Farenheit 451 é a temperatura em que papel entra em combustão. Essa é uma das poucas coisas que lembro bem do filme de François Truffaut. Claro, lembro da linha geral do filme, da loucura de ver bombeiros queimando coisas (eram livros, basicamente, mas eles queimavam as casas junto) e guardo na memória com muito prazer as cenas finais do filme, com os Homens dos Livros lendo, em meio à árvores, aquelas obras nas quais eles deveriam se tornar.
Quando vi o filme, há... Não sei, 20 anos atrás, talvez... Nem
tinha idéia que ele tinha sido baseado em um livro. Também nunca fui particularmente interessando em pesquisar o conjunto da obra de um autor - quem companha o Café com Letra sabe que eu leio muito livro ruim! Eu basicamente escolho livros de forma semi-aleatória: Se nenhum autor que eu já tenha gostado está a disposição, eu escolho um livro qualquer pelo nome ou (mais comumente) pela ilustração da capa. Obviamente, isso já gerou várias frustrações...
De fato, quando cheguei na Montecristo, coisa de um mês e meio atrás, e o Oscar me disse que haviam livros novos de ficção científica, admito que fiquei um tanto quanto surpreso ao encontrar o que eu achei ser uma novelização do filme de 1966. Claro, imaginei isso por uma fração de segundo, até ver que o autor era Ray Bradbury, o que, repentinamente, criou uma inversão de fatores na idéia: Obviamente o filme que eu tinha assistido tanto tempo antes era uma adaptação do livro (e sim, é exatamente isso).
Lembrava pouco do filme, pra ser honesto. Apesar de guardar ele na memória com um certo carinho, por ser um dos primeiros filmes de ficção científica que eu assisti - não era muito fã de filmes, preferindo desenhos animados antigos (SPAAAACE GHOOOOOST!) pra passar o tempo. Eu tinha começado a ler HQs na época, e só lia os famigerados infanto-juvenis da Coleção Vaga-Lume. Pois é.
Eu e minha mania de derivar!
Como eu dizia, não lembrava muita coisa do filme, além da sensação de desamparo do protagonista e do sentimento de absurdo com a relação dos bombeiros e o fogo, completamente revertida.
Abri o livro, na verdade, com curiosidade pra ver até onde minha memória estava "em dia" e pra ter uma idéia de quanto do livro tinha sido modificado no filme.
Há, de fato, diversas diferenças - essa edição da Globo, apesar da capa tenebrosa, desenhada provavelmente pela filha do cara que fez a tradução (estou pensando honestamente em recapar o livro antes de colocar na prateleira, porque, caralho, é uma capa muito feia!) trás um posfácio (e mais dois apêndices, um do próprio Bradbury falando sobre críticas que recebeu sobre o livro e reiterando a importância da integridade do autor em suas escolhas, sejam elas boas ou ruins e uma espécie de... "livro de exercícios" sobre a obra, penso que voltado para estudantes, que provavelmente será mutilada durante a recapagem do livro) que fala, entre outras coisas, sobre as diferenças entre o livro, o filme, a peça (sim, tem uma peça!) e o jogo (sim, tem um jogo!!!).
(Aviso aos navegantes que, adiante, vão haver REVELAÇÕES SOBRE A TRAMA enquanto falo sobre as diferenças entre as mídias! Haverá um aviso onde as revelações sobre a trama terminam, então aqueles que não tiverem lido o livro ou assistido o filme e não quiserem surpresas estragadas, ignorem os próximos dois parágrafos e vão pro final da postagem, ok?)
Uma das coisas que me chamou atenção no livro foi a súbita morte de Clarisse, uma personagem que, no filme, eu lembrava de ter um pepel maior - de fato, eu tinha a impressão que ela, de certa forma, manipulava Montag pra que ele se tornasse um Homem dos Livros e deixasse os bombeiros. Claro, isso pode, perfeitamente, ser uma peça pregada pela minha memória ruim e pelo longo tempo que se passou desde que assisti o filme. Passei, de fato, a maior parte do livro esperando que ela surgisse novamente, talvez como uma alegoria à fênix, e que a "morte" dela, muito mal explicada, fosse apenas um engodo. Bradbury nos conta, em um dos apêndices, que esse desejo de manter Clarisse viva se concretiza tanto no filme quanto na peça, e que, em um dado momento, ele mesmo pensou em reescrever o livro também, pra manter ela viva, mas decidiu respeitar a integridade da obra. Clarisse é, realmente, uma personagem apaixonante, e sua perda repentina e tão sem nexo (como a morte muitas vezes realmente é na vida real, alias) é quase incompreensível tanto para Montag quanto para o leitor. Mas essa perda torna o sentimento de solidão, presente em todo o livro, ainda mais pronunciado, o que é definitivamente um mérito.
Outra coisa que gostei muito de ler no posfácio diz respeito a peça: nela, foi incluída uma cena onde Montag e Beatty, seu chefe nos bombeiros, têm um diálogo na casa de Beatty em que ele mostra sua biblioteca particular. Ele possui centenas de livros, que ele nunca leu! O diálogo entre eles explica porque Beatty entrou pros bombeiros e como diabos ele sabe tantas citações de livros! Apesar de, durante a leitura, eu ter deduzido algo assim com relação à ele, uma cena explicando seu ódio profundo pelos livros e também seu conhecimento sobre o assunto criam uma camada bastante interessante no personagem - subjetiva, no livro, e passível de várias interpretações ou ainda uma certa estranheza com relação à ele, na verdade. A inclusão dessa cena , mesmo que apenas no posfácio, torna a obra um pouco mais completa.
*** FIM DAS REVELAÇÕES SOBRE A TRAMA! ***
No fim, o livro é um excelente reflexo da nossa contemporaneidade, com as pessoas enfiadas em seus celulares, tablets, laptops e kindreds (ou algo assim, sei lá), incapazes de terem uma conversa com alguém, ao vivo, sem ficar remexendo o tempo todo em suas irritantes coisinhas eletrônicas. Essa alienação, essa incapacidade de se libertar das informações eletrônicas, apesar de retratadas de forma bastante diferentes no livro - onde Bradbury imaginou que a TV seria a vilã, como ele poderia saber, lá em 1953, que o futuro ainda traria os terríveis celulares e seus aparentados? - é extremamente visceral nos dias de hoje. E, de fato, esse é um livro que fala, acima de tudo (ao menos pra mim) sobre solidão e isolamento. Ao longo da trama, Montag vai se tornando cada vez mais solitário, num mundo onde as pessoas já estão isoladas umas das outras pela mídia. É interessante observar a perda de tudo ao longo do caminho que ele percorre, até o final, extremamente amargo (no meu entender) em uma cavalgada de solidão quase completa pela maior parte do livro, onde os outros (poucos) personagens não parecem realmente presentes, com exceção de Clarisse.
De fato, o grande "problema" do livro é ser muito curto. Eu esperava um desenvolvimento maior da trama com os Homens dos Livros. É claro, eu fui parcialmente ludibriado pelas 20 páginas de apêndices do livro, e esperava que a trama ainda fosse se desenvolver, quando o final repentinamente se apresenta desembocando no posfácio. Me pareceu que muitas questões relevantes são deixadas em aberto no livro. O que pra alguns é ruim, e pra outros (eu incluso) é ótimo. Permite que a imaginação do leitor trabalhe pra preencher as pequenas lacunas e que cada um escreva seu próprio "o que aconteceu depois" - eu pessoalmente poderia escrever um livro sobre "o que aconteceu depois"!
Esse livro me acertou em cheio, da primeira página até a última. É excelentemente bem escrito, tem uma trama com quantidades imensas de reflexões possíveis e uma idéia central fantástica! Leitura fortemente recomendada!
Em tempo: Não coloquei a tenebrosa capa do livro na postagem, de propósito. Preferi a capa do filme de Truffaut, pelo qual tenho um apego sentimental, e algumas ilustrações (que foram catadas pela internet, não são minhas) evocativas.
Sim, a capa é horrível acreditem em mim. Talvez algumas coisas devessem, realmente, ser queimadas, afinal de contas...
sexta-feira, 25 de dezembro de 2015
Farenheit 451
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sexta-feira, 11 de dezembro de 2015
Os Dias Futuros
Antes de falar sobre o livro em si, eu gostaria de fazer uma crítica (e deixar um aviso) à coleção Argonauta. Pra além da grafia errada do autor nessa capa (Arthur tem hagá [e eu sempre vou escrever hagá errado porque acho um contrassenso o nome da letra não incluir a própria letra] apesar do horror que, aparentemente os lusitanos têm com relação à grafias estrangeiras) foi deixado de fora dessa pequena coleção de contos aquele que foi o único que Clarke, em sua introdução, faz um comentário entusiástico (e deixa o leitor ávido para ler). Recentemente, descobri que em As Vozes de Marte, de Bradbury, foram deixados de fora não um, mas quatro contos, incluindo o que, no original (I Sing the Body Electric) dá nome ao livro! Absurdo dos absurdos literários, amputar dessa forma uma obra, a coleção Argonauta me decepcionou de tal forma com isso que certamente esse será o penúltimo livro dela que lerei (penúltimo porque já tenho, comprado, outro livro da mesma coleção, que adquiri junto com este que resenho agora, o supracitado livro do Ray Bradbury e mais dois livros de A. E van Vogt, como alias já tinha apontado quando resenhei o Vozes de Marte).
Dito isso, vamos ao livro!
Os Dias Futuros é um livro de contos (onze nessa versão lusitana, doze no original) apanhados de de revistas que originalmente os publicaram entre 1937 e 1955 - o livro foi publicado originalmente em 1973, e traduzido e mutilado em 1985.
Os Dias Futuros é um livro de contos (onze nessa versão lusitana, doze no original) apanhados de de revistas que originalmente os publicaram entre 1937 e 1955 - o livro foi publicado originalmente em 1973, e traduzido e mutilado em 1985.
Apesar do título (originalmente The Best of Arthur Clarke. Que coisa, lusitanos!) nem todos os contos são sobre o futuro - alguns, de fato, sequer têm personagens humanos o que torna impossível coloca-los em qualquer ponto do tempo. Na verdade, eles não possuem nenhuma lógica explícita entre si. Alguns falam sim de futuros possíveis, alguns são narrados por extra-terrestres em um tempo indeterminado e Pancada na Tola, um continho de duas páginas, na verdade não possui qualquer conteúdo mensurável!
Os contos no entanto são todos ótimos (bom, Pancada na Tola na verdade é inclassificável em qualquer nível, pelo menos pra mim). Em comum, de fato, todos têm uma característica compartilhada: Finais inesperados. Alguns trazem alguma informação de arrepiar a espinha na última frase (como em O Despertar e A Estrela) outras causam uma reviravolta completa na história no último parágrafo (caso de Segunda Alvorada [apesar de eu precisar admitir que não compreendi completamente o conto OU seu final, mesmo tendo lido ele duas vezes] e Esconder e Procurar) outras te fazem abrir um sorriso diante de um chiste extremamente espirituoso (como em Viage por Fio! e Lição de História) e outras te convidam à fechar o livro e refletir sobre a sensação da viagem que tu terminou de empreender (como é o caso de A Sentinela e Abandonado).
Particularmente, considero O Despertar de um horror legitimamente Lovecraftiano como poucas coisas que li fora da obra do criador do Chutulhu, enquanto Segunda Alvorada me deu várias idéias inspiradoras (que eu creio que acabarão por permitir que eu escreva, ao menos, um conto) enquanto tanto A Sentinela quanto Esconder e Procurar são duas daquelas obras que, se eu fosse um quadrinista, eu definitivamente transportaria pra HQ só pelo prazer.
Uma versão integral, que inclua Death and the Senator, o conto decepado dessa versão lusitana, é leitura fortemente recomendada! Claro que, considerando que provavelmente tal obra só exista em inglês, e que nem todos consideram esse idioma exatamente acessível, a versão desfalcada da coleção Argonauta é uma alternativa absolutamente adequada.
(e se alguém souber da existência de uma versão integral, traduzida ou no original, vagando por aí sem rumo, por favor, enviem ela pra cá!)
(e se alguém souber da existência de uma versão integral, traduzida ou no original, vagando por aí sem rumo, por favor, enviem ela pra cá!)
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quinta-feira, 10 de dezembro de 2015
Momentos Dopller
Existem alguns momentos na vida que tu sabe que perdeu alguma coisa. Não um objeto, não, não. Não é disso que eu estou falando. Estou falando de perder coisas importantes. chamemos de "oportunidades", por falta de termo melhor - porque, afinal, nem sempre perdemos oportunidades, e não há como saber se eram realmente oportunidades aqueles momentos que perdemos, já que, bom... Eles se perderam.
Tá dando pra acompanhar...?
Bom, existem esses momentos em que, por qualquer razão que seja - covardia, indecisão, hesitação, teimosia, orgulho - tu simplesmente perde um "momento". Coisa semelhante à "L'esprit d'escalier" mas não necessariamente uma resposta espirituosa que chega tardia, mas sim uma ciência de que um determinado momento podia ter tido uma resolução diferente. De fato, essa consciência de erro geralmente me bate no mesmo momento em que eu cometo a ação errada, ou com aspenas uns segundos de demora (suficientes apenas pra não haver mais volta).
Esse "momento dopller" como vou chamar (eu podia chamar de momento Schrödinger, mas estou num espírito mais físico, hoje), é, basicamente, aquele momento em que uma resposta diferente de ação causa uma variação universal, uma bifurcação de realidade que cria uma variação universal onde a linha normal de tempo segue normalmente (com a consciência de quer tu cometeu um "erro" e deixou passar uma oportunidade sem volta) e uma segunda linha de realidade, em que tu escolheu por algum motivo tomar o outro caminho e agir de forma diferente, agindo sobre o momento dopller e criando uma nova linha de realidade (onde a consciência da escolha diferente é irrelevante e portanto desconsiderada ou "não lebrada"). Alguns desses momentos encerram mortos dentro de um caixão, mas a maioria, por sorte, é bem mais leve do que isso - apesar de, como os supracitados caixões, me acompanhar desconfortavelmente por um longo tempo, ou mesmo pelo resto da minha vida.
Imagino que todas as pessoas passam por isso. E, claro, não tenho como saber.
Hoje, passei por um momento como esse. E, graças há algumas cervejas a mais, resolvi escrever um pouco sobre o assunto - afinal, porque não? As vezes é bom escrever alguma coisa diferente de resenhas de livros, afinal! Como eu disse uma vez, "(...) textos autorais vão aparecer com mais frequência. Talvez um conto, uma experiência pessoal (...)".
Voltando à vaca fria: É engraçado perceber o quanto um "oi" poderia mudar tantas coisas - ou não. Aqueles momentos em que deixar a guarda um pouco mais baixa teria sido possivelmente interessante ou não. Aquele momento em que ter um pouco de fúria e dizer "não" teria feito a diferença - ou não. Aquele momento em que deixar os preconceitos de lado por um momento e oferecer um abraço poderia ter feito toda a diferença - ou não. Aceitar um conselho. Ligar o foda-se. Fazer um elogio. Dizer que ama. Ir adiante. Ter coragem. Compaixão. Sim. Já.
Sim, refletir sobre os momentos dopller é basicamente chorar sobre leite derramado. Coisa que gente que bebeu umas cervejas a mais faz tão bem. E eu já tomei bem mais do que umas a mais...
Acho melhor terminar por aqui enquanto ainda consigo digitar de modo mais ou menos inteligível.
Eu quase coloquei aquele vídeo do "do it!" do Shia LaBeouf pra ilustrar essa postagem, mas eu detestei transformers.
(além disso, nem todos os momentos dopller vêm de não realizar uma ação - algumas vezes não fazer algo também é uma ótima idéia, né, Shia?)
