quarta-feira, 24 de agosto de 2011

O Fortim


Lí esse livro num ritmo normal no começo, depois fui sentindo mais necessidade de ir adiante, de saber o que estava acontecendo. Por fim, do meio do livro em diante, não pude me conter, e sentei, com uma caneca de café e um cachimbo, e não larguei a leitura até chegar no final.

O livro tem um clima perfeito, muito bem trançado. Os personagens são ricos, palpáveis. Todos tem suas motivações e convicções bem claras, e absolutamente nenhuma decisão parece gratuita. O mesmo acontece com o ambiente. É fácil entrar no fortim do Passo Dinu, sentir o ar pesado, ver as cruzes entalhadas na pedra e ficar com frio nas noites de cerração e até mesmo ouvir os passos no pátio de pedra enquanto os soldados alemães andam de um lado pro outro instalando geradores, espalhando lâmpadas e fazendo ronda.

O problema é que tudo isso só se aplica justamente à primeira metade do livro... Os últimos três ou quatro capítulos, em especial, foram uma espécie de anticlímax. Excesso de explicações em um livro que eu vinha caminhando bem no limiar do crepúsculo, criando mais sombras à medida que lançava luz sobre as dúvidas que surgiam. Virou uma espécie de Conan encontra Drácula...

Enquanto temos basicamente os nazistas, com um esquadrão de regulares do exercito alemão e um grupo da SS em uma batalha velada causada pelos líderes, cujas ideologias os colocam em lados opostos dentro do mesmo exercito, tudo vai bem. Mas então o autor no apresenta um par de judeus (pai e filha), e - a extremamente melosa - Magda se torna personagem principal do livro, fazendo com que o livro perca o clima pesado pra se tornar em um romance tosco entre uma judia sem sal e um herói misterioso. E daí pra diante, a coisa toda só desanda...

Um bom livro, realmente, mas com um final que estraga uma experiência que podia ser perfeita.



ATENÇÃO! REVELAÇÕES SOBRE A TRAMA A SEGUIR! PARE DE LER AQUI SE AINDA NÃO LEU O LIVRO E NÃO DESEJA SABER O QUE O ESPERA NO FINAL!!!



A questão dos últimos capítulos é que eu esperava uma explicação mais simples, na verdade. Deuses vivos andando sobre a terra, imortais em uma luta sem fim, uma entidade que se alimenta do mal do mundo todo... Muito apocalíptico. Eu esperava algo realmente mais "vampiresco". Esperava que Molasar não pudesse sair do fortim devido ao córrego, ou mesmo por causa de alguma maldição. Imaginei que Glenn fosse algum tipo de vampiro também, e isso me animou bastante, ao vê-lo andando pela rua, sob o sol, tal como faria Drácula. Eu esperava talvez um combate entre vampiros que fossem adversários, não entre avatares de divindades esquecidas. Além disso, apesar de Molasar ser "mais poderoso" do que Glenn, a coisa da espada mágica me decepcionou um pouco. Porque o bem sempre tem acesso à artefatos que podem conter o mal, e o contrário nunca acontece?

Além disso o romance instantâneo entre Magda e Glenn, além de extremamente clichê, quebra o clima que tinha sido magistralmente construído até então. Temos excesso de alegria e felicidade em um livro que vinha justamente primando por um clima de desespero e opressão.

Acho que fiquei decepcionado com a complexidade de todos esses elementos, quando tudo o que eu queria era um monstro. Ou talvez dois. E uma luta final travada com espadas, estacas, presas e garras. Ok, talvez alguns zumbis, também... Mas não uma entidade maligna capaz de alterar os sentimentos dos seres humanos ao seu redor, criar psicopatas a partir de camponeses pacatos, controlar as estruturas da sua prisão e se banquetear com todos os males do mundo. E o pior é que ele é vencido por um pescador parrudo com uma espada... Oh, que ótimo!



FIM DAS REVELAÇÕES SOBRE A TRAMA! NÃO HÁ NADA MAIS ABAIXO QUE VÁ ATRAPALHAR SUA LEITURA DO LIVRO! é SÓ UM EPÍLOGO PARA ESTA RESENHA, MESMO... NÃO POSSO EVITAR!



Enfim. Algumas idéias realmente muito interessantes, um cenário bem desenvolvido, um clima apropriadamente tenebrosos e opressivo, e um final decepcionante. Mas que, por incrível que pareça, mesmo estragando o livro, abre a percepção para idéias novas. Ler este livro me deu muita vontade de escrever um conto sobre vampiros...

quem sabe?

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