sábado, 16 de agosto de 2014

Coisas Frágeis

Coisas Frágeis é um livro de contos de Neil Gaiman. Obviamente, essa é uma descrição bem genérica e provavelmente desnecessária, mas como eu sempre achei que o livro fosse um romance, e não um livro de contos, e como sempre pode haver gente desavisada que não conhece todos os livros do Gaiman, achei que era um bom jeito de começar a resenhar a obra.

Gaiman, dispensa apresentações, imagino. Se tu não sabe quem é o sujeito, vá ler Sandman, que é definitivamente uma boa obra, e uma ótima referência pra esse livro também. Como uma nota adicional, sugiro também os álbuns da mulher dele, a incopiável Amanda Palmer. 8 in 8 é uma dessas coisas que todas as pessoas deviam escutar, não necessariamente pelas músicas em si, mas pela idéia. E o Gaiman tá nesse albun também, o que faz sentido dentro dessa resenha. E são albuns de música, não livros, só pra deixar claro.

Enfim! Estou divagando.

Sobre o livro em sí, há algumas coisinhas à mais que se pode falar. É um livro de contos, como eu já disse, dividido em 10 narrativas sem conexão entre sí - apesar de duas delas, Lembranças e Tesouros e O Monarca do Vale fazerem parte do universo do livro Deuses Americanos. Alias, O Monarca do Vale é um excelente conto, mesmo, e me deu mais vontade ainda de ler o Deuses Americanos. Tá na hora de tomar vergonha na cara e comprar o livro!

Entre os outros contos, Um Estudo em Esmeralda é uma dessas coisas fantásticas que só grandes autores fazem de maneira decente. Basicamente, pense em Sherlock Holmes encontra Chutullhu. Sim, a proposta é literalmente essa! E acredite, é surpreendentemente surpreendente!

O Pássaro do Sol é uma pequena idéia genial transformada em conto, e Como Conversar com Garotas em Festas merece ser lembrado como uma dessas coisas confusas e incomuns que tu não entende realmente mas te faz pensar muito sobre dezenas de questões ao longo - e depois - da leitura.

Admito que O Problema de Susan é o conto que me deixou menos satisfeito, porque ele é, basicamente, sobre um personagem de outra obra - Nárnia, no caso - como uma espécie de "final alternativo" ou talvez um "pósfácil" sobre uma das personagens daquele livro, que foi escrito devido à insatisfação de Gaiman sobre o desfecho da tal Susan. Nunca li os livros do C. S. Lewis, e não lembro muito bem dos personagens dos filmes, nem sei seus destinos, então fiquei mais frustrado e confuso do que qulaquer outra coisa enquanto lia esse conto. Deve ser interessante pra quem conhece Nárnia, mas pra mim, não funcionou.

Apesar de não ser meu conto favorito do livro, Golias é provavelmente aquele com o qual mais me identifiquei. Interessante notar que ele foi escrito pro site de Matrix, anos atrás, e eu lamento que não tenha feito parte do Animatrix. É, certamente, a melhor história contada dentro daquele universo que eu li até hoje. E mais interessante do que todos os roteiros do Animatrix também, pelo menos pra mim.

Ah, sim!

Apesar de possivelmente isso ser uma informação mais interessante de aparecer no início de uma resenha, é preciso adicionar que Gaiman escreve um prefácio descrevendo os eventos que levaram à escrita dos contos. A maioria da "informação técnica" dessa resenha veio dessa fonte. Então, não estou dando mais spoilers aqui do que o próprio autor no livro.

Bem creio que é isso.

Recomendo fortemente a leitura desse livro, assim como, apesar de não ter lido, já deixo avisado os incaltos que a continuação (Coisas Frágeis - Volume 2) é considerada uma das obras mais desnecessárias do Gaiman. E olha que li isso no site de um fã do cara! Aparentemente, mistura contos e poesias, coisas que, do meu ponto de vista, não funcionam bem em uma única obra. Principalmente quando não têm conexão entre si. Enfim, é só um aviso que algumas pessoas me deram, e que eu estou repassando. Fiquem com o volume 1, e sejam felizes.

Ah, o quadro de Little Nemo que não faz sentido sentido na publicação? Bom, leia o livro! ^_^

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Atlantis

"Um dos maiores mistérios da história finalmente revelado" bem em cima na capa, foi a frase que fez com que eu torcesse o nariz pra esse livro quando vi pela primeira vez. Obviamente, era uma mentira, e o livro era, obviamente, um romance. Mas o objetivo dessa frasezinha no topo da capa era pegar aqueles leitores incautos que não sabem dessas pequenas coisas óbvias.