Tá dando pra acompanhar...?
Bom, existem esses momentos em que, por qualquer razão que seja - covardia, indecisão, hesitação, teimosia, orgulho - tu simplesmente perde um "momento". Coisa semelhante à "L'esprit d'escalier" mas não necessariamente uma resposta espirituosa que chega tardia, mas sim uma ciência de que um determinado momento podia ter tido uma resolução diferente. De fato, essa consciência de erro geralmente me bate no mesmo momento em que eu cometo a ação errada, ou com aspenas uns segundos de demora (suficientes apenas pra não haver mais volta).
Esse "momento dopller" como vou chamar (eu podia chamar de momento Schrödinger, mas estou num espírito mais físico, hoje), é, basicamente, aquele momento em que uma resposta diferente de ação causa uma variação universal, uma bifurcação de realidade que cria uma variação universal onde a linha normal de tempo segue normalmente (com a consciência de quer tu cometeu um "erro" e deixou passar uma oportunidade sem volta) e uma segunda linha de realidade, em que tu escolheu por algum motivo tomar o outro caminho e agir de forma diferente, agindo sobre o momento dopller e criando uma nova linha de realidade (onde a consciência da escolha diferente é irrelevante e portanto desconsiderada ou "não lebrada"). Alguns desses momentos encerram mortos dentro de um caixão, mas a maioria, por sorte, é bem mais leve do que isso - apesar de, como os supracitados caixões, me acompanhar desconfortavelmente por um longo tempo, ou mesmo pelo resto da minha vida.
Imagino que todas as pessoas passam por isso. E, claro, não tenho como saber.
Hoje, passei por um momento como esse. E, graças há algumas cervejas a mais, resolvi escrever um pouco sobre o assunto - afinal, porque não? As vezes é bom escrever alguma coisa diferente de resenhas de livros, afinal! Como eu disse uma vez, "(...) textos autorais vão aparecer com mais frequência. Talvez um conto, uma experiência pessoal (...)".
Voltando à vaca fria: É engraçado perceber o quanto um "oi" poderia mudar tantas coisas - ou não. Aqueles momentos em que deixar a guarda um pouco mais baixa teria sido possivelmente interessante ou não. Aquele momento em que ter um pouco de fúria e dizer "não" teria feito a diferença - ou não. Aquele momento em que deixar os preconceitos de lado por um momento e oferecer um abraço poderia ter feito toda a diferença - ou não. Aceitar um conselho. Ligar o foda-se. Fazer um elogio. Dizer que ama. Ir adiante. Ter coragem. Compaixão. Sim. Já.
Sim, refletir sobre os momentos dopller é basicamente chorar sobre leite derramado. Coisa que gente que bebeu umas cervejas a mais faz tão bem. E eu já tomei bem mais do que umas a mais...
Acho melhor terminar por aqui enquanto ainda consigo digitar de modo mais ou menos inteligível.
Eu quase coloquei aquele vídeo do "do it!" do Shia LaBeouf pra ilustrar essa postagem, mas eu detestei transformers.
(além disso, nem todos os momentos dopller vêm de não realizar uma ação - algumas vezes não fazer algo também é uma ótima idéia, né, Shia?)
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quarta-feira, 18 de novembro de 2015
Deuses Americanos
Eu tinha curiosidade de ler esse livro há algum tempo. Li outros três livros do Gaiman (Coisas Frágeis, Os Filhos de Anansi e Belas Maldições, esse último em co-autoria com Terry Pratchett, e que não tem uma resenha aqui no Café com Letra porque foi lido bem antes do blog existir), uma boa parte de Sandman (não, nunca cheguei a terminar, me julguem) e uma sofrível versão em quadrinhos de Lugar Nenhum (também pré-café-com-letra). Apesar de não ser um grande fá do Gaiman, os livros dele nunca me decepcionaram até aqui, o que significa que vou continuar lendo coisas dele no futuro - alias, Belas Maldições, assim como O Dia do Coringa, do Jostein Gaarder, já venceram a data de validade na minha memória, e nunca ganharam resenhas aqui.
Eu e minha mania de divagar...
Bom, uma amiga me emprestou o livro esses tempos, e logo depois de terminar Os Herdeiros da Terra, passei o livro na frente dos outros sem pestanejar.
O livro segue as desventuras de Shadow, um ex-presidiário grandalhão - apesar de quase todo mundo no livro ser maior do que ele... - e aparentemente meio retardado que tem fixação por truques com moedas. De fato, o livro começa com Shadow ainda na prisão, dias antes de ser solto. Na sequencia, ele é contatado por Odin (sim, esse é um spoiler, mas se tu não identifica um velhote cinzento que se chama Wednesday, tem um olho de vidro e sempre aparece onde precisa estar, num livro com a palavra Deuses no título, é melhor voltar pras enciclopédias de mitologia antes de ler essa obra, porque com poucas exceções, as referências à mitologia nesse livro são extremamente obscuras, e sem entender elas o livro deve ser extremamente frustrante) como "empregado genérico", sabe-se lá porque. Alias, a maior parte das informações do livro é entregue em migalhas pequenas, muito pequenas, e nada parece fazer muito sentido, no início. As coisas vão se encaixando só lá pelo final - apesar de, em alguns casos, eu ter ficado completamente sem entender algumas passagens mesmo depois de terminar a leitura.
A escrita de Deuses americanos é lenta e arrastada, e a trama segue essa lógica. Aqui e ali, entre os capítulos, aparece um conto solto explicando a chegada de alguma divindade nos EUA (onde, deve ser meio óbvio, o livro se passa) ou seu comportamento nos dias contemporâneos. Essa é uma sacada genial do livro, e é lamentavel que não hajam mais contos no livro que sigam essa mesma lógica.
enquanto isso, a narrativa principal vai de um clima tarantinesco à slices of life morno, passando por alguma psicodelia e até um pouco de drama policial. É um livro definitivamente esquizofrênico e consideravelmente complexo de digerir. Ainda assim (ou por conta disso) é um bom livro, digno de leitura.
Em tempo: Shadow o protagonista, reflete muito bem seu nome em termos de personalidade. ele é só a sombra de um homem. Sem objetivos claros, passivo, apático e completamente esquecível. Creio fortemente que essa foi a intenção de Gaiman em relação ao personagem, e apesar de ser benéfico pra trama, traz um sério problema de identificação pro leitor. Seguir shadow em seu desenvolvimento - e ele é muito mais do que aparenta - é uma tarefa por vezes escruciante, justamente porque ele não mostra curiosidade sobre as bizarrices que vivencia ao longo da trama (bizarrices essas que deixam o leitor extremamente curioso) nem faz escolhas muito claras, quando faz, o que deixa a trama seguir sempre um rumo meio sem sentido. No final da leitura, no entanto, é possível entender porque Wednesdey tinha tanto interesse nele, e essa apatia toda se faz entender.
Ao longo da trama, temos outros personagens interessantíssimos que interagem com Shadow e que fazem a leitura valer realmente a pena. Menção especial ao Sr. Nancy que, mais tarde, seria a figura central ao redor de quem os eventos do livro Os Filhos de Anansi girariam.
O livro vai ganhar uma versão em série, escrita por Gaiman, em 2016. Não fiquei extremamente empolgado com a notícia, mas admito que me bateu uma certa curiosidade de saber se eles vão incluir a cena da Bilquis na série - ou como eles fariam isso.
Eu e minha mania de divagar...
Bom, uma amiga me emprestou o livro esses tempos, e logo depois de terminar Os Herdeiros da Terra, passei o livro na frente dos outros sem pestanejar.
O livro segue as desventuras de Shadow, um ex-presidiário grandalhão - apesar de quase todo mundo no livro ser maior do que ele... - e aparentemente meio retardado que tem fixação por truques com moedas. De fato, o livro começa com Shadow ainda na prisão, dias antes de ser solto. Na sequencia, ele é contatado por Odin (sim, esse é um spoiler, mas se tu não identifica um velhote cinzento que se chama Wednesday, tem um olho de vidro e sempre aparece onde precisa estar, num livro com a palavra Deuses no título, é melhor voltar pras enciclopédias de mitologia antes de ler essa obra, porque com poucas exceções, as referências à mitologia nesse livro são extremamente obscuras, e sem entender elas o livro deve ser extremamente frustrante) como "empregado genérico", sabe-se lá porque. Alias, a maior parte das informações do livro é entregue em migalhas pequenas, muito pequenas, e nada parece fazer muito sentido, no início. As coisas vão se encaixando só lá pelo final - apesar de, em alguns casos, eu ter ficado completamente sem entender algumas passagens mesmo depois de terminar a leitura.
A escrita de Deuses americanos é lenta e arrastada, e a trama segue essa lógica. Aqui e ali, entre os capítulos, aparece um conto solto explicando a chegada de alguma divindade nos EUA (onde, deve ser meio óbvio, o livro se passa) ou seu comportamento nos dias contemporâneos. Essa é uma sacada genial do livro, e é lamentavel que não hajam mais contos no livro que sigam essa mesma lógica.
enquanto isso, a narrativa principal vai de um clima tarantinesco à slices of life morno, passando por alguma psicodelia e até um pouco de drama policial. É um livro definitivamente esquizofrênico e consideravelmente complexo de digerir. Ainda assim (ou por conta disso) é um bom livro, digno de leitura.
Em tempo: Shadow o protagonista, reflete muito bem seu nome em termos de personalidade. ele é só a sombra de um homem. Sem objetivos claros, passivo, apático e completamente esquecível. Creio fortemente que essa foi a intenção de Gaiman em relação ao personagem, e apesar de ser benéfico pra trama, traz um sério problema de identificação pro leitor. Seguir shadow em seu desenvolvimento - e ele é muito mais do que aparenta - é uma tarefa por vezes escruciante, justamente porque ele não mostra curiosidade sobre as bizarrices que vivencia ao longo da trama (bizarrices essas que deixam o leitor extremamente curioso) nem faz escolhas muito claras, quando faz, o que deixa a trama seguir sempre um rumo meio sem sentido. No final da leitura, no entanto, é possível entender porque Wednesdey tinha tanto interesse nele, e essa apatia toda se faz entender.
Ao longo da trama, temos outros personagens interessantíssimos que interagem com Shadow e que fazem a leitura valer realmente a pena. Menção especial ao Sr. Nancy que, mais tarde, seria a figura central ao redor de quem os eventos do livro Os Filhos de Anansi girariam.
O livro vai ganhar uma versão em série, escrita por Gaiman, em 2016. Não fiquei extremamente empolgado com a notícia, mas admito que me bateu uma certa curiosidade de saber se eles vão incluir a cena da Bilquis na série - ou como eles fariam isso.
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sexta-feira, 6 de novembro de 2015
The Hobbit: The Tolkien Edit
Bom, eu venho ensaiando há algum tempo pra postar alguma coisa sobre cinema aqui no Café com Letra, mas não tinha achado nada que valesse realmente a pena. Digo, eu poderia fazer umas 10 postagens sobre Star Trek, por exemplo, mas teria muito pouco à ver com café ou com leitura.
Mas, alguns meses atrás, trombei com essa versão editada "By the book" do Hobbit, e finalmente assisti. A propostas do sujeito (que não consegui descobrir o nome) é simples: Tirar toda a "sujeira" dos filmes, deixando eles mais fiéis ao livro. Vejam, eu não sou exatamente um purista: as mudanças que o Peter Jackson fez no Senhor dos Anéis, como aumentar o papel da Arwen, remover completamente Glorfindel e a passagem pela Floresta Velha (levando pro limbo Tom Bombadil, Old Man Willow [como é o nome dessa "coisa" em português...?] e Fruta D'ouro) nunca me incomodaram. De fato, eu gostei de praticamente cada mudança feita.
O mesmo, infelizmente, não pode ser dito sobre O Hobbit. O troço virou um jogo de videogame, com perseguições mirabolantes, golpes pra todo lado, ataques de orcs a cada 10 minutos de filme... Isso sem contar a absolutamente desnecessária introdução da Tauriel pra fazer um par romântico Romeu E Julieta com um anão! Como assim, velho? Elfo e anão? De onde isso, porra! Se bem que todos os anões "principais" eram meio elfos, na verdade. Magrinhos, saradinhos, com pouca barba.
Alias, me pareceu na verdade que metade daquela comitiva era de Hobbits...
Alias, me pareceu na verdade que metade daquela comitiva era de Hobbits...
Mas voltando à versão editada da trilogia!
Basicamente, o que o autor fez foi tirar praticamente todas as aparições dos personagens e cenas que não aparecem no livro. Assim, Legolas aparece uma vez (mas não é identificado pelo nome) e eu enxerguei a Tauriel ao fundo, em duas cenas. O Radagast foi completamente removido, bem como a batalha contra o Necromante e também o "confronto" com Smaug (não, nada de banho de ouro!). Também, a maioria das batalhas aleatórias contra os orcs (o que causa uma descontinuidade considerável, porque quando as Águias aparecem na Batalha dos Cinco Exércitos, o Bilbo fica gritando "As Águias, elas vieram!" tu fica viajando "Águias...? Vieram de onde?" porque o resgate dos anões pelas Águias também foi removido). Essa cena, bem como a introdução foram as únicas "perdas" do filme - a introdução em si, aquele CGIzão brabo, eu não dei muita bola, mas o filme meio que começa começando... A cena do Frodo e do Bilbo no Condado podia ter sido mantida numa boa. Mas, colocando na balança perdas e ganhos, definitivamente essa versão tem muito mais prós do que contras!
De fato, a narrativa agora vai num crescendo muito bom, com a Batalha dos Cinco Exércitos sendo um clímax emocionante (não "Oh, mais orcs... Vamos bater em orcs mais uma vez...") e o filme fica muito mais centrada no Bilbo e no Thorin (já que não temos toneladas de cenas extras com Legolas legolando, Tauriel se engraçando e Radagast se sujando). Essa é uma versão que pode ser adicionada numa maratona de Senhor dos Anéis, ao contrário da inchada e mirabolante versão oficial.
Em tempo: Eu assisti o primeiro filme, e o terceiro do meio pro final. Admito que não "senti falta" de nada. Essa versão ficou bem divertida, com todas as cenas importantes e muito bem "enxugada" com relação à versão oficial! Vale a pena assistir!
Aqui, a página com a versão editada - incluindo explicações mais detalhadas sobre a proposta, algumas imagens de referência e vídeos com cenas relevantes. Tem links pro torrent do filme logo depois do primeiro vídeo da página. Eu não sei como "linkar links", então só posso deixar essa dica! E tem legendas, no final da postagem - apesar de eu desconfiar que a legenda marcada como português é lusitana - eu não sei, não tinha legendas disponíveis na época em que eu assisti.
Bom, acho que é isso! Bom divertimento!
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terça-feira, 3 de novembro de 2015
Astronauta - Magnetar
Li essa edição em São Lourenço, na última visita que fiz à cidade, pra Südoktoberfest - que, lamentavelmente, teve só um dia, por conta das chuvas intensas. Uma pena. Gostaria, inclusive, de publicamente apoiar a idéia do Luciano Abel de transferir o evento pra fevereiro - inclusive, gostaria de sugerir que coincidisse com o Carnaval! Ia ser ótimo ter um lugar pra tomar shopp, comer rivelsbach e ver umas alemõas pedaçudas e no processo fugir da lamentável festa da mulata, caipirinha e DSTs. Tá lançada oficialmente a campanha Februarsüdoktoberfestkarneval!
Mas enfim, e a HQ?
Pois é, a HQ.
