quarta-feira, 14 de novembro de 2012
A Sombra do Vento
“Numa ocasião ouvi um cliente habitual comentar na livraria do meu pai que poucas coisas marcam tanto um leitor como o primeiro livro que realmente abre caminho até ao seu coração. Aquelas primeiras imagens, o eco dessas palavras que julgamos ter deixado para trás, acompanham-nos toda a vida e esculpem um palácio na nossa memória ao qual, mais tarde ou mais cedo – não importa quantos livros leiamos, quantos mundos descubramos, tudo quanto aprendamos ou esqueçamos-, vamos regressar.”
A primeira vista esse parece um livro sobre perdas. Mas no fim, descobrimos que esse é um livro sobre encontros e sobre certezas. Me encontrei nesse livro de muitas formas, muitas vezes, com alegria e tristeza, em cada momento distinto.
A narrativa de Zafrón alterna entre prosa ora poética, ora irônica. O enredo mistura gêneros como o romance de aventuras, novela gótica e até mesmo os folhetins amorosos de Victor Hugo. Ambientado na Barcelona franquista, mas com ecos no início do século XX, a Sombra do Vento é um desses livros que simplesmente se tornam impossíveis de largar assim que se inicia a leitura. Mais do que uma história apenas, é uma homenagem ao poder dos livros de contagiar o leitor, e da própria magia contar histórias.
Com ambientes e personagens fantásticos, incríveis (no sentido literal da palavra) mas ainda assim absolutamente palpáveis. É uma mistura absolutamente improvável de imaginação e realidade, que cria um ambiente difícil de aceitar, mas ainda assim concreto.
sim, é um livro bastante difícil de descrever...
A história em si tem de tudo: mistério, morte, polícia, perseguição, sexo, amizade e política. E apesar dessa mistura absolutamente abrangente de situações, é um livro conciso, que não se perde em momento algum. Talvez seja a prosa rebuscada de Zafrón que produza esse efeito, criando todo um ar de pompa burlesca na narrativa - tornando o que poderia ser, na mão de um escritor menos prolixo, uma história medíocre em um grande obra. Mas o caso é que, além disso, a história é extremamente intrincada, com várias camadas à serem descobertas. Com personagens mentindo e enganando, num enredo que já não é simples, o que pode tornar um leitor mais desatento em um náufrago dentro da história.
Eu sempre digo que pra mim, o conteúdo é muito mais importante do que a forma. Que a história, em si, é muito mais importante do que a prosa do escritor. E esse é um livro com uma grande história, que acontece de ter uma prosa absolutamente impecável!
Vou me alongar em mais elogios se continuar a escrever, e creio que já deixei clara minha admiração pelo excelente trabalho que Carlos Ruiz Zafrón fez nesse livro.
"- Mas Domênico, tu não falou nada sobre a história do livro!"
Pois é. Não falei, mesmo...
Bom, é sobre livros. Tem um protagonista adolescente, que se apaixona, como todos os adolescentes, e faz grandes burradas, como todo adolescente. E ele tem amigos, como alguns adolescentes, e tem dessabores, como quase todo adolescente. E tem ídolos, como acontece com certos adolescentes. Só que no caso de Daniel Sempere, essas paixões, erros, amizades, desafetos e ídolos estão em um nível épico, em um momento e lugar que não comporta épicos.
"- Mas Domênico, isso foi extremamente vago..."
Sim, eu sei. Leia o livro.
*pisca o olho*
Marcadores:
A sombra do Vento,
Barcelona,
Carlos Ruiz Zafrón,
Daniel Sempere,
franquismo,
livro,
Romance histórico
quinta-feira, 8 de novembro de 2012
Encontro Inesperado na Terceira Lua
Esse livro apareceu rolando aqui por casa. Minha avó, em suas visitas, costuma deixar um rastro de livros bem fácil de seguir. Com efeito, numa das últimas visitas, deixou um punhado deles por aqui, que minha mãe organiza pra ler, e eventualmente eu topo com as pequenas pilhas de escombros literários.
em geral, eu não leio as mesmas coisas que minha avó ou minha mãe. Elas as vezes deglutam algum dos meus livros, quando é uma leitura mais leve. Mas em geral temos um gosto bem diferente. O que não impede que eu sempre dê uma boa vasculhada nas pilhas deixadas pela casa em busca de leitura.
Quando me deparei com esse livro, considerando a origem e a capa, acreditei que se tratasse de algum romance espírita new age ou algo que o valha. Mas em geral, antes de concluir o conteúdo pela capa, eu dou uma olhada na orelha ou na contra-capa pra ter uma idéia do que realmente se trata.
quando li, no final do livro, que a autora era uma educadora, ilustradora e entusiaste do RPG além de ser escritora de livros infanto-juvenis, fiquei um tanto curioso com o livro leve, de letras grandes e capítulos curtos. Livro pra ler em ônibus - e eu tenho andado muito de ônibus ultimamente! Joguei o volume na mochila, e quando fiz uma viagem à Rio Grande, acabei pegando pra ler. Leitura obviamente fácil e rápida - afinal, essa é a natureza dos livros infanto-juvenis - mas difícil de digerir.
A historia se passa em um sistema solar com 26 planetas, dentre os quais dois deles vivem em uma guerra aberta há séculos. Daí o primeiro problema: os planetas se chamam Zarg e... Argh! Argh? Sério... Assim mesmo. Eu via um desenho animado de um homem das cavernas gritando ARGH!!! Toda vez que lia o nome do planeta! Triste escolha de nome. Segundo problema: Ninguém lembra porque os dois planetas estão em guerra. Isso simplesmente tira toda a verossimilhança da história! Guerras seculares no nosso planeta têm seus motivos e origens muito bem conhecidos, e por vezes algumas explicações variáveis com direito a todo tipo de teoria da conspiração. Não ter dado um motivo pra guerra simplesmente parece preguiça da autora, do meu ponto de vista.
Bom, o resto da história se mostra tão sem base pra conter um livro quanto esse pequeno detalhe de origem. Para acabar com a guerra, foram forjados dois braceletes, que devem ser dados pra dois habitantes dos planetas em guerra, que precisam, necessariamente, ser namorados. Não é bem isso, mas é! Sexo oposto, idade similar, sem laços familiares... Bom, os tais embaixadores, no caso, sõ - obviamente - dois adolescentes. Uma delas é filha de um pesquisador que procurava pelos braceletes, e o outro é um vigia militar de posto de transito espacial militar sem vocação militar nenhuma - no momento do encontro, ele tinha saído do seu posto sem comunicador nem arma porque lhe deu na telha...
Bom, os pombinhos se encontram, passam por uma provação, descobrem que são dignos e recebem os braceletes. Depois de desencontros bem ao estilo scooby-doo, a guerra acaba - assim mesmo, no corridão, sem grandes explicações, e nenhuma influência das ações dos tais embaixadores escolhidos, que no fim das contas não fazem nada pra acabar com a tal guerra sem sentido! E os novos namorados somem pela galáxia pra serem felizes bem longe de onde deveriam estar - seus postos de embaixadores de paz entre duas civilizações em processo de pacificação.
A estrutura do livro é interessante, com capítulos alternados entre diários de Zahira, a protagonista, Ariel, o vigia sem-noção, documentos oficiais de três nações diferentes - Zarg, Argh e uma terceira que me escapa o nome agora, que basicamente é formada por estudiosos que agem (aparentemente de forma muito desleixada...) como juízes entre os povos dos 26 planetas do tal sistema solar sem nome. Só que essa estrutura é um ponto fraco a mais no livro, porque o leitur fica se perguntando como é que os diários pessoais dos dois protagonistas estão disponíveis para leitura se ambos desapareceram sem deixar rastros logo após os últimos incidentes que culminaram no fim da guerra.
E é isso. Um livro infanto-juvenil com uma estória sem explicação nenhuma sobre nada, com um final que não faz sentido e um miolo que te deixa sempre esperando algum evento que nunca chega a acontecer. Sim, eu sei, tem que ser de fácil digestão, simples de compreender, porque é pra adolescentes... Mas não precisa ser absolutamente sem sentido! Não tem o mínimo de explicações necessárias sobre absolutamente nada!
Meu veredito final: Frustrante.
P.S.: Não achei imagens mehores da capa, mas admito que não me esforcei muito pra achar, também...
em geral, eu não leio as mesmas coisas que minha avó ou minha mãe. Elas as vezes deglutam algum dos meus livros, quando é uma leitura mais leve. Mas em geral temos um gosto bem diferente. O que não impede que eu sempre dê uma boa vasculhada nas pilhas deixadas pela casa em busca de leitura.
Quando me deparei com esse livro, considerando a origem e a capa, acreditei que se tratasse de algum romance espírita new age ou algo que o valha. Mas em geral, antes de concluir o conteúdo pela capa, eu dou uma olhada na orelha ou na contra-capa pra ter uma idéia do que realmente se trata.
quando li, no final do livro, que a autora era uma educadora, ilustradora e entusiaste do RPG além de ser escritora de livros infanto-juvenis, fiquei um tanto curioso com o livro leve, de letras grandes e capítulos curtos. Livro pra ler em ônibus - e eu tenho andado muito de ônibus ultimamente! Joguei o volume na mochila, e quando fiz uma viagem à Rio Grande, acabei pegando pra ler. Leitura obviamente fácil e rápida - afinal, essa é a natureza dos livros infanto-juvenis - mas difícil de digerir.
A historia se passa em um sistema solar com 26 planetas, dentre os quais dois deles vivem em uma guerra aberta há séculos. Daí o primeiro problema: os planetas se chamam Zarg e... Argh! Argh? Sério... Assim mesmo. Eu via um desenho animado de um homem das cavernas gritando ARGH!!! Toda vez que lia o nome do planeta! Triste escolha de nome. Segundo problema: Ninguém lembra porque os dois planetas estão em guerra. Isso simplesmente tira toda a verossimilhança da história! Guerras seculares no nosso planeta têm seus motivos e origens muito bem conhecidos, e por vezes algumas explicações variáveis com direito a todo tipo de teoria da conspiração. Não ter dado um motivo pra guerra simplesmente parece preguiça da autora, do meu ponto de vista.
Bom, o resto da história se mostra tão sem base pra conter um livro quanto esse pequeno detalhe de origem. Para acabar com a guerra, foram forjados dois braceletes, que devem ser dados pra dois habitantes dos planetas em guerra, que precisam, necessariamente, ser namorados. Não é bem isso, mas é! Sexo oposto, idade similar, sem laços familiares... Bom, os tais embaixadores, no caso, sõ - obviamente - dois adolescentes. Uma delas é filha de um pesquisador que procurava pelos braceletes, e o outro é um vigia militar de posto de transito espacial militar sem vocação militar nenhuma - no momento do encontro, ele tinha saído do seu posto sem comunicador nem arma porque lhe deu na telha...
