quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Deuses Americanos

Eu tinha curiosidade de ler esse livro há algum tempo. Li outros três livros do Gaiman (Coisas Frágeis, Os Filhos de Anansi e Belas Maldições, esse último em co-autoria com Terry Pratchett, e que não tem uma resenha aqui no Café com Letra porque foi lido bem antes do blog existir), uma boa parte de Sandman (não, nunca cheguei a terminar, me julguem) e uma sofrível versão em quadrinhos de Lugar Nenhum (também pré-café-com-letra). Apesar de não ser um grande fá do Gaiman, os livros dele nunca me decepcionaram até aqui, o que significa que vou continuar lendo coisas dele no futuro - alias, Belas Maldições, assim como O Dia do Coringa, do Jostein Gaarder, já venceram a data de validade na minha memória, e nunca ganharam resenhas aqui. 

Eu e minha mania de divagar... 

Bom, uma amiga me emprestou o livro esses tempos, e logo depois de terminar Os Herdeiros da Terra, passei o livro na frente dos outros sem pestanejar. 


O livro segue as desventuras de Shadow, um ex-presidiário grandalhão - apesar de quase todo mundo no livro ser maior do que ele... - e aparentemente meio retardado que tem fixação por truques com moedas. De fato, o livro começa com Shadow ainda na prisão, dias antes de ser solto. Na sequencia, ele é contatado por Odin (sim, esse é um spoiler, mas se tu não identifica um velhote cinzento que se chama Wednesday, tem um olho de vidro e sempre aparece onde precisa estar, num livro com a palavra Deuses no título, é melhor voltar pras enciclopédias de mitologia antes de ler essa obra, porque com poucas exceções, as referências à mitologia nesse livro são extremamente obscuras, e sem entender elas o livro deve ser extremamente frustrante) como "empregado genérico", sabe-se lá porque. Alias, a maior parte das informações do livro é entregue em migalhas pequenas, muito pequenas, e nada parece fazer muito sentido, no início. As coisas vão se encaixando só lá pelo final - apesar de, em alguns casos, eu ter ficado completamente sem entender algumas passagens mesmo depois de terminar a leitura. 

A escrita de Deuses americanos é lenta e arrastada, e a trama segue essa lógica. Aqui e ali, entre os capítulos, aparece um conto solto explicando a chegada de alguma divindade nos EUA (onde, deve ser meio óbvio, o livro se passa) ou seu comportamento nos dias contemporâneos. Essa é uma sacada genial do livro, e é lamentavel que não hajam mais contos no livro que sigam essa mesma lógica. 

enquanto isso, a narrativa principal vai de um clima tarantinesco à slices of life morno, passando por alguma psicodelia e até um pouco de drama policial. É um livro definitivamente esquizofrênico e consideravelmente complexo de digerir. Ainda assim (ou por conta disso) é um bom livro, digno de leitura. 

Em tempo: Shadow o protagonista, reflete muito bem seu nome em termos de personalidade. ele é só a sombra de um homem. Sem objetivos claros, passivo, apático e completamente esquecível. Creio fortemente que essa foi a intenção de Gaiman em relação ao personagem, e apesar de ser benéfico pra trama, traz um sério problema de identificação pro leitor. Seguir shadow em seu desenvolvimento - e ele é muito mais do que aparenta - é uma tarefa por vezes escruciante, justamente porque ele não mostra curiosidade sobre as bizarrices que vivencia ao longo da trama (bizarrices essas que deixam o leitor extremamente curioso) nem faz escolhas muito claras, quando faz, o que deixa a trama seguir sempre um rumo meio sem sentido. No final da leitura, no entanto, é possível entender porque Wednesdey tinha tanto  interesse nele, e essa apatia toda se faz entender. 

Ao longo da trama, temos outros personagens interessantíssimos que interagem com Shadow e que fazem a leitura valer realmente a pena. Menção especial ao Sr. Nancy que, mais tarde, seria a figura central ao redor de quem os eventos do livro Os Filhos de Anansi girariam. 

O livro vai ganhar uma versão em série, escrita por Gaiman, em 2016. Não fiquei extremamente empolgado com a notícia, mas admito que me bateu uma certa curiosidade de saber se eles vão incluir a cena da Bilquis na série - ou como eles fariam isso. 

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