Achei bem ruim. Não gostei de absolutamente nada da edição. O "redesign" do Astronauta deixou ele genérico - ele basicamente perdeu totalmente o "modelo bola" do traje - que ficou menos arredondado do que um traje espacial real! Poxa, custava mesmo ter deixado ele mais arredondado? A história em sí é basicamente um Robison Crusoé no espaço, com um chatíssimo monólogo "não vou desistir, mesmo que eu fique doido!" Infelizmente, a história não permite que o leitor realmente sinta solidão - o "indicador de tempo" são basicamente duas páginas com nove quadros repetidos e reduzidos à metade numa tentativa de demonstrar quanto tempo se passou, mas a narrativa simplesmente não atinge o objetivo.
Finalmente, algumas coisinhas técnicas me incomodaram . A primeira delas é que o tal Magnetar do título tem características de um Pulsar. Ok, isso é coisa técnica de chato que lê muita ficção científica, mas pô, custava ter pesquisado um pouco mais...? O que realmente me incomodou é que, lá pelas quebradas da história, o tal Magnetar emite uma onda de energia - não lembro de que tipo, exatamente - e o Astronauta, em um momento de vida ou morte... Esquiva! De uma onda! De energia! Saltando pro lado! Sério isso, minha gente? O autor cria uma tensão, e eu fiquei imaginando que solução genial o Astronauta ia conseguir criar em segundos pra se proteger da onda de energia e daí ele... Pula pro lado. Ali o autor me perdeu.
Até cheguei a pegar a segunda HQ - Singularidade - pra ler, mas o troço já começa meio existencialista e não, não rolou.
Em tempo: Não lembro de ter lido nada do Astronauta. O que significa que não tenho nenhum apego emocional pelo personagem, mas também não tinha nenhum pré-conceito antes de ler a história. Estava esperando qualquer coisa. E realmente, "qualquer coisa" define essa HQ.
E não, não vou colocar o marcador ficção científica nessa resenha. Um personagem que esquiva de uma onda de energia não merece entrar nessa categoria - ficção, sim, científica, jamais!
Mas enfim, e a HQ?
Pois é, a HQ.
Achei bem ruim. Não gostei de absolutamente nada da edição. O "redesign" do Astronauta deixou ele genérico - ele basicamente perdeu totalmente o "modelo bola" do traje - que ficou menos arredondado do que um traje espacial real! Poxa, custava mesmo ter deixado ele mais arredondado? A história em sí é basicamente um Robison Crusoé no espaço, com um chatíssimo monólogo "não vou desistir, mesmo que eu fique doido!" Infelizmente, a história não permite que o leitor realmente sinta solidão - o "indicador de tempo" são basicamente duas páginas com nove quadros repetidos e reduzidos à metade numa tentativa de demonstrar quanto tempo se passou, mas a narrativa simplesmente não atinge o objetivo.
Finalmente, algumas coisinhas técnicas me incomodaram . A primeira delas é que o tal Magnetar do título tem características de um Pulsar. Ok, isso é coisa técnica de chato que lê muita ficção científica, mas pô, custava ter pesquisado um pouco mais...? O que realmente me incomodou é que, lá pelas quebradas da história, o tal Magnetar emite uma onda de energia - não lembro de que tipo, exatamente - e o Astronauta, em um momento de vida ou morte... Esquiva! De uma onda! De energia! Saltando pro lado! Sério isso, minha gente? O autor cria uma tensão, e eu fiquei imaginando que solução genial o Astronauta ia conseguir criar em segundos pra se proteger da onda de energia e daí ele... Pula pro lado. Ali o autor me perdeu.
Até cheguei a pegar a segunda HQ - Singularidade - pra ler, mas o troço já começa meio existencialista e não, não rolou.
Em tempo: Não lembro de ter lido nada do Astronauta. O que significa que não tenho nenhum apego emocional pelo personagem, mas também não tinha nenhum pré-conceito antes de ler a história. Estava esperando qualquer coisa. E realmente, "qualquer coisa" define essa HQ.
E não, não vou colocar o marcador ficção científica nessa resenha. Um personagem que esquiva de uma onda de energia não merece entrar nessa categoria - ficção, sim, científica, jamais!
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segunda-feira, 26 de outubro de 2015
Os Herdeiros da Terra
Poul Anderson é um escritor de livros de ficção científica "sessão da tarde" pelo qual eu adquiri um gosto considerável desde que conheci - essa literatura pipoca dele é muito boa pra limpar a cabeça de livros densos, e tem algumas idéias legais, aqui e ali. Os livros dele funcionam como uma espécie de "alívio cômico" entre livros mais sóbrios.
Mas, no caso desse livro específico, não foi o estilo típico do autor que me levou a escolher esse livro pra ler, mas sim curiosidade. Primeiro, o livro tem dois autores (Gordon Eklund tmabém assina o livro), e livros escritos à "quatro mãos" não são tão comuns assim - o último que eu li foi Belas Maldições, há tanto tempo atrás que o Café com Letra nem existia ainda! Além disso, conhecendo bem o estilo de Anderson - mesmo que só em traduções - eu queria ver se conseguia perceber alguma diferença na escrita por conta de um segundo autor. Além de tudo isso, tem um pseudo-Flash Gordon na capa; o nome do segundo autor é Gordon... Pensei "será que tem alguma sacadinha marota aí aí?".
(além disso, preciso perguntar: Mais alguém enxerga um Grimch com uma cara safadinha desenhado naquela lua...?)
Bom, o livro começa estranho, com pessoas num futuro distante não sendo capazes de ter uma conversa funcional, com delírios bizarros e argumentações sem sentido. Tem uma citação ao livro do Vogt, Slan, logo no começo do segundo capítulo, o que eu admito ter achado uma coincidência bastante relevante já que li Slan a pouco mais de um mês atrás.
No decorrer do livro, descobrimos que o protagonista - e mais meia dúzia de caras de um tal Círculo interno - são mutantes, auto-proclamados de superiores (tem uma tirada com o Super-Homem e suas cuecas vermelhas quando o protagonista está explicando o nome) capazes de lerem "irradiações" das pessoas, algo como saber o que as pessoas estão sentindo e, de forma limitada, o que eles estão pensando. Um deles, particularmente poderoso, consegue enviar imagens, em condições ideais. Eles são, também, tecnicamente mais inteligentes do que humanos normais. O protagonista, um gênio da manipulação genética, criador de clones artificiais, e em torno de quem a trama gira por conta de toda sua genialidade, demonstra o tempo todo que a tal superioridade da raça é uma falácia. A leitura de Irradiações é completamente inútil: a maioria das pessoas confunde ele, e os que sabem que eles podem usar o poder basicamente "não irradiam" ou irradiam informações erradas de propósito. De fato, em geral a capacidade de ler "irradiações" é mais um fardo do que um benefício, já que eles não controlam a recepção, o que é bastante problemático quando alguém está morrendo e irradia desespero além do que o cara pode suportar... Além disso, apesar de ser um "gênio", o cara não tem conhecimento de mundo, tudo precisa ser explicado nos mínimos detalhes pra ele porque ele não é capaz de fazer extrapolações. Pra fechar com chave de ouro, os tais Superiores têm ataques de psicose regulares. Ah, e são estéreis. Te falo em superioridade...
Mas o fato dos Superiores na verdade serem bem mais instáveis do que os humanos nem é o grande problema do livro. O grande problema é a pegada humanitária. O livro passa o tempo todo passando lições de moral sobre a humanidade, as escolhas das maiorias e das minorias, a influência das ações de uns na vida dos outros... É uma chateação sem fim! E apesar da trama principal ser o conflito entre três "raças", o livro é mais parado do água de poço. Eklund, aparentemente, tem uma queda por filosofia que simplesmente destrói a narrativa mais solta de Anderson. Quando as coisas começam a ficar interessantes, lá vamos nós pra outra reflexão sobre humanidade, sentido da vida e coisas do gênero...
Os Herdeiros da Terra é, na minha opinião, um livro ruim. Sem sentido, com um final que deixa tudo no ar, e o caminho até o final é basicamente uma viagem filosófica através de uma sociedade futurista que não é explicada. Basicamente, um livro sem fundamento.
Meu gosto por Poul Anderson não foi estragado por esse livro - de fato, esse livro só serviu pra eu saber que o tal Gordon Eklund é um autor à ser evitado.
Mas, no caso desse livro específico, não foi o estilo típico do autor que me levou a escolher esse livro pra ler, mas sim curiosidade. Primeiro, o livro tem dois autores (Gordon Eklund tmabém assina o livro), e livros escritos à "quatro mãos" não são tão comuns assim - o último que eu li foi Belas Maldições, há tanto tempo atrás que o Café com Letra nem existia ainda! Além disso, conhecendo bem o estilo de Anderson - mesmo que só em traduções - eu queria ver se conseguia perceber alguma diferença na escrita por conta de um segundo autor. Além de tudo isso, tem um pseudo-Flash Gordon na capa; o nome do segundo autor é Gordon... Pensei "será que tem alguma sacadinha marota aí aí?".
(além disso, preciso perguntar: Mais alguém enxerga um Grimch com uma cara safadinha desenhado naquela lua...?)
Bom, o livro começa estranho, com pessoas num futuro distante não sendo capazes de ter uma conversa funcional, com delírios bizarros e argumentações sem sentido. Tem uma citação ao livro do Vogt, Slan, logo no começo do segundo capítulo, o que eu admito ter achado uma coincidência bastante relevante já que li Slan a pouco mais de um mês atrás.
No decorrer do livro, descobrimos que o protagonista - e mais meia dúzia de caras de um tal Círculo interno - são mutantes, auto-proclamados de superiores (tem uma tirada com o Super-Homem e suas cuecas vermelhas quando o protagonista está explicando o nome) capazes de lerem "irradiações" das pessoas, algo como saber o que as pessoas estão sentindo e, de forma limitada, o que eles estão pensando. Um deles, particularmente poderoso, consegue enviar imagens, em condições ideais. Eles são, também, tecnicamente mais inteligentes do que humanos normais. O protagonista, um gênio da manipulação genética, criador de clones artificiais, e em torno de quem a trama gira por conta de toda sua genialidade, demonstra o tempo todo que a tal superioridade da raça é uma falácia. A leitura de Irradiações é completamente inútil: a maioria das pessoas confunde ele, e os que sabem que eles podem usar o poder basicamente "não irradiam" ou irradiam informações erradas de propósito. De fato, em geral a capacidade de ler "irradiações" é mais um fardo do que um benefício, já que eles não controlam a recepção, o que é bastante problemático quando alguém está morrendo e irradia desespero além do que o cara pode suportar... Além disso, apesar de ser um "gênio", o cara não tem conhecimento de mundo, tudo precisa ser explicado nos mínimos detalhes pra ele porque ele não é capaz de fazer extrapolações. Pra fechar com chave de ouro, os tais Superiores têm ataques de psicose regulares. Ah, e são estéreis. Te falo em superioridade...
Mas o fato dos Superiores na verdade serem bem mais instáveis do que os humanos nem é o grande problema do livro. O grande problema é a pegada humanitária. O livro passa o tempo todo passando lições de moral sobre a humanidade, as escolhas das maiorias e das minorias, a influência das ações de uns na vida dos outros... É uma chateação sem fim! E apesar da trama principal ser o conflito entre três "raças", o livro é mais parado do água de poço. Eklund, aparentemente, tem uma queda por filosofia que simplesmente destrói a narrativa mais solta de Anderson. Quando as coisas começam a ficar interessantes, lá vamos nós pra outra reflexão sobre humanidade, sentido da vida e coisas do gênero...
Os Herdeiros da Terra é, na minha opinião, um livro ruim. Sem sentido, com um final que deixa tudo no ar, e o caminho até o final é basicamente uma viagem filosófica através de uma sociedade futurista que não é explicada. Basicamente, um livro sem fundamento.
Meu gosto por Poul Anderson não foi estragado por esse livro - de fato, esse livro só serviu pra eu saber que o tal Gordon Eklund é um autor à ser evitado.
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terça-feira, 13 de outubro de 2015
As Vozes de Marte
Quando comprei os dois livros do Vogt que resenhei aqui, comprei também alguns outros livros da coleção Argonautas que foram, digamos, mais "garantidos". Um par de Arthur C. Clarks e um Ray Bradbury, que decidi ler pra tirar o gosto ruim que A Guerra dos Deuses me deixou na boca.
Esse livro é, como todos os outros livros do Bradbury que li até agora, uma coletânea de contos. Não consegui achar nada em comum entre todos os contos, apesar de um punhado deles ter um sotaque irlandês - alguns se passam na Irlanda, outros tem personagens de lá. Como também é comum nos livros de contos de Bradbury, o tema, humor e ânimo de cada conto é bastante particular. Assim, dos dez contos presentes no livro, nunca há como escolher um "melhor". Há, em geral, aquele que "funciona melhor" dependendo do estado de espírito do leitor, penso.
No caso desse livro, o conto que lhe dá título foi uma idéia que eu, particularmente, achei inspirada. Uma interessante mistura de Frankenstein com Dr. Jeckil e Mr. Hide em algum lugar de Marte. Coisa fina. 'Sim, Todos Nos Reuniremos Junto ao Rio' também é espetacular. É um daqueles contos em que Bradbury veste seus mais confortáveis sapatos de caminhada e te leva pra dar uma volta por alguma cidadezinha pacata perdida no tempo. Mas, definitivamente, 'Brisa de Verão, Vento de Inverno' foi, pra mim, o conto mais 'adequado'. Não me identifiquei com nenhum dos personagens em particular, mas sim com todos eles! E é uma discussão muito bem tratada e levantada com uma leveza impar sobre o pré-conceito. Sem falar, é claro, da excelente narrativa - que sempre esta presente nos livros de Bradbury.
Definitivamente, um excelente livro! Rápido, fácil, mas nem um pouco simples; exatamente o que se espera de um livro de Bradbury.
Leitura fortemente recomendada!
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quinta-feira, 8 de outubro de 2015
A Guerra dos Deuses
A Guerra dos Deuses (the book of Ptath no original) é um livrinho de bolso que recentemente comprei com uma leva de outros livros de ficção científica - junto com outro livro do mesmo autor, E. A. Van Vogt, Slan, que resenhei aqui recentemente.
Esse é um livrinho de bolso, da coleção Argonauta - escrito em lusitano, mas como era um livro suficientemente antigo, não afetou a leitura. Interessante como o lusitano antigo é mais parecido com o brasileiro do que o português de portugal contemporâneo - ou há uma preocupação de agradar os dois públicos com essas publicações da coleção Argonauta, não sei.
Mas enfim! Vamos ao livro em si!
A Guerra dos Deuses - alias, uma das poucas traduções que eu achei melhores que o original; se o livro se chamasse "O Livro de Ptath", eu provavelmente não teria comprado. A Guerra dos Deuses ficou commuito mais apelo. Apesar de eu ter comprado o livro mais pela ilustração da capa... - é um livro interessante, cheio de boas idéias. Infelizmente, todas elas mal utilizadas... Pthat, o nosso protagonista, é um Deus redivivo membro de uma tríade de divindades ancestrais. Aparentemente, o livro se passa na terra, em um futuro muito, muito distante - 200 milhões de anos no futuro, ou algo assim. Os problemas começam por aí. 200 milhões de anos no futuro, nosso sol já vai ter entrado em supernova, e a vida na terra não vai mais ser possível. Ok, não é um livro de hard fiction, mas me incomodou o uso de números tão grandes sem necessidade. Alias, falando em números grandes, outro ponto problemático é a quantidade de gente no planeta: Os três reinos cuja população é mencionada no livro, Gowonlane (aparentemente a antiga Austrália) e o Accadistran (a antiga Europa) e Nushirvan (a antiga América do Norte) têm, respectivamente, 54 mil milhões de pessoas, 19 mil milhões de pessoas e 5 mil milhões de pessoas. Só aí temos um total de 78 bilhões de pessoas - 11 vezes a população da terra atual! Considerando que a tecnologia do planeta aparentemente retornou à agricultura básica, com animais sendo a maior fonte de energia mecânica do planeta (não existem veículos motorizados, nem é mencionado qualquer tipo de indústria) como se alimenta essa quantidade de gente E animais? E estamos falando de três dos continentes do planeta - a América do Sul, vastamente populada, não entra nessa matemática, mas dá pra imaginar que ela tenha uma população considerável, já que é um reino importante. Vamos dizer, 7 mil milhões de pessoas. Imaginem a população atual, vivendo TODA na América do Sul! Todas as pessoas da Asia, Europa, EUA enfim, morando na América do sul! E é importante notar que a Amazônia não só ainda existe nesse cenário como não tem moradores! Cara, de onde sai a comida pra toda essa gente...?
