quinta-feira, 21 de junho de 2012

Yule


Pois então chegou Yule. A época do ano que eu gosto de tirar pra fazer o balanço e refletir. Quando o inverno começa, quando o frio se anuncia, eu penso que é hora de organizar o pensamento, chegar em Yule com a alma leve e decidida.

Mas esse ano? Esse ano o frio da alma era maior que o do corpo. O fogo não fez sumir essa confusão toda. O inicio do frio trazia promessas que se perderam, tanta coisa se transformou e se despedaçou, e eu não consegui realmente pensar, refletir sobre nada. Meu coração é um turbilhão de dúvidas, certezas amargas e caminhos incertos.

Yule é época de recomeços e renascimentos. E sempre foi assim pra mim. Sentar na beira do fogo, com um bom vinho vagabundo e meia duzia de bergamotas ainda não tão doces assim, e há alguns, a última leva de pinhões da casa, guardada especialmente pra essa noite. O fogo é aceso com presteza, por conta do frio, e depois de alguns minutos tendo certeza que ele vai mesmo se manter, eu sento ali, no calor, meio enroscado no meu velho casaco e repenso todo o ano anterior, fazendo os planos pro próximo ano, me preparando pra aproveitar o frio do inverno e reconfortado em saber que em Imbolc o frio vai estar bom pra outro fogo, que aqueles desejos plantados em Yule vão ter crescido e estarão começando a brotar fortes!

No primeiro frio do inverno, eu tracei o primeiro plano pra Yule. Comemoraria uns dias mais cedo, pra poder estar acompanhado e, pela primeira vez, dividir reflexões e planos. E quando os pinhões começaram a rarear, separei um bom punhado deles, ainda gordos e brilhantes. Eu sabia que este Yule seria mais farto, mais completo, pela primeira vez. Cheio de planos bons!

Mas o inverno veio, e a medida que os dias frios avançaram meus planos foram morrendo. Finalmente, em algum ponto entre aquele dia frio e feliz de promessa de inverno e a noite de Yule, além de planos descontinuados, vieram incertezas e promessas macabras. os planos que eu consegui traçar não chegam a ser planos, só esperas.

Só o que pude pensar, sentado na beira do fogo, com aquelas bergamotas meio azedas e um embornal de pinhões crus foi que esperança é a única coisa que eu não posso perder nesse inverno. Que se não há planos, só esperas incertas, eu tenho que reunir toda a minha vontade pra que estas esperas se façam valer.  Se só me resta aguardar Imbolc e desejar que alguma coisa floresça desse tereno revolvido e sem nada plantado que ficou de Yule, eu devo procurar, observar e cultivar tudo o que germinar.

A noite de Yule foi muito triste, e o inverno que se anuncia será longo, solitário e muito, muito frio, mas nem assim eu me permitirei deixar morrer aquela chama que ainda queima no meu peito.

E se Yule não foi o que eu esperava, foi uma lembrança que não posso desistir. Que preciso ter esperança de que no próximo ano as bergamotas estarão mais doces, os pinhões mais fartos e a companhia presente!

6 comentários:

  1. ... :/
    arrebatou-me, pois identifiquei-me, exceto com o oximoro do vinho (kkkk); e... o terreno... revolvido - sem nada - pois, procuraremos, então, alguma germinação, levarei como um alvitre.

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    1. Lamento pela identificação. Não é absolutamente reconfortante saber que alguém possa se sentir dessa forma, mesmo pela empatia gerada.

      Mas sim, sigamos procurando, nem que de joelhos, por qualquer promessa de germinação. E que meus olhos sejam capazes de perceber quando algo valer a pena...

      Mas perceba que quando falo em vinho vagabundo, nada tem de retórico nisso. Eu realmente gosto de um "bom vinho ruim"! ^^

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  2. ...mas eu percebi, e ratifico que realmente não gosto desses tipos de "vinhos" só consigo engoli-los uma vez. Estou vendo agora... o meu comentário foi muito pessoal, em detrimento da "embriaguez" da insônia, penso que devo apagá-lo.

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    1. Eu tenho problemas com os "bons" vinhos (secos). Prefiro bebidas doces...

      Eu penso que comentários pessoais tendem a ser pessoais. Fica a vontade para apagar o comentário, mas devo deixar um protesto quanto à essa decisão.

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  3. Protesto aceito, mas as bebidas doces... no máximo um pisco ou as de colheitas tardias. Acho que não cabe aqui discussões etílicas, mas... em outra ocasião, gostaria de saber a precedência desses vinhos secos que falas. ;)

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