Bom, os pombinhos se encontram, passam por uma provação, descobrem que são dignos e recebem os braceletes. Depois de desencontros bem ao estilo scooby-doo, a guerra acaba - assim mesmo, no corridão, sem grandes explicações, e nenhuma influência das ações dos tais embaixadores escolhidos, que no fim das contas não fazem nada pra acabar com a tal guerra sem sentido! E os novos namorados somem pela galáxia pra serem felizes bem longe de onde deveriam estar - seus postos de embaixadores de paz entre duas civilizações em processo de pacificação.
A estrutura do livro é interessante, com capítulos alternados entre diários de Zahira, a protagonista, Ariel, o vigia sem-noção, documentos oficiais de três nações diferentes - Zarg, Argh e uma terceira que me escapa o nome agora, que basicamente é formada por estudiosos que agem (aparentemente de forma muito desleixada...) como juízes entre os povos dos 26 planetas do tal sistema solar sem nome. Só que essa estrutura é um ponto fraco a mais no livro, porque o leitur fica se perguntando como é que os diários pessoais dos dois protagonistas estão disponíveis para leitura se ambos desapareceram sem deixar rastros logo após os últimos incidentes que culminaram no fim da guerra.
E é isso. Um livro infanto-juvenil com uma estória sem explicação nenhuma sobre nada, com um final que não faz sentido e um miolo que te deixa sempre esperando algum evento que nunca chega a acontecer. Sim, eu sei, tem que ser de fácil digestão, simples de compreender, porque é pra adolescentes... Mas não precisa ser absolutamente sem sentido! Não tem o mínimo de explicações necessárias sobre absolutamente nada!
Meu veredito final: Frustrante.
P.S.: Não achei imagens mehores da capa, mas admito que não me esforcei muito pra achar, também...
segunda-feira, 29 de outubro de 2012
Os Irmãos Corsos
Durante um desses dias sem eletricidade cá no Capão do Leão, graças aos vendavais que acometeram o litoral do estado nesses dias, acabei passando a mão em um livro rápido de ler. Comprei Os Irmãos Corsos em uma recente visita à Rio Grande, em que fui acompanhar uma amiga em sua garimpagens por LPs. Como honestamente não entendo nada de LPs e na ocasião o gosto musical da supracitada amiga me era desconhecido, fui pra parte de literatura do sebo que visitamos, e acabei comprando esse livro, mais pelo nome do autor do que por qualquer outro motivo.
Admito que não li muitos livros de Alexandre Dumas. Nada além de dois dos Romances de Dartagnan e O Cavaleiro da Casa Vermelha. A prosa não me atraiu muito no caso dos três livros anteriores, e achei que na verdade os livros se arrastam um pouco.
coisa absolutamente não acontece no caso d'Os Irmãos Corsos.
Depois de ler este livro, a curiosidade para ler alguns dos outros livros do autor - principalmente Conde de Montecristo e The Wolf Leader e The Knight of Sainte-Hermine (que acredito não terem tradução por português, infelizmente).
A história do livro gira em torno de um viajante que entra em contato com uma família da Córsega durante uma visita àquela ilha, constituída por uma viuva e um de seus filhos, cujo gêmeo mora em Paris. Mais tarde, de volta à França, Alexandre, o protagonista, se encontra com o gêmeo De Franchi que foi para o continente, e então, de um conto sobre os costumes e história da ilha que foi berço de Napoleão Bonaparte, o livro toma ares de suspense fantástico, com reviravoltas inesperadas na trama, sem deixar de perder a concisão em momento algum.
Além de ser uma interessantíssima história sobre os costumes corsos, ainda trás elementos do sobrenatural de modo soberbo. A leitura é rápida, e é impossível largar o livro - li a ora toda em um fim de tarde, sem ser capaz de parar a leitura em momento algum!
Ainda, o livro tem algumas questões intrigantes: o protagonista têm os mesmo primeiro nome, idade e profissão de Dumas, e a narrativa em primeira pessoa sido escrita pouco após seu retorno à Paris de uma viagem à Córsega, abre especulações de que se trataria de um romance autobiográfico. Obviamente, uma afirmativa muito mais razoável seria dizer que Dumas foi apresentado à uma série de lendas e histórias de fantasmas da Córsega durante sua estada ali, e essa inspiração lhe rendeu um livro que deve ter tido um tempo de fermentação muito breve.
Ainda, o livro tem algumas questões intrigantes: o protagonista têm os mesmo primeiro nome, idade e profissão de Dumas, e a narrativa em primeira pessoa sido escrita pouco após seu retorno à Paris de uma viagem à Córsega, abre especulações de que se trataria de um romance autobiográfico. Obviamente, uma afirmativa muito mais razoável seria dizer que Dumas foi apresentado à uma série de lendas e histórias de fantasmas da Córsega durante sua estada ali, e essa inspiração lhe rendeu um livro que deve ter tido um tempo de fermentação muito breve.
Definitivamente, uma agradável surpresa que me foi concedida, esse pequeno livrinho! Recomendo absolutamente a sua leitura a todos aqueles que conseguirem colocar as mãos em uma cópia!
Em tempo: Como não achei a capa da edição que comprei - de 1961... - adicionei essa imagem que veio de uma edição da Abril de 1973, e cujo ilustrador infelizmente não pude precisar. A imagem é definitivamente uma das mais poderosas do livro!
Marcadores:
Alexandre Dumas,
Córsega,
fantasmas,
França,
livro,
Os Irmãos Corsos,
Romance histórico
quarta-feira, 24 de outubro de 2012
Ilusões - as aventuras de um Messias indeciso
Apesar de eu ter certeza que alguns levam esse livro como uma espécie de 'manual prático e filosófico pra vida', ou algo assim, na verdade eu me diverti muito lendo o livro porque, ao ler o trecho introdutório - um manuscrito fazendo uma descrição à moda versículos bíblicos da história do Messias Mecânico - simplesmente me bateu uma de ler o livro como uma espécie de gênese de super herói.
Admito que foi um exercício muitíssimo interessante! Se fosse quadrinizado no estilão Rocketeer - a história se passa na década de 70 e tem aviões, é meio difícil não fazer a associação automaticamente, uma vez que se tem a idéia de gênese super-heroica - tenho certeza que ficaria perfeito como história das horigens de muitos super-heróis! Enquanto lia, me veio a cabeça o (um?) Doutor do Authority, mas certamente também funcionaria pra uma história do Doutor Estranho ou Destino (da DC) apresentando um novo mago ou uma gênese alternativa de um desses universos paralelos.
Mas poxa, afinal do que se trata o livro? Me adiantei nessa história de leitura alternativa e esqueci de falar do livro em si!
Richar Back é um autor que eu gosto. Ele é, eu sei, um autor de livros de filosofia pop ou algo assim. Mas, de qualquer maneira, ainda tenho um certo respeito por algumas de suas obras. Já resenhei aqui duas delas, inclusive: Longe é um Lugar que Não Existe, que tem um lugar especial no meu coração, e Biplano, que me chegou meio sem querer à mais ou menos uns dois anos. Ainda tenho que conseguir uma cópia de Fernão Capelo Gaivota, sua obra mais famosa.
E lá vou eu me enrolando outra vez sem falar sobre o livro...
Bem, assim como Biplano - e aposto que muitos outros livros de Bach, que é aviador desde os 17 anos - temos um livro que narra as aventuras de um piloto de avião independente (o piloto, não o avião). Nesse caso, porém, nosso protagonista se encontra com um sujeito singular, um Messias que desistiu do cargo. É uma história interessante sobre como as coisas podem acontecer quando um Messias vêm à terra. É fantástico, meio filosófico, tem momentos até engraçados e é bem simples de digerir. Um livro fácil com uma história direta e, se não enlevante, ao menos interessante.
Finalizo com a passagem final da introdução do livro, que dá uma idéia boa do que o livro traz:
26. E ele lhes falou: “Se um homem dissesse a Deus que o que queria mais que tudo era auxiliar o mundo sofredor, fosse qual fosse o preço para si, e Deus lhe respondesse o que devia fazer, o homem deveria fazer o que lhe era ordenado?”
27. “Pois claro, Mestre!” exclamaram. “Devia ser para ele um prazer sofrer as torturas do próprio inferno se Deus lha pedisse!”
28. “Não importa quais fossem essas torturas, nem a dificuldade da tarefa?”
29. “Seria uma honra ser enforcado, uma glória ser pregado a uma árvore e queimado, se fosse isso que Deus pedisse”, disseram eles.
30. “E o que fariam vocês, perguntou o Mestre à multidão, se Deus lhes falasse diretamente, em pessoa, e dissesse: ‘ORDENO QUE SEJAS FELIZ NO MUNDO, ENQUANTO VIVERES.’ O que fariam então?”
31. E a multidão calou-se e nem uma voz ou som foi ouvido sobre os morros e pelos vales.
32. E o Mestre disse: “No caminho de nossa felicidade encontraremos o conhecimento para o qual escolhemos esta vida. É assim que aprendi hoje e prefiro deixa-los agora para seguirem o seu caminho.”
33. E seguiu o seu caminho no meio da multidão e voltou ao mundo dos homens e dos motores.
Admito que foi um exercício muitíssimo interessante! Se fosse quadrinizado no estilão Rocketeer - a história se passa na década de 70 e tem aviões, é meio difícil não fazer a associação automaticamente, uma vez que se tem a idéia de gênese super-heroica - tenho certeza que ficaria perfeito como história das horigens de muitos super-heróis! Enquanto lia, me veio a cabeça o (um?) Doutor do Authority, mas certamente também funcionaria pra uma história do Doutor Estranho ou Destino (da DC) apresentando um novo mago ou uma gênese alternativa de um desses universos paralelos.
Mas poxa, afinal do que se trata o livro? Me adiantei nessa história de leitura alternativa e esqueci de falar do livro em si!
Richar Back é um autor que eu gosto. Ele é, eu sei, um autor de livros de filosofia pop ou algo assim. Mas, de qualquer maneira, ainda tenho um certo respeito por algumas de suas obras. Já resenhei aqui duas delas, inclusive: Longe é um Lugar que Não Existe, que tem um lugar especial no meu coração, e Biplano, que me chegou meio sem querer à mais ou menos uns dois anos. Ainda tenho que conseguir uma cópia de Fernão Capelo Gaivota, sua obra mais famosa.