Bom, "detalhes" matemáticos à parte, outra coisa que me incomodou foi o fato de que, 200 milhões de anos no futuro, nosso Ptath renasce sem memória e então é infundido por Ineznia, uma das outras duas deusas, com as memórias de um soldado americano de 1944. Esse sujeito, é claro, salva o dia, numa paródia bizarra de Pocahontas: chamem um americano pra ele salvar o mundo quando, obviamente, os nativos locais não são capazes disso! E o pior é que, antes do tal soldado aparecer, a gente quase simpatiza com Ptath, o desmemoriado...
Pior ainda, é a mensagem de fé que fecha o livro, no melhor estilo "só Jesus Salva". Totalmente desnecessário.
Bom, idas e vindas, A Guerra dos deuses é um livreco lamentável, que desperdiça boas idéias com uma mentalidade tacanha e peca em verossimilhança pra adicionar números astronômicos na tentativa de deixar o leitor estupefato. Depois de dois livros totalmente descartáveis do senhor Van Vogt, ele definitivamente entrou pra minha lista de "autores à serem evitados".
Esse é um livrinho de bolso, da coleção Argonauta - escrito em lusitano, mas como era um livro suficientemente antigo, não afetou a leitura. Interessante como o lusitano antigo é mais parecido com o brasileiro do que o português de portugal contemporâneo - ou há uma preocupação de agradar os dois públicos com essas publicações da coleção Argonauta, não sei.
Mas enfim! Vamos ao livro em si!
A Guerra dos Deuses - alias, uma das poucas traduções que eu achei melhores que o original; se o livro se chamasse "O Livro de Ptath", eu provavelmente não teria comprado. A Guerra dos Deuses ficou commuito mais apelo. Apesar de eu ter comprado o livro mais pela ilustração da capa... - é um livro interessante, cheio de boas idéias. Infelizmente, todas elas mal utilizadas... Pthat, o nosso protagonista, é um Deus redivivo membro de uma tríade de divindades ancestrais. Aparentemente, o livro se passa na terra, em um futuro muito, muito distante - 200 milhões de anos no futuro, ou algo assim. Os problemas começam por aí. 200 milhões de anos no futuro, nosso sol já vai ter entrado em supernova, e a vida na terra não vai mais ser possível. Ok, não é um livro de hard fiction, mas me incomodou o uso de números tão grandes sem necessidade. Alias, falando em números grandes, outro ponto problemático é a quantidade de gente no planeta: Os três reinos cuja população é mencionada no livro, Gowonlane (aparentemente a antiga Austrália) e o Accadistran (a antiga Europa) e Nushirvan (a antiga América do Norte) têm, respectivamente, 54 mil milhões de pessoas, 19 mil milhões de pessoas e 5 mil milhões de pessoas. Só aí temos um total de 78 bilhões de pessoas - 11 vezes a população da terra atual! Considerando que a tecnologia do planeta aparentemente retornou à agricultura básica, com animais sendo a maior fonte de energia mecânica do planeta (não existem veículos motorizados, nem é mencionado qualquer tipo de indústria) como se alimenta essa quantidade de gente E animais? E estamos falando de três dos continentes do planeta - a América do Sul, vastamente populada, não entra nessa matemática, mas dá pra imaginar que ela tenha uma população considerável, já que é um reino importante. Vamos dizer, 7 mil milhões de pessoas. Imaginem a população atual, vivendo TODA na América do Sul! Todas as pessoas da Asia, Europa, EUA enfim, morando na América do sul! E é importante notar que a Amazônia não só ainda existe nesse cenário como não tem moradores! Cara, de onde sai a comida pra toda essa gente...?
Bom, "detalhes" matemáticos à parte, outra coisa que me incomodou foi o fato de que, 200 milhões de anos no futuro, nosso Ptath renasce sem memória e então é infundido por Ineznia, uma das outras duas deusas, com as memórias de um soldado americano de 1944. Esse sujeito, é claro, salva o dia, numa paródia bizarra de Pocahontas: chamem um americano pra ele salvar o mundo quando, obviamente, os nativos locais não são capazes disso! E o pior é que, antes do tal soldado aparecer, a gente quase simpatiza com Ptath, o desmemoriado...
Pior ainda, é a mensagem de fé que fecha o livro, no melhor estilo "só Jesus Salva". Totalmente desnecessário.
Bom, idas e vindas, A Guerra dos deuses é um livreco lamentável, que desperdiça boas idéias com uma mentalidade tacanha e peca em verossimilhança pra adicionar números astronômicos na tentativa de deixar o leitor estupefato. Depois de dois livros totalmente descartáveis do senhor Van Vogt, ele definitivamente entrou pra minha lista de "autores à serem evitados".
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quinta-feira, 10 de setembro de 2015
Slan
Quando eu li o título desse livro, eu pensei automaticamente em Slanns - apesar de saber que obviamente não tinha nenhuma relação. Realmente, não tem - eu procurei algum tipo de possível co-relação entre as das raças por toda a leitura, e não há nenhuma. então não procurem esse livro pelo fandon, Warhammers!
Um aviso: Haverão revelações sobre a trama ao longo dessa resenha - o livro foi escrito em 1940, em primeiro lugar, e em segundo, é muito difícil falar sobre as minhas impressões sem revelar algumas partes da trama.
Dito isso, vamos à resenha em si:
Slan é sobre uma raça de mutantes descobertos 400 anos antes do começo da história narrada no livro (por um cientista chamado S. Lan, daí o nome da raça). Os Slans são humanos com capacidades físicas e mentais muito superiores às dos humanos, mais fortes, mais rápidos, muito mais inteligentes e com uma capacidade de aprendizado muito superior à dos humanos, principalmente por conta de serem capazes de ler pensamentos. Fisicamente, além de algumas diferenças internas - eles tem dois corações, por exemplo - eles diferem dos humanos por apresentarem, na cabeça, uma série de vibrissas, que são os órgãos responsáveis por sua capacidade de telepatia - e o modo mais simples de reconhecê-los.
Graças as suas capacidades, os Slans se consideraram, em algum momento, como os líderes de direito
da raça humana, o que levou à uma guerra entre as duas raças. Os Slans foram derrotados, e subsequentemente perseguidos e exterminados. Mas aparentemente a mutação responsável pela criação dos Slans é natural dos seres humanos, e volta e meia aparece algum deles por aí. E o livro conta, justamente, a história de um deles, Jomny, um jovem Slan em busca da verdade, de outros de sua raça e, claro, de sobrevivência em um mundo que o odeia.
Apesar de um tanto melodramático, Slan tem algumas qualidades. Nada acontece como o esperado. A maioria do conhecimento que Jomny tem é modificado ao longo da trama, em uma reviravolta espetacular. O problema aqui é que isso acontece tantas vezes ao longo do livro - praticamente cada informação que jomny descobre é revelada como uma mentira alguns capítulos mais adiante - que acaba se tornando um pouco chato. No fim, o final do livro acaba ficando extremamente previsível por conta disso.
alias, o final é muito mal explicado. Eu tive que ler os capítulos finais duas vezes, e admito que não entendi direito algumas coisas bastante relevantes. Vogt também decide joga por terra algumas coisas bem legais que construiu ao longo da trama bem no finalzinho do livro, o que estragou um bocado algumas coisinhas que eu tinha realmente gostado da história, e que não precisavam ser mexidas pra tornar a história verossímil ou eficiente.
O livro também parece uma crítica à perseguição contra os judeus durante a Segunda Grande Guerra: um povo perseguido, praticamente exterminado mas ainda considerado "dono do poder" por estar infiltrado em altos escalões do governo.
Não é um livro particularmente bom, do meu ponto de vista, e eu não recomendo a leitura dele particularmente. A visão do futuro de Vogt, ao menos nesse livro, é um tanto obtusa e a tecnologia beira a magia em alguns casos (transmissores mentais, anéis de energia infinita, raios desintegradores) e em outros ainda está na idade média (mídia impressa, revistas na base da apalpadela, inexistência de equipamentos de segurança de qualquer tipo), o ue cria uma série de situações inusitadas.
Em tempo: Estou lendo outro livro do E. A. Van Vogt que está me parecendo bem mais interessante, justamente por misturar magia e tecnologia. Provavelmente vai funcionar melhor, considerando o estilo do autor.
Um aviso: Haverão revelações sobre a trama ao longo dessa resenha - o livro foi escrito em 1940, em primeiro lugar, e em segundo, é muito difícil falar sobre as minhas impressões sem revelar algumas partes da trama.
Dito isso, vamos à resenha em si:
Slan é sobre uma raça de mutantes descobertos 400 anos antes do começo da história narrada no livro (por um cientista chamado S. Lan, daí o nome da raça). Os Slans são humanos com capacidades físicas e mentais muito superiores às dos humanos, mais fortes, mais rápidos, muito mais inteligentes e com uma capacidade de aprendizado muito superior à dos humanos, principalmente por conta de serem capazes de ler pensamentos. Fisicamente, além de algumas diferenças internas - eles tem dois corações, por exemplo - eles diferem dos humanos por apresentarem, na cabeça, uma série de vibrissas, que são os órgãos responsáveis por sua capacidade de telepatia - e o modo mais simples de reconhecê-los.
Graças as suas capacidades, os Slans se consideraram, em algum momento, como os líderes de direito
Uma ilustração de capa mostrando as vibrissas dos Slans |
Apesar de um tanto melodramático, Slan tem algumas qualidades. Nada acontece como o esperado. A maioria do conhecimento que Jomny tem é modificado ao longo da trama, em uma reviravolta espetacular. O problema aqui é que isso acontece tantas vezes ao longo do livro - praticamente cada informação que jomny descobre é revelada como uma mentira alguns capítulos mais adiante - que acaba se tornando um pouco chato. No fim, o final do livro acaba ficando extremamente previsível por conta disso.
alias, o final é muito mal explicado. Eu tive que ler os capítulos finais duas vezes, e admito que não entendi direito algumas coisas bastante relevantes. Vogt também decide joga por terra algumas coisas bem legais que construiu ao longo da trama bem no finalzinho do livro, o que estragou um bocado algumas coisinhas que eu tinha realmente gostado da história, e que não precisavam ser mexidas pra tornar a história verossímil ou eficiente.
O livro também parece uma crítica à perseguição contra os judeus durante a Segunda Grande Guerra: um povo perseguido, praticamente exterminado mas ainda considerado "dono do poder" por estar infiltrado em altos escalões do governo.
Não é um livro particularmente bom, do meu ponto de vista, e eu não recomendo a leitura dele particularmente. A visão do futuro de Vogt, ao menos nesse livro, é um tanto obtusa e a tecnologia beira a magia em alguns casos (transmissores mentais, anéis de energia infinita, raios desintegradores) e em outros ainda está na idade média (mídia impressa, revistas na base da apalpadela, inexistência de equipamentos de segurança de qualquer tipo), o ue cria uma série de situações inusitadas.
Em tempo: Estou lendo outro livro do E. A. Van Vogt que está me parecendo bem mais interessante, justamente por misturar magia e tecnologia. Provavelmente vai funcionar melhor, considerando o estilo do autor.
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sexta-feira, 14 de agosto de 2015
Robin Hood
Uma versão da clássica história do príncipe dos ladrões publicada pela Companhia das Letrinhas.
Comprei esse livro pelas ilustrações, na verdade. Não são particularmente inspiradas, mas tem alguma coisa legal. Achei interessante que o livro faz uma série de apontamentos históricos. Na verdade, a história em si, fica meio que em segundo plano, contada em pequenos capítulos no meio de um monte de curiosidades sobre possíveis origens da lenda, o modo de vida da época, cruzadas e até um mapa explicando a floresta de Sherwood e seus arredores. O livro termina com um apanhado geral sobre a evolução da lenda, desde suas origens medievais em baladas e poemas até suas adaptações pro cinema.
A história em si apresenta uma série de variações com relação ao que eu conhecia - ou, pelo menos,
não lembrava. Começando pelo nome do protagonista, que eu lembrava de ser Robin de Loxley, não Robert de Huntington. Além disso a disputa com o xerife de Notthinghan é, inicialmente, por conta do ponto-de-vista diverso com relação aos pobres e como estes devem ser tratados. Além disso há um sir Richard de Lee que eu não lembrava de ter visto em livros ou filmes - mas minha memória pode estar me traindo.
Outra mudança digna de nota diz respeito ao Frei Tuck: o sujeito é uma montanha de brutalidade, que basicamente humilha Robin dando um banho nele, depois defendendo suas flechas com um escudo, combatendo de igual pra igual com ele na esgrima e finalmente derrotando os homens de fusô com uma matilha de cães de guerra! E o sujeito não bebe uma gota de alcool em todo o livro! Completamente diferente de qualquer outra versão do personagem que eu conhecesse.
Não posso deixar de comentar, também, que o combate mais intenso do livro, de Robin contra sir Guy, ocorre com o vilão vestindo uma roupa de... Cavalo. A descrição, no livro, é até meio sinistra:
"Os dois [Robin e Joãozinho] não haviam se afastado muito quando avistaram um homem alto e forte encostado numa árvore. Uma pele de cavalo o envolvia, a cabeça e a crina cobrindo-lhe o rosto, a cauda pendendo a suas costas. Na mata vizinha um papa-figo trinava seu triste canto."
Infelizmente, a ilustração ficou meio... engraçada, com sir Guy parecendo estar vestindo um pijama de cavalo - e o ilustrador ainda omitiu a cauda do cavalo descrita no livro, o que deixaria a coisa ainda mais engraçada...
Apesar das diferenças em relação à história que eu conhecia, fiquei relativamente satisfeito com o
livro. Ilustrações regulares, bastante informação histórica com muitas fotos inclusas. Um bom livro pra inspirar uns desenhos, que era o que eu esperava dele.
De fato, logo depois de ler o livro, não consegui resistir à fazer uma versão de Sir Guy de Gisbourne usando sua pele de cavalo!
(nota de pesquisa: o tal robe de couro de cavalo, chamado de capull-hyde, era usado em espetáculos de pantomima, e era um talismã de coragem e proteção)
Comprei esse livro pelas ilustrações, na verdade. Não são particularmente inspiradas, mas tem alguma coisa legal. Achei interessante que o livro faz uma série de apontamentos históricos. Na verdade, a história em si, fica meio que em segundo plano, contada em pequenos capítulos no meio de um monte de curiosidades sobre possíveis origens da lenda, o modo de vida da época, cruzadas e até um mapa explicando a floresta de Sherwood e seus arredores. O livro termina com um apanhado geral sobre a evolução da lenda, desde suas origens medievais em baladas e poemas até suas adaptações pro cinema.
A última flecha de Robin Hood |
A história em si apresenta uma série de variações com relação ao que eu conhecia - ou, pelo menos,
não lembrava. Começando pelo nome do protagonista, que eu lembrava de ser Robin de Loxley, não Robert de Huntington. Além disso a disputa com o xerife de Notthinghan é, inicialmente, por conta do ponto-de-vista diverso com relação aos pobres e como estes devem ser tratados. Além disso há um sir Richard de Lee que eu não lembrava de ter visto em livros ou filmes - mas minha memória pode estar me traindo.
