domingo, 28 de novembro de 2010

Bento


Ganhei de presente da minha avó, no último dia da Feira do Livro de Pelotas de 2010, entre outros livro, a trilogia Bento, O Vampiro Rei vol. 1 e O Vampiro Rei vol. 2, de André Vianco, autor paulista que eu já conhecia do livro Sétimo - que embora eu não tenha lido na íntegra, tive a oportunidade de dar uma "passada de olhos" na casa de um amigo, que me recomendou muito o livro, dizendo que estava adorando, mas que, como não tinha terminado de ler, não podia emprestar.
Admito que fiquei curioso com o livro na época - lá em meados de 2005, 2006, creio eu - mas só curioso. Não fui atrás.

Durante o último dia da Feira do Livro, depois de termos passeado bastante e comprado alguns livros, principalmente em cebos, Estavamos passando por uma banca, quando lí o nome do autor na capa do Senhor da Chuva. Comentei que já tinha ouvido o nome, e o sujeito da banca, prontamente, apresentou esses três livros que ganhei, com uma "promoção de fim de feira" ou algo que o valha. Cada um dos livros - os primeiros dois com mais de 500 páginas cada um, e o terceiro com 400 páginas! - saiu por menos de R$ 30,00! Eu já estava fazendo a contabilidade pra comprar os livros, quando a minha avó decidiu me dar os livros de presente!

Acabei de terminar Bento, o primeiro livro da trilogia, que, até onde eu sei, não tem nenhuma ligação com os livros anteriores do autor. Vianco nos apresenta neste livro uma versão de Eu Sou a Lenda misturando Matrix e a Távola Redonda.

Aqui vai um resumão do cenário (vai ter spoiler, aviso aos navegantes!):
Trinta anos depois de uma apocalíptica noite em que metade da população mundial caiu em um sono místico, os humanos lutam para vencer os vampiros que despertaram durante esta fatídica noite. A medida que vão despertando, os humanos que adormeceram na Noite das Trevas podem vir como humanos normais, vampiros ou Bentos. Os Bentos são humanos com poderes sobrenaturais "acionados" exclusivamente na presença de vampiros, quando se tornam verdadeiros liquidificadores de sangue-sugas. Desde o começo do pesadelo, as mulheres ficaram estéreis, mas os humanos deixaram de sofrer qualquer tipo de doença, e mesmo aqueles que estavam doentes quando as pessoas adormeceram se curaram rapidamente dos males que sofriam. Além disso, ondas de rádio deixaram de fazer parte da física desde a Noite das Trevas, o que debilitou bastante as comunicações. Há ainda uma profecia que diz que, quando trinta destes Bentos se reunirem, então o trigésimo Bento desencadeará quatro milagres que livrarão a raça humana dos temíveis vampiros.

Pois é, o cenário até é interessante - apesar de algumas incoerências. Mas não é funcional. A começar pela bitolação católica da coisa. Apesar do "Bispo" - o profeta do livro - dizer que nada desse apocalipse estar na bíblia, que estes acontecimentos se passam durante "cochilo de Deus", que nenhum dos Bentos é abençoado por Nosso Senhor, os Bentos usam armaduras medievais muito semelhantes às usadas pelos cruzados, com grandes cruzes em alto-relevo em seu peitoral de metal, e medalhas de São Jorge. Os milagres são desencadeados por orações de Pai Nosso, e água benta é arma contra vampiros...

Enfim, nada disso faz lá muito sentido.

Além desta questão, outra característica do livro que me incomodou bastante foi que ele é um livro extremamente machista. Os Bentos são todos homens. O profeta desse novo mundo é um homem. Até os vampiros mais importantes são homens! Nenhuma mulher tem qualquer importância real na trama - a doutora Ana só aparece nos primeiros e últimos capítulos do livro, apaixonando-se por Lucas, mas sem nenhuma relevância na trama além de de ser a princesa encantada do valente cavaleiro-mor. Temos também uma vampira caolha - cujo nome me fugiu agora - que eu achei que seria uma peça importante, mas que acaba sendo eclipsada até mesmo por um de seus próprios comandados, que recebe um papel importante no final da trama - enquanto ela é sumariamente esquecida.

Há ainda algumas questões não explicadas no livro. Os trinta Bentos, por exemplo, são todos brasileiros. Embora não seja mencionado em qualquer outro lugar do livro como estão as coisas nos outros países, são os milagres desencadeados por eles que iniciam a revolução do extermínio de vampiros, o que nos leva a crer que apenas em terras tupiniquins haviam os tais Bentos. No final do livro é dito que o resto do mundo iniciou a caça aos vampiros, mas eu nem imagino como isso seria possível, já que a própria defesa das fortalezas geralmente consegue ser bem sucedida graças aos bentos, e caçar os monstrengos é visto como uma ação suicida.
Mas, embora sejam brasileiros, eles não estão em todo o território nacional. Aparentemente as terras do sul do país todas caíram nas mãos dos vampiros. Em determinado momento do livro, quando decidem reunir as trinta espadas, os Bentos saem de são paulo, vão ao Rio de Janeiro, Minas gerais, e depois nordeste. Nada abaixo do centro do país parece ter sobrevivido aos vampiros. Não há bentos nem ao sul, nem no noroeste - embora no noroeste realmente os vampiros devam ter uma vantagem, já que eles são excelentes braquiadores (essa palavra existe em português? Sei que existe em espanhol e inglês, mas não tenho certeza se existe em português...) e duvido que a população humana daquela região tenha conseguido conter o seu avanço. Mas no sul, nem vou tentar entender qual o motivo de não haver população humana - ou, ao menos, Bentos.
Finalmente, os vampiros com aparente inteligência mas incapazes de raciocinar são de dar dó. Eles não usam armas de fogo (mas arcos-e-flechas, algumas vezes), preferindo correr babando pra cima de muralhas bem protegidas das fortificações, escolhendo sempre as mesmas rotas de ataque, desconsiderando totalmente a validade da organização em seus planos de ataque. São capazes de pensar como qualquer outro, são mais rápidos, mais fortes e mais resistentes que os humanos... E caem como moscas diante de um fazendeiro armado com um fuzil! As cenas de resistência são patéticas! Os vampiros, teoricamente mais rápidos que humanos, são incapazes de lidar com qualquer soldado, mesmo em vantagem numérica, contra um único combatente - mesmo que este esteja armado apenas com um rifle com baioneta. Eles são capazes de chingar, fazer gracinhas, e morrer em seguida. Os vampiros são exultados à todo instante como caçadores, predadores, velozes, mortais... Só que nunca demonstram isso. Seria melhor se o autor tivesse usado zumbis acéfalos... Teria um mínimo de coerência.

