sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Frankenstein, O Prometeu Moderno


Muito bem. Nada de divagações, desta vez!

Vamos nos ater ao livro!

Começando de modo mais sóbrio, deixem-me dizer que o adaptador do livro é Leonardo Chianca. Apesar de ter escrito um bom punhado de livros - não lí nem reconheci nenhum deles - aparentemente Chianca se dedica, desde 1999 a adaptar clássicos, como peças de shakespeare, a odisseia e a ilíada gregas, Moby Dick, Drácula e o Frank aqui. Mas admito que, depois de ler a sua adaptação - em uma noite, para honrar a memória da "lenda urbana" que diz que Mary Shelley, a autora, teria escrito o livro em uma noite - eu fiquei com uma impressão de que alguma coisa estava errada. Não sei dizer muito bem o que é, mas me pareceu que ele escolheu as palavras erradas. Que faltou certa ênfase. Talvez o uso de palavras menos coloquiais em alguns momentos... Lí a obra em um tom monotônico, sem emoção. É, claro, uma ótima hstória, pela qual sou apaixonado, e é exatamente por isso que achei tão estranha a daptação. Não é a primeira vez que leio - inclusive não é a única versão do livro que possuo... - e provavelmente vou ler outras versões nos próximos tempos, para tentar entender o que eu achei tão "fora do lugar" nessa adaptação de Chianca.

De qualquer forma, como eu já disse, é uma excelente história. Estamos lidando aqui com um gênio, que faz uma descoberta que mudaria o mundo, apenas para perceber, com horror, que havia criado um monstro. Por mais que seja apenas um conto de ficção, eu nunca consigo deixar de traçar um paralelo entre Frankenstein e seu monstro e Einstein e a energia atômica - guardades as devidas proporções, é claro. Einstein não desenvolveu toda sua teoria em pouco mais de cinco anos, nem criou a bomba atômica por sí próprio, mas enfim, acho que dá pra entender a comparação - ou só eu vejo o paralelo...?

Enfim!

Para além disso, o livro trata de outras questões, que acredito nem serem do interesse direto da autora no primeiro momento. O medo da solidão - que me ataca sumariamente, alias; de todos os medos que eu posso ter, esse é com certeza o maior e mais pungente de todos - através da intolerância; o pré-julgamento pela aparência; o isolamento ao qual muitas vezes submetemos os outros baseados naquilo que vemos, e que não podemos aceitar. Não, o "monstro" não é humanos, mas ele não é atacado e banido por ciência sobre esse fato, e sim por simplesmente ter uma aparência deformada. Ele nunca ataca antes de provocado, e é sua simples visão que gera a agressão. E quantas vezes não vemos isso, ainda hoje, nos jornais? Este aspecto do livro de Shelley está tão ou mais vivo hoje do que quando a obra foi escrita.

Outro aspecto da história que me agrada sobremaneira é a decisão de Frankenstein de negar, no último instante, uma "igual" ao seu monstro original. É nesse momento que ele perde a oportunidade de redenção definitivamente. Ele poderia ter entendido o seu monstro durante a conversa que ambos travam nas montanhas, no seu primeiro encontro, mas não consegue perdoar a criatura pelo ato que cometeu. Ou não consegue se perdoar por ter criado algo que foi responsável por matar em seu nome. Mas, quando mais tarde, ele tem a oportunidade de terminar com a solidão da criatura, de criar um segundo monstro para aplacar a fúria do primeiro, para equilibrar a balança que ele próprio fez pender exageradamente, ele se mostra incapaz. Há tantas formas de se entender seus motivos quanto há de execrá-lo pelos mesmos. E, no fim, apesar de sabermos que ele está pagando pelos seus próprios erros, fica um gosto amargo na boa de que ele próprio podia ter feito tudo ficar em ordem, ou ao menos em uma relativa ordem. E por mais que a criatura seja passivel de compaixão, é impossível não odiá-la por matar inocentes de forma premeditada.

Este é um livro sobre monstros. É um livro sobre monstros mortos-vivos, e sobre homens enlouquecidos pelo seu orgulho monstruoso. É um livro sobre os monstros que nós somos diariamente.

Em tempo: Mary Shelley nunca disse que escreveu o livro em uma noite. Ela teria tido a ideia para o livro em uma noite de tempestade, depois de ouvir uma conversa sobre experiências com pernas de rãs que respondiam à impulsos elétricos. Isso teria acontecido no verão de 1816, e a primeira versão de Frankenstein, O Prometeu Moderno, só ficaria pronta na primavera de 1817. Mas a versão que conhecemos hoje é bastante diferente da original, tendo sido modificada por Mary Shelley ao longo dos anos, e a "versão definitiva" foi publicada apenas em 1831, desta vez com créditos à autora, que inclusive incluiu um prefácio explicando a origem do livro.

2 comentários:

  1. excelente análise do livro. Me fez finalmente pegar meu Frankestein da prateleira para lê-lo.

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    1. Engraçado ler esse comentário depois de cinco anos. Eu levei um tempo pra me dar conta que eu não era esquizofrênico e que, de fato, na época o blog era escrito à quatro mãos.

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