Frei Tuck e seus cães de guerra dando uma lição nos homens de fusô |
Não posso deixar de comentar, também, que o combate mais intenso do livro, de Robin contra sir Guy, ocorre com o vilão vestindo uma roupa de... Cavalo. A descrição, no livro, é até meio sinistra:
Robin em sua luta final contra Guy em seu pijama de cavalo |
Infelizmente, a ilustração ficou meio... engraçada, com sir Guy parecendo estar vestindo um pijama de cavalo - e o ilustrador ainda omitiu a cauda do cavalo descrita no livro, o que deixaria a coisa ainda mais engraçada...
Minha versão de Guy em seu capull-hyde |
livro. Ilustrações regulares, bastante informação histórica com muitas fotos inclusas. Um bom livro pra inspirar uns desenhos, que era o que eu esperava dele.
De fato, logo depois de ler o livro, não consegui resistir à fazer uma versão de Sir Guy de Gisbourne usando sua pele de cavalo!
(nota de pesquisa: o tal robe de couro de cavalo, chamado de capull-hyde, era usado em espetáculos de pantomima, e era um talismã de coragem e proteção)
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quarta-feira, 22 de julho de 2015
Mona Lisa Overdrive
Mona Lisa Overdrive é o terceiro livro da Trilogia Sprawl, que encerra os eventos iniciados em Neuromancer - encerra, alias, de modo absolutamente magistral! A última página simplesmente vira a coisa toda de cabeça pra baixo, abrindo tantas possibilidades que dá uma certa tristeza em saber que Gibson não fez mais uma trilogia explorando o cenário adiante.
Em termos de narrativa, Mona Lisa Overdrive segue a mesma lógica de Count Zero, com três protagonistas com percrusos distintos, cuja interligação só vai ficando clara a medida que a trama avança. Diferente de Count Zero, no entanto, os três protagonistas não são todos "novos jogadores", com a presença de praticamente todos os personagens dos livros anteriores fazendo uma aparição - ou pelo menos sendo mencionados- ao longo da história. Alguns deles com desenvolvimentos bastante interessantes!
O cenário do Sprawl também é bastante explorado aqui, com visitas á Inglaterra cyberpunk, o deserto químico de Dog Solitude e outras charmosas localidades dos EUA - geralmente numa viagem de Wiz proporcionado por uma das protagonistas, Mona.
Com muitas referências aos livros anteriores, Mona Lisa Overdrive funciona perfeitamente como um fim de história, explorando o potencial do cenário e os desdobramentos de eventos que começaram em Neuromancer e se desenvolveram ao longo de Count Zero.
A Trilogia Sprawl terminou, e me deixou completamente orfão. Devo assar alguns dias lendo apenas livros de RPG e de história/mitologia, antes de escolher a próxima obra literária, já que depois dessa pequena saga, duvido que qualquer outra leitura não pareça insossa e sem vida.
Apesar de Neuromancer ser, certamente, o melhor dos três livros, eu recomendo fortemente a leitura de toda a trilogia, sem medo. Uma ótima história extremamente bem contada!
Em termos de narrativa, Mona Lisa Overdrive segue a mesma lógica de Count Zero, com três protagonistas com percrusos distintos, cuja interligação só vai ficando clara a medida que a trama avança. Diferente de Count Zero, no entanto, os três protagonistas não são todos "novos jogadores", com a presença de praticamente todos os personagens dos livros anteriores fazendo uma aparição - ou pelo menos sendo mencionados- ao longo da história. Alguns deles com desenvolvimentos bastante interessantes!
O cenário do Sprawl também é bastante explorado aqui, com visitas á Inglaterra cyberpunk, o deserto químico de Dog Solitude e outras charmosas localidades dos EUA - geralmente numa viagem de Wiz proporcionado por uma das protagonistas, Mona.
Com muitas referências aos livros anteriores, Mona Lisa Overdrive funciona perfeitamente como um fim de história, explorando o potencial do cenário e os desdobramentos de eventos que começaram em Neuromancer e se desenvolveram ao longo de Count Zero.
A Trilogia Sprawl terminou, e me deixou completamente orfão. Devo assar alguns dias lendo apenas livros de RPG e de história/mitologia, antes de escolher a próxima obra literária, já que depois dessa pequena saga, duvido que qualquer outra leitura não pareça insossa e sem vida.
Apesar de Neuromancer ser, certamente, o melhor dos três livros, eu recomendo fortemente a leitura de toda a trilogia, sem medo. Uma ótima história extremamente bem contada!
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quarta-feira, 8 de julho de 2015
Count Zero
Dando sequencia à Trilogia Sprawl, terminei ontem de ler Count Zero - Mona Lisa Overdrive, aqui vou eu!
O segundo livro da trilogia, sequencia direta de Neuromancer, Count Zero tem uma narrativa bastante diferente de seu predecessor - e certamente bem menos impacto, mas obviamente poucas coisas podem ter tanto impacto quanto um livro que dá início a um novo gênero literário. Enquanto Neuromancer seguia as desventuras de Case, um ex-cowboy de console em suas desventuras no universo da Sprawl, Count Zero tem uma dinâmica consideravelmente diferente, com três protagonistas completamente diferentes entre si, com objetivos e percursos diversos e que, aparentemente, não têm nada em comum - e cujo envolvimento, é claro, vai se tornando aparente ao longo do livro.
Eu, particularmente, não costumo gostar de ler livros assim. Gente demais, muitos personagens secundários pra tu manter a atenção e mudanças de pontos-de-vista que precisam de readaptação constante à leitura. MAS! Mas, mas, mas, Gibson sendo o grande escritor que é, consegue fazer essa mecânica funcionar lindamente, mantendo a leitura deslizando suave e fluida o tempo todo. Os personagens secundários não são tão numerosos quanto se poderia esperar, e como no caso de Neuromancer, extremamente bem construídos.
Gibson também se mantém explorando o cenário aqui como no livro anterior, mostrando novas facetas do seu pequeno mundo, enquanto envolve o personagem em uma daquelas clássicas histórias cyberpunks onde há traições e falsas alianças em cada esquina, numa trama cheia de anjos, espíritos e corporações manipuladora.
"Opa, como assim, anjos e espíritos numa 'clássica história cyberpunk'?" Ora, amiguinhos, eu não vou entregar essa cabeça numa bandeja dourada! Leia o livro e vai perceber que faz total sentido!
Em tempo: O livro, é claro, é cheio de referências e expressões, a maioria explicadas no glossário que figura no final da obra. Uma delas, no entanto, me deixou confuso logo de cara, e acho útil para futuros leitores da obra - que por ventura tenham a mesma quantidade de cultura inútil quanto eu... - falar no assunto. Eu conhecia por hotdogger um cara que faz algo espetacular quando alguma coisa simples e eficiente seria suficiente. Um exibicionista. Mas no universo da Sprawl, hotdogger é simplesmente um aspirante a cowboy de console. Nem mais, nem menos. Apesar de eu achar que isso fica bem óbvio no decorrer do livro, pra quem nunca tinha ouvido a expressão, achei que cabia aqui a explicação - facilita bastante as coisas!
Agora, se tu não sabe o que cowboy de console significa, nem devia estar lendo essa resenha! Vá ler Neuromancer logo, seu wilson!
O segundo livro da trilogia, sequencia direta de Neuromancer, Count Zero tem uma narrativa bastante diferente de seu predecessor - e certamente bem menos impacto, mas obviamente poucas coisas podem ter tanto impacto quanto um livro que dá início a um novo gênero literário. Enquanto Neuromancer seguia as desventuras de Case, um ex-cowboy de console em suas desventuras no universo da Sprawl, Count Zero tem uma dinâmica consideravelmente diferente, com três protagonistas completamente diferentes entre si, com objetivos e percursos diversos e que, aparentemente, não têm nada em comum - e cujo envolvimento, é claro, vai se tornando aparente ao longo do livro.
Eu, particularmente, não costumo gostar de ler livros assim. Gente demais, muitos personagens secundários pra tu manter a atenção e mudanças de pontos-de-vista que precisam de readaptação constante à leitura. MAS! Mas, mas, mas, Gibson sendo o grande escritor que é, consegue fazer essa mecânica funcionar lindamente, mantendo a leitura deslizando suave e fluida o tempo todo. Os personagens secundários não são tão numerosos quanto se poderia esperar, e como no caso de Neuromancer, extremamente bem construídos.
Gibson também se mantém explorando o cenário aqui como no livro anterior, mostrando novas facetas do seu pequeno mundo, enquanto envolve o personagem em uma daquelas clássicas histórias cyberpunks onde há traições e falsas alianças em cada esquina, numa trama cheia de anjos, espíritos e corporações manipuladora.
"Opa, como assim, anjos e espíritos numa 'clássica história cyberpunk'?" Ora, amiguinhos, eu não vou entregar essa cabeça numa bandeja dourada! Leia o livro e vai perceber que faz total sentido!
Em tempo: O livro, é claro, é cheio de referências e expressões, a maioria explicadas no glossário que figura no final da obra. Uma delas, no entanto, me deixou confuso logo de cara, e acho útil para futuros leitores da obra - que por ventura tenham a mesma quantidade de cultura inútil quanto eu... - falar no assunto. Eu conhecia por hotdogger um cara que faz algo espetacular quando alguma coisa simples e eficiente seria suficiente. Um exibicionista. Mas no universo da Sprawl, hotdogger é simplesmente um aspirante a cowboy de console. Nem mais, nem menos. Apesar de eu achar que isso fica bem óbvio no decorrer do livro, pra quem nunca tinha ouvido a expressão, achei que cabia aqui a explicação - facilita bastante as coisas!
Agora, se tu não sabe o que cowboy de console significa, nem devia estar lendo essa resenha! Vá ler Neuromancer logo, seu wilson!
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domingo, 21 de junho de 2015
Neuromancer
“O céu sobre o porto tinha a cor de uma televisão sintonizada num canal fora do ar”
Com essa frase, começa um dos livros mais fantásticos que eu já li. Neuromancer, além de ser uma história absolutamente perfeita de ficção científica, também é considerada a primeira obra que daria início ao movimento cyberpunk.
Nenhum elogio à Neuromancer é demais. Com personagens bem construídos, uma trama absolutamente atraente e cenários finamente bem desenvolvido, ela é uma versão futurista do Senhor dos Anéis - um livro capaz de levar o leitor à uma terra distante, em uma busca fantástica.
Precisei de quatro tentativas pra conseguir ler a obra de Gibson - nas primeiras três, com livros emprestados, acabei não tendo tempo de ler a obra antes de devolver. Alias, foi Neuromancer que me fez desenvolver a lógica de não ler livros emprestados, justamente por isso. Com exceção de alguns amigos muito próximos - notoriamente minha mãe, minha avó, e minha noiva - eu raramente pego livros emprestados pra ler; prefiro comprar e desfrutar da leitura no ritmo que me aprouver. Alias, deixem-me colocar aqui uma pequena nota de agradecimento: ganhei minha cópia do Neuromancer - num box com a Trilogia de Sprawl, alias! Cont Zero já está sendo deglutido! - como o melhor presente de dias dos namorados que consigo lembrar!
Diferente do que costumo fazer, apenas falando da obra, escolhi alguns excertos do livro pra dar um gostinho da história. Afinal, em se tratando de Neuromancer, não tem muito o que se possa dizer. O ideal é ler, mesmo!
Uma nota final antes de passar aos trechos do livro: A tradução feita pela Aleph ficou primorosa! Eles escolheram muito bem que termos traduzir e que termos não traduzir do original, e mantiveram até mesmo algumas frases inteiras em inglês ("-The love os Jah, mom.") que dão um sabor todo especial na leitura! É a primeira vez que li uma tradução realmente digna de nota! Trabalho perfeito!
Enfim! Vamos, então, à alguns trechos da obra:
*** TRECHOS DO LIVRO À SEGUIR! ***
Com essa frase, começa um dos livros mais fantásticos que eu já li. Neuromancer, além de ser uma história absolutamente perfeita de ficção científica, também é considerada a primeira obra que daria início ao movimento cyberpunk.
Nenhum elogio à Neuromancer é demais. Com personagens bem construídos, uma trama absolutamente atraente e cenários finamente bem desenvolvido, ela é uma versão futurista do Senhor dos Anéis - um livro capaz de levar o leitor à uma terra distante, em uma busca fantástica.
Precisei de quatro tentativas pra conseguir ler a obra de Gibson - nas primeiras três, com livros emprestados, acabei não tendo tempo de ler a obra antes de devolver. Alias, foi Neuromancer que me fez desenvolver a lógica de não ler livros emprestados, justamente por isso. Com exceção de alguns amigos muito próximos - notoriamente minha mãe, minha avó, e minha noiva - eu raramente pego livros emprestados pra ler; prefiro comprar e desfrutar da leitura no ritmo que me aprouver. Alias, deixem-me colocar aqui uma pequena nota de agradecimento: ganhei minha cópia do Neuromancer - num box com a Trilogia de Sprawl, alias! Cont Zero já está sendo deglutido! - como o melhor presente de dias dos namorados que consigo lembrar!
Diferente do que costumo fazer, apenas falando da obra, escolhi alguns excertos do livro pra dar um gostinho da história. Afinal, em se tratando de Neuromancer, não tem muito o que se possa dizer. O ideal é ler, mesmo!
Uma nota final antes de passar aos trechos do livro: A tradução feita pela Aleph ficou primorosa! Eles escolheram muito bem que termos traduzir e que termos não traduzir do original, e mantiveram até mesmo algumas frases inteiras em inglês ("-The love os Jah, mom.") que dão um sabor todo especial na leitura! É a primeira vez que li uma tradução realmente digna de nota! Trabalho perfeito!
Enfim! Vamos, então, à alguns trechos da obra:
*** TRECHOS DO LIVRO À SEGUIR! ***
"Ele havia cometido o erro clássico, aquele que jurou jamais cometer. Roubou de seus empregadores. Guardou uma coisa para si e tentou repassá-la por um receptor em Amsterdã. Até hoje ele não sabia ao certo como havia sido descoberto, não que isso importasse agora. Na época, achou que fosse morrer, mas eles apenas sorriram. Claro que estava tudo bem, disseram a ele, estava tudo bem ele ficar com a grana. Ele ia precisar. Porque – ainda sorrindo – iam se certificar de que o cowboy nunca mais trabalhasse.
Danificaram seu sistema nervoso com uma microtoxina russa dos tempos de guerra.
Amarrado a uma cama de um hotel em Memphis seu talento queimando mícron a mícron, alucinou por trinta horas.
Para Case, que vivia até então na exultação sem corpo do ciberespaço, foi a Queda. Nos bares que frequentara no seu tempo de cowboy fodão, a postura da elite envolvia um certo desprezo suave pela carne. O corpo era carne. Case caiu na prisão da própria carne."
"Ele fechou os olhos.
Encontrou a face em relevo do botão de Power.
E, na escuridão iluminada de sangue atrás de seus olhos, fosfenos prateados queimando na borda do espaço, imagens hipnagógicas se alternando rapidamente como filmes compilados a partir de frames aleatórios. Símbolos, figuras, rostos, uma mandala fragmentada de informação visual."
"Zion havia sido fundada por cinco operários que se recusaram a voltar, que deram suas costas ao poço gravitacional e começaram a construir. Sofreram perda de cálcio e encolhimento cardíaco antes que a gravidade rotacional fosse instalada no toroide central da colônia. Visto da bolha do táxi, o casco improvisado de Zion lembrou Case do patchwork de barracos de Istambul, as placas irregulares e descoloridas rabiscadas a laser com símbolos rastafári e as iniciais dos soldadores."
