quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

V for Vendetta


Ganhei essa edição de aniversário. Ganhei de um daqueles amigos que, mesmo quando se tornam distantes, ainda parecem sempre próximos. E que só precisam compartilhar com a gente um par de cervejas pra começar a rir com piadas ruins e fazer comentários sobre as moçoilas pedaçudas que passam pela rua.

Ou falar sobre a vida, o universo e tudo o mais.

Eu já tinha lido V de Vingança alguns anos atrás, bem antes de qualquer idéia de que o filme seria feito. Na época, eu lia HQs pela história e pela arte de forma auto-contida. Uma boa HQ era uma obra que continha, em sí própria, tudo o que precisava para ser uma boa história. A maior parte das HQs pode ser avaliada assim: O universo da história é verossímil? O roteiro tem elementos necessários pra valer o papel gasto na impressão? Vale como HQ, ou os quadrinhos podiam ser simplesmente tirados e a história ficaria igual? O desenhista se ajusta ao estilo da narrativa?

A maioria.

Mas V for Vendetta é uma dessas excessões felizes à regra.

Considerando todos os elementos acima, V for Vendetta é uma boa história. Só boa. Foi isso que eu achei na época em que li pela primeira vez. O climax parece estar no lugar errado, ou não possui todo o impacto que deveria ter, e o final é um anti-clímax total. Claro, isso se considerarmos a história em seu pequeno universo auto-contido.

Mas reler essa história hoje foi uma experiência muito diferente. Porque de dez anos pra cá, eu lí muito, eu refleti muito sobre a sociedasde, eu vi e ouvi coisas. Eu envelheci, enfim. E é necessário estar velho pra entender V for Vendetta e todas as suas implicações. É preciso ser capaz de ver o quadro todo da nossa sociedade pra entender a história por completo, creio eu. E isso demanda tempo.

Mas estou divagando, penso eu.

Acho que estou ficando velho...

Enfim!

A história todos já conhecem, afinal eles fizeram um filme... Mas como eu lembrava, o final da HQ é tão completamente diferente, que a idéia toda se perde graças ao final (quase literalmente) Scooby-Doo do filme. Excesso de grandiosidade, penso eu. Em Hollywood, tudo precisa ser grandioso. Mas o final "pequeno" e "humilde" da HQ dá um gosto muito mais forte de mudança do que o final monstro do filme.

E, claro, a arte de David Loyd é muito mais espetacular que qualquer produção hollywoodiana jamais será.

É interessante (e amedrontador) observar que estamos muito próximos da sociedade da HQ, hoje. Não tenho idéia de como um autor consegue extrapolar esse tipo de coisa, mas definitivamente Alan Moore fez isso com perfeição cirúrgica. Essa não é uma HQ oitentista. É uma HQ contemporânea. E será ainda mais daqui há dez anos!

O problema todo é que eu não consigo conceber um "V" no nosso mundo...

Recomendo que todos que tenham a oportunidade de ler V for Vendetta (sim, a minha edição é em inglês; eu não sou tão preciosista a ponto de usar o nome original dos livros e HQs que leio, se eu li em português) que o façam.

Depois podemos sair e tomar umas cervejas, rir de piadas ruins e comentar sobre aquelas moçoilas pedaçudas.

E esquecer as questões sobre esse mundo que nos cerca.

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