - vai fazer pra me tirar o equilíbrio.

E que passe logo a próxima semana, pra eu começar a reconstruir tudo outra vez.

Um brinde.


segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Encontre Sua Própria Verdade

Esse é o último volume da Trilogia Segredos do Poder, que se passa no universo do RPG Shadowrun. Fiz um pequeno apanhado do cenário na resenha do primeiro volume, caso alguém não conheça.

Esse livro conclui as aventuras de Samuel Werner, enquanto ele procura sua própria verdade, como o título indica. Temos o retorno de alguns personagens que apareceram no primeiro e no segundo volume, e um bom punhado de mortes, como nos volumes anteriores. Não vou falar mais do que isso, porque qualquer coisa que seja dita aqui vai acabar sendo um possível spoiler com relação aos livros anteriores. Ao invés de me ater à trama, prefiro fazer uma apanhado geral da minha impressão final sobre a trilogia.

Primeiro, a construção do protagonistas - e de alguns dos personagens secundários - é excelente. Sam tem dúvidas o tempo todo, não tem certeza se suas decisão são as melhores à serem tomadas, erra bastante e vai se contruindo ao longo da jornada. Ao final desse último volume, ele já é um sujeito familiar pro leitor, alguém com quem realmente se importar. Só isso já é um mérito que muitos personagens não conseguem.

Além disso, há uma impressão de aleatoriedade nos acontecimentos ao longo da trilogia que me agrada muito. além das tramas e sub-tramas, das maquinações de vários personagens ao mesmo tempo, Charrette consegue incluir um elemento de falibilidade que é muito agradável no livro. Os planos de Werner - e de seus oponentes e aliados - nem sempre funcionam tão magistralmente quanto o esperado, e nenhuma vitória é absoluta. Os eventos vão acontecendo muitas vezes sem o controle dos personagens, e os planos traçados muitas vezes tem que ser modificados na última hora. Há um sentimento geral de improvisação muito grande ao longo dos livros - o que é bem de acordo com o que se espera em uma campanha de RPG, e portanto muito bem-vindo em um livro que se passa em um cenário destes.

Além disso, as coisas não saem como esperado quase nunca, e é meio impossível antever os acontecimentos vindouros. As vezes o próximo movimento, mesmo quando anunciado, não acontece como se espera. É sempre uma surpresa para o leitor saber como as coisas vão se desenrolar.

Temos alguns clichês, é claro. O guerreiro calado e mortal, a sedutora inconstante, o herói indeciso, o vilão prepotente. Mas eles não são tratados levianamente. Eles funcionam com perfeição. Cada um deles e tão bem utilizado que em nenhum momento seus papéis parecem forçados.

Há alguns problemas é claro. que acredito sejam muito causados pela tradução. Um "ele" aqui e ali onde deveria ser "ela", por exemplo. Ou onde fica dúbio se é um ou outro personagem da cena falando. Coisinhas menores, que não chegam à atrapalhar a leitura, nem o entendimento da história.

No final, Segredos do Poder foi uma grata surpresa! Agora vou ler o módulo básico do Shadowrun, e encontrar alguns amigos pra tentar encontrar minha própria verdade nas sombras.

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Musicas que me fazem chorar 2

Eu sou um sujeito emotivo. Sempre fui. A maioria das pessoas que me conhece ha algum tempo já me viu chorando pelo menos uma vez. A maioria dessas pessoas deve rir lembrando disso, porque devia ser alguma coisa idiota. Uma música ruim, um filme bobo, uma lembrança besta. É um problema. eu não choro por pensar nos milhares de mortos no afeganistão, nem pela fome na africa. Isso me emociona, mas não me faz chorar. Eu choro por bobagens.

Acho que, como acontece com todo mundo, eu choro com coisas bobas que têm um "gatilho" emocional. Aquela música que tem uma letra tocante e profunda, mas que na verdade te faz chorar porque tu lembra que alguém te dedicou ela. Mas já falei bastante sobre o assunto, e não quero ficar me repetindo.