Enfim!

Como ponto positivo, as cenas são muito bem descritas, e é possível "ver" algumas das "cenas" do livro. No entanto, muitas vezes o autor usa um excesso de frases curtas, que criam tensão, mas em parágrafos muito longos, o que acaba tornando algumas partes do livro bastante massantes.

Não gostei do livro. Ficou bem abaixo do que eu esperava. Espero que O Vampiro Rei (vol 1 e 2) sejam um pouco melhor, mas tenho cá minhas dúvidas.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Review parcial - Brumas de Avalon



Recentemente terminamos de ler as Brumas de Avalon. Assim como fizemos com Romeo and Juliet, decidimos ler os livros da Marion Zimmer Bradley juntos, e não poderia ter sido uma experiência mais interessante. Só lamento o fato de não termos lido cada capítulo juntos - a distância por vezes obrigou-nos a ler alguns capítulos separados.

Não foi minha primeira leitura da obra, mas com certeza foi a mais intensa. É muito diferente quando lida com outra pessoa. A possibilidade de comentar os acontecimentos e decisões das personagens no momento em que essas decisões estão sendo tomadas e os acontecimentos estão se desdobrando torna a história mais vívida, permite uma reflexão maior sobre as vissicitudes da vida (das personagens e, em alguns casos, na nossa própria), como se aquilo estive realmente acontecendo alí, na nossa frente, e faz com que toda a história tome outra dimensão.

O ciclo arturiano não é novidade pra mim, e eu já lí e assisiti muitas obras sobre o assunto - desde Excalibur, o clássico filme baseado na obra de Sir Thomas Malory até o futurista Camelot 3000 - mas fiquei amplamente satisfeito por ter sido a primeira visão do mito pelos olhos da minha interlocutora. Como feministas convictos, a visão da história de Artur e sua Távola Redonda pelos olhos das mulheres da história, contada com maestria nessa obra, é o melhor ponto de partida para o conhecimento da obra. Imagino que para uma feminista, conhecer o Ciclo Arturiano a partir de qualquer versão da obra de Malory, seja filme ou livro, não criaria um interesse real pela história, mas começando peloa Brumas provavelmente gera um interesse em conhecer outras visões da obra.

Mas deixe-me comentar um pouco sobre minhas impressões pessoais sobre a obra, particularmente sobre os personagens masculinos centrais da obra.

Bradley demonstra n'As Brumas de Avalon todo o seu feminismo, sem vergonha alguma disso. Não apenas por ela dar ênfase nas mulheres que permeiam o mito, mas também pela fraqueza dos personagens masculinos. Todos os homens são fracos, quase patéticos, se comparados às mulheres poderosas e imponentes da obra. Talyesin - o Mago Merlim da lenda; Aqui, Merlin é um título druídico, não um nome próprio - é visto como um velho sobremaneira tolerante, na verdade quase um parvo. Ele usa de algumas palavras de sabedoria, que pontuarão a obra até o final, mas não tem nenhuma importância real em ponto algum da obra, já que essas suas palavras de sabedoria só terão realmente força e importância quando proferidas ou refletidas por alguma das personagens feminias, particularmente Morgana. Talyesin não é o mago enérgico que inspirou tantos outros personagens poderoso - como Gandalf - mas sim um homem velho, recurvado pelo tempo, e sem forças. Kevin, o segundo Merlim da obra, é um personagem que personifica a fraqueza masculina. Um traidor de corpo e mente retorcidos. Alias, desdobrar o Merlim da lenda original em dois personagens foi uma idéia inspirada da autora, pois apesar de ser um velho meio devagar, Talyesin constinua sendo um dos "heróis" da história, que se tivesse tomado as ações de Kevin na obra teria se tornado um anti-herói - na verdade, um vilão! - como acontece com o harpista Kevin. O próprio Artur, que embora seja provavelmente o mais notório "corno" das fábulas (não tem uma palavra menos chula pra corno? Nada me ocorre agora...), na versão da Bradley é um corno consciente, complacente e pior, concordante! Ele não só tolera a traição de Gwenevere com Lancelote como dá o aval pra que o ato carnal se consuma - numa passagem particularmente perturbadora da obra. Talvez seja um reflexo da tentativa da autora em criar uma situação "fantasia feminina" no desenrolar da trama, embora eu acredite pouco nisso. De qualquer forma, me deixou um pouco desconcertado, tanto quanto o fato de Lancelote monstra claros sinais de homosexualismo - que num momento de licidez, a autora não consumou de forma explícita. O mais interessante, no entanto, é que metade do "elenco" feminino da obra é apaixonado por Lancelote, e eu não consigo sequer imaginar o porque! Ele é pintado como um sujeito bonito - certo, MUITO bonito! - mas esperar que personagens como Morgana se apaixonem por um sujeito só porque ele tem uma boa aparência...? Lancelote se mostra indeciso, sem firmeza de caráter ou vontade, excessivamente subserviente à Artur e sem objetivos claros. Ele parece com uma versão medieval masculina da Merlyn Monroe, o que me faz pensar em porque a autora deu tanto "magnetismo" para o personagem. Mordred seria tudo aquilo que um Merlin deveria ser, mas infelizmente ele tem pouco foco na história, mas ele só começa a ser apresentado em sua totalidade quando a obra está chegando ao seu fim. Uther Pendragon também tem um papel muito mais desenvolvido nessa obra, e passa de simples vilão enganador - como visto na obra de Malory - à um rei plenamente desenvolvido, idealista e até mesmo carismático. Ele é tudo o que Artur deveria ter sido, mas não foi...

Há outros personagens masculinos interessantes na obra, particularmente aqueles que a autora criou, como Acolon, que é possivelmente o único homem que realmente defende a Antiga Religião na obra - Talyesin é muito tolerante com o catolicismo. Ele cria a visão masculina do druidismo na obra, e é o único homem com força de caráter suficiente para seguir plenamente seus ideais, até a morte. Se há um homem de verdade na obra, este homem é Acolon!

Por outro lado, as mulheres da história são maravilhosamente bem delineadas, cheias de dúvidas, cometendo erros e acertos e parecendo, muitas vezes, mais humanas do que muia gente por aí... Mas vou deixar para minha contraparte feminina deste Blog fazer uma apreciação sobre as mulheres das Brumas - tenho certeza que ela possui um entendimento muito maior sobre a questão da feminilidade, além de ser capaz de fazer uma crítica muito mais isenta do que a minha!