E lá vou eu me enrolando outra vez sem falar sobre o livro...
Bem, assim como Biplano - e aposto que muitos outros livros de Bach, que é aviador desde os 17 anos - temos um livro que narra as aventuras de um piloto de avião independente (o piloto, não o avião). Nesse caso, porém, nosso protagonista se encontra com um sujeito singular, um Messias que desistiu do cargo. É uma história interessante sobre como as coisas podem acontecer quando um Messias vêm à terra. É fantástico, meio filosófico, tem momentos até engraçados e é bem simples de digerir. Um livro fácil com uma história direta e, se não enlevante, ao menos interessante.
Finalizo com a passagem final da introdução do livro, que dá uma idéia boa do que o livro traz:
26. E ele lhes falou: “Se um homem dissesse a Deus que o que queria mais que tudo era auxiliar o mundo sofredor, fosse qual fosse o preço para si, e Deus lhe respondesse o que devia fazer, o homem deveria fazer o que lhe era ordenado?”
27. “Pois claro, Mestre!” exclamaram. “Devia ser para ele um prazer sofrer as torturas do próprio inferno se Deus lha pedisse!”
28. “Não importa quais fossem essas torturas, nem a dificuldade da tarefa?”
29. “Seria uma honra ser enforcado, uma glória ser pregado a uma árvore e queimado, se fosse isso que Deus pedisse”, disseram eles.
30. “E o que fariam vocês, perguntou o Mestre à multidão, se Deus lhes falasse diretamente, em pessoa, e dissesse: ‘ORDENO QUE SEJAS FELIZ NO MUNDO, ENQUANTO VIVERES.’ O que fariam então?”
31. E a multidão calou-se e nem uma voz ou som foi ouvido sobre os morros e pelos vales.
32. E o Mestre disse: “No caminho de nossa felicidade encontraremos o conhecimento para o qual escolhemos esta vida. É assim que aprendi hoje e prefiro deixa-los agora para seguirem o seu caminho.”
33. E seguiu o seu caminho no meio da multidão e voltou ao mundo dos homens e dos motores.
segunda-feira, 8 de outubro de 2012
Estatuto do Homem
ESTATUTO DO HOMEM
(Ato Institucional Permanente)
Artigo I
Fica decretado que agora vale a verdade.
agora vale a vida,
e de mãos dadas,
marcharemos todos pela vida verdadeira.
Artigo II
Fica decretado que todos os dias da semana,
inclusive as terças-feiras mais cinzentas,
têm direito a converter-se em manhãs de domingo.
Artigo III
Fica decretado que, a partir deste instante,
haverá girassóis em todas as janelas,
que os girassóis terão direito
a abrir-se dentro da sombra;
e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
abertas para o verde onde cresce a esperança.
Artigo IV
Fica decretado que o homem
não precisará nunca mais
duvidar do homem.
Que o homem confiará no homem
como a palmeira confia no vento,
como o vento confia no ar,
como o ar confia no campo azul do céu.
Parágrafo único:
O homem, confiará no homem
como um menino confia em outro menino.
Artigo V
Fica decretado que os homens
estão livres do jugo da mentira.
Nunca mais será preciso usar
a couraça do silêncio
nem a armadura de palavras.
O homem se sentará à mesa
com seu olhar limpo
porque a verdade passará a ser servida
antes da sobremesa.
Artigo VI
Fica estabelecida, durante dez séculos,
a prática sonhada pelo profeta Isaías,
e o lobo e o cordeiro pastarão juntos
e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.
Artigo VII
Por decreto irrevogável fica estabelecido
o reinado permanente da justiça e da claridade,
e a alegria será uma bandeira generosa
para sempre desfraldada na alma do povo.
Artigo VIII
Fica decretado que a maior dor
sempre foi e será sempre
não poder dar-se amor a quem se ama
e saber que é a água
que dá à planta o milagre da flor.
Artigo IX
Fica permitido que o pão de cada dia
tenha no homem o sinal de seu suor.
Mas que sobretudo tenha
sempre o quente sabor da ternura.
Artigo X
Fica permitido a qualquer pessoa,
qualquer hora da vida,
o uso do traje branco.
Artigo XI
Fica decretado, por definição,
que o homem é um animal que ama
e que por isso é belo,
muito mais belo que a estrela da manhã.
Artigo XII
Decreta-se que nada será obrigado
nem proibido,
tudo será permitido,
inclusive brincar com os rinocerontes
e caminhar pelas tardes
com uma imensa begônia na lapela.
Parágrafo único:
Só uma coisa fica proibida:
amar sem amor.
Artigo XIII
Fica decretado que o dinheiro
não poderá nunca mais comprar
o sol das manhãs vindouras.
Expulso do grande baú do medo,
o dinheiro se transformará em uma espada fraternal
para defender o direito de cantar
e a festa do dia que chegou.
Artigo Final.
Fica proibido o uso da palavra liberdade,
a qual será suprimida dos dicionários
e do pântano enganoso das bocas.
A partir deste instante
a liberdade será algo vivo e transparente
como um fogo ou um rio,
e a sua morada será sempre
o coração do homem.
Thiago de Mello
Santiago do Chile, abril de 1964
Marcadores:
estatuto do homem,
poesia,
Thiago de Mello
domingo, 23 de setembro de 2012
Ostara
Ventos, flores, amores, cores, aromas e sabores! É tudo o que eu espero da estação, nada mais, nada menos!
Ano passado, nessa época, a minha vida andava um caos. Estava afogado em desamor, sem vontade de dar continuidade nos meus projetos, nenhuma expectativa em área alguma da vida. Precisei juntar forças pra me preparar pra celebrar o casamento de dois amigos a quem eu amo muito e foi isso que me manteve com um mínimo de foco. E meus amigos mais próximos estenderam as mãos na minha direção, o tempo todo, e me deram toda a força que eu precisava para seguir adiante. E no meio daquela primavera, lentamente, tudo foi ficando simplesmente perfeito! Senti a roda do ano girando sob meus pés, me empurrado adiante.Fui surpreendido por um novo amor, que embora breve foi muito intenso - pra mim, ao menos - e reencontrei a fé na Velha Religião. Uma fé que andava abalada, algo esquecida, mas que naquela primavera, voltou com toda a força! Uma fé que vem me acompanhando nesse último ano, e que eu celebrei nesse equinócio de primavera, sozinho em corpo, mas com meu espírito espalhado entre todos aqueles que estavam lá, que me acompanharam, e alguns novos amigos que se juntaram a mim recentemente nessa jornada.
Dormi longamente à beira do fogo, sob a lua crescente e na companhia de um vinho, com a mente flutuando nas lembranças do último ano, desejoso que essa primavera me traga tantas boas surpresas quanto a última, e com a certeza que dessa vez vou lutar uma luta melhor e mais honrada para manter a felicidade que me foi apresentada no giro anterior da roda, mas que por surpresa, falta de preparação, eu deixei escapar. Esse será, porém, um grande ano, tenho certeza!
E como disse uma amiga, esta é uma época de ações, não de planejamentos! E eu pretendo agir, da melhor e mais serena maneira possível, para criar boas lembranças dessa primavera, que durem até a próxima Ostara, não apenas como lembranças de um bom momento, mas como lembranças de um bom começo!
Onde houve despreparo, haverá contemplação. Onde houve cegueira, haverá visão. Onde houve loucura dispersa, haverá calma furiosa.
que a primavera seja magnífica para todos, e que a roda desse ano gire com mais intensidade do que nunca!
Que assim seja!
segunda-feira, 17 de setembro de 2012
As Sete Faces do Dr. Lao
Esse foi um daqueles livros que eu comprei simplesmente pela curiosidade. Imagino que todos conheçam o filme, tendo visto ou não. É um clássico, não há duvidas. E tendo assistindo ainda guri, pela primeira vez, é também um dos filmes que se amontoa como parte do meus imaginário mais primitivo.
Assim, levado pela curiosidade de leitor e empurrado pela memória de criança, comprei o livro.
E que decisão feliz! Charles Finney escreveu uma obra definitivamente singular, com começo, meio e catálogo. Não, o livro não tem um fim, propriamente dito; simplesmente acaba - o que é uma concepção completamente diferente - muito como um circo, penso eu. Recolhe a lona principal, recoloca os animais nas jaulas e segue viagem.
O cenário é uma típica cidade americana fictícia de nome inventado, meio isolada no oeste americano da década de vinte, onde chega - sabe-se lá como ou porque - um circo sem nome, comandando por um chinês que atende pelo nome de dr. Lao.
Os personagens são a mais inusitada mistura dos clássicos cidadãos americanos medíocres de uma cidadezinha isolada de nome inventado com animais fantásticos saídos de várias mitologias e lendas diferentes. O mais estranho é o modo como eles simplesmente não entram em conflito em termos de paradigma. Eles estão todos lá, e tu fica esperando que alguma coisa aconteça com a mistura, mas ela simplesmente se mantém estável, de uma maneira absolutamente desconcertante.
Chego a ver o jovem Stephen King lendo esse livro numa tarde poeirenta de verão, e tendo seu cérebro irrevogavelmente pirografado com a descrição de Abalone e seus habitantes singularmente comuns, que habitariam pra sempre a sua Castle Rock e lhe daria aquele ar sonolento de cidade perdida no tempo.
Sem muita lógica, o livro vai se desenrolando de maneira mais ou menos ordenada até que abruptamente, acaba. Ou não. Há ainda um estranho, disfuncional e terrivelmente interessante catálogo no final, que inclui um desfile de todos os personagens, além de algumas coisinhas inusitadas - e que eu não encontrei mesmo depois de reler o livro! - e tópicos absolutamente interessantes em sua inutilidade, como o material do qual são feitas as estatuetas e símbolos do livro, e ainda algumas perguntas e detalhes obscuros que despontam durante a leitura - e não, o catálogo não contém as respostas...
Enfim!
The Circus of Dr. Lao é uma obra de fantasia sobrenatural com algum humor, suspense e erotismo, sem muita lógica e certamente sem nenhum tipo de moral.
Definitivamente, um livro à ser recomendado!
Assim, levado pela curiosidade de leitor e empurrado pela memória de criança, comprei o livro.
E que decisão feliz! Charles Finney escreveu uma obra definitivamente singular, com começo, meio e catálogo. Não, o livro não tem um fim, propriamente dito; simplesmente acaba - o que é uma concepção completamente diferente - muito como um circo, penso eu. Recolhe a lona principal, recoloca os animais nas jaulas e segue viagem.
