Eu tinha curiosidade de ler esse livro há algum tempo. Li outros três livros do Gaiman (Coisas Frágeis, Os Filhos de Anansi e Belas Maldições, esse último em co-autoria com Terry Pratchett, e que não tem uma resenha aqui no Café com Letra porque foi lido bem antes do blog existir), uma boa parte de Sandman (não, nunca cheguei a terminar, me julguem) e uma sofrível versão em quadrinhos de Lugar Nenhum (também pré-café-com-letra). Apesar de não ser um grande fá do Gaiman, os livros dele nunca me decepcionaram até aqui, o que significa que vou continuar lendo coisas dele no futuro - alias, Belas Maldições, assim como O Dia do Coringa, do Jostein Gaarder, já venceram a data de validade na minha memória, e nunca ganharam resenhas aqui.
Eu e minha mania de divagar...
Bom, uma amiga me emprestou o livro esses tempos, e logo depois de terminar Os Herdeiros da Terra, passei o livro na frente dos outros sem pestanejar.
O livro segue as desventuras de Shadow, um ex-presidiário grandalhão - apesar de quase todo mundo no livro ser maior do que ele... - e aparentemente meio retardado que tem fixação por truques com moedas. De fato, o livro começa com Shadow ainda na prisão, dias antes de ser solto. Na sequencia, ele é contatado por Odin (sim, esse é um spoiler, mas se tu não identifica um velhote cinzento que se chama Wednesday, tem um olho de vidro e sempre aparece onde precisa estar, num livro com a palavra Deuses no título, é melhor voltar pras enciclopédias de mitologia antes de ler essa obra, porque com poucas exceções, as referências à mitologia nesse livro são extremamente obscuras, e sem entender elas o livro deve ser extremamente frustrante) como "empregado genérico", sabe-se lá porque. Alias, a maior parte das informações do livro é entregue em migalhas pequenas, muito pequenas, e nada parece fazer muito sentido, no início. As coisas vão se encaixando só lá pelo final - apesar de, em alguns casos, eu ter ficado completamente sem entender algumas passagens mesmo depois de terminar a leitura.
A escrita de Deuses americanos é lenta e arrastada, e a trama segue essa lógica. Aqui e ali, entre os capítulos, aparece um conto solto explicando a chegada de alguma divindade nos EUA (onde, deve ser meio óbvio, o livro se passa) ou seu comportamento nos dias contemporâneos. Essa é uma sacada genial do livro, e é lamentavel que não hajam mais contos no livro que sigam essa mesma lógica.
enquanto isso, a narrativa principal vai de um clima tarantinesco à slices of life morno, passando por alguma psicodelia e até um pouco de drama policial. É um livro definitivamente esquizofrênico e consideravelmente complexo de digerir. Ainda assim (ou por conta disso) é um bom livro, digno de leitura.
Em tempo: Shadow o protagonista, reflete muito bem seu nome em termos de personalidade. ele é só a sombra de um homem. Sem objetivos claros, passivo, apático e completamente esquecível. Creio fortemente que essa foi a intenção de Gaiman em relação ao personagem, e apesar de ser benéfico pra trama, traz um sério problema de identificação pro leitor. Seguir shadow em seu desenvolvimento - e ele é muito mais do que aparenta - é uma tarefa por vezes escruciante, justamente porque ele não mostra curiosidade sobre as bizarrices que vivencia ao longo da trama (bizarrices essas que deixam o leitor extremamente curioso) nem faz escolhas muito claras, quando faz, o que deixa a trama seguir sempre um rumo meio sem sentido. No final da leitura, no entanto, é possível entender porque Wednesdey tinha tanto interesse nele, e essa apatia toda se faz entender.
Ao longo da trama, temos outros personagens interessantíssimos que interagem com Shadow e que fazem a leitura valer realmente a pena. Menção especial ao Sr. Nancy que, mais tarde, seria a figura central ao redor de quem os eventos do livro Os Filhos de Anansi girariam.
O livro vai ganhar uma versão em série, escrita por Gaiman, em 2016. Não fiquei extremamente empolgado com a notícia, mas admito que me bateu uma certa curiosidade de saber se eles vão incluir a cena da Bilquis na série - ou como eles fariam isso.
quarta-feira, 18 de novembro de 2015
sexta-feira, 6 de novembro de 2015
The Hobbit: The Tolkien Edit
Bom, eu venho ensaiando há algum tempo pra postar alguma coisa sobre cinema aqui no Café com Letra, mas não tinha achado nada que valesse realmente a pena. Digo, eu poderia fazer umas 10 postagens sobre Star Trek, por exemplo, mas teria muito pouco à ver com café ou com leitura.