Enfim!

Termino essa "resenha" afirmando sem medo que As Brumas de Avalon é um retrato muito mais fiel do que a lenda de Artur poderia ter sido, se tivesse realmente acontecido no século XIV do que aquele mostrado em tom de conto-de-fadas escrito por Malory. Além de mostrar o moroso dia-a-dia das mulheres da época, possui um realismo muito mais paupável, com as nunaces da sociedade da época, não só dentro dos portões dos castelos, mas nos pequenos feudos afastados e entre os aldeões rústicos que não abraçaram os mandamentos da "santa" madre igreja tão prontamente - ou pacificamente - quanto se imagina quando se lê a versão excessivamente romatisada de Le Morte d'Arthur.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

A Menina que Roubava Livros


Voltando à fazer comentários literários, vamos ao último livro que eu lí: A menina que roubava livros

Informação da wikipédia sobre o livro:
A Menina que Roubava Livros (no original, The Book Thief) é um romance do escritor australiano Markus Zusak, publicado em 2006. No Brasil, foi lançado em março de 2007 pela editora Intrínseca, e foi traduzido por Vera Ribeiro.

Levei perto de um mês (um pouco mais) pra digerir esse um.

Achei uma droga.

A linguagem, o modo de escrever, é esquisito. A narradora do livro é a Morte - que, como todo o resto do mundo, é anti-nazista - e narra a triste história da juventude de Liesel Meminger, uma alemãzinha pobre vivendo os horrores da alemanha nazista pelo ângulo dos perdedores entre os perdedores, ou seja, o povo alemão.

A morte como a contadora da história é interessante. Eu já lí, porém, outros livros que tinham a mesma narradora, e não fiquei lá muito impressionado nesse aspecto, uma vez que a morte aqui é retratada uma criatura com sentimentos totalmente humanos mas com poderes de leva-e-traz de almas desencarnadas. Uma morte muito simplória, eu diria.

A narradora, no entanto, nos conta o final da história logo de saída, e, via de regra, sabemos todos os acontecimentos importantes que irão acontecer antes que eles se dêem de fato. Narrativa interessante, diria até ousada, mas, que no final, pra mim, acabou com qualquer emoção que o livro por ventura pudesse ter. Torna a leitura irritante, uma vez que, sabendo o que vai acontecer em seguida, tu quer pular o blá, blá, blá e ver logo a coisa feita, e suas repercussões, pra que o livro siga em frente.
Um ponto interessante do livro, mas que também achei irritante, são as "pausas dramáticas", como eu apelidei, que a morte usa durante o livro.

* Pausa Dramática *
Uma pequena quebra na linearidade da narração
para explicar um conceito, acontecimento
ou simplesmente adicionar um fato novo


Esse é o formato que se vê no interior do livro, mais ou menos.

Achei bem irritante não só porque quebra o ritmo da história, mas também porque tu vira a página, e teu olho é chamado pro pedaço de texto destacado no meio da página, e as vezes tu lê uma parte, antes do olho voltar pra onde deveria ser a continuação natural da leitura.

em termos de história, temos uma menina orfã, pobre, que vai morar com seus novos pais adotivos, obviamente também pobres, e vê o desenvolvimento do movimento nazista pelos olhos do povo alemão da época. Na maior parte do tempo, é só uma história sobre uma garotinha sem dinheiro e suas desventuras juvenís com uma ou outra menção depreciativa do Füher ou seus asseclas no fundo, mas eles se tornam parte integral da trama em alguns momentos, fazendo o papel de vilões supremos. Há um judeu na história, um amor de infância e as relações Liesel com seus novos pais enquanto ela aprende a escrever e descobre os horrores da guerra.

No mais, o que se espera sobre a alemanha nazista: Os nazistas (membros do exército ou simpatizantes do partido) são maus, frios e egoístas e os pobres judeus são só boas pessoas com espírito elevado (e outras qualidades como simpatia, paciência, integridade e pensamento poético) que são caçados, humilhados e maltratados pelos nazistas mauvados.

Ah, sim: E a pequena Liesel rouba alguns livros no decorrer da história, como o nome da obra sugere.

História chata, sem nada de novo, narrativa esquisita (inovadora, talvez; nunca li nada no mesmo formato) e também chata.

Como eu não tenho o costume de não ler um livro até o final, e além disso, queria resenhar alguma coisa, fui até o final melodramático do livro, através das suas muitas páginas, numa batalha de vontade. Só não digo que me arrependo de ler porque foi um passa-tempo, ao menos. Mas eu particularmente gosto de ler boas histórias, com uma narrativa adequada, e não encontrei nenhum dos dois n'A menina que roubava livros.

Leiam por sua conta e risco.

P.S.: Não lí nenhuma outra resenha sobre o livro, nem conheço a trajetória do autor, e isso geralmente pouco me importa, só pra deixar claro. Minha pequena resenha foi feita apenas levanto em consideração a minha própria experiência de leitura da obra. Creio que isso possa ser uma informação relevante quando um sujeito fala mal de um livro...

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Cartas

=Ele=

- Pega.

- ...

- São.

- ...

- Não quero. Vou acabar lendo, e não quero.

- ...

- Já te expliquei. Não quero ficar com lembranças tuas.

- ...

- Olha... Foi tu quem decidiu assim. Tu quis terminar, não eu. Eu não quero ficar com elas, pra não ficar remoendo. Tu me deve isso.

- ...

- Olha, se tu não pegar, eu vou jogar fora. Tu quem sabe.

- ...

- Vou jogar fora.