O cenário é uma típica cidade americana fictícia de nome inventado, meio isolada no oeste americano da década de vinte, onde chega - sabe-se lá como ou porque - um circo sem nome, comandando por um chinês que atende pelo nome de dr. Lao.
Os personagens são a mais inusitada mistura dos clássicos cidadãos americanos medíocres de uma cidadezinha isolada de nome inventado com animais fantásticos saídos de várias mitologias e lendas diferentes. O mais estranho é o modo como eles simplesmente não entram em conflito em termos de paradigma. Eles estão todos lá, e tu fica esperando que alguma coisa aconteça com a mistura, mas ela simplesmente se mantém estável, de uma maneira absolutamente desconcertante.
Chego a ver o jovem Stephen King lendo esse livro numa tarde poeirenta de verão, e tendo seu cérebro irrevogavelmente pirografado com a descrição de Abalone e seus habitantes singularmente comuns, que habitariam pra sempre a sua Castle Rock e lhe daria aquele ar sonolento de cidade perdida no tempo.
Sem muita lógica, o livro vai se desenrolando de maneira mais ou menos ordenada até que abruptamente, acaba. Ou não. Há ainda um estranho, disfuncional e terrivelmente interessante catálogo no final, que inclui um desfile de todos os personagens, além de algumas coisinhas inusitadas - e que eu não encontrei mesmo depois de reler o livro! - e tópicos absolutamente interessantes em sua inutilidade, como o material do qual são feitas as estatuetas e símbolos do livro, e ainda algumas perguntas e detalhes obscuros que despontam durante a leitura - e não, o catálogo não contém as respostas...
Enfim!
The Circus of Dr. Lao é uma obra de fantasia sobrenatural com algum humor, suspense e erotismo, sem muita lógica e certamente sem nenhum tipo de moral.
Definitivamente, um livro à ser recomendado!
quarta-feira, 12 de setembro de 2012
Pontomorto #1
Comprei essa HQ durante uma conversa de bar, numa madrugada em POA. Estava numa mesa com meu bom amigo Rafael Christino e dois sujeitos muito estranhos que ele me apresentou, um tal de Lobo - que depois eu vim a descobrir que era editor da Barba Negra - e o Rogê - um sujeito muito estranho que acha que futebol é um tipo de religião... O tal Rogê acabou com a minha auto-estima fazendo um desenho de bar finalizado à nanquim enquanto eu brincava de bonequinhos de palito. Tem uns caras muito sem-noção nesse mundo...
enfim, passada a humilhação e o estranhamento pelos estranhos hábitos religiosos do tal sujeito, acabei descobrindo que ele tinha recentemente lançado uma HQ em conjunto com um cartunista chamado Rafael [Corrêa] chamada Pontomorto. Uma edição de 20 páginas, com três histórias sem balões. Oras, como desenhista, fiquei extremamente interessado, automaticamente! Acabei caloteando a intera das cervejas - mas prometo que na próxima visita à POA eu me redimo! - pra poder comprar a HQ.
A revista veio comigo pra Pelotas, e ficou jogada no meu atelier junto com outras tralhas que eu tinha trazido da viagem. Eu não tinha lido a dita, porque achei que, durante a viagem, não ia aproveitar a diversão tanto quanto poderia. Enquanto esperava pelo 'momento certo' de ler, vários amigos meus deram uma folhada nela, e todos eram unânimes em dizer que as histórias eram muito boas. Isso começou a gerar uma certa expectativa, e acabei guardando a revista por um tempo, longe dos olhos, pra não acabar sendo influenciado e me frustrar - sim, eu sou um sujeito bem maníaco com relação à expectativas...
Semana passada, um mês depois de ter comprado a HQ, finalmente sentei pra ler. Como é uma revista de 20 páginas, sem balões, a maioria das pessoas lê tudo em um minuto, mais ou menos. É interessante de ver, na verdade, quando tu não leu ainda. Levei alguns minutos lendo, porque analisei cada quadro, como é comum quando leio histórias curtas, tentando imaginar a construção de cada um deles.
E, apesar de toda a expectativa gerada, acabei ficando positivamente surpreso com as histórias. O traço é excelente, solto mas preciso, típico de alguém que sabe perfeitamente o que está fazendo. O roteiro é simples, direto e extremamente contundente. E tem um centauro gaúcho! Não tem como uma história com um centauro gaúcho não ser boa!
Pelo que sei, o Rogê já está trabalhando na edição 2, e eu admito que já estou intrigado pra ler o que vem por aí!
O Rafael Corrêa tem um blog de cartuns e outras coisas mais: http://rafaelcartum.blogspot.com.br/ É importante notar, no entanto, que os roteiros de Pontomorto não são de humor, a despeito do trabalho usual do sujeito.
E o Rogê Antônio tem um blog/sketchbook - que tá meio desatualizado: http://rogeantonio.blogspot.com.br/ Apesar da desatualização, vale a pena dar uma olhada nos desenhos dele lá.
Como não achei o contato de nenhum deles nos respectivos blogs, sugiro aos interessado procurar os caras no facebook. Vale a pena apreciar o excelente trabalho feito nessa HQ!
enfim, passada a humilhação e o estranhamento pelos estranhos hábitos religiosos do tal sujeito, acabei descobrindo que ele tinha recentemente lançado uma HQ em conjunto com um cartunista chamado Rafael [Corrêa] chamada Pontomorto. Uma edição de 20 páginas, com três histórias sem balões. Oras, como desenhista, fiquei extremamente interessado, automaticamente! Acabei caloteando a intera das cervejas - mas prometo que na próxima visita à POA eu me redimo! - pra poder comprar a HQ.
A revista veio comigo pra Pelotas, e ficou jogada no meu atelier junto com outras tralhas que eu tinha trazido da viagem. Eu não tinha lido a dita, porque achei que, durante a viagem, não ia aproveitar a diversão tanto quanto poderia. Enquanto esperava pelo 'momento certo' de ler, vários amigos meus deram uma folhada nela, e todos eram unânimes em dizer que as histórias eram muito boas. Isso começou a gerar uma certa expectativa, e acabei guardando a revista por um tempo, longe dos olhos, pra não acabar sendo influenciado e me frustrar - sim, eu sou um sujeito bem maníaco com relação à expectativas...
Semana passada, um mês depois de ter comprado a HQ, finalmente sentei pra ler. Como é uma revista de 20 páginas, sem balões, a maioria das pessoas lê tudo em um minuto, mais ou menos. É interessante de ver, na verdade, quando tu não leu ainda. Levei alguns minutos lendo, porque analisei cada quadro, como é comum quando leio histórias curtas, tentando imaginar a construção de cada um deles.
E, apesar de toda a expectativa gerada, acabei ficando positivamente surpreso com as histórias. O traço é excelente, solto mas preciso, típico de alguém que sabe perfeitamente o que está fazendo. O roteiro é simples, direto e extremamente contundente. E tem um centauro gaúcho! Não tem como uma história com um centauro gaúcho não ser boa!
Pelo que sei, o Rogê já está trabalhando na edição 2, e eu admito que já estou intrigado pra ler o que vem por aí!
O Rafael Corrêa tem um blog de cartuns e outras coisas mais: http://rafaelcartum.blogspot.com.br/ É importante notar, no entanto, que os roteiros de Pontomorto não são de humor, a despeito do trabalho usual do sujeito.
E o Rogê Antônio tem um blog/sketchbook - que tá meio desatualizado: http://rogeantonio.blogspot.com.br/ Apesar da desatualização, vale a pena dar uma olhada nos desenhos dele lá.
Como não achei o contato de nenhum deles nos respectivos blogs, sugiro aos interessado procurar os caras no facebook. Vale a pena apreciar o excelente trabalho feito nessa HQ!
Marcadores:
Histórias em Quadrinhos,
Pontomorto,
Rafael Corrêa,
Rogê Antônio
quinta-feira, 30 de agosto de 2012
Filho da Guerra
Eu fui um filho da guerra fria.
As gerações mais recentes - que nasceram do meio da década de oitenta em diante - não viram as coisas como eu e meus confrades da minha geração viram.
eles não tinham bombas de hidrogênio sempre pairando sobre as cabeça deles. Eles não viram as pessoas perplexas olhando pra TV quando o muro caiu.
A maioria deles não teve tanta liberdade quanto nós, e essa liberdade nunca foi diminuída pela ameaça de uma guerra iminente.
Aquele fantasma de que, a qualquer momento, o mundo todo podia implodir, numa guerra atômica.
Eu entendo que a maioria de nós, com mais de trinta e menos de quarenta anos, não pensamos nisso o tempo todo, e acho que nem pensamos muito no assunto, na verdade. Mas nós vivemos esse sentimento, quase todos nós, e ele ajudou a criar parte do nosso caráter, e certamente influencia o nosso imaginário.
A guerra fria pautou minhas escolhas, até o fim da minha adolescência. eu queria ser milico. entrar pro exército, e ajudar a defender a nação. Ser útil. Pegar em armas contra os inimigos - inexistentes ou invisíveis - do meu povo. Os inimigos da liberdade.
Com o tempo, claro, esse sentimento passou. O mundo virou uma grande aldeia global, com suas fogueiras de cabos ópticos ao redor das quais pessoas de todo mundo se sentam pra contar histórias.
Mas nem sempre foi assim.
toda a informação que tínhamos vinha pela TV, rádio ou jornais, e todos sabíamos que, apesar da ditadura ser só então uma lembrança amarga na memória dos nossos pais, o governo ainda estava lá, puxando seus cordões pra fazer com que só as informações interessantes chegassem à nós. Nós víamos o inimigo em cada esquina, sempre espreitando. Observando. Julgando.
E nós eramos a vítima.
Assim, eu consigo imaginar o horror da ditadura militar. Posso imaginar o que é ter a liberdade roubada. Simpatizar com as vítimas das guerras "reais". E eu sei que só consigo imaginar, e assim mesmo, quando faço isso, sinto medo, dor e raiva.
Quem, com vinte, vinte e cinco anos, hoje, pode me dizer que sabe o sentimento que é estar em guerra, nunca tendo saído do país? Eu sei como é esse sentimento. Eu estava em guerra, mesmo que não declarada. Uma guerra feita de medo, uma guerra de mentira, que nunca existiu pra mim, mas ainda sim, era bem real.
E as vezes, só as vezes, eu lembro disso quando acordo pela manhã. Lembro como era ser criança e ter medo de ouvir minha mãe me chamando pra dentro, porque os americanos tinham finalmente cortado os fios que seguravam aquelas bombas atômicas imaginárias acima das nuvens, e elas estavam prestes a atingir as nossas cabeças!