Aquelas músicas, é claro, estão todas "valendo" ainda. Uma delas mudou bastante de significado ao longo desses três anos, de fato, mas continua tendo o mesmo resultado. No entanto, algumas músicas se juntaram àquela lista:

White Wine in the Sun, do Tim Minchin, me pegou de surpresa. Me mandaram esse vídeo dizendo que "eu ia gostar". Comecei ouvindo e me divertindo bastante. O início da música realmente parece comigo:

And yes, I have all of the usual objections
To consumerism, the commercialisation of an ancient religion
To the westernisation of a dead Palestinian
Press-ganged into selling Playstations and beer

And yes I have all of the usual objections
To the mis-education of children who, in tax-exempt institutions,
Are taught to externalise blame
And to feel ashamed and to judge things as plain right and wrong

Mas à medida que a música prossegue, e fala sobre família, sobre comemorar... eu admito que fui lembrando das minhas relações com comemorações e família, e que, realmente, não me dou bem com uma coisa ou com outra. Eu parei de ir à comemorações por me achar muito "deslocado" dentro da minha família, com poucas exceções. Passei anos sem comemorar aniversários. E não, não comemoro festas religiosas cristãs. Esse isolamento familiar sempre me causou uma certa tristeza, e ela fica potencializada quando eu escuto essa música.
Tim Minchin é um comediante, pelo que eu entendi, que compõe letras engraçadas para seus shows. Não tenho certeza. Não fui atrás de outras músicas do cara. White Wine in the Sun foi mais que suficiente...

O próximo item da lista é complicado. They Rode On. Esse eu tava ouvindo bem tranquilo quando, de repente, comecei a prestar atenção na letra. Voltei pro início, e o troço caiu na minha mente como uma bomba de hidrogênio. Fiquei completamente vazio por um tempo. "eu sou velho, meu velho, tão velho quanto o mundo". Será que eu tenho coragem pra cavalgar, mesmo sabendo o destino? Ou sem saber onde se vai? Quanto de ilusão eu preciso, e quanto desprendimento eu posso, realmente ter? 
Sim, essa é uma dessas discussões internas de cunho filosófico pessoal que não possui muito nexo e cujas perguntas não têm resposta alguma. O tipo de coisa que me faz chorar. 

Músicas que fazem a gente refletir são um problema sério. Hora do Mergulho, dos Engenheiros do Hawaii sempre me fazia entrar em um estado de profunda tristeza. Demorei muito pra "superar" isso. Hora do Mergulho ainda fala comigo, mas hoje em dia é um diálogo saudável. Coisa semelhante aconteceu com algumas músicas do Legião Urbana. Quando eu era adolescente - isso foi há tanto tempo que o Renato Russo ainda nem sabia que tinha AIDS... - muitas daquelas músicas calavam fundo em mim. Como, alias, tenho certeza que também tocavam  maioria das pessoas da minha geração. Mas eu cresci, e aquelas músicas são parte de um passado que não se encaixa mais. Eu ainda escuto Legião, mas hoje em dia é só pelas lembranças que aquelas músicas trazem. 

A única exceção é Metal Contra as Nuvens. Não sei qual a história por trás da música, mas que ela faz muito sentido como uma versão romanceada do Drácula, isso faz. Tem muitos símbolos e lógicas funcionais dentro dessa idéia, incluindo não só a letra mas as trocas de ritmo dentro da música. Praqueles que não tem "aversão" à Legião, vale a pena dar uma conferida, nem que seja pra me chamar de retardado - qualquer discussão, mesmo que sobre uma música do Legião Urbana, me interessa! Esse vídeo já tem a letra embutida, pra facilitar a vida. 


E, já que vou adicionar uma música da Legião Urbana, o que já manda pro espaço a coesão dessa postagem, vou aproveitar e adicionar a supracitada Hora do Mergulho, dos Engenheiros do Hawaii. Se vou acabar com a coesão, pelo menos vou incluir umas músicas legais também. 

E pra terminar mais ou menos com algum sentido, uma música que, as vezes, me faz chorar. Fico imaginando o Bono escutando essa versão e chorando, não porque eu imagino que o cara seja um egocêntrico que idolatra as coisas que ele mesmo escreve - o que, alias, seria plenamente justificado, mas não vem ao caso - mas porque na voz do Johny Cash, One fica muito, muito melhor do que no original. 

Impressionante como não só a voz do J. Cash se encaixa melhor nessa letra, como a letra faz muito sentido considerando a história dele com drogas na década de 60, principalmente, que o levaram ao divórcio e à uma tentativa de suicídio.

Bom, uma boa viagem musico-sentimental pra todos. Espero que não tenham todos um ataque de choro assistindo essa seleção, mas um pouco de reflexão e umas lágrimas, eu gostaria que essa postagem causasse.