"- Neuromancer — disse o rapaz; os seus olhos cinzentos e rasgados eram fendas abertas no sol nascente. — A vereda para a terra dos mortos [...] Neuro, de nervos, os caminhos de prata. Romancer, romancista. Necromante. Eu invoco os mortos. "
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terça-feira, 16 de junho de 2015
Maré Alta Estelar
Esse pequeno livro em dois volumes - ainda estou tentando entender porque um livro de 400 páginas em formato de bolso foi dividido em 2 volumes - sem tradução brasileira me deu um cansaço considerável antes de eu conseguir finalmente terminar de ler. Na verdade, como eu já havia comentado, ele me deu um cansaço tão grande já nas primeiras páginas que eu tive que deixar a leitura de lado por algum tempo antes de enfrentar a pequena tarefa de ler o rapazote.
"Mas Domênico, um livrinho de 400 páginas, ainda por cima dividido em dois volumes! Porque essa enorme dificuldade em ler?" pergunta alguém. Bom, o caso é que, além do livro ter um glossário noinício do primeiro volume explicando algumas das idéias, raças e nomenclaturas específicas do cenário (algumas das quais são bastante confundíveis, como "fen" e "fem", o primeiro termo sendo um vernáculo para neogolfinho, uma raça do cenário, e o segundo significando mulher humana, o que, no começo do livro, pelo menos, me causou muitos problemas pra entender se uma determinada fem era uma humana ou uma "golfinha", por exemplo), ainda por cima o livro. como eu disse, não tem uma tradução brasileira, sendo uma tradução para português de Portugal. Claro, a leitura de português de Portugal não causa muitos problemas, geralmente, mas num livro em que além de se adaptar ao cenário o leitor precisa se adaptar à linguagem as coisas complicam! Eu ainda não sei o que significa chamar alguém de "cria de um choco com tinta", por exemplo, e muitas vezes precisei ler algumas frases mais de uma vez pra entender o sentido exato de uma determinada frase ou palavra, e fiquei com algumas dúvidas dentro e fora do livro, como Krat:
"Bibliotecário! - chamou. - Não compreendo algumas das palavras do ser humano. Descobre o que aquela expressão <<Nyaahh nyaahh>> quer dizer na sua animalesca língua de arrivistas!"
(mas creio que nesse caso a culpa não é inteiramente dos portugueses)
Enfim!
Depois desse imenso prólogo pra explicar algumas coisas que me levaram a demorar mais de um mês pra ler meras 400 paginazinhas, vamos ao livro em si!
Maré alta Estelar se passa no universo Uplift, criado por David Brin no primeiro dos seis livros dessa coleção, Sundive - um livro, alias, sem tradução pra português; descobri também que a maioria dos leitores da série Uplift consideram o livro dispensável, já que ele se passa uma centena de anos antes dos outros cinco volumes e não tem nenhum ligação direta com os outros cinco, que, por sua vez, formam uma pequena saga cujas tramas estão bastante emaranhadas uns nos outros.
Nesse pequeno universo, os Humanos entraram em contato com as outras raças galácticas que formam um grupo coeso apesar de internamente conflituoso, unidos pelo conhecimento contido na Biblioteca Galáctica, um instrumento ancestral criado pelas primeiras raças de Patrocinadores e que contém todo o conhecimento acumulado por todas as raças tanto Patrocinadoras quanto Clientes conhecidas.
Os Humanos, nesse cenário,s são vistos como bárbaros por serem seu próprios Patrocinadores, ou terem Patrocinadores desconhecidos - não se sabe exatamente a verdade - o que significa que eles não foram evoluídos de seres pré-sencientes para uma raça completamente consciente por nenhuma outra raça, mas sim por meio de evolução natural, aparentemente. Todas as outras raças galácticas possuem Patrocinadores (que são as raças responsáveis por trazer uma espécie do estágio de imaturidade até o estado de auto-consciência completa a partir de desenvolvimento genético), embora algumas das mais antigas tenham Patrocinadores já extintos. Os Humanos, por sua vez, possuem duas raças clientes (que são aquelas raças que devem sua inteligência à melhoramentos genéticos desenvolvidos pela sua raça Patrocinadora), os Fen, ou Neogolfinhos e os Neochimpanzés. Os primeiros são excelentes pilotos espaciais, devido ao seu instinto natural de manobrar em três dimensões (já que, afinal, eles basicamente fazem isso quando estão nadando) apesar de estarem em um estado bastante inicial de sua evolução genéticamente melhorada, enquanto os chimpz são extremamente competentes naquela área que escolhem se desenvolver, mas são carentes de criatividade e em geral obsessivos com as funções que desempenham.
Dentro desse cenário, a nossa história começa com a Streaker - que deve seu nome a um tipo específico de windsurf, pelo que eu consegui entender, apesar do termo hoje em dia ter uma conotação completamente diferente, o que me fez rir sozinho muitas vezes durante a leitura... - a primeira nave espacial comandada por um neogolfinho, com uma tripulação quase totalmente composta por fen, exceto por sete humanos e um neochimpanzé, que cai em um planeta desabitado enquanto é perseguida por outras raças galácticas depois de ter, acidentalmente, encontrado uma imenso grupo de naves ancestrais, supostamente pertencentes aos Progenitores - a primeira raça de Patrocinadores. O livro acompanha as aventuras da tripulação da Streaker durante seu cerco enquanto tentam consertar a nave avariada e sobreviver em um mundo hostil.
A estrutura narrativa do livro é rotativa, alternando entre os pontos de vistas de um determinado narrador a cada capítulo - o mesmo recurso utilizado por Martin em seus famosos livros da Guerra dos tronos. Brin, no entanto, não desenvolve capítulos muito longos - alguns deles tem menos de uma pagina ou até mesmo umas poucas frases em alguns casos - o que mantém o leitor sempre à espera do desfecho de um acontecimento no fim de cada capítulo, o que cria um ritmo de leitura - idealmente - bastante acelerado, já que o leitor quer saber o que vai acontecer em seguida no final de praticamente todos os capítulos!
Brin também criou um tipo específico de linguagem para os neogolfinhos, o Trinário, que usa um padrão semelhante ao Haiku japonês, com a justaposição de duas idéias em sentenças de três frases compostas por 5, 7 e 5 sílabas, respectivamente (infelizmente parte dessa estrutura se perde na tradução, obviamente, já que o número de sílabas é impossível de se manter o mesmo) com um resultado extremamente interessante.
Como é possível notar por essa rezenha, o cenário de Uplift é bastante complexo, e é preciso algum tempo pra entender o funcionamento das coisas. Mas depois de se passar pelos primeiros capítulos, a leitura se torna extremamente prazerosa e a trama instigante - não é a toa que ele levou os prêmios Locus, Nebula e Hugo de 83, quando foi lançado.
Maré Alta Estelar não tem tradução brasileira, mas praqueles interessados em uma leitura interessante, num cenário extremamente criativo e sem problemas com ler "lusitano", é certamente uma leitura fortemente recomendada!
Em tempo: Durante minha pesquisa com relação ao livro, descobri que existe uma adaptação do cenário pra GURPS! Fiquei extremamente curioso pra ler essa adaptação. Se alguém aí tiver esse livro, eu agradeceria um empréstimo - já que deve ser bastante difícil de achar o volume pra comprar hoje em dia.
"Mas Domênico, um livrinho de 400 páginas, ainda por cima dividido em dois volumes! Porque essa enorme dificuldade em ler?" pergunta alguém. Bom, o caso é que, além do livro ter um glossário noinício do primeiro volume explicando algumas das idéias, raças e nomenclaturas específicas do cenário (algumas das quais são bastante confundíveis, como "fen" e "fem", o primeiro termo sendo um vernáculo para neogolfinho, uma raça do cenário, e o segundo significando mulher humana, o que, no começo do livro, pelo menos, me causou muitos problemas pra entender se uma determinada fem era uma humana ou uma "golfinha", por exemplo), ainda por cima o livro. como eu disse, não tem uma tradução brasileira, sendo uma tradução para português de Portugal. Claro, a leitura de português de Portugal não causa muitos problemas, geralmente, mas num livro em que além de se adaptar ao cenário o leitor precisa se adaptar à linguagem as coisas complicam! Eu ainda não sei o que significa chamar alguém de "cria de um choco com tinta", por exemplo, e muitas vezes precisei ler algumas frases mais de uma vez pra entender o sentido exato de uma determinada frase ou palavra, e fiquei com algumas dúvidas dentro e fora do livro, como Krat:
"Bibliotecário! - chamou. - Não compreendo algumas das palavras do ser humano. Descobre o que aquela expressão <<Nyaahh nyaahh>> quer dizer na sua animalesca língua de arrivistas!"
(mas creio que nesse caso a culpa não é inteiramente dos portugueses)
Símbolo da Biblioteca Galáctica |
Enfim!
Depois desse imenso prólogo pra explicar algumas coisas que me levaram a demorar mais de um mês pra ler meras 400 paginazinhas, vamos ao livro em si!
Maré alta Estelar se passa no universo Uplift, criado por David Brin no primeiro dos seis livros dessa coleção, Sundive - um livro, alias, sem tradução pra português; descobri também que a maioria dos leitores da série Uplift consideram o livro dispensável, já que ele se passa uma centena de anos antes dos outros cinco volumes e não tem nenhum ligação direta com os outros cinco, que, por sua vez, formam uma pequena saga cujas tramas estão bastante emaranhadas uns nos outros.
Nesse pequeno universo, os Humanos entraram em contato com as outras raças galácticas que formam um grupo coeso apesar de internamente conflituoso, unidos pelo conhecimento contido na Biblioteca Galáctica, um instrumento ancestral criado pelas primeiras raças de Patrocinadores e que contém todo o conhecimento acumulado por todas as raças tanto Patrocinadoras quanto Clientes conhecidas.
Os Humanos, nesse cenário,s são vistos como bárbaros por serem seu próprios Patrocinadores, ou terem Patrocinadores desconhecidos - não se sabe exatamente a verdade - o que significa que eles não foram evoluídos de seres pré-sencientes para uma raça completamente consciente por nenhuma outra raça, mas sim por meio de evolução natural, aparentemente. Todas as outras raças galácticas possuem Patrocinadores (que são as raças responsáveis por trazer uma espécie do estágio de imaturidade até o estado de auto-consciência completa a partir de desenvolvimento genético), embora algumas das mais antigas tenham Patrocinadores já extintos. Os Humanos, por sua vez, possuem duas raças clientes (que são aquelas raças que devem sua inteligência à melhoramentos genéticos desenvolvidos pela sua raça Patrocinadora), os Fen, ou Neogolfinhos e os Neochimpanzés. Os primeiros são excelentes pilotos espaciais, devido ao seu instinto natural de manobrar em três dimensões (já que, afinal, eles basicamente fazem isso quando estão nadando) apesar de estarem em um estado bastante inicial de sua evolução genéticamente melhorada, enquanto os chimpz são extremamente competentes naquela área que escolhem se desenvolver, mas são carentes de criatividade e em geral obsessivos com as funções que desempenham.
Dentro desse cenário, a nossa história começa com a Streaker - que deve seu nome a um tipo específico de windsurf, pelo que eu consegui entender, apesar do termo hoje em dia ter uma conotação completamente diferente, o que me fez rir sozinho muitas vezes durante a leitura... - a primeira nave espacial comandada por um neogolfinho, com uma tripulação quase totalmente composta por fen, exceto por sete humanos e um neochimpanzé, que cai em um planeta desabitado enquanto é perseguida por outras raças galácticas depois de ter, acidentalmente, encontrado uma imenso grupo de naves ancestrais, supostamente pertencentes aos Progenitores - a primeira raça de Patrocinadores. O livro acompanha as aventuras da tripulação da Streaker durante seu cerco enquanto tentam consertar a nave avariada e sobreviver em um mundo hostil.
A estrutura narrativa do livro é rotativa, alternando entre os pontos de vistas de um determinado narrador a cada capítulo - o mesmo recurso utilizado por Martin em seus famosos livros da Guerra dos tronos. Brin, no entanto, não desenvolve capítulos muito longos - alguns deles tem menos de uma pagina ou até mesmo umas poucas frases em alguns casos - o que mantém o leitor sempre à espera do desfecho de um acontecimento no fim de cada capítulo, o que cria um ritmo de leitura - idealmente - bastante acelerado, já que o leitor quer saber o que vai acontecer em seguida no final de praticamente todos os capítulos!
Brin também criou um tipo específico de linguagem para os neogolfinhos, o Trinário, que usa um padrão semelhante ao Haiku japonês, com a justaposição de duas idéias em sentenças de três frases compostas por 5, 7 e 5 sílabas, respectivamente (infelizmente parte dessa estrutura se perde na tradução, obviamente, já que o número de sílabas é impossível de se manter o mesmo) com um resultado extremamente interessante.
Como é possível notar por essa rezenha, o cenário de Uplift é bastante complexo, e é preciso algum tempo pra entender o funcionamento das coisas. Mas depois de se passar pelos primeiros capítulos, a leitura se torna extremamente prazerosa e a trama instigante - não é a toa que ele levou os prêmios Locus, Nebula e Hugo de 83, quando foi lançado.
Maré Alta Estelar não tem tradução brasileira, mas praqueles interessados em uma leitura interessante, num cenário extremamente criativo e sem problemas com ler "lusitano", é certamente uma leitura fortemente recomendada!
Em tempo: Durante minha pesquisa com relação ao livro, descobri que existe uma adaptação do cenário pra GURPS! Fiquei extremamente curioso pra ler essa adaptação. Se alguém aí tiver esse livro, eu agradeceria um empréstimo - já que deve ser bastante difícil de achar o volume pra comprar hoje em dia.
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quarta-feira, 27 de maio de 2015
Problemas de Linguagem
Sim, o blog tem andado quieto ultimamente. Abril não teve nenhuma postagem, e maio vem sendo um mês magro - com apenas um livro "terminado" e comentado.
Achei, por bem, escrever alguma coisa a respeito. Digamos que isso é mais um desabafo do que um tipo de justificativa, mais pra mim do que pra qualquer outro, como eu me prometi que esse blog sempre seria. De fato, considerando que não há um novo comentário por aqui fazem cinco meses, acho que isso não está muito longe da verdade.
Abril foi um mês complicado, e maio seguiu basicamente a mesma trilha. Muito trabalho, alguns problemas, algumas novas descobertas e muita pesquisa. Claro, isso nunca me manteve longe da literatura, e, na verdade, esse não é o caso agora. O que aconteceu foi, como o título sugere, que eu acabei tendo uma série de problemas com linguagens.
Bom, do começo.
Depois de ler Xógum durante praticamente todo o mês de Março, eu estava procurando por alguma literatura mais leve. Xógum é uma monstruosidade de mais de mil páginas, denso, politicamente complexo e culturalmente absorvente, cheio de referências e pesquisas laterais que surgiam durante a leitura. Quando terminei de ler os dois volumes, tudo o que eu queria era algo que fosse literariamente de fácil digestão. Assim, fu em busca de livros de contos. E aí começou minha pequena - e extremamente frustrante - epopéia literária de abril.
No começo do dito mês, tinha me caído em mãos um livro de contos do senhor Edgar Alan Poe. Depois de terminado Xógum, imaginei que seria uma boa idéia tentar um clássico que eu havia pouco experimentado. Até então, só tinha lido um livro de contos dele, em italiano, uns bons 15 anos atrás, pelo menos. Lembrava vagamente que havia gostado, e alguns contos tinham nomes que realmente chamaram minha atenção por já ter visto referência à eles em outras fontes - principalmente RPGs, devo admitir. Resolvi ler.