E o mais estranho nisso tudo, é que essa guerra fantasma é uma lembrança que eu cultivo com certa felicidade, porque ela me lembra como é estar numa posição em que tu não tem o menor controle sobre nada, nem sabe como as coisas vão ser amanhã. É um sentimento que me mantém focado, muitas vezes, nos meus objetivos. Me torna mais esperto, de alguma forma. Mais vivo.
E não, não tem um grande objetivo maior por trás dessa postagem. eu só pensei muito no assunto por esses dias, e achei que era hora de colocar esse pensamento em palavras.
Enfim.
Era isso.
sexta-feira, 24 de agosto de 2012
Um momento de depressão, por favor.
Um dia tu encontra alguém.
E descobre que aquela pessoa te toca por baixo da tua própria pele.
E que os lábios dela abrem crateras oceânicas no teu corpo, sempre que ela te beija.
E os teus olhos doem quando tu olha pra ela, e os teus dedos latejam tateando quando ela não fica ao alcance.
E parece que o teu corpo foi retalhado com um pedaço de vidro, e os teus órgãos foram todos revirados.
E não importa quantas outras pessoas te toquem, te amem, durmam em ti.
Tu sabe que nunca, nunca mais, tu vai deixar de te sentir assim.
sexta-feira, 10 de agosto de 2012
uma pequena discussão sobre feminismo
Estive pensado muito sobre essa coisa de machismo e feminismo esses tempos, graças à uma experiência um tanto quanto desagradável pela qual passei.
Eu sempre me considerei um feminista. Anos atrás, eu era um "matriarcalista"; acreditava que as mulheres eram realmente melhores do que os homens. Depois passei a me considerar realmente um feminista, no sentido contemporâneo da palavra - que não faz nenhum sentido... - e descobri que na verdade carater, valor, sentimentos independem totalmente de gênero.
Vou dar uma paradinha nessa questão de nomenclatura, coisa rápida. Porque, exatamente, feminismo significa igualdade entre os gêneros, enquanto machismo significa superioridade do gênero masculino? Isso me parece um tanto quanto... preconceituoso! Não deveria ser "Generalista" ou algo assim? Mas ok, nomenclaturas. Num mundo eurocentrista e machista, até faz algum sentido a nomenclatura do "movimento" ou "sentimento", sei lá, de igualdade dos gêneros ser essa, mas ainda assim, por algum motivo, não gosto muito.
Enfim! De volta ao tópico!
Ser um homem feminista é um inferno... As mulheres não acreditam que esse fenômeno seja possível, e usam argumentos como, por exemplo:
a) tu tá mentindo pra parecer legal/pra pegar mais mulher;
b) teus conceitos sobre feminismo são equivocados, porque tu é um homem;
c) apesar de tu achar que é feminista, na verdade tu não é (!!!);
d) tu é um machista que se disfarça de feminista pelo conforto (WTF?!?).
Sim, já ouvi todas essas!
Já os homens simplesmente debocham de ti pela tua opinião, ou acham que tu é homossexual... Uma beleza.
Mas a coisa ainda complica mais, porque, me considerado um feminista, eu simplesmente não posso me dar ao direito de ter uma opinião tipicamente machista, em hipótese alguma, ou o meu "disfarce cai"! Uma opinião machista por parte de um homem automaticamente o torna um machista porco e miserável! Mesmo que todo o seu comportamento e opiniões sejam feministas.
Sim, eu passei por uma dessas esses tempos, que realmente me fez passar maus bocados (comigo mesmo). Além de me sentir extremamente ofendido por ser chamado de machista (e ignorante...) por alguém que, teoricamente, me conheceria o suficiente pra saber que isso não é verdade, ainda por cima isso gerou uma pequena crise pessoal porque eu considero a opinião da pessoa extremamente válida. Acabei por passar as últimas duas semanas pensando se eu realmente era um "machista enrustido" ou algo assim... No fim, acabei me dando conta que eu estava delegando muita força à opinião dessa pessoa em questão - que já me deu muitas provas de que não é nada sensata, alias, mas eu sou cabeça dura e demoro à mudar de opinião sobre as pessoas - e que meus conceitos e princípios são basicamente feministas, sim, apesar de ter algumas opiniões consideradas machistas, talvez. É um direito que eu me concedo.
Mas, pra não ficar totalmente no campo da abstração, vou discorrer sobre o acontecimento:
Basicamente, ao ver uma foto de uma cosplayer usando uma roupa extremamente sensualizada (peitos espremidos eu um grande decote e a parte da frente de uma saia, originalmente longa até os pés, cortada pra mostrar as coxas e a calcinha) de uma personagem de anime que nada tem de sensual (ao menos não pra gente normal; os otakus em geral veem sensualidade em absolutamente tudo que se pareça vagamente com uma fêmea humana...) eu comentei "isso não é uma cosplayer, é uma puta" ou algo muito próximo disso. Daí entra em cena essa pessoa, dizendo que, além de eu provavelmente não saber quem é a personagem em questão, ainda por cima era um machista e um notório odiador de animes. Pra tornar a coisa ainda mais sem sentido, essa mesma pessoa dizia, logo adiante, na mesma discussão, que a sensualização de uma personagem não era uma forma válida para criar um cosplay alternativo de uma personagem, já que a pessoa basicamente se valia de seus atributos físicos pra criar essa versão...
Agora, vejamos: Se eu visse uma versão, digamos, do Thor (que anda muito em alta) só que sem camisa e com buracos na parte de trás das calças pra mostrar as nádegas, ganhando um concurso de cosplay, minha opinião ia ser a mesma! A palavra 'puto' não representa a mesma coisa que sua contraparte feminina - sim, mais um exemplo de machismo - então eu usaria algo como "Isso não é um cosplayer, é um garoto de programa"! O que, provavelmente geraria comentários como "tá com invejinha" ou "mas garanto que tu queria poder fazer um cosplay desses" e coisas do gênero. E garanto que não seriam só homens que me diriam isso...
Essa opinião nada tem a ver com gênero. É uma opinião pessoal sobre a questão exposição exacerbada e da sensualização absurda que vêm se tornando cada vez mais acentuadas na contemporaneidade.
Mas essa não é uma discussão para essa postagem. Talvez outro dia...
Assim, essa pequena experiência de redes sociais me ensinou duas coisas: Ser um homem feminista é um fardo bem incômodo de carregar (não que seja pesado, mas ele não tem exatamente uma posição confortável pra agarrar) e exprimir opinião pessoal em redes sociais é um erro, o que me parece extremamente paradoxal em uma sociedade que, cada vez mais, enaltece a individualidade - um outro bom assunto pra uma futura postagem, penso eu!
Mas, como eu já disse, sou cabeça dura, e, por enquanto, vou manter minhas opiniões como estão, e vou continuar cuspindo elas na cara das pessoas, nas redes sociais ou fora delas!
Ah, como nota final sobre o assunto, sim, eu tento fugir de gente com esse tipo de reação. Com tanta vontade que acabo me afastando de gente cuja opinião até me interessa. É um preço que eu pago não com prazer, mas que creio que vale a pena.
segunda-feira, 30 de julho de 2012
Imbolc
Imbolc ou Imbolg deriva do irlandês arcaico i mbolg, "no ventre", ou à oimelc "leite das ewe", referindo-se à gravidez das ewe (uma região da Irlanda). É um festival gaélico que marca o início da primavera.
Esse festival foi observado na Irlanda gaélica, nas Highlands escocesas e na ilha de Man durante a idade média, e possui referências na mitologia irlandesa, especificamente no Ciclo de Ulster.
Imbolc também é, as vezes, referido como Candlemas, uma nomenclatura arcaica pra a festividade de Nossa Senhora da Candelária, pois no hemisfério norte a festividade foi cristianizada em favor de Maria. Como nas tradições católicas não existe a necessidade de refletir as questões sazonais das festividades, a Candelária é celebrada em 2 de fevereiro no hemisfério sul - época em que Imbolc é festejada no hemisfério norte.
Wiccans celebram uma variação de Imbolc como uma das quatro Festividades dos Fogos, que são as quatro festividades que ficam entre as grandes Festividades das Estações, perfazendo os oito Sabás da Roda do Ano. Em algumas tradições neopagãs, que geralmente utilizam não apenas o calendário solar mas também o lunar como base de suas tradições, Imbolc é celebrado na lua cheia mais próxima do ponto central entre Yule (celebrado no Solstício de Inverno) e Ostara (festividade do Equinócio de Primavera).
Nos covens Dianistas, Imbolc é chamado também de Brigid (associada à divindade de mesmo nome ou à Santa Brigida), e é a época tradicional das iniciações. Também é conhecido como Festival da Noiva. Mesmo em Covens mistos, Imbolc é um festival feminino, e creio que muitos covens possuem uma tradição de que esse Sabá seja festejado apenas por mulheres.
Imbolc é a festividade do recomeço. É quando a terra está se recuperando do inverno, e o Sol se fortalecendo para a primavera. Época de festas alegres, tochas e fogueias, comidas condimentadas e de sabores marcantes.
Para aqueles que tratam da terra, Imbolc é uma época de começar a aragem da terra e o plantio.
Para mim, particularmente, Imbolc sempre foi o inpicio do ano, de fato. Todos os planos feitos em Yule começam a germinar e mostrar suas primeiras folhas nessa época. É um momento de ver o que funcionou, quais planos devem ser adubados e regados, e quais simplesmente são fracos demais para vingar. Costuma ser uma das épocas mais felizes da Roda, porque é onde eu posso ver o que eu posso esperar até o próximo inverno, depois da espera morosa de que o inverno acabe.
Amanhã é Imbolc. Vou sentar na frente de um bom fogo com um licor e muitos chocolates, alguns bons fumos especialmente preparados, um pão caseiro extremamente temperado e, provavelmente, um pedaço de bolo muito doce. E se eu tiver paciência, farei um bom café de caldeirão, pra aquecer ainda mais!
quinta-feira, 26 de julho de 2012
Terminando de por ordem na casa
Há algum tempo, a Julia me disse que não conseguia fazer postagens aqui por causa dos pré-requisitos pedidos pelo blogger. Na época, eu dei uma olhada e acabei não descobrindo se era possível que as pessoas fizessem postagens anonimamente. Pois bem, ontem à noite, o Woods andou por aqui, e reclamou a mesma coisa. Daí fizemos uma busca pela internet, e, finalmente, descobri como desbloquear comentários anônimos!
Agora há uma opção de resposta anônima, mas eu gostaria que os comentadores do blog deixassem registrados seus nomezinhos! Essa opção também existe! Basicamente, quando selecionar Responder, aparece um campo Comentar Como, selecione Nome/URL, digite um nome, sem necessidade alguma de colocar um URL. Pronto!