Quando o livro circulou aqui em casa pela primeira vez, ano passado, trazido pela minha avó para minha mãe, eu não quis chegar nem perto. Tinha certeza que era alguma coisa como um livro do Dan Brown misturado com uma daquelas teorias malucas do tipo Eram os deuses Astronautas do Erich von Däniken. Olhei pra capa muito bem produzida - com relevos, metalizados e um trabalho obviamene profissional de um designer - e pensei "esse livro tem uma capa muito boa pra ter um interior que preste."

Mas eis que a vida dá voltas e no final do mês passado fui ajudar minha avó numas reformas na casa dela. Despreparado, levei só um livro de contos - Coisas Frágeis, do Neil Gaiman, que vai ser o conteúdo da minha próxima resenha, em alguns dias - já lido até a metade. Erro terrível quando se vai ficar em uma casa onde a biblioteca fica no quarto de uma senhora de oitenta e poucos anos de sono leve... Aconteceu que, na primeira noite que passei lá, tive uma crise de insônia , coisa bem normal pra mim. Sem um computador, e não querendo "gastar" o livro do Gaiman, que não ia durar uma hora naquela noite insône, acabei pegando o Atlantis, que tinha visto mais cedo na sala da casa, bem longe do quarto da minha caríssima avó e sua biblioteca.

E obviamente, o livro foi uma decepção.

Jack, ou Jhon - não lembro mais o nome do insosso protagonista - é basicamente uma mistura de Indiana Jones com Batman. Na casa dos quarenta anos, ele já foi tudo. Tem dois mestrados no MIT, foi Marine, é arqueólogo em uma fundação fictícia com recursos infinitos e nunca perde o controle. Consegue dirigir escafandros semelhantes à armadura do Homem de Ferro com um tiro no abdomem sem sentir dor, nunca erra um tiro, sempre tem um plano genial na manga, é uma enciclopédia militar ambulante além de ter conhecimentos infalíveis sobre culturas antigas da pré-história até o período Helenístico.

O vilão, por outro lado, é uma paródia ambulante de tudo o que há de ruim: um terrorista árabe com dinheiro infinito, que apesar de ter um império do mal é impulsivo e manipulável, gordo ao ponto de precisar de ajuda para se mover, e com bafo de carne podre - sim, tudo isso é dito sobre ele ao longo do livro.

Ambos são colocados em lados opostos na disputa pelos tesouros da Atlântida depois que, surpreendentemente, três descobertas no espaço de dois dias, feitas por três arqueólogos, surpreendentemente amigos de longa data, são feitas ao redor do globo, dão pistas sobre a localização da Alântida. No espaço de uma semana, eles fazem suas descobertas, decifram textos, triangulam suas informações, encontram a Atlântida, encontram um submarino soviético atômico desaparecido desde a guerra fria, defendem ambos os achados do vilão, desmantelam sua rede de terrorismo e, claro, não vão ao banheiro nem uma vez! Magnífico!

Eles fazem tudo isso munidos de tecnologia futurista - apesar do livro se passar na contemporaneidade - e nunca erram em uma tradução de línguas mortas desconhecidas (que são feitas como se fossem a segunda língua de cada um) ou quando levantam teorias pungentes a cada quatro páginas do livro, sem nunca titubear por sequer um segundo. Graças à isso, eles descobrem o que realmente estava escrito nas tabuas dos Dez Mandamentos, desvendam o mistério da Arca de Noé, encontram o elo de ligação de todas as culturas européias, e, claro, encontram Atlântida e desvendam todos os seus mistérios.

Já disse que fizeram isso em sete dias?

Pois é. Tudo baseado em achados arqueológicos inventados, tecnologias que não existem, e em gênios multi-tarefas que são verdadeiras forças da natureza.

Um dos livros mais chatos que li em anos!

O único ponto interessante do livro é que o autor adiciona um apêndice no final do livro dizendo quais teorias e achados são verdadeiros e quais são falsos - só um é verdadeiro, e nunca foi explicado - e fornecendo muitas informações interessantes sobre locais citados no livro, que oferecem um monte de material pra pesquisas.

Fora o apêndice, eu sugiro que qualquer um que não esteja com uma severa crise de insônia e sem nenhuma outra alternativa de leitura se mantenha bem longe desse livro. Sério.

Não digam que eu não avisei.