E se eu queria um pouco de quietude cerebral, fiz a pior escolha possível.
O tradutor tratou de deixar os contos com a linguagem da época em que o livro foi escrito - em meados do século XIV. Depois de ler os tr~es primeiros contos, com um dicionário acompanhando o livreo na miunha cabeceira, eu simplesmente não consegui ir adiante. A forma de narrativa, o ritmo, os termos empregados.... tudo era extremamente cansativo. Acabei deixando o livro pra mais tarde. precisava de algo mais simples. Então me decidi por Sleeping Planet, um livro de bolso de ficção científica que estava na minha pilha de leitura faziam alguns anos.
Ficição científica é uma das minhas literaturas favoritas, e eu já lí uma boa quantidade de livros de RPG, HQs e mesmo literatura em inglês pra saber que a língua definitivamente não seria uma barreira.
Ledo engano.
O autor usa uma quantidade imensa de jargões da década de 60 - quando o livro foi escrito - que obviamente não fazem parte do meu vocabulário normal, além de usar uma narrativa focada em diversos personagens isolados uns dos outros, mudando o foco pra um ou outro personagem sem uma lógica aparente e sem nenhum tipo de aviso. Cada parágrafo pode estar falando de um personagem completamente diferente a qualquer momento, e não é totalmente óbvio - ao menos pra mim - quando essas mudanças ocorria, o que me fez precisar reler várias passagens mais de uma vez. O exercício acabou sendo mais difícil do que eu imaginava, e o livro engrossou minha recentemente inaugurada pilha de "livros meio lidos".
Enquanto estava me batendo contra a leitura de Sleeping Planet, minha mãe me devolveu alguns livros que eu havia emprestado pra ela algum tempo atrás. entre alguns Bradburys, Andersons e Asimovs estava um livro em dois volumes chamado Maré alta estelar, que eu comprara por conta da capa - com golfinhos em armaduras reluzentes e humanos em roupas de mergulho futurísticas. Bem, um livro em bom português, ainda dentro de ficção científica, pequeno e escrito na década de 80 parecia a solução para os meus problemas! Dei início à leitura.
E então percebi que ele era um livro traduzido para o português, sim, mas português de Portugal. Joguei ele em cima da pilha de livros meio lidos depois de alguns dias lutando pra conseguir passar das primeiras páginas.
Então, repentinamente, me deparei com o livro destinado a tragédia intitulado Antalogia de Ficção Científica - sua triste história está contada na postagem diretamente anterior à esta.
Apesar de ser uma tradução do meio da década de 70 de contos majoritariamente da década anterior, esse livro era definitivamente mais simples de ler do que qualquer uma das alternativas anteriores.
Recobrado das experiências de "quase-leituras", agora estou nadando arduamente contra a complexa leitura de Maré Alta Estelar - que, apesar da língua lusitana, parece um bom livro no fim das contas. Mas a leitura tem sido bastante cansativa e eu tenho conseguido avançar apenas umas poucas braçadas a cada dia, antes de ficar muito cansado da interpretação que o livro exige - sem contar as frequentes consultas ao dicionário que ele exige. Ele certamente vai ser o próximo livro a figurar aqui no blog - provavelmente dividido em duas resenhas, já que o livro é dividido em dois volumes.
Depois, provavelmente os contos de Alan Poe e a aventura futurística de Sleeping Planet devem ser os próximos. Provavelmente.
"Mas, hey, Domênico, e essa imagem ilustrativa da postagem, que parece uma página inacabada de HQ?" pode perguntar-se alguém. Bem, no meio de uma série imensa de ilustrações pra uma revista digital da Coisinha Verde e de outras para um livro de culinária (não perguntem) que me deram cãibras nos dedos, eu resolvi voltar à um antigo roteiro de uma HQ só pra relaxar um pouco.
(pois é, eu relaxo do trabalho como desenhista... Desenhando)
Depois de desenhar essa primeira página e metade da segunda, eu desisti de voltar ao projeto. Tenho algumas outras HQs que ainda quero desenhar, e essa em particualr ia servir mais como uma espécie de treinamento pro trabalho de verdade. Só que, apesar de curta, me dei conta (depois que reli o roteiro todo) que era uma merda de história. Sim, com direito à um palavrão depreciativo. Então, desisti dela. Mas como eu não tinha nenhuma outra imagem pra ilustrar essa postagem - e como o resultado dessa página não está de todo ruim - achei que eu merecia um pouco de exposição, já que, afinal de contas, sou o dono desse maldito blog.
Enfim, acho que é isso.
Apesar de acreditar que esse foi o texto mais chato e sem propósito que já escrevi desde a virada do milênio, fica um abraço praqueles que chegaram até esse ponto da leitura! ^_^
Recobrado das experiências de "quase-leituras", agora estou nadando arduamente contra a complexa leitura de Maré Alta Estelar - que, apesar da língua lusitana, parece um bom livro no fim das contas. Mas a leitura tem sido bastante cansativa e eu tenho conseguido avançar apenas umas poucas braçadas a cada dia, antes de ficar muito cansado da interpretação que o livro exige - sem contar as frequentes consultas ao dicionário que ele exige. Ele certamente vai ser o próximo livro a figurar aqui no blog - provavelmente dividido em duas resenhas, já que o livro é dividido em dois volumes.
Depois, provavelmente os contos de Alan Poe e a aventura futurística de Sleeping Planet devem ser os próximos. Provavelmente.
"Mas, hey, Domênico, e essa imagem ilustrativa da postagem, que parece uma página inacabada de HQ?" pode perguntar-se alguém. Bem, no meio de uma série imensa de ilustrações pra uma revista digital da Coisinha Verde e de outras para um livro de culinária (não perguntem) que me deram cãibras nos dedos, eu resolvi voltar à um antigo roteiro de uma HQ só pra relaxar um pouco.
(pois é, eu relaxo do trabalho como desenhista... Desenhando)
Depois de desenhar essa primeira página e metade da segunda, eu desisti de voltar ao projeto. Tenho algumas outras HQs que ainda quero desenhar, e essa em particualr ia servir mais como uma espécie de treinamento pro trabalho de verdade. Só que, apesar de curta, me dei conta (depois que reli o roteiro todo) que era uma merda de história. Sim, com direito à um palavrão depreciativo. Então, desisti dela. Mas como eu não tinha nenhuma outra imagem pra ilustrar essa postagem - e como o resultado dessa página não está de todo ruim - achei que eu merecia um pouco de exposição, já que, afinal de contas, sou o dono desse maldito blog.
Enfim, acho que é isso.
Apesar de acreditar que esse foi o texto mais chato e sem propósito que já escrevi desde a virada do milênio, fica um abraço praqueles que chegaram até esse ponto da leitura! ^_^
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domingo, 10 de maio de 2015
Antologia de Ficção Científica
Abril foi um mês literalmente complexo, literalmente. Vou falar sobre o assunto em uma futura postagem. Por hora, vou fazer o que é costume por aqui: Resenhar o último livro que li - nesse caso, uma antologia de contos de ficção científica da década de 60/70.
Achei esse livro perdido por aqui, sem capa, enquanto mudava minha "biblioteca" de lugar. Não sei de onde saiu, mas estava precisando de alguma coisa simples pro meu apetite literário, e uma coletânea de contos de FC sempre é uma boa pedida.
Sem autores particularmente reconhecidos, incluindo um brasileiro - cujo nome me foge - este volume fadado à tragédia me trouxe algumas horas de leitura tranquila e divertida. Sem histórias particularmente geniais, essa antologia foi muito boa de ler justamente porque suas histórias, pouco pretensiosas (em sua maioria, exceto pelo supracitado autor brasileiro de nome perdido) me deram justamente aquil o que eu procurava: histórias simples e diretas. Algumas delas, apesar de esdrúxulas - como a patente de uma máquina de fazer ovos - se desenvolveram de forma inesperadamente interessante, enquanto outras - como a história da equipe de construção de linhas de energia confrontada pelos últimos "motoqueiros" da terra - partem de princípios mais originais. A maioria, no entanto, era bem lugar-comum para leitores de ficção científica - como o futuro das instituições presidiárias, métodos de ensino distópicos, extinção de raças graças à exploração de recursos naturais e dogmas culturais extremos que se mantém sendo levado à cabo apesar de ilógicos e daninhos. Mas estamos falando de uma antologia de ficção de obras de 1963 à 1973, o que significa que, para a época, alguns desses assuntos não tinham sido experimentados à exaustão ainda.
O supracitado conto do autor brasileiro cujo nome se perdeu, no entanto, é medonho. Além de usar um tipo de linguagem bizarra, com várias passagens em espaços brancos, para demonstrar a incapacidade do leitor em entender o que o personagem pestá falando - e sim, é uma história contada por um personagem, supostamente um gênio, sobre sua genialidade - o texto é recheado de passagens em caixa alta, descoladas do texto, sem nenhuma conexão aparente com a história em sí. De fato, são passagens de cunho apocalíptico, enquanto o tal cientista fala de suas descobertas no campo da beleza, seja lá o que significa isso. Recheado de pseudo-intelectualismo e palavras difíceis sem significado - supostamente para demonstrar a superioridade intelectual do cientista - o conto termina sem nenhum mérito, exceto o de entrar na minha lista de piores coisas que já li na vida - e eu já lí alguns panfletos de igreja particularmente horrorosos...
"Mas Domênico, porque tu não está citando o nome das obras nem dos autores? Não dá pra ir ali pegar o livro ao invés de ficar dizendo que não lembra ou que esqueceu os nomes dos contos e autores? E porque tu disse que esse livro estava fadado à tragédia lá no começo da postagem?" Bem, ávidos leitores, o fato é que o livro não existe mais.
Hoje, logo depois de eu ter terminado minha leitura da antologia, esqueci a porta da casa aberta depois de levar roupas pra lavar, logo cedo. O que aconteceu então é que minha cadela - na verdade, ela é da minha mãe, mas eu tenho tomado conta dela pelos últimos anos, infelizmente - infiltrou-se na casa, comeu a comida dos gatos, derrubou minha caixa de ferramentas de cima da mesa - o que causou um óbvio caos de plástico e metal por toda a minha sala - e terminou seu ato de terrorismo destruindo dois livros, um dos quais era justamente a antologia - o o outro era um livro que eu estava lendo e que, bem, não vou poder terminar...
Alias, tenho uma cadela pra doação. Sei que essa não é a melhor propaganda do mundo pra se fazer de um anial do qual a gente espera que alguém se interesse em levar embora, mas ela tem qualidades. Como o fato de ser castrada - o que implica que ela não vai mais espalhar seus genes por aí, graças à Cérbero!
Alias, acabei de notar que não conheço nenhuma divindade associada aos cães... Se alguém conhecer alguma, fico agradecido.
Do livro, só sobrou inteira a página que ilustra essa postagem. O resto eram peças rasgadas de papel ou uma massaroca de celulose e baba canina. Nojento.
Achei esse livro perdido por aqui, sem capa, enquanto mudava minha "biblioteca" de lugar. Não sei de onde saiu, mas estava precisando de alguma coisa simples pro meu apetite literário, e uma coletânea de contos de FC sempre é uma boa pedida.
Sem autores particularmente reconhecidos, incluindo um brasileiro - cujo nome me foge - este volume fadado à tragédia me trouxe algumas horas de leitura tranquila e divertida. Sem histórias particularmente geniais, essa antologia foi muito boa de ler justamente porque suas histórias, pouco pretensiosas (em sua maioria, exceto pelo supracitado autor brasileiro de nome perdido) me deram justamente aquil o que eu procurava: histórias simples e diretas. Algumas delas, apesar de esdrúxulas - como a patente de uma máquina de fazer ovos - se desenvolveram de forma inesperadamente interessante, enquanto outras - como a história da equipe de construção de linhas de energia confrontada pelos últimos "motoqueiros" da terra - partem de princípios mais originais. A maioria, no entanto, era bem lugar-comum para leitores de ficção científica - como o futuro das instituições presidiárias, métodos de ensino distópicos, extinção de raças graças à exploração de recursos naturais e dogmas culturais extremos que se mantém sendo levado à cabo apesar de ilógicos e daninhos. Mas estamos falando de uma antologia de ficção de obras de 1963 à 1973, o que significa que, para a época, alguns desses assuntos não tinham sido experimentados à exaustão ainda.
O supracitado conto do autor brasileiro cujo nome se perdeu, no entanto, é medonho. Além de usar um tipo de linguagem bizarra, com várias passagens em espaços brancos, para demonstrar a incapacidade do leitor em entender o que o personagem pestá falando - e sim, é uma história contada por um personagem, supostamente um gênio, sobre sua genialidade - o texto é recheado de passagens em caixa alta, descoladas do texto, sem nenhuma conexão aparente com a história em sí. De fato, são passagens de cunho apocalíptico, enquanto o tal cientista fala de suas descobertas no campo da beleza, seja lá o que significa isso. Recheado de pseudo-intelectualismo e palavras difíceis sem significado - supostamente para demonstrar a superioridade intelectual do cientista - o conto termina sem nenhum mérito, exceto o de entrar na minha lista de piores coisas que já li na vida - e eu já lí alguns panfletos de igreja particularmente horrorosos...
"Mas Domênico, porque tu não está citando o nome das obras nem dos autores? Não dá pra ir ali pegar o livro ao invés de ficar dizendo que não lembra ou que esqueceu os nomes dos contos e autores? E porque tu disse que esse livro estava fadado à tragédia lá no começo da postagem?" Bem, ávidos leitores, o fato é que o livro não existe mais.
Hoje, logo depois de eu ter terminado minha leitura da antologia, esqueci a porta da casa aberta depois de levar roupas pra lavar, logo cedo. O que aconteceu então é que minha cadela - na verdade, ela é da minha mãe, mas eu tenho tomado conta dela pelos últimos anos, infelizmente - infiltrou-se na casa, comeu a comida dos gatos, derrubou minha caixa de ferramentas de cima da mesa - o que causou um óbvio caos de plástico e metal por toda a minha sala - e terminou seu ato de terrorismo destruindo dois livros, um dos quais era justamente a antologia - o o outro era um livro que eu estava lendo e que, bem, não vou poder terminar...
Alias, tenho uma cadela pra doação. Sei que essa não é a melhor propaganda do mundo pra se fazer de um anial do qual a gente espera que alguém se interesse em levar embora, mas ela tem qualidades. Como o fato de ser castrada - o que implica que ela não vai mais espalhar seus genes por aí, graças à Cérbero!
Alias, acabei de notar que não conheço nenhuma divindade associada aos cães... Se alguém conhecer alguma, fico agradecido.
Do livro, só sobrou inteira a página que ilustra essa postagem. O resto eram peças rasgadas de papel ou uma massaroca de celulose e baba canina. Nojento.
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quarta-feira, 18 de março de 2015
Xógum - Tomo 2
Como eu disse na primeira "resenha" do livro, decidi falar do livro em duas partes distintas, uma especificamente sobre o autor e a construção da obra, e agora sobre a história do livro em si.
Então, vamos à história!
Xógum começa com o piloto britânico John Blackthorne (que foi baseado no navegador Willian Adams, o primeiro inglês a chegar ao Japão e também o primeiro ocidental a tornar-se samurai) aportando com seus poucos marinheiros a bordo do Erasmus, um navio Holandês, na baia de Izu. Imediatamente, Blackthorne e seus companheirs são aprisionados como piratas, acusados pelos padres jesuítas que comandam o comércio exterior do Japão (de fato, os jesuítas portugueses estiveram presentes no Japão desde 1542, e eles estavam em guerra com os britânicos).
Blackthorne é humilhado, e alguns de seus homens são mortos - de maneiras atrozes, alias - até que ele finalmente é apresentado ao Daimio Toranaga, que comanda a regiao onde seu navio aportou.