Aproveitando o momento, gostaria de convidar os amigos blogueiros para linkar seus blogs aqui (na verdade, eu nem sei fazer isso, mas espero que algum blogueiro mais experiente possa me auxiliar com isso)!
Ah, e sim, o contador zerou, então eu chutei um número próximo ao que estava...
Agora vão lá fazer comentários no blog deste apedeuta que vos escreve!
Agora há uma opção de resposta anônima, mas eu gostaria que os comentadores do blog deixassem registrados seus nomezinhos! Essa opção também existe! Basicamente, quando selecionar Responder, aparece um campo Comentar Como, selecione Nome/URL, digite um nome, sem necessidade alguma de colocar um URL. Pronto!
Aproveitando o momento, gostaria de convidar os amigos blogueiros para linkar seus blogs aqui (na verdade, eu nem sei fazer isso, mas espero que algum blogueiro mais experiente possa me auxiliar com isso)!
Ah, e sim, o contador zerou, então eu chutei um número próximo ao que estava...
Agora vão lá fazer comentários no blog deste apedeuta que vos escreve!
terça-feira, 17 de julho de 2012
O lenhador sóbrio
Da série 'Momentos inesquecíveis nas Gaylands'.
Depois de pensar por um minuto, achei que era uma péssima idéia ir fazer lenha logo após beber uma lata de cerveja. Decidi sentar, ler um pouco de internet, tirar o alcool do sangue. Tomei um café, comi um pedaço de peixe, tomei um segundo café fumando um bom cigarro.
Só então, lá me fui eu fazer lenha.
Depois de sentar o machado em um par de escoras de lage, peguei a machadinha pra picar uns galhos verdes. Tranquilo, não exige força, só jeito.
Lá pelo meio do galho, dou um golpe de mal jeito, com força demais. Puxo a perna de apoio pra trás, pra não perder um pedaço do joelho, acerto com o cabo da machadinha na coxa, perco o equilíbrio, dou passo de ré, piso em um pedaço do galho que acabei de cortar que rola pra frente e arremessa minha perna pro ar, caio com o cóccix no tronco de cortar lenha e atinjo uma tábua com pregos com as costas.
Giro todo dolorido no chão, tentando perceber quantos ossos saíram quebrados da estripulia. Nenhum, aparentemente.
Nesse momento meu cusco vem, todo sorridente, na minha direção. Enquanto eu esbravejo e penso que o miserável vai me lamber a cara toda graças ao fato de eu estar no chão, meio indefeso contra linguadas, uma das minhas gatas pula na minha cara e começa a atacar meu cabelo!
Arranco o gato da minha cabeça, olho em volta procurando o cachorro babão, e vejo o miserável, ainda rindo, sair correndo com meu celular nos dentes, lépido e faceiro!
Não quebrei nem um osso, os pregos só marcaram minhas costas, a gata arranhou de leve minha testa, e meu celular só ficou meio babado. Podia ter sido MUITO pior!
Mas com certeza, na próxima vez, quando eu beber uma cerveja, vou mandar todo o resto pra puta que o pariu e tomar uma boa bebedeira!
sexta-feira, 13 de julho de 2012
Escolha
É primavera!
Nessa época do ano, posso sentir a vida renascendo por debaixo da mortalha branca do inverno. Sim, todos sentimos isso, alguns mais forte, outros mais fraco. Mas eu sou uma sacerdotisa. Eu sinto não só a vida renascendo nas flores que se abrem, nos pássaros jovens e nos insetos que voltam a voar ao redor. Eu sinto isso da terra, subindo pelos meus pés quando ando descalça na grama. Sinto nas mãos quando toco um tronco de árvore. Sinto no rosto quando bebo um gole de água do rio. A vida flui em mim, para mim. E, em breve, ela fluirá de mim.
Neste ano, durante as festividades, eu vou escolher alguém.
Eu sei, porque eu ví, num sonho. Somos ensinadas a entendê-los desde jovens, e muitos dos meus sonhos são claros como lembranças recentes.
É primavera, e estamos todos felizes nos preparando para o festival do plantio. É uma época feliz porque estamos finalmente todos reunidos fora de nossas casas, longe do frio e nos preparando para a fartura que estamos plantando agora.
Todos estão aqui. Aqueles de quem eu gosto mais e menos, os que eu amo, e até algumas pessoas que eu poderia odiar. Mas hoje, nós estamos todos felizes demais para simplesmente não nos amarmos todos mutuamente, sem restrições.
Porque é primavera, e o inverno passou.
As garotas mais jovens trançam galhos de flores azuis, amarelas e vermelhas, em grinaldas que saem presenteando para quem passa por elas. Elas gritam e sorriem e parecem fadas dançando ao som dos raios de sol. Os meninos mais jovens brincam com os cordeiros que acabaram de nascer, e enquanto eu e as moças mais velhas ajudamos a preparar e carregar os bolos e pães da festa, os rapazes carregam madeira e fazem jogos de força, enquanto olham para nós, tentando chamar a atenção.
E estão conseguindo.
Para mim é fácil sentir o pulso que vibra poderosamente entre nosos grupos, com as quase mulheres tentando parecer grtaciosas e os quase homens tentando parecer mais másculos. É natural, e já vi isso muitas vezes, nos últimos anos. Este ano, no entanto, é diferente, porque eu própria sinto o mesmo impulso, pela primeira vez.
Minha mãe diz que é a idade. Que chegou minha hora de deixar de ser criança e me tornar mulher. Creio que ela está certa. Meu corpo tem me dado avisos à esse respeito, e é chegada a hora. Essa é a ordem natural das coisas.
***
O inverno se foi, e é hora de semear.
Um punhado de homens está comigo trabalhando na semeadura. É um trabalho leve, depois de arar os campos. Mas o sol da primavera é pesado para nós, acostumados com o frio das geadas e com o sol esqualido que perfurava as densas neblinas invernais. Mas estamos todos felizes, falando alto e até mesmo cantando. Hoje a noite celebramos o festival da primavera, e as mulheres nos esperam com
pães e cerveja, e nós dançaremos, beberemos e celebraremos o retorno da vida.
Eu digo a mim mesmo que o ciclo da vida é como o das estações, e que a morte que o inverno trás é substituida pelo renascer da vida na primavera. Eu deveria saber disso melhor do que todos os homens ao meu redor, pois sou o druida da vila. Mas não consigo sentir o prazer que outrora traziam os pequenos momentos como este, de semear, de estar na companhia dos meus irmãos e irmãs, de saber que a primavera chegou.
Meu coração pesa.
No inverno anterior ao último, perdi minha esposa para o frio. Eu disse meu último adeus à ela na noite dos mortos, e a ví feliz, do outro lado do véu que separa os mundos. Ela seguirá o rumo natural de sua roda, e eu deveria fazer o mesmo. Mas até agora, não fui capaz.
quem sabe nesse festival? Deixarei na mão dos deuses decidirem.
Por agora, devo me concentrar no meu trabalho.
***
É primavera!
O festival teve inicio pouco antes do cair da noite quente e seca, deliciosa. Uma leve brisa deixa o ar carregado de aromas de flores, vinhos e bolos. Tudo tem cheiro e gosto doce! Todas as pessoas riem e se divertem. Eu danço com as moças e rapazes da minha idade, rio alto e bebo muito. Conheço ervas e sortilégios para que o hidromel não turve meu raciocínio, mas nessa noite não usei nenhum. Quero me embriagar sentir o pulso da vida fluindo livremente pelo meu corpo!
Alguns homens tocam seus tambores e sopram suas flautas, e uma das sacerdotisas mais velhas dedilha uma cítara magistralmente. A música começou tímida, mas agora é tocada de forma quase frenética, com os próprios músicos saltando e dançando! Se estão fora de compasso uns com os outro, ninguém nota. O ritmo de um músico mais persistente leva os outros a segui-lo, e no fim todos estão tocando mais ou menos a mesma melodia.
E ao seu redor, nos cantamos e dançamos!
Eu estou leve com a cerveja, mas mantenho uma parte dos meus pensamentos lúcida o suficente para procurar. Eu sei que escolherei alguém hoje, e estou curiosa para saber quem será. Há muitas moças e rapazes aqui hoje. Alguns daqui, outros das vilas próximas, e alguns de locais mais remotos, pequenos demais para terem festividades adequadas. Estamos todos eufóricos, e alguns já formaram casais, alguns mais timidamente, outros de forma mais declarada. Outros parecem não se importar com isso, e simplesmente dançam e bebem.
***
É noite.
Assisto de longe enquanto os homens e mulheres da minha vila, e alguns de vilas vizinhas, cantam e dançam ao redor do fogo, embalados pela cerveja. Sinto o cheiro doce dos bolos que as moças prepararam para a festividade, mas me falta vontade de experimentá-los. O próprio hidromel tem um gosto insípido esta noite.
Me sinto deslocado no meio de toda essa alegria. e só não me recolhi porque os homens veriam como mau sinal se o druida não estiver presente nas festividades de primavera até o amanhecer.
Foi numa destas festividades que a conheci, alguns anos atrás.
Não tivemos filhos.
Me sinto tão vazio.
Talvez seja hora de escolher um dos jovens para tomar o meu lugar e entrar na floresta para não mais...
***
Alegria!
Danço e rodo, e grito as letras das músicas que conheço numa voz totalmente bêbada, e rio junto com os outros jovens ao meu redor! Todos sabem o que estamos fazendo, e essa liberdade é tão boa! Minha cabeça está leve, e já não me importo em procurar, o que certamente me levará a uma escolha acertada! Somente danço e giro, de mãos dadas com os rapazes e moças que ainda não encontraram seus pares, e deixo a alegria de estar simplesmente vida tomar conta do meu corpo, do meu coração!
E danço!
***
Frio.
Agora uns poucos jovens, ainda frenéticos, dançam perto do fogo, ao som de músicos incansáveis. Reconheço apenas uma jovem sacerdotisa entre eles.
Decido me aproximar, pra esquentar meu corpo cansado.
Alguns dos rapazes e moças acabarão solitários esta noite, como sempre acontece, e escolherei um deles para ser meu novo aprendiz, amanhã. Por hora, apenas verei seus rostos mais de perto.
***
Cansaço.
Finalmente ele toma conta de mim. Meu corpo reclama do ritmo frenético, e eu acabo caindo sentada perto de alguém. Olho para ver quem é, e me surpreendo com o rosto do nosso druida. Ele é um homem jovem mas por causa das coisas que aprendeu e viveu, tem um semblante duro e um ar triste que fazem com que pareça um ancião.
