sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Os Dias Futuros

Antes de falar sobre o livro em si, eu gostaria de fazer uma crítica (e deixar um aviso) à coleção Argonauta. Pra além da grafia errada do autor nessa capa (Arthur tem hagá [e eu sempre vou escrever hagá errado porque acho um contrassenso o nome da letra não incluir a própria letra] apesar do horror que, aparentemente os lusitanos têm com relação à grafias estrangeiras) foi deixado de fora dessa pequena coleção de contos aquele que foi o único que Clarke, em sua introdução, faz um comentário entusiástico (e deixa o leitor ávido para ler). Recentemente, descobri que em As Vozes de Marte, de Bradbury, foram deixados de fora não um, mas quatro contos, incluindo o que, no original (I Sing the Body Electric) dá nome ao livro! Absurdo dos absurdos literários, amputar dessa forma uma obra, a coleção Argonauta me decepcionou de tal forma com isso que certamente esse será o penúltimo livro dela que lerei (penúltimo porque já tenho, comprado, outro livro da mesma coleção, que adquiri junto com este que resenho agora, o supracitado livro do Ray Bradbury  e mais dois livros de A. E van Vogt, como alias já tinha apontado quando resenhei o Vozes de Marte).

Dito isso, vamos ao livro!

Os Dias Futuros é um livro de contos (onze nessa versão lusitana, doze no original) apanhados de de revistas que originalmente os publicaram entre 1937 e 1955 - o livro foi publicado originalmente em 1973, e traduzido e mutilado em 1985. 

Apesar do título (originalmente The Best of Arthur Clarke. Que coisa, lusitanos!) nem todos os contos são sobre o futuro - alguns, de fato, sequer têm personagens humanos o que torna impossível coloca-los em qualquer ponto do tempo. Na verdade, eles não possuem nenhuma lógica explícita entre si. Alguns falam sim de futuros possíveis, alguns são narrados por extra-terrestres em um tempo indeterminado e Pancada na Tola, um continho de duas páginas, na verdade não possui qualquer conteúdo mensurável! 

Os contos no entanto são todos ótimos (bom, Pancada na Tola na verdade é inclassificável em qualquer nível, pelo menos pra mim). Em comum, de fato, todos têm uma característica compartilhada: Finais inesperados. Alguns trazem alguma informação de arrepiar a espinha na última frase (como em O Despertar e A Estrela) outras causam uma reviravolta completa na história no último parágrafo (caso de Segunda Alvorada [apesar de eu precisar admitir que não compreendi completamente o conto OU seu final, mesmo tendo lido ele duas vezes] e Esconder e Procurar) outras te fazem abrir um sorriso diante de um chiste extremamente espirituoso (como em Viage por Fio! e Lição de História) e outras te convidam à fechar o livro e refletir sobre a sensação da viagem que tu terminou de empreender (como é o caso de A Sentinela e Abandonado). 

Particularmente, considero O Despertar de um horror legitimamente Lovecraftiano como poucas coisas que li fora da obra do criador do Chutulhu, enquanto Segunda Alvorada me deu várias idéias inspiradoras (que eu creio que acabarão por permitir que eu escreva, ao menos, um conto) enquanto tanto A Sentinela quanto Esconder e Procurar são duas daquelas obras que, se eu fosse um quadrinista,  eu definitivamente transportaria pra HQ  só pelo prazer. 

Uma versão integral, que inclua Death and the Senator, o conto decepado dessa versão lusitana, é leitura fortemente recomendada! Claro que, considerando que provavelmente tal obra só exista em inglês, e que nem todos consideram esse idioma exatamente acessível, a versão desfalcada da coleção Argonauta é uma alternativa absolutamente adequada.

(e se alguém souber da existência de uma versão integral, traduzida ou no original, vagando por aí sem rumo, por favor, enviem ela pra cá!)

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