Mas, alguns meses atrás, trombei com essa versão editada "By the book" do Hobbit, e finalmente assisti. A propostas do sujeito (que não consegui descobrir o nome) é simples: Tirar toda a "sujeira" dos filmes, deixando eles mais fiéis ao livro. Vejam, eu não sou exatamente um purista: as mudanças que o Peter Jackson fez no Senhor dos Anéis, como aumentar o papel da Arwen, remover completamente Glorfindel e a passagem pela Floresta Velha (levando pro limbo Tom Bombadil, Old Man Willow [como é o nome dessa "coisa" em português...?] e Fruta D'ouro) nunca me incomodaram. De fato, eu gostei de praticamente cada mudança feita.
O mesmo, infelizmente, não pode ser dito sobre O Hobbit. O troço virou um jogo de videogame, com perseguições mirabolantes, golpes pra todo lado, ataques de orcs a cada 10 minutos de filme... Isso sem contar a absolutamente desnecessária introdução da Tauriel pra fazer um par romântico Romeu E Julieta com um anão! Como assim, velho? Elfo e anão? De onde isso, porra! Se bem que todos os anões "principais" eram meio elfos, na verdade. Magrinhos, saradinhos, com pouca barba.
Alias, me pareceu na verdade que metade daquela comitiva era de Hobbits...
Alias, me pareceu na verdade que metade daquela comitiva era de Hobbits...
Mas voltando à versão editada da trilogia!
Basicamente, o que o autor fez foi tirar praticamente todas as aparições dos personagens e cenas que não aparecem no livro. Assim, Legolas aparece uma vez (mas não é identificado pelo nome) e eu enxerguei a Tauriel ao fundo, em duas cenas. O Radagast foi completamente removido, bem como a batalha contra o Necromante e também o "confronto" com Smaug (não, nada de banho de ouro!). Também, a maioria das batalhas aleatórias contra os orcs (o que causa uma descontinuidade considerável, porque quando as Águias aparecem na Batalha dos Cinco Exércitos, o Bilbo fica gritando "As Águias, elas vieram!" tu fica viajando "Águias...? Vieram de onde?" porque o resgate dos anões pelas Águias também foi removido). Essa cena, bem como a introdução foram as únicas "perdas" do filme - a introdução em si, aquele CGIzão brabo, eu não dei muita bola, mas o filme meio que começa começando... A cena do Frodo e do Bilbo no Condado podia ter sido mantida numa boa. Mas, colocando na balança perdas e ganhos, definitivamente essa versão tem muito mais prós do que contras!
De fato, a narrativa agora vai num crescendo muito bom, com a Batalha dos Cinco Exércitos sendo um clímax emocionante (não "Oh, mais orcs... Vamos bater em orcs mais uma vez...") e o filme fica muito mais centrada no Bilbo e no Thorin (já que não temos toneladas de cenas extras com Legolas legolando, Tauriel se engraçando e Radagast se sujando). Essa é uma versão que pode ser adicionada numa maratona de Senhor dos Anéis, ao contrário da inchada e mirabolante versão oficial.
Em tempo: Eu assisti o primeiro filme, e o terceiro do meio pro final. Admito que não "senti falta" de nada. Essa versão ficou bem divertida, com todas as cenas importantes e muito bem "enxugada" com relação à versão oficial! Vale a pena assistir!
Aqui, a página com a versão editada - incluindo explicações mais detalhadas sobre a proposta, algumas imagens de referência e vídeos com cenas relevantes. Tem links pro torrent do filme logo depois do primeiro vídeo da página. Eu não sei como "linkar links", então só posso deixar essa dica! E tem legendas, no final da postagem - apesar de eu desconfiar que a legenda marcada como português é lusitana - eu não sei, não tinha legendas disponíveis na época em que eu assisti.
Bom, acho que é isso! Bom divertimento!
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terça-feira, 3 de novembro de 2015
Astronauta - Magnetar
Li essa edição em São Lourenço, na última visita que fiz à cidade, pra Südoktoberfest - que, lamentavelmente, teve só um dia, por conta das chuvas intensas. Uma pena. Gostaria, inclusive, de publicamente apoiar a idéia do Luciano Abel de transferir o evento pra fevereiro - inclusive, gostaria de sugerir que coincidisse com o Carnaval! Ia ser ótimo ter um lugar pra tomar shopp, comer rivelsbach e ver umas alemõas pedaçudas e no processo fugir da lamentável festa da mulata, caipirinha e DSTs. Tá lançada oficialmente a campanha Februarsüdoktoberfestkarneval!
Mas enfim, e a HQ?
Pois é, a HQ.
Achei bem ruim. Não gostei de absolutamente nada da edição. O "redesign" do Astronauta deixou ele genérico - ele basicamente perdeu totalmente o "modelo bola" do traje - que ficou menos arredondado do que um traje espacial real! Poxa, custava mesmo ter deixado ele mais arredondado? A história em sí é basicamente um Robison Crusoé no espaço, com um chatíssimo monólogo "não vou desistir, mesmo que eu fique doido!" Infelizmente, a história não permite que o leitor realmente sinta solidão - o "indicador de tempo" são basicamente duas páginas com nove quadros repetidos e reduzidos à metade numa tentativa de demonstrar quanto tempo se passou, mas a narrativa simplesmente não atinge o objetivo.