Tento levantar, mas minhas pernas não me obedecem.
Acabo abraçado com ele.
E então, eu a vejo!
***
Cansaço.
sento em um tronco perto do fogo. Mal tomo um gole do hidromel que quueceu nas minhas mãos, a jovem sacerdotisa que dançava entre os outros jovens cai ao meu lado.
Ela está completamente bêbada. Tento estender a mão para ajuda-la a levantar, mas ela parece não notar. Cambaleia, e acaba caindo sobre mim.
e então, eu a vejo!
***
Seu cabelo é muito escuro, e as roupas brancas estão sujas e manchadas. Ela olha na minha direção, mas não diretamente pra mim.
É uma ameaça.
Exijo que minha mente se foque nos meus ensinamentos, em busca de uma resposta.
ela vem rápida e brutal, quando percebo que ela está olhando na minha direção, para o druida!
***
É uma visão fugaz. Eu vejo a jovem de cabelos negros me encarando por um momento, mas sei que ela está aqui por mim.
Mas sequer tenho tempo de refletir sobre isso.
Seu hálito tem cheiro de cerveja. Os lábios estreitos são rígidos, tensos. A língua é aspera. E o gosto é doce e inesperado como um raio de sol em meio à chuva.
Ela draga meus sentidos. Confuso, correspondo como posso, tentando reter aquele momento para sempre. O solo some sob meu peso.
Então, tão repentino como chegou, ela se vai. Se afasta. Eu assisto ela dançar por entre os músicos, como uma fada. E me perco naquele momento.
***
Eu faço o que é preciso.
Não, eu faço o que desejo!
Afasto o frio com um beijo, uma promessa. Aproveito cada instante daquele momento, insuflando paixão, e recebendo o mesmo em retorno.
Sinto que movo sua roda em uma nova direção, e sinto que a roda da minha própria vida é movida na mesma direção.
Abro os olhos e ela não está mais lá. O encantamento foi quebrado.
Me afasto, sentindo uma confusão nova tomando meu corpo.
É Mágico!
***
É Mágico!
***
Estou confusa!
***
Estou confuso!
Sinto a minha roda da vida girar, veloz, numa nova direção!
Como quando um punhado de hervas aromáticas é lançada sobre as brasas de uma fogueira quase morta, eu me sinto reacender!
***
Vou sentar perto das moças que não encontraram um par. Todas riem, pois apesar de tudo, estamos todos felizes.
apesar da confusão, estou feliz!
Olho na direção do druida. Nossos olhares se encontram.
Eu fiz minha escolha.
***
Eu a fito, longe, junto das outras moças. Sinto um calor suave, uma paixão que, mansamente, se aninha em mim. Eu me sinto escolhido.
E aceito sua escolha.
***
Eu estou apaixonada.
***
Eu estou apaixonado.
Toda a vida recomeçou.
É primavera.
E a roda das nossas vidas gira.
Nessa época do ano, posso sentir a vida renascendo por debaixo da mortalha branca do inverno. Sim, todos sentimos isso, alguns mais forte, outros mais fraco. Mas eu sou uma sacerdotisa. Eu sinto não só a vida renascendo nas flores que se abrem, nos pássaros jovens e nos insetos que voltam a voar ao redor. Eu sinto isso da terra, subindo pelos meus pés quando ando descalça na grama. Sinto nas mãos quando toco um tronco de árvore. Sinto no rosto quando bebo um gole de água do rio. A vida flui em mim, para mim. E, em breve, ela fluirá de mim.
Neste ano, durante as festividades, eu vou escolher alguém.
Eu sei, porque eu ví, num sonho. Somos ensinadas a entendê-los desde jovens, e muitos dos meus sonhos são claros como lembranças recentes.
É primavera, e estamos todos felizes nos preparando para o festival do plantio. É uma época feliz porque estamos finalmente todos reunidos fora de nossas casas, longe do frio e nos preparando para a fartura que estamos plantando agora.
Todos estão aqui. Aqueles de quem eu gosto mais e menos, os que eu amo, e até algumas pessoas que eu poderia odiar. Mas hoje, nós estamos todos felizes demais para simplesmente não nos amarmos todos mutuamente, sem restrições.
Porque é primavera, e o inverno passou.
As garotas mais jovens trançam galhos de flores azuis, amarelas e vermelhas, em grinaldas que saem presenteando para quem passa por elas. Elas gritam e sorriem e parecem fadas dançando ao som dos raios de sol. Os meninos mais jovens brincam com os cordeiros que acabaram de nascer, e enquanto eu e as moças mais velhas ajudamos a preparar e carregar os bolos e pães da festa, os rapazes carregam madeira e fazem jogos de força, enquanto olham para nós, tentando chamar a atenção.
E estão conseguindo.
Para mim é fácil sentir o pulso que vibra poderosamente entre nosos grupos, com as quase mulheres tentando parecer grtaciosas e os quase homens tentando parecer mais másculos. É natural, e já vi isso muitas vezes, nos últimos anos. Este ano, no entanto, é diferente, porque eu própria sinto o mesmo impulso, pela primeira vez.
Minha mãe diz que é a idade. Que chegou minha hora de deixar de ser criança e me tornar mulher. Creio que ela está certa. Meu corpo tem me dado avisos à esse respeito, e é chegada a hora. Essa é a ordem natural das coisas.
***
O inverno se foi, e é hora de semear.
Um punhado de homens está comigo trabalhando na semeadura. É um trabalho leve, depois de arar os campos. Mas o sol da primavera é pesado para nós, acostumados com o frio das geadas e com o sol esqualido que perfurava as densas neblinas invernais. Mas estamos todos felizes, falando alto e até mesmo cantando. Hoje a noite celebramos o festival da primavera, e as mulheres nos esperam com
pães e cerveja, e nós dançaremos, beberemos e celebraremos o retorno da vida.
Eu digo a mim mesmo que o ciclo da vida é como o das estações, e que a morte que o inverno trás é substituida pelo renascer da vida na primavera. Eu deveria saber disso melhor do que todos os homens ao meu redor, pois sou o druida da vila. Mas não consigo sentir o prazer que outrora traziam os pequenos momentos como este, de semear, de estar na companhia dos meus irmãos e irmãs, de saber que a primavera chegou.
Meu coração pesa.
No inverno anterior ao último, perdi minha esposa para o frio. Eu disse meu último adeus à ela na noite dos mortos, e a ví feliz, do outro lado do véu que separa os mundos. Ela seguirá o rumo natural de sua roda, e eu deveria fazer o mesmo. Mas até agora, não fui capaz.
quem sabe nesse festival? Deixarei na mão dos deuses decidirem.
Por agora, devo me concentrar no meu trabalho.
***
É primavera!
O festival teve inicio pouco antes do cair da noite quente e seca, deliciosa. Uma leve brisa deixa o ar carregado de aromas de flores, vinhos e bolos. Tudo tem cheiro e gosto doce! Todas as pessoas riem e se divertem. Eu danço com as moças e rapazes da minha idade, rio alto e bebo muito. Conheço ervas e sortilégios para que o hidromel não turve meu raciocínio, mas nessa noite não usei nenhum. Quero me embriagar sentir o pulso da vida fluindo livremente pelo meu corpo!
Alguns homens tocam seus tambores e sopram suas flautas, e uma das sacerdotisas mais velhas dedilha uma cítara magistralmente. A música começou tímida, mas agora é tocada de forma quase frenética, com os próprios músicos saltando e dançando! Se estão fora de compasso uns com os outro, ninguém nota. O ritmo de um músico mais persistente leva os outros a segui-lo, e no fim todos estão tocando mais ou menos a mesma melodia.
E ao seu redor, nos cantamos e dançamos!
Eu estou leve com a cerveja, mas mantenho uma parte dos meus pensamentos lúcida o suficente para procurar. Eu sei que escolherei alguém hoje, e estou curiosa para saber quem será. Há muitas moças e rapazes aqui hoje. Alguns daqui, outros das vilas próximas, e alguns de locais mais remotos, pequenos demais para terem festividades adequadas. Estamos todos eufóricos, e alguns já formaram casais, alguns mais timidamente, outros de forma mais declarada. Outros parecem não se importar com isso, e simplesmente dançam e bebem.
***
É noite.
Assisto de longe enquanto os homens e mulheres da minha vila, e alguns de vilas vizinhas, cantam e dançam ao redor do fogo, embalados pela cerveja. Sinto o cheiro doce dos bolos que as moças prepararam para a festividade, mas me falta vontade de experimentá-los. O próprio hidromel tem um gosto insípido esta noite.
Me sinto deslocado no meio de toda essa alegria. e só não me recolhi porque os homens veriam como mau sinal se o druida não estiver presente nas festividades de primavera até o amanhecer.
Foi numa destas festividades que a conheci, alguns anos atrás.
Não tivemos filhos.
Me sinto tão vazio.
Talvez seja hora de escolher um dos jovens para tomar o meu lugar e entrar na floresta para não mais...
***
Alegria!
Danço e rodo, e grito as letras das músicas que conheço numa voz totalmente bêbada, e rio junto com os outros jovens ao meu redor! Todos sabem o que estamos fazendo, e essa liberdade é tão boa! Minha cabeça está leve, e já não me importo em procurar, o que certamente me levará a uma escolha acertada! Somente danço e giro, de mãos dadas com os rapazes e moças que ainda não encontraram seus pares, e deixo a alegria de estar simplesmente vida tomar conta do meu corpo, do meu coração!
E danço!
***
Frio.
Agora uns poucos jovens, ainda frenéticos, dançam perto do fogo, ao som de músicos incansáveis. Reconheço apenas uma jovem sacerdotisa entre eles.
Decido me aproximar, pra esquentar meu corpo cansado.
Alguns dos rapazes e moças acabarão solitários esta noite, como sempre acontece, e escolherei um deles para ser meu novo aprendiz, amanhã. Por hora, apenas verei seus rostos mais de perto.
***
Cansaço.
Finalmente ele toma conta de mim. Meu corpo reclama do ritmo frenético, e eu acabo caindo sentada perto de alguém. Olho para ver quem é, e me surpreendo com o rosto do nosso druida. Ele é um homem jovem mas por causa das coisas que aprendeu e viveu, tem um semblante duro e um ar triste que fazem com que pareça um ancião.
Tento levantar, mas minhas pernas não me obedecem.
Acabo abraçado com ele.
E então, eu a vejo!
***
Cansaço.
sento em um tronco perto do fogo. Mal tomo um gole do hidromel que quueceu nas minhas mãos, a jovem sacerdotisa que dançava entre os outros jovens cai ao meu lado.