Ainda fiquei com as cartas estendidas pra ela por um tempo. Ela continuou com os braços cruzados, olhando pro chão.
Não tinha nada mais pra dizer. Fui embora.
Andei um pouco, e e enfiei a mão no bolso pra pegar os cigarros. Achei as cartas. Os ciagrros tem um gatihlo: lixeiras. Eu uso fósforos, e detesto jogar lixo no chão, então sempre risco um fosforo perto de uma lixeira. E ali estava uma lixeira, e eu com as cartas na mão. Bom, mas eu ainda queria fumar. Assim, risquei um fósforo, e acendi o cigarro. Meu nome no início de uma folha me fez ter uma dessas reações incontroláveis. Acabei abrindo a primeira carta. Era do início do namoro. Não a primeira, mas uma das primeiras. Ali estavam elas. As cartas, com suas frases, palavras, letras. Tudo indicando que a gente ia ficar realmente junto. Casar, ter filhos, essas coisas. Nada disso estava escrito, mas estava subentendido.
As cartas continuaram vindo. Era uma ação que não podia ser retida. Uma vez que comecei uma, teria que ler todas.
Mais um cigarro.
Aquelas palavras alí, tão cinceras, agora pareciam uma mentira sem nexo. Faziam parte de alguém que não existia mais, e que realmente me amava, numa vida passada, num outro mundo, outra realidade.
Amava.
Como é que pode amor acabar? Amor devia ser infinito. Sei lá... Algo naquilo tudo era tão errado. Algo naquelas cartas era tão sem sentido, tão absurdo....Como é que aquilo tudo, todas aquelas juras tão metodicamente escritas nas entrelinhas, não realmente escritas mas presentes, podiam não ser mais verdade?
Nessa altura, eu queimava. Meu rosto era uma fogueira, que tiravca o calor das mãos, frias e insensíveis, manuseando o papel pautado.
Risquei um fósforo, pra me aquecer, acho, e acendi mais um cigarro.
As últimas cartas. Duas, dobradas juntas, com um clipe verde pra que não se separassem . Duas. Havia muita coisa alí pra ser resumida à só uma folha pautada. Precisavamos de mais, lembro bem. Eu precisava ler mais, e ela parecia entender, e escrevia mais. As últimas duas também eram gêmeas presas por um clipe verde, mais escuro que o primeiro. Escritas até a última linha. Tanto à ser dito. Tanto desejo em ler.
Que letras lindas. Feitas cada uma como um pequeno desenho. Os detalhes, a bolinha perfeitamente redonda encimando cada "i". Cada "a" com uma minúscula fresta, uma imperfeição premeditada.
Finalmente, o fim. A primeira carta. Um pouco indecisa nas escolhas, parece, depois de todas as outras frases tão firmes, tão desenvoltas. Foi a primeira carta, a que iniciu aquela torrente bem-vinda de manuscritosque eu adorava ler, e me envergonhava de responder sem tanta desenvoltura. Era quase um diálogo. A cada carta que eu lí, ali, parado em frente daquela lixeira, eu quase lembrava literalmente do que tinha escrito pra ela, quando recebi cada uma daquelas cartas, na esperança que ela me presenteasse com outro pequeno tesouro de papel e tinta. Eram, pra mim, a parte mais bela, a mais importante de tudo o que tinhamos. E justo por isso, acho, era agora o que mais me deixava com aquele gosto de ressentimento. Me sentia como um tolo, que se deixa enfeitiçar por belas palavras, e que quando vê a magica desfeita, toma consciência da própria tolice.
Risco outro fósforo, acendo outro cigarro.
As cartas pesam nas minhas mãos geladas. Deixo a fumaça do fósforo desvanecer por completo, na lixeira, e então pouso as cartas sobre ele.
Sigo subindo a rua, para o lado sul, e deixo pra sempre aquele pequeno encanto para trás.




=Ela=

- ...

- Que? essas são as cartas que eu te escrevi?

- ...

- Porque... Não, eu escrevi pra ti! Tu fica com elas!

- ...

- Como assim?

- ...

- Ai, não faz isso...

- ...

- Não! Não vou ficar com elas! Eu escrevi pra ti! São tuas!

- ...

- Faz o que quiser. Eu escrevi pra ti. São tuas.

- ...

Ele não diz mais nada. Se vira e vai embora. Eu tenho o ímpeto de dizer algo, mas não sei o que, então fico calada. Ele some atrás do prédio tão rápido que não seguro a última imagem na memória.
Volto pra dentro, vou até o elevador, abro a porta em câmera lenta e aperto o sete. O círculo em volta do número se ilumina, e a placa de números vermelhos luminosos indica os andares mudando, devagar. Um leve solavanco, e o elevador me deixa na frente da minha porta. Pego o molho de chaves, e abro. Fecho, e tranco. Tiro o molho da porta e coloco no chaveiro sobre a pia. Observo por um momento as chaves alí, e me dou conta que tenho as duas cópias, uma no bolso, recem devolvida. O último resquicio de relacionamento. Pego o molho do chaveiro, e volto a colocar a chave na fechadura. Meu primeiro ato oficial de solidão.
vou pro quarto, colocar a cópia no meu bolso junto com as bijuterias. Acho que é o melhor lugar provisório pra ela.
quando chego no quarto, pela janela aberta, lá longe, ele está parado com as cartas na mão.
Lembro que quando começamos a namorar, eu subia correndo pra esperar ele passar por alí, ao lado de um terreno baldio, duas quadras depois do prédio, enquanto ele subia a ladeira de volta pro lado sul. Ele subia devagar, como se puxasse alguma coisa por uma corda, e geralmente esperava até chegar na esquina pra acender um cigarro. Nunca olhou pra cá. Como é desligado... Nunca se deu conta que podia me olhar na janela, daquela esquina, e eu ficava sempre aqui esperando um aceno.
Agora não espero um aceno. Nem sei bem se espero alguma coisa. Só fico alí, um segundo perdido no tempo, observando ele atravez da janela aberta,do o utro lado do terreno baldio, segurando as cartas. Um calor súbito me toma, e não posso não chorar. Dou um passo pro lado e me escoro na parede, ao lado da janela, pra ele não me ver chorando. Levo um minuto pra voltar à mim e lembrar que ele nunca me viu aqui, não seria hoje, seria? Espio pelo canto da janela. Ele ainda está lá, parado. Fumando um cigarro e lendo as cartas que eu escrevi alí mesmo, na frente daquela janela. Eu sempre ouvi que o lugar onde a gente trabalha, ou estuda, com mais frequência, tem que ficar de frente pra uma janela, pra estimular a criatividade. A vista daqui não era bonita, com uns prédios velhos, um telhados sujos, o terreno baldio e a esquina com ruas de paralelepípedos por onde passam os ônibus. Apesar da vista não ser ideal, eu decidi colocar a escrivaninha ali.
Agora é o meu observatório, de onde vejo ele lendo as cartas. Muito longe pra conseguir perceber o rosto. Só sei que está fumando, e que está lendo.
qual delas ele está lendo agora? Será que estavam na ordem? Aquela pode ser a terceira ou quarta. O que tinha nela? Escrevi todas aqui, nessa escrivaninha. Tinha o ímpeto de escrever, mas depois da primeira frase, parecia que tudo o que tinha pensado se perdia, e eu me esforçava pra escrever, achar as palavras certas, construir cada frase. Mas se era um pequeno esforço, era um prazer sem igual terminar cada carta. Eu sabia que ele ia gostar de ler. Ele sempre comentava, fazia mil elogios! Era tão bom escrever, porque eu sabia que ele ia gostar!Os elogios eram tão vivos, ele adorava tanto de cada uma, que eu acava sempre encontrando sobre o que escrever! As vezes até guardava assuntos só pra poder começar uma carta!
E agora ele não quer mais as cartas! Será que ele mentiu? Será que os comentários eram só me me agradar?
Não, não pode! Ele escrevia cartas de resposta, curtinhas, mas tão divertidas!
E agora está ali, lendo todas elas. Mas será que ele vai jogar fora? Ele faria isso? Bom, a gente terminou. ele tem o direito, as cartas são dele. Mas ele não pode ser tão insensível! Se bem que ele me disse que não queria ficar com elas. Eu até entendo. Mas escrevi com tanto carinho.
Ele dobra as cartas, cuidadosamente, e coloca no bolso da jaqueta. Sempre teve orgulho dos bolsos grandes dos casacos. Cabiam até livros dentro!
Ele acende um cigarro, abana o fósforo, e fica olhando pro nada, por um tempo. Depois saca as cartas do bolso, e hesita, mas caba colocando elas no lixo, com um certo cuidado.
As lagrimas voltam.
Ele segue subindo a rua. Ele vai voltar e pegar as cartas, eu sei que vai!
Mas não volta. Ele sobe a rua, até sumir atrás da próxima quadra, com um rastro de fumaça como última lembrança.
E lá estão as cartas, na lixeira.
As cartas que eu escrevi com tanto gosto. que me deram tanto prazer em escrever. No lixo.
Tenho um impulso de decer e pegar as cartas. Resgatar daquele fim tão impróprio. queimar, ao menos.
Mas é só um impulso.
As lagrimas secam, enquanto o fim de tarde vai escurecendo a rua.
Fechar as janelas, pra não entrar inseto. Fechar as cortinas, pra niguém olhar aqui pra dentro.
Vou tomar um banho, e deixo as cartas que escrevi morrerem lentamente, repousando naquela cova tão rasa.
Minha primeira decisão oficial de solidão.