O livro discorre os acontecimentos do próximo ano, aproxiadamente, enquanto Blackthorne se vê envolvido com os acontecimentos políticos que que culminarão na batalha pela susseção do trono japonês.
Apesar do livro ter sido lanaçado em 1975, e ser considerado uma verdadeira enciclopédia para a cultura japonesa, infelizmente acredito que poucas pessoas tenham tido a oportunidade de ler a obra nos últimos anos - eu mesmo só descobri que esse livro existia no final do ano passado! - e não pretendo fazer revelações sobre a trama - todos os acontecimentos que citei acima não cobrem o primeiro quarto do primeiro tomo da obra - sem avisar aqueles que ainda não leram o livro mas pretendem faze-lo. assim, a seguir, haverá alguns parágrafos com revelações sobre a trama, principalmente fazendo algumas comparações sobre a vida de de Adams e Blackthorne e algumas reflexões sobre o shogunato, a política e a cultura do Japão Para aqueles que não quiserem ter revelações sobre a trama, e portanto não pretendem ler os próximos parágrafos, uma última nota: O livro é excelente, muitíssimo bem escrito e extremamente inteligente! É um livro que, creio, é capaz de agradar não apenas aqueles que têm algum apreço pela cultura japonesa mas também todos aqueles que gostam de um bom livro, com uma boa trama. Leitura fortemente recomendada!
Em tempo: No final da postagem tem alguns bônus - como um livro falando sobre o romance em comparação com a história "real" e links para os vídeos da minissérie no youtube.
*****ATENÇÃO! REVELAÇÕES SOBRE A TRAMA ADIANTE! *****
É claro que, assim como Willian Adams, Blackthorne torna-se samurai eventualmente, e uma peça importante no jogo pelo poder que se desvela no decorrer da trama. Apesar de Adams ter se tornado Samurai apenas depois de 1604, após construir pelo menos dois navios para o então shogum Tokugawa Ieyasu - que serviu de base para o daimio Toranaga - Blackthorne recebe o título antes de estar no japão por meio ano, e sequer conseguir falar japonês corretamente. De fato, Blackthorne recebe até mesmo o título de Hatamoto (assim como aconteceu com Adams depois dele se tornar intérprete pessoal de Tokugawa). Admito que, apesar de toda a construção do livro obviamente levar à esse acontecimento, e para manter a coesão dos acontecimentos que culminariam na batalha de Sekigahara de modo que Blackthorne já fosse samurai - o que permitiu a ele uma maior inclusão nas questões culturais do japão, que seriam impossíveis se ele fosse meramente um forasteiro sem títulos - os acontecimentos a esse respeito me pareceram muito rápidos.
Fora isso, admito que outra coisa que me incomodou um pouc foi a morte de Mariko. É claro, ela foi um "sacrifício necessário" para a trama, e eu não teria problema algum se não fosse um detalhe: Ninjas! Eu estava realmente feliz porque nenhuma vez eles haviam sido mencionados até então, feliz e contente com a trama política e sobre os contos de samurais que permeavam o livro, e então aparece um bando de nijas e a coisa toda vira um pandemônio! Claro, os capítulos em que a batalha entre samurais e ninjas se desenrola são eletrizantes, e é uma parte bastante emocionante do livro, mas... ninjas, cara! Sei lá, não gosto de ninjas. Pode ser uma parte minha que tem um certo preconceito com a mistificação deles, ou porque não parecia caber uma gangue ninja na trama, mas realmente me desagradou um pouco ver ninjas dinamitando tudo - literalmente.
E, é claro, eu esperava um emocionante duelo de samurais envolvendo o Blackthorne, coisa que também não aconteceu. Paciência. Não teria feito muito sentido, de qualquer forma. Assim como os ninjas não fizeram!
Como uma nota de história, há um falha considerável no livro, com relação a história do japão, no que diz respeito ao hábito de Toranaga gostar de interpretar no teatro kabuki. O problema aqui é que o Kabuki teve início em 1603, e antes do meio do século 17, ele só era interpretado por mulheres e depois por jovens rapazes, o que tornaria impossível que Toranaga fosse um interprete de um estilo de teatro que sequer existia antes dos acontecimentos do livro!
Além disso, antes da década de 1630, meninos não podiam se prostituir, o que também cria um pequeno problema cronológico, já que Kiku, a mais formosa cortesã de Izu oferece um "rapaz" para Blackthorne - que fica chocado, afinal ele era um bom protestante.
Ainda falanado de hábitos sexuais, foi, de fato durante o shogunato de Ieyasu que surgiram os primeiros bairros de prostituição. Clavell coloca um interessante diálogo entre Toranaga e Gyoko onde o daimio recebe a interessante idéia de um bairro exclusivo para as cortesãs - assim como a idéia de criar uma classe especial de gueixas, que ao invés de oferecerem favores sexuais seriam treinadas em outras artes para agradar seus clientes.
Éu também andei lendo alguns artigos sobre o livro, e descobri que o uso de japonês no livro é bastante errado, e por vezes cria situações contraditórias ou simplesmente impossíveis de entender. Apesar de ter passado três anos como prisioneiro no Japão, não é de se esperar que Clavell tenha se tornado fluente na língua do país, é claro, e a maioria dos usos corretos de japonês no livro é considerado por especialistas como "japonês de sala de aula".
Finalmente, uma coisa sobre a qual eu já tinha pesquisadodiz respeito ao grogue que os marujos do Erasmus adoram beber. O problema é que esse termo não existia antes de mil setessentos e poucos. Antes disso, os marujos recebiam, na verdade, rum como parte de seus víveres para as viages. Grogue - uma mistura de rum, cerveja fraca ou água e suco de limão ou lima - foi desenvolvido para combater o escorbuto e para prevenir os marujos de ficarem completamente bêbados. Há uma certa dúvida sobre a data exata de sua criação, mas não foi antes do meio do século XVIII.
Mas, é importante observar que Xógum não foi criado para ser uma aula de japonês para iniciantes, nem mesmo um livro de história sobre o japão, mas sim uma versão romantizada de fatos históricos, e Clavell teve a polidez de inclusive mudar os nomes de todos os personagens. Além disso, apesar de muita pesquisa, estamos falando do Japão de 1600, e Clavell não era um historiador e não tinha todo o conhecimento disponível hoje para realizar suas pesquisas. Considerando isso tudo, Xógum é um excelente romance,historicamente acurado na sua quase totalidade, com alguns anacronismos aqui e ali que, de forma alguma atrapalham a leitura - principalmente daqueles que não entendem nada da língua japonesa e cujo conhecimento em detalhes ridiculamente específicos não é extremamente acurado.
Em tempo: A maioria desses "problemas" eu descobri só depois de terminar o livro e ficar extremamente interessado em algumas de suas passagens.
***** FIM DAS REVELAÇÕES SOBRE A TRAMA ******
Como notas de rodapé, deixo aqui um excelente livro intitulado Learning from Shǀgun - Japanese History and Western Fantasy, um excelente livro falando da história não só do Japão mas também da Inlgaterra, as disparidades entre história e o romance de clavell e um monte de outras coisas muito interessantes sobre o livro. Vale muito a pena ler!
Finalmente, se alguém estiver interessado em assistir a versão pra TV da minissérie baseada no livro, produzida em 1980 e dirigida pelo próprio Clavell, estrelando Richard Chamberlain e Toshiro Mifune, ela está disponível no youtube. Apesar de ter achado versões completas da série, elas são de péssima qualidade ou têm legendas em francês ou alguma outra língua estranah. Mas tem uma ótima versão - sem legendas, então é bom pra aprender tanto japonês quanto inglês! - em quatro partes, como ela foi originalmente produzida pra passar na TV.
E pra finalizar, apesar de eu já ter dito isso lá em cima,, reitero: leitura fortemente recomendada!
Então, vamos à história!
Xógum começa com o piloto britânico John Blackthorne (que foi baseado no navegador Willian Adams, o primeiro inglês a chegar ao Japão e também o primeiro ocidental a tornar-se samurai) aportando com seus poucos marinheiros a bordo do Erasmus, um navio Holandês, na baia de Izu. Imediatamente, Blackthorne e seus companheirs são aprisionados como piratas, acusados pelos padres jesuítas que comandam o comércio exterior do Japão (de fato, os jesuítas portugueses estiveram presentes no Japão desde 1542, e eles estavam em guerra com os britânicos).
Blackthorne é humilhado, e alguns de seus homens são mortos - de maneiras atrozes, alias - até que ele finalmente é apresentado ao Daimio Toranaga, que comanda a regiao onde seu navio aportou.
O livro discorre os acontecimentos do próximo ano, aproxiadamente, enquanto Blackthorne se vê envolvido com os acontecimentos políticos que que culminarão na batalha pela susseção do trono japonês.
Apesar do livro ter sido lanaçado em 1975, e ser considerado uma verdadeira enciclopédia para a cultura japonesa, infelizmente acredito que poucas pessoas tenham tido a oportunidade de ler a obra nos últimos anos - eu mesmo só descobri que esse livro existia no final do ano passado! - e não pretendo fazer revelações sobre a trama - todos os acontecimentos que citei acima não cobrem o primeiro quarto do primeiro tomo da obra - sem avisar aqueles que ainda não leram o livro mas pretendem faze-lo. assim, a seguir, haverá alguns parágrafos com revelações sobre a trama, principalmente fazendo algumas comparações sobre a vida de de Adams e Blackthorne e algumas reflexões sobre o shogunato, a política e a cultura do Japão Para aqueles que não quiserem ter revelações sobre a trama, e portanto não pretendem ler os próximos parágrafos, uma última nota: O livro é excelente, muitíssimo bem escrito e extremamente inteligente! É um livro que, creio, é capaz de agradar não apenas aqueles que têm algum apreço pela cultura japonesa mas também todos aqueles que gostam de um bom livro, com uma boa trama. Leitura fortemente recomendada!
Em tempo: No final da postagem tem alguns bônus - como um livro falando sobre o romance em comparação com a história "real" e links para os vídeos da minissérie no youtube.
*****ATENÇÃO! REVELAÇÕES SOBRE A TRAMA ADIANTE! *****
É claro que, assim como Willian Adams, Blackthorne torna-se samurai eventualmente, e uma peça importante no jogo pelo poder que se desvela no decorrer da trama. Apesar de Adams ter se tornado Samurai apenas depois de 1604, após construir pelo menos dois navios para o então shogum Tokugawa Ieyasu - que serviu de base para o daimio Toranaga - Blackthorne recebe o título antes de estar no japão por meio ano, e sequer conseguir falar japonês corretamente. De fato, Blackthorne recebe até mesmo o título de Hatamoto (assim como aconteceu com Adams depois dele se tornar intérprete pessoal de Tokugawa). Admito que, apesar de toda a construção do livro obviamente levar à esse acontecimento, e para manter a coesão dos acontecimentos que culminariam na batalha de Sekigahara de modo que Blackthorne já fosse samurai - o que permitiu a ele uma maior inclusão nas questões culturais do japão, que seriam impossíveis se ele fosse meramente um forasteiro sem títulos - os acontecimentos a esse respeito me pareceram muito rápidos.
Fora isso, admito que outra coisa que me incomodou um pouc foi a morte de Mariko. É claro, ela foi um "sacrifício necessário" para a trama, e eu não teria problema algum se não fosse um detalhe: Ninjas! Eu estava realmente feliz porque nenhuma vez eles haviam sido mencionados até então, feliz e contente com a trama política e sobre os contos de samurais que permeavam o livro, e então aparece um bando de nijas e a coisa toda vira um pandemônio! Claro, os capítulos em que a batalha entre samurais e ninjas se desenrola são eletrizantes, e é uma parte bastante emocionante do livro, mas... ninjas, cara! Sei lá, não gosto de ninjas. Pode ser uma parte minha que tem um certo preconceito com a mistificação deles, ou porque não parecia caber uma gangue ninja na trama, mas realmente me desagradou um pouco ver ninjas dinamitando tudo - literalmente.
E, é claro, eu esperava um emocionante duelo de samurais envolvendo o Blackthorne, coisa que também não aconteceu. Paciência. Não teria feito muito sentido, de qualquer forma. Assim como os ninjas não fizeram!
Como uma nota de história, há um falha considerável no livro, com relação a história do japão, no que diz respeito ao hábito de Toranaga gostar de interpretar no teatro kabuki. O problema aqui é que o Kabuki teve início em 1603, e antes do meio do século 17, ele só era interpretado por mulheres e depois por jovens rapazes, o que tornaria impossível que Toranaga fosse um interprete de um estilo de teatro que sequer existia antes dos acontecimentos do livro!
Além disso, antes da década de 1630, meninos não podiam se prostituir, o que também cria um pequeno problema cronológico, já que Kiku, a mais formosa cortesã de Izu oferece um "rapaz" para Blackthorne - que fica chocado, afinal ele era um bom protestante.
Ainda falanado de hábitos sexuais, foi, de fato durante o shogunato de Ieyasu que surgiram os primeiros bairros de prostituição. Clavell coloca um interessante diálogo entre Toranaga e Gyoko onde o daimio recebe a interessante idéia de um bairro exclusivo para as cortesãs - assim como a idéia de criar uma classe especial de gueixas, que ao invés de oferecerem favores sexuais seriam treinadas em outras artes para agradar seus clientes.
Éu também andei lendo alguns artigos sobre o livro, e descobri que o uso de japonês no livro é bastante errado, e por vezes cria situações contraditórias ou simplesmente impossíveis de entender. Apesar de ter passado três anos como prisioneiro no Japão, não é de se esperar que Clavell tenha se tornado fluente na língua do país, é claro, e a maioria dos usos corretos de japonês no livro é considerado por especialistas como "japonês de sala de aula".
Finalmente, uma coisa sobre a qual eu já tinha pesquisadodiz respeito ao grogue que os marujos do Erasmus adoram beber. O problema é que esse termo não existia antes de mil setessentos e poucos. Antes disso, os marujos recebiam, na verdade, rum como parte de seus víveres para as viages. Grogue - uma mistura de rum, cerveja fraca ou água e suco de limão ou lima - foi desenvolvido para combater o escorbuto e para prevenir os marujos de ficarem completamente bêbados. Há uma certa dúvida sobre a data exata de sua criação, mas não foi antes do meio do século XVIII.
Mas, é importante observar que Xógum não foi criado para ser uma aula de japonês para iniciantes, nem mesmo um livro de história sobre o japão, mas sim uma versão romantizada de fatos históricos, e Clavell teve a polidez de inclusive mudar os nomes de todos os personagens. Além disso, apesar de muita pesquisa, estamos falando do Japão de 1600, e Clavell não era um historiador e não tinha todo o conhecimento disponível hoje para realizar suas pesquisas. Considerando isso tudo, Xógum é um excelente romance,historicamente acurado na sua quase totalidade, com alguns anacronismos aqui e ali que, de forma alguma atrapalham a leitura - principalmente daqueles que não entendem nada da língua japonesa e cujo conhecimento em detalhes ridiculamente específicos não é extremamente acurado.
Em tempo: A maioria desses "problemas" eu descobri só depois de terminar o livro e ficar extremamente interessado em algumas de suas passagens.
***** FIM DAS REVELAÇÕES SOBRE A TRAMA ******
Como notas de rodapé, deixo aqui um excelente livro intitulado Learning from Shǀgun - Japanese History and Western Fantasy, um excelente livro falando da história não só do Japão mas também da Inlgaterra, as disparidades entre história e o romance de clavell e um monte de outras coisas muito interessantes sobre o livro. Vale muito a pena ler!
E pra finalizar, apesar de eu já ter dito isso lá em cima,, reitero: leitura fortemente recomendada!
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