quinta-feira, 21 de junho de 2012

Pesadelos

Hoje estava aqui dando uma arrumada no atelier, depois de pintar o lugar parcialmente, e encontrei uma pasta muito, muito velha, dessas de couro com fecho de metal, como as clássicas pastas de executivos. Cheirando a mofo, uma coisa fantástica... Abri a coisa, meio curioso, meio preocupado. 

Foi uma viagem ao passado. Milhões de poemas velhos - Deuses, como eu escrevia mal! - fichas de personagens, anotações de campanhas, rascunhos de cartas, resumos de aulas do ILA e conversas escritas em pedaços rasgados de papel entre mim e colegas de faculdade. Foi fantástico lembrar aquele tempo! Lembrar como eu era ingênuo, como eu sabia tão pouco de tudo, e como isso era absolutamente perfeito na época!

Algumas preciosidades apareceram: um cartaz de live, um rascunho pra uma capa de CD de uma banda que nunca aconteceu, contos e poemas de amigos, letras de músicas escritas por gente que já morreu... 

Tudo isso datado de 1999. Os desenhos tinham datas - nessa época eu usava datação nos meus desenhos - assim como as anotações de aula, e até algumas conversas tinham a data de 99. Não foi uma viagem pra um passado aleatório, ou pra uma época muito abrangente. Viajei de volta à um ano específico. Com um cigarro e um copo de coquetel, lembrei que na época eu não fumava nem bebia... Lembrei que não tinha namorado, e que aquelas amigas com quem eu conversava eram gurias com quem eu gostaria de namorar - não, em 99 eu nunca tinha namorado, ficado, beijado... Nada! 

Então, encontrei um envelope. Uma coisa verlha e manchada de ferrugem, sem nenhuma anotação externa. Dentro, um grosso volume de papéis dobrados em quatro. Abri, e dei uma olhada na primeira e percebi que se tratava de uma anotação rápida, nervosa, difícil de ler. 

Era um pesadelo. 

Contei as folhas. 12. Doze recordações dolorosas de noites interrompidas. 

Sofro de pesadelos desde que me lembro. Na verdade, eu raramente sonho - conto nos dedos de uma mão todos os sonhos que tive, excluídos os pesadelos, entre recorrentes e totalmente novos e inéditos...

Assim, decidi dar uma olhada naqueles garrachos nervosos. Aquela curiosidade mórbida de saber se ali haveriam alguns dos meus pesadelos recorrentes, se eu já havia sonhado com alguma daquelas coisas recentemente. Um momento de puro prazer masoquista dos auto-destrutivos. 

Um pesadelo recorrente. apesar de achar difícil ler, reconheci todos os sentimentos, as imagens. Mas a linguagem era estranha... Palavras que eu nunca usei, ou tempos verbais estranhos. Aquilo me causou uma sensação estranha, um medo esquisito, não sei bem como definir. 

Mas o horror se deu quando eu cheguei ao final da leitura. A última frase era:
"E acordei. Tateei Domênico ao meu lado e abracei-o, enquanto ele tentava, muito confuso, confortar-me." 

Levei um susto. Um frio me subiu pelo corpo. Peguei as outras folhas e li o final. Mais duas me mencionavam! 

Li os outos pesadelos. Um outro - dos quais eu não "aparecia" - era um dos meus pesadelos recorrentes. Os outros não são pesadelos que lembro de ter tido. 

Agora, estou aqui, tentando entender... Se não fui eu, quem escreveu isso? E como eu posso ser mencionado em 99, quando eu nunca tinha dormido com alguém? Se não era desse ano, então porque estão naquela pasta? Diabos, eu nem sequer consigo lembrar de ter sido acordado por uma das minhas namoradas por causa de um pesadelo!

E como alguém poderia ter os mesmos pesadelos que eu?!? 

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