=As cartas=

E findou-se assim. Fomos deixadas ao relento, sobre o calor vestiginal de um fósforo, ao sabor do vento, pra sermos recolhidas por catadores de lixo, ou nos juntarmos à tantos outros restos descartados de tantos outros casais.
Ao menos, ficou o carinho das dobras cuidadosas, a última homenagem ao mensageiro dedicado.
Foi tudo tão estranho. Começamos como uma única missiva. Uma série de linhas mais ou menos interligadas, escritas com excitação lidas e relidas varias vezes com afeto, tantas vezes. Depois, vieram outras folhas, criando um calhamaço relativamente volumoso. Todos lidos cuidadosamente, com muita curiosidade, à principio, depois com mais afeto do que tudo.
Cada uma escrita num fim de tarde particular, todas minuciosamente dobradas e colocadas numa gaveta, esperando excitadas por trocar de mãos. O momento em que eramos de duas pessoas, ao mesmo tempo, era breve, porem caloroso, festivo. Depois eramos desdobradas, lidas à cama, sempre sob uma luz de cabeceira focada, como a de um artista sob as luzes de um teatro majestoso. Havia, em cada leitura, um sorriso. As vezes era tímido, algo apreensivo, vindo quase sem querer. Depois, a cada nova leitura, ele se tornava mais franco, mais reluzente. As vezes, diante da necessária concentração, ele quase sumia, para voltar em seguida, graças à uma frase mais espirituosa. A apreensão e a curiosidade davam lugar ao afeto, eventualmente, e varias vezes presenciamos suspiros e juras solitárias de amor e ternura.
Do ato da criação até o momento em que nossos mistérios eram finalmente desfraldados diante de olhos ávidos, sempre haviam os sorrisos.
Mas alguma coisa aconteceu.
Em um dado momento, aquele ritual noturno de leitura, de tirar-nos do nosso sono para uma visita furtiva, escasseou. Na verdade, cessou por completo. Durante várias e várias noites, esperamos, esperamos, e não fomos tocadas.
Então, aconteceu.
Numa tarde ensolarada, fomos abruptamente retiradas de nosso descanso, e abertas por mãos conhecidas, mas cujo toque suave era agora algo bruto, sem o carinho que nos era tão familiar.
Essas mesmas mãos nos abriram, com essa mesma brutalidade, sob olhos cerrados. Não havia sorrisos, pela primeira vez. E nem houve o tempo de sermos analizadas. Apesnas um ríspido passar de olhos, e como se fossemos culpadas de algum crime, fomos enfiadas num bolso Áspero, dividindo espaço com um maço de papael recheado de algo mal-cheiroso e uma pequena ciaixa de madeira e papelão que ficava irritamentemente chacoalhando a cada movimento do bolso.
Diferente das viagens anteriores, em que eramos carinhosamente colocadas em um aconchegante bolso calroso, desta vez fomos amassadas e expremidas varias vezes, durante o trajeto que faziamos, numa viagem em cunjunto, pela primneira vez.
As vezes, aquelas mãos familiares, mas agora tão desconhecidas, retiravam o maço fedorento e a caixinha irritante do bolso, e quando tornava à colocá-los ao nosso lado, vinham novos amassões.
Finalmente, houve uma pausa. Tudo parou. O movimento cessou quase por completo, e a mão tirânica não voltou à nós por algum tempo.
Finalmente, fomos retiradas, bruscamente, de dentro do bolso.
Coisa estranha.
estavamos alí, novamente, diante daquelas mesmas mãos que nos haviam escrito e manuseado com tanto carinho, e agora, ao contrário das outras vezes, quando eramos folhas solitárias, eramos manuseadas como um fardo por uma mão, e rejeitadas como um filho bastardo pela outra.
Alí fora, ao sol, eramos seguradas com força, apontadas em direção daquela que nos concebeu quase como uma arma. Eramos uma ameaça. E ela não nos queria. Nenhum deles nosa queria.
Subitamente, voltamos ao bolso.
Voltamos à convivência com o maço e a caixa.
Voltamos a nos mover.
Finalmente, paramos.
Fomos retirados do bolso mais uma vez, ainda sob o sol, e, lentamente, fomos desdobradas, e relidas.
Desta vez, porem, apesar da atenção à cada palavra, cada letra, não houve sorrisos. Os olhos ainda nos olhavam semi-cerrados.
diante de nós, uma folha enrolada foi acesa, e tememos que aquele fosse também nosso fim. Mas não. Quando aquela primeira folha foi quase completamente consumida, veio outra, e mais uma, todas queimadas quase na sua totalidade. Enquanto isso, eramos examinadas. Não propriamente lidas, mas minuciosamente estudadas.
No lugar de olhos cálidos, hoveram globos úmidos, a face vermelha, os lábios apertando impiedosamente o rolo de papel fedorento que queimava, no lugar de lábios curvados num sorriso, as vezes deixando mostrar os dentes.
E finalmente, fomos dobradas, hesitantemente. E então, deixamos qualquer contato caloroso de qualquer mão que tivesse nos tocado antes, para sermos deixadas alí, sobre uma pilha de outros dejetos.
De juras e promessas, de missivas de ternura e afeto, nos tornamos apenas papel e tinta, apenas restos.
Esse foi o fim de tudo.
Cartas jogadas no lixo.
Promessas descartadas.
Carinhos esquecidos.
Amor findo.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Como nasce um canalha