Ela está completamente bêbada. Tento estender a mão para ajuda-la a levantar, mas ela parece não notar. Cambaleia, e acaba caindo sobre mim.
e então, eu a vejo!
***
Seu cabelo é muito escuro, e as roupas brancas estão sujas e manchadas. Ela olha na minha direção, mas não diretamente pra mim.
É uma ameaça.
Exijo que minha mente se foque nos meus ensinamentos, em busca de uma resposta.
ela vem rápida e brutal, quando percebo que ela está olhando na minha direção, para o druida!
***
É uma visão fugaz. Eu vejo a jovem de cabelos negros me encarando por um momento, mas sei que ela está aqui por mim.
Mas sequer tenho tempo de refletir sobre isso.
Seu hálito tem cheiro de cerveja. Os lábios estreitos são rígidos, tensos. A língua é aspera. E o gosto é doce e inesperado como um raio de sol em meio à chuva.
Ela draga meus sentidos. Confuso, correspondo como posso, tentando reter aquele momento para sempre. O solo some sob meu peso.
Então, tão repentino como chegou, ela se vai. Se afasta. Eu assisto ela dançar por entre os músicos, como uma fada. E me perco naquele momento.
***
Eu faço o que é preciso.
Não, eu faço o que desejo!
Afasto o frio com um beijo, uma promessa. Aproveito cada instante daquele momento, insuflando paixão, e recebendo o mesmo em retorno.
Sinto que movo sua roda em uma nova direção, e sinto que a roda da minha própria vida é movida na mesma direção.
Abro os olhos e ela não está mais lá. O encantamento foi quebrado.
Me afasto, sentindo uma confusão nova tomando meu corpo.
É Mágico!
***
É Mágico!
***
Estou confusa!
***
Estou confuso!
Sinto a minha roda da vida girar, veloz, numa nova direção!
Como quando um punhado de hervas aromáticas é lançada sobre as brasas de uma fogueira quase morta, eu me sinto reacender!
***
Vou sentar perto das moças que não encontraram um par. Todas riem, pois apesar de tudo, estamos todos felizes.
apesar da confusão, estou feliz!
Olho na direção do druida. Nossos olhares se encontram.
Eu fiz minha escolha.
***
Eu a fito, longe, junto das outras moças. Sinto um calor suave, uma paixão que, mansamente, se aninha em mim. Eu me sinto escolhido.
E aceito sua escolha.
***
Eu estou apaixonada.
***
Eu estou apaixonado.
Toda a vida recomeçou.
É primavera.
E a roda das nossas vidas gira.
terça-feira, 10 de julho de 2012
Contrabando
Aparício Silva Rillo
Vai o barco de farinha
cruzando o velho Uruguai.
Vaqueano dessas cruzadas
vem na popa um índio moço
manejando o varejão.
Vem atento e vem pensando:
Vou deixar do contrabando,
não e vida pra um cristão.
Hoje eu vim porque o menino
deu sumiço na chupeta
e aquele piá trompeta
saiu louco de chorão...
Sorri o moço da popa
porque no bolso da roupa
traz o bico pro piá.
Ouve um tiro, de repente,
vindo da banda de lá!
Foi o tiro de sinal.
Já no mais o tiroteio
se acendeu no macegal,
pipocando seco e feio
como entrechoque de guampas
no entrevero do rodeio
no dia em que se dá sal.
Mala suerte!
O barco vinha chegando,
e a cargo do contrabando
com mais dez braças de rio,
tinha subido a picada,
da picada pra carreta,
e daí pro caminhão.
Ouve um grito de: - Lã fresca,
o Nico se lastimou!
Mas ninguém botou tenência
no sentido deste grito,
porque a coisa vinha preta
sob o tendal de balaços
que a guarda ajena estendeu.
Cada bala que cruzava
debochava de assobio!
Quando o barco deu no porto
no lado de cá do rio,
o pessoal ganhou o mato,
na picada se sumiu.
O barco ficou sozinho
na madrugada e no rio.
Digo mal: ficou o Nico
sobre um saco de farinha
que um balaço espedaçou.
Tinha um lenço maragato
na brancura da farinha
onde o índio se apoiou.
Foi quando a manhã surgiu,
mostrando o sangue do Nico
pingando dentro do rio ...
Menino, cala esta boca,
não demora chega o Nico,
vai-te trazer outro bico
que é pra tu não chorar mais.
Veio a manhã, veio a tarde,
veio a boieira luzir.
Veio a noite grande e morta,
A china veio pra porta,
E nada do Nico vir!
Veio um dia,
mais um dia,
veio outro dia depois
Ao pé de uma lamparina
vela em silencio uma china
que de chorar se cansou.
Numa cama de pelego
choraminga sem sossego
um piazito babão.
Choraminga! Choraminga!
... porque o pai não trouxe o bico,
e o que tinha se extraviou ...
segunda-feira, 9 de julho de 2012
Sonhos
Ainda esses dias, falei sobre os meus pesadelos. Com a permissão (concedida, meritíssimo!) de me auto-copiar:
O primeiro, de algum ponto entre 2005 e 2007, gerou a História em Quadrinhos que foi minha última postagem. Sim, eu sonhei em quadrinhos. A história toda, sete páginas. Aqui está a "história por trás da história" (e mais alguns detalhes), apesar da HQ completa só aparecer na minha postagem anterior, como eu disse.
Nessa época, eu estava sozinho, e não estava em uma boa fase de leitura, que só começou algum tempo depois. Então não faço ideia de qual foi o gatilho.
O segundo sonho que me lembro é uma imagem, de uma mulher, a minha namorada na época, em algum ponto em 2010. Lembro de acordar chorando por ter tido aquele sonho. Foi tão bom! Um sentimento de paz e uma tranquilidade me invadiram por dias depois daquilo. Era só uma imagem, dela, sentada em uma poltrona, lendo, numa sala cor de creme, usando um vestido branco, meio transparente. Uma luz difusa entrava na cena por uma janela de cortinas (também cor de creme) que deixava a silhueta dela marcada. A cortina e o vestido as vezes se moviam com uma brisa muito leve, e as vezes ela virava as páginas e movia a cabeça, lendo. Ainda pretendo fazer um quadro dessa imagem, assim que tiver uma modelo adequada.
O terceiro sonho que recordo me veio ontem. Depois de uma longa conversa telefônica, peguei no sono muito cedo. E me veio esse diálogo, entre pai e filho. Não foi exatamente em quadrinhos, como da primeira vez, mas era quase. Havia algum movimento, mas era pouco. Passei a tarde de hoje fazendo o storyboard - já com diálogos - do que se mostrou uma boa HQ. Não sei se ótima, mas boa, certamente. É um diálogo conciso, que faz sentido.
Acredito que o que gerou esse sonho foi essa minha vontade imensa de ser pai. E uma pequena esperança de que isso ainda aconteça, um dia. Não tenho certeza.
O fato é que a história está aqui, agora, pronta pra ser desenhada. 28 páginas. Uma promessa de um novo projeto. Algo pra me manter ocupado nas horas de ócio entre um trabalho e outro. Uma história que eu não vou deixar que o tempo estrague, como a última.
É muito bom me sentir inspirado novamente!
"Sofro de pesadelos desde que me lembro. Na verdade, eu raramente sonho - conto nos dedos de uma mão todos os sonhos que tive, excluídos os pesadelos, entre recorrentes e totalmente novos e inéditos..."
Bom, descobri que isso nem é verdade. Eu só consigo lembrar de três sonhos que tive nos últimos dez anos.
O primeiro, de algum ponto entre 2005 e 2007, gerou a História em Quadrinhos que foi minha última postagem. Sim, eu sonhei em quadrinhos. A história toda, sete páginas. Aqui está a "história por trás da história" (e mais alguns detalhes), apesar da HQ completa só aparecer na minha postagem anterior, como eu disse.
Nessa época, eu estava sozinho, e não estava em uma boa fase de leitura, que só começou algum tempo depois. Então não faço ideia de qual foi o gatilho.
O segundo sonho que me lembro é uma imagem, de uma mulher, a minha namorada na época, em algum ponto em 2010. Lembro de acordar chorando por ter tido aquele sonho. Foi tão bom! Um sentimento de paz e uma tranquilidade me invadiram por dias depois daquilo. Era só uma imagem, dela, sentada em uma poltrona, lendo, numa sala cor de creme, usando um vestido branco, meio transparente. Uma luz difusa entrava na cena por uma janela de cortinas (também cor de creme) que deixava a silhueta dela marcada. A cortina e o vestido as vezes se moviam com uma brisa muito leve, e as vezes ela virava as páginas e movia a cabeça, lendo. Ainda pretendo fazer um quadro dessa imagem, assim que tiver uma modelo adequada.
O terceiro sonho que recordo me veio ontem. Depois de uma longa conversa telefônica, peguei no sono muito cedo. E me veio esse diálogo, entre pai e filho. Não foi exatamente em quadrinhos, como da primeira vez, mas era quase. Havia algum movimento, mas era pouco. Passei a tarde de hoje fazendo o storyboard - já com diálogos - do que se mostrou uma boa HQ. Não sei se ótima, mas boa, certamente. É um diálogo conciso, que faz sentido.
Acredito que o que gerou esse sonho foi essa minha vontade imensa de ser pai. E uma pequena esperança de que isso ainda aconteça, um dia. Não tenho certeza.
O fato é que a história está aqui, agora, pronta pra ser desenhada. 28 páginas. Uma promessa de um novo projeto. Algo pra me manter ocupado nas horas de ócio entre um trabalho e outro. Uma história que eu não vou deixar que o tempo estrague, como a última.
É muito bom me sentir inspirado novamente!
Marcadores:
esperança,
Histórias em Quadrinhos,
inspiração,
sonho
sábado, 30 de junho de 2012
Tudo a Seu Tempo II
Muito bem!
Seguindo a orientação da Saoki, aqui vai a coisa toda, finalizada!
Não sei se é completamente compreensível pra todos, uma vez que me venho em um sonho - sim, uma vez, eu sonhei em quadrinhos! Mesmo! - e portanto é extremamente óbvia e simples pra mim....
Opiniões seriam muitíssimo benvindas e honestamente apreciadas! Principalmente à respeito da questão de sentido e legibilidade!
Pra quem não conhece o sistema, é só clicar na primeira imagem e ir pressionando o botão da direita pra ler as páginas seguintes.
Marcadores:
Histórias em Quadrinhos,
tempo,
tudo a seu tempo
Assinar:
Postagens (Atom)