Muito bem.

Tentei, realmente tentei encontrar um bom motivo pra este post. Mas sinceramente, não achei nenhum.

O problema é que eu preciso falar um pouco.
Na verdade, eu preciso conversar... Mas percebi que todos os meus amigos do peito, aqueles com quem eu realmente conversava, com quem eu podia me abrir, que me conheciam melhor do que eu gostaria algumas vezes, eles se foram. Eles se mudaram, se tornaram outras pessoas, casaram com pessoas que não são amigos meus tão próximos. Então, fiquei sem ter com quem conversar.
Daí, calhou desse blog aqui existir, então lá vou eu...
Não tenho nenhum assunto em pauta, na verdade. Eu queria desabafar um pouco, mas sabe, não posso... É engraçado. As coisas que eu realmente gostaria de dizer, discutir, essas coisas iam machucar outras pessoas. Provavelmente. Uma dessas pessoas inclusive, seria eu.
Ok, estou me sentindo meio emo...
Bom, foda-se!
Agora que refleti um pouco sobre os meus amigos... Me dei conta que todos eles mudaram de forma essencial. Eles não são mais aquelas pessoas com quem eu costumava conversar, porque se tornaram outras pessoas.
Será que o problema é esse? Será que eu fiqeui parado, estagnado, porque tenho conceitos muito sólidos sobre tudo?
Por outro lado... Se eu me deixasse levar, provavelmente ia ser um desses merdas cabeças-fracas que poe uma franja na frente da cara... ou não, sei lá. Não sou dessa geração.
Alias, nem sou de geração nenhuma....
minha geração, a geração que agora tem quase trinta ou trinta e poucos, não tem cara. Nós somos todos diferentes, sem marcas. Isso é um alívio, mas ao mesmo tempo, é uma droga... Eu quase me sinto como alguém sem identidade coltevia. Quase como se eu não fizesse parte da grande máquina social.
Agora, sabe o que é mais idiota? Não, não, deixa eu dizer: O mais idiota é que tudo o que eu sempre quiz foi fazer parte da máquina. Foi ter um emprego, namorar, casar, construir uma casa, ter filhos, ver eles se tornarem adolescentes, ficar com o cabelo branco, me aposentar e viver com a minha velha em algum lugar sereno e calmo.
É idiota, porque eu não foi capaz de fazer as coisas mais simples desse plano - que é essencialmente muito simples como um todo.
Acho que a merda toda começou quando eu não consegui entrar pro exército. Teria sido muito fácil ser um milico. Era o que eu queria, de coração, quando eu tinha dezoito. Eu me considero um sujeito que é bom em seguir ordens. Não sou dado à rebeldia. Mas.. não aconteceu. Sobrei, que ridículo!
daí eu fiquei sem chão. E pram inha desgraça, a única coisa que eu sabia fazer era desenhar - ainda é, infelizmente... E as poessoas começaram a apoiar o meu "dom". Que bela droga de dom.... Sou um maldito sujeito de 30 que mora com a mãe porque não consegue arranjar emprego. Não sou bom o suficiente pra competir com os bons desenhistas, nem tenho o ímpeto criativo dos grandes artistas. Mas, apesar disso, eu consigo um bico aqui, outro alí. Acho inclusive que "dessa vez vai", mesmo! Vou ser mais um desenhista meia-boca. E aí vem outra idiotice: Se isso funcionar, eu vou ficar satisfeito! Mesmo sendo só mais um meia-boca que tem um salário n fim do mês!
Isso vai resolver um dos meus problemas: Ter um emprego.
Daí só preciso arrumar todo o resto, que se resume, basicamente, a encontrar alguém que queira casar, ter filhos e envelhecer do meu lado.
Só que essa é a parte mais difícil... Sei lá, ninguém me aguenta muito tempo. A parte bizonha disso é que eu sempre me considerei alguém bom de conviver.
Sei lá qual o problema....
Será que eu não me achar o máximo é o problema? Ou ser feminista? Todo mundo diz que as mulheres preferem os canalhas. Putz, derrepente eu é que tou errado em querer ser um sujeito legal... A porcaria toda é o fato de eu não ter a menor inclinação à calhordice... E também acho ridículo ficar caçando em bar... O galho aí, é: Na verdade, nem sei como é que a gente conhece outras pessoas! Sou um universitário que já passou do prazo. Por outro lado, não vou ter colegas de trabalho mulheres, muito provavelmente, e mulheres RPGistas são mais escaças que jackrabbits...
Bom, também, toda vez que entro num relacionamento, quando ele acaba, eu me sinto pior que da última vez.
Pera, veio uma luz!
É isso!
A gente não pode é gostar da pessoa com quem a gente tá! Não de forma integral! Claro! Assim a gente não dá tanta bola se vai ou não terminar, e sem essa preocupação, com a falta de envolvimento - que basicamente vai fazer a gente procurar satisfação "na rua" - o relacionamento deve ir bem!
Caralho, é por isso que as mulheres preferem os canalhas!
Ok, acho que vou rever aquele conceito sobre caçar em bares!
Definiitivamente ter um blog me ajudou essa noite!

Ah, sim, deve ter um monte de erros de digitação/ortografia. Só lamento!

domingo, 23 de maio de 2010

menos letra, mais café!


Percebemos que havia uma certa falta de café, em relação à quantidade de letras por aqui.
Assim decidi fazer um pequeno post sobre café.
Considerando que o primeiro post tinha como objetivo auxiliar a manufatura de um bom café batido, vou listar algumas receitas de café que levam o café batido em consideração.

Algumas destas receitas são minhas próprias, criadas na base da tentativa-e-erro, outras são sugestões de amigos, baseadas em receitas de outras bebidas, criadas por outros apreciadores ou versões batidas de cafés tradicionais. Uma vez que eu simplesmente tomo nota das receitas, sem anotar de onde vieram, eu obviamente também não posso passar essa informação adiante. Se alguém por aí souber de onde veio uma dada receita e quiser compartilhar eu agradeço!

Sem mais delongas, vamos às receitas:


Irish coffee
120 ml de café batido;
20 ml de brandy/conhaque;
Raspas de chocolate fazem um complemento ideal. Bom pra aquecer no inverno!

Alexander coffee
100 ml de café batido;
10 ml de brandy/conhaque;
20 ml de creme de cacau;
O complemento ideal é um bom bocado de chantily, mas um pouco de merengue resolve bem. Ele já fica bem doce, então sugiro que o merengue não leve muito açucar, e é melhor que não leve outros complementos doces - como raspas de chocolate, por exemplo.

Cupido
120 ml de café batido;
20 ml de licor de chocolate;
Simples e eficiente. Fica doce, mas é ótimo pra dizer "ei, olha, gosto de ti!" sem precisar falar nada!

Amaretto/Bayles
120 ml de café batido;
10 ml de bayles/amaretto;
Salpicado com canela em pó. Eu gosto muito de fazer um "meio-á-meio" de bayles e amaretoo (5 ml de cada). Não sei dizer porque, mas sempre acho que fica melhor!

Café da torre
Esse tem um processo especial: bata o açucar e o café brevemente numa colher de chá de brandy/conhaque - o café não vai realmente bater, é só pra adicionar um pouco de oxigênio na mistura, pra fazer mais espuma no final - e adicione 100 ml de agua quente (antes do ponto de fervura, não esqueça!) e então adicione 10 ml de licor de anis. Um licor de chocolate pode funcionar, acredito eu, mas nunca testei essa variação.

Schvartsberg
100 ml de café batido;
5 ml de underbeng;
Criei essa receita quando finalmente me dei conta que a cafeína simplesmente tinha deixado de fazer efeito "anti-sono" em mim. Underberg é uma bebida muito forte, e essa receita deixa qualquer um ligado por um bom tempo! Mais de 5 ml e fica forte demais, perde o gosto do café e só produz uma cara de repunância e vontade de beber qualquer coisa pra tirar o gosto ruim da boca! estejam avisados!

pra finalizar, uma receita que nao tem nome:
bata duas colheres de café com três de açucar em água gelada;
ferva 10 cravos-da-índia em 100 ml de leite;
Uma pitada de canela deixa essa receita excelente!


Uma nota sobre medidas: Eu uso uma proveta - herança dos tempos de laboratorista da minha mãe - pra fazer as receitas, por isso estão em ml. como regra geral, 10 ml são a primeira marca em um copo "martelinho", e 20 ml são a segunda marca nesse mesmo tipo de copo; 100 ml é uma caneca da nescafé, com uns dois dedos antes de chegar na borda; 120 ml são uma caneca dessas bem cheia!

E era isso!

domingo, 9 de maio de 2010

Biplano


O primeiro livro que eu lembro de ter lido na vida chama-se "longe é um lugar que não existe". Eu não recordo qual o tema central da história, apenas que o protagonista está indo ao encontro de alguém, mas ele vai atravez das asas dos pássaros, não "em pessoa". Na verdade, eu recordo muito mais as imagens em sépia do livro, frescas na minha memória há mais de 20 anos, do que da história em sí. E, claro, lembro da mensagem que o título carrega literalmente.

A maioria das pessoas, porém, vai conhecer Richard Bach - o autor de Longe é um lugar que não existe - por outro livro seu: Fernão Capelo Gaivota. Se não leu, pelo menos já ouviu falar, muito provavelmente.
Richard Bach é aviador desde os 17 anos - o sujeito nasceu em 1936, o que significa que tem sido um aviador por um looongo tempo. E a maior parte de seus livros falam sobre a experiência de voar, ou têm suas histórias intimanente ligadas à esta habilidade, seja o vôo imaginário nas asas de um pássaro, seja um vôo na cabine de um aeroplano, seja o flutuar do espírito fora do corpo.

Assim, quando peguei "Biplano" para ler, e ví o nome de Bach, sabia que obviamente o avião que aparecia na capa do livro não era só uma metáfora ou um simples motivo para a história. Eu sabia que o livro tinha à ver com aquele biplano, e que ele seria o personagem principal da trama. Eu estava certo até certo ponto.

A história é basicamente a narração de uma viagem de costa à costa dos EUA, feita por um piloto que acaba de trocar seu monomotor de cabine fechada por um biplano da década de 30. Apesar de uma ocasional chuva, tempestade de vento e mesmo um pequeno desafio no final da trama, a coisa toda é basicamente um relato de viagem, extremamente solitária, repleta de lembranças e pequenas peculiaridades.

O resumo da história é este, sem tirar nem por.

Mas Bach é um escritor excelente, além de um piloto experiente, e faz com que este relato de viagem se torne muito, muito mais do que simples relato.

Se torna uma experiência de vôo.

Ler Biplano é como voar de avião, mesmo para aqueles que, como eu, jamais voaram em um. Bach nos faz ver a viagem, nos faz ir com ele dentro da cabine, e entre muitos dados técnicos e termos próprios da aviação que somos incapazes de conseguir realmente entender, estamos voando por sobre um país que não conhecemos, mas que somos capazes de ver, de sentir completamente. Nós somos sacudidos por rajadas de vento, contamos as batidas dos pistões enquanto o motor à nossa frente trabalha e despeja óleo na viseira do capacete, percebemos que não nos molhamos na chuva graças à velocidade do aeroplano, sentimos os pés pesados quando finalmente aterrisamos mais uma vez... Sonhamos e lembramos lembranças e sonhos que não são nossos, mas que bem poderiam ser, num vôo que não estamos fazendo, mas poderiamos estar.

Biplano é uma viagem maravilhosa à bordo da imaginação e das lembranças de Richard Bach, bem como um livro que ensina a calma da solidão e que pede uma reflexão sobre o que fazemos de nós mesmos, comos chegamos até este ponto e até aonde - e em que velocidade - queremos chegar.

sábado, 27 de março de 2010

Até o dia em que o cão morreu


Lí nessa última semana, principalmente durante minhas longas viagens de ônibus da minha casa pra faculdade, "Até o dia em que o cão morreu". O livro me foi indicado e emprestado com o aviso: "só que o livro tem um final que pode ser frustrante".

Bom, aceitei o livro de qualquer modo. Estava pra começar um outro livro, mas coloquei "Até o dia em que o cão morreu" na frente, porque a leitura era mais rápida.

Se fosse uma histórias em quadrinhos, "Até o dia em que o cão morreu" seria chamado de "slice of life", que é um tipo de quadrinho que retrata simplesmente um pedaço da vida de alguém comum, num episódio (geralmente) relevante para aquela pessoa e, as vezes, para pessoas próximas à si. É um tipo de história intimista, que não quer mudar o mundo, nem revolucionar nada, mas simplesmente te mostrar um pequeno pedaço da vida de outra pessoa.

O livro de Daniel Galera faz exatamente isso.

Eu não tinha lido, até hoje, um livro nesses moldes. Geralmente, um livro com esse caráter de monstrar o cotidiano, o comum, tem por objetivo gerar uma reflexão sobre nossas próprias vidas, flertando de modo mais ou menos profundo com filosofia ou psicologia. Outras vezes, é uma crítica política. E, em alguns casos, é simples crítica social.

"Até o dia em que o cão morreu", no entanto, não é nada disso. É simplesmente uma visita à vida de um ser humano mediano como a maioria esmagadora de nós, diante de uma situação que poderia acontecer com qualquer um.

E só.

Daniel Galera é porto-alegrense, uma raça um pouco diferente da maior parte dos outros gaúchos do interior do estado, mas mesmo assim, escreve esse livro com um tom que permite que qualquer um se identifique com algum dos pouqíssimos personagens do livro - ao menos se o leitor for gaúcho.

Os palavrões que pontuam o livro são uma parte que me incomodou. Não são contantes, mas aparecem em momentos que eu, particularmente, considerei exagerado. Mas tenho certeza que eu sou uma excessão, porque a maior parte das pessoas realmente pensa em sexo de forma algo promíscua, ao menos de vez em quando. Não é o meu caso, e isso atrapalhou um pouco a minha leitura.

Fora isso, o livro é excelente.

Ah, e sobre o final... Eu terminei de ler o livro na rua, caminhando na direção da faculdade; Terminei com uma gargalhanda, e um sorriso me acompanhou nos lábios por algumas quadras, acompanhado por tragadas de cigarro, e um gosto meio amargo, meio doce, no fundo da graganta, depois de ler a última palavra do livro.

E se houvesse alguma outra palavra, qualquer que fosse, eu realmente teria considerado o livro frustrante!

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Fauna

Meu atelier - onde eu passo a maior parte do meu dia enquanto estou em casa, seja desenhando, navegando na internet, jogando RPG ou qualquer outra atividade que necessite de um mínimo de concentração - fica em uma pequena sala agregada à uma grande garagem/cozinha e separada da nossa casa propriamente dita. Uma porta voltada para a rua, ao norte, e outra para o interior da garagem, ao sul, criam um excelente túnel de vento que eu sempre aproveito no calor do verão. Devido ao meu costume de trabalhar depois que o sol se pões, acabo ficando a noite toda com as portas abertas, aproveitando as poucas aragens frescas dessa época do ano. Estes costumes aliados à localização do nosso terreno, numa região "rural", com muitas casas ao redor mas ainda dominada por campos, arvoredos e banhados, me coloca em contato direto com toda sorte de fauna da região. Geralmente, além dos sempre presentes mosquitos, há uma enorme variedade de besouros, grilos, aranhas, mariposa e outros insetos dos quais nem faço idéia o gênero voando ao meu redor, caminhando pelas paredes e rastejando pelo lugar. Algumas noites atrás recebi a visita inusitada de uma imensa barata-dágua, que passou seus últimos dois dias de vida voando ruidosamente antes de ser vítima do ceifeiro dos insetos.

Mas não são apenas os insetos que me fazem companhia nas noites de labuta/diversão no meu atelier; Sapos e rãs de todos os tamanhos são presenças costumeiras, e mesmo pequenos camundongos tornaram-se visitantes corriqueiros. Claro, há ainda minha cadela, uma vira-latas cruzada com fox velhíssima, que sempre vêm se esconder sob meu baú em noites chuvosas ou com relâmpagos, e meu gato, que sempre tenta arranjar um lugar para se aconchegar, mas raramente por muito tempo.

Noite passada, no entanto, depois de uma chuva de verão rápida mas violenta, um visitante bastante incomum veio pousar no meu atelier. Tratava-se de um gambá - também conhecido como saruê ou mão-pelada - muito parecido com esse da foto. Era pequeno - uns 30 cm, sem contar a cauda -, jovem, mas absolutamente confiante e altivo. Eu já atirei em espécimes bem maiores e mais agressivos que aquele, na época em que criávamos galinhas e patos. Eu estava sentado na frente do micro, de costas para a porta, jogando DDO, quando percebi omovimento no meu lado esquerdo. Acrei que fosse a cadela, embora a chuva já tivesse parado. Quando me virei, ví a pequena criatura entrando sem fazer cerimônias. Nos fitamos por um breve momento, e ele então pareceu perder o interesse em mim, e começou a prescrutar a sala. Andou por vários cantos do atelier, enquanto eu o seguia com o olhar. Sentou-se em um canto, mas aparentemente não considerou a melhor opção, então levantou-se e foi se aninhar no extremo mais escruro da sala, entre minhas ferramentas grandes. Eu fiquei estudando seus movimentos por alguns instantes, até que ele pareceu adormecer. Depois de passada a estupefação inicial, causada pela audácia do pequeno marsupial, meu primeiro pensamento foi dar cabo dele. Depois, refleti por um momento. Não temos mais galinheiro há um punhado de anos, e nenhum dos meus vizinhos também. No fim, decidi deixar que ele pousasse aqui aquela noite, sem maiores alardes. Se alguém quiser dar cabo dele, outro dia, que seja, mas naquele momento, eu preferí dar-lhe uma boa noite de descanso em um local seco e seguro.

Deixei a porta do atelier aberta quando foi me deitar, perto das seis da manhã, com meu - agora - convidado ainda adormecido. Quando voltei ao atelier, perto do meio dia, ele já havia seguido viagem. Não sei pra onde foi, nem o que foi fazer, mas fiquei feliz em saber que pude dar abrigo tranquilo àquele animalzinho numa noite úmida e quente. Espero que ele algum dia volte à me visitar; se o fizer, eu vou arranjar um pouco de ração pra ver se ele aprecia um pouco mais a estadia!