Finalmente, algumas coisinhas técnicas me incomodaram . A primeira delas é que o tal Magnetar do título tem características de um Pulsar. Ok, isso é coisa técnica de chato que lê muita ficção científica, mas pô, custava ter pesquisado um pouco mais...? O que realmente me incomodou é que, lá pelas quebradas da história, o tal Magnetar emite uma onda de energia - não lembro de que tipo, exatamente - e o Astronauta, em um momento de vida ou morte... Esquiva! De uma onda! De energia! Saltando pro lado! Sério isso, minha gente? O autor cria uma tensão, e eu fiquei imaginando que solução genial o Astronauta ia conseguir criar em segundos pra se proteger da onda de energia e daí ele... Pula pro lado. Ali o autor me perdeu.
Até cheguei a pegar a segunda HQ - Singularidade - pra ler, mas o troço já começa meio existencialista e não, não rolou.
Em tempo: Não lembro de ter lido nada do Astronauta. O que significa que não tenho nenhum apego emocional pelo personagem, mas também não tinha nenhum pré-conceito antes de ler a história. Estava esperando qualquer coisa. E realmente, "qualquer coisa" define essa HQ.
E não, não vou colocar o marcador ficção científica nessa resenha. Um personagem que esquiva de uma onda de energia não merece entrar nessa categoria - ficção, sim, científica, jamais!
Mas enfim, e a HQ?
Pois é, a HQ.
Achei bem ruim. Não gostei de absolutamente nada da edição. O "redesign" do Astronauta deixou ele genérico - ele basicamente perdeu totalmente o "modelo bola" do traje - que ficou menos arredondado do que um traje espacial real! Poxa, custava mesmo ter deixado ele mais arredondado? A história em sí é basicamente um Robison Crusoé no espaço, com um chatíssimo monólogo "não vou desistir, mesmo que eu fique doido!" Infelizmente, a história não permite que o leitor realmente sinta solidão - o "indicador de tempo" são basicamente duas páginas com nove quadros repetidos e reduzidos à metade numa tentativa de demonstrar quanto tempo se passou, mas a narrativa simplesmente não atinge o objetivo.
Finalmente, algumas coisinhas técnicas me incomodaram . A primeira delas é que o tal Magnetar do título tem características de um Pulsar. Ok, isso é coisa técnica de chato que lê muita ficção científica, mas pô, custava ter pesquisado um pouco mais...? O que realmente me incomodou é que, lá pelas quebradas da história, o tal Magnetar emite uma onda de energia - não lembro de que tipo, exatamente - e o Astronauta, em um momento de vida ou morte... Esquiva! De uma onda! De energia! Saltando pro lado! Sério isso, minha gente? O autor cria uma tensão, e eu fiquei imaginando que solução genial o Astronauta ia conseguir criar em segundos pra se proteger da onda de energia e daí ele... Pula pro lado. Ali o autor me perdeu.
Até cheguei a pegar a segunda HQ - Singularidade - pra ler, mas o troço já começa meio existencialista e não, não rolou.
Em tempo: Não lembro de ter lido nada do Astronauta. O que significa que não tenho nenhum apego emocional pelo personagem, mas também não tinha nenhum pré-conceito antes de ler a história. Estava esperando qualquer coisa. E realmente, "qualquer coisa" define essa HQ.
E não, não vou colocar o marcador ficção científica nessa resenha. Um personagem que esquiva de uma onda de energia não merece entrar nessa categoria - ficção, sim, científica, jamais!
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segunda-feira, 26 de outubro de 2015
Os Herdeiros da Terra
Poul Anderson é um escritor de livros de ficção científica "sessão da tarde" pelo qual eu adquiri um gosto considerável desde que conheci - essa literatura pipoca dele é muito boa pra limpar a cabeça de livros densos, e tem algumas idéias legais, aqui e ali. Os livros dele funcionam como uma espécie de "alívio cômico" entre livros mais sóbrios.
Mas, no caso desse livro específico, não foi o estilo típico do autor que me levou a escolher esse livro pra ler, mas sim curiosidade. Primeiro, o livro tem dois autores (Gordon Eklund tmabém assina o livro), e livros escritos à "quatro mãos" não são tão comuns assim - o último que eu li foi Belas Maldições, há tanto tempo atrás que o Café com Letra nem existia ainda! Além disso, conhecendo bem o estilo de Anderson - mesmo que só em traduções - eu queria ver se conseguia perceber alguma diferença na escrita por conta de um segundo autor. Além de tudo isso, tem um pseudo-Flash Gordon na capa; o nome do segundo autor é Gordon... Pensei "será que tem alguma sacadinha marota aí aí?".
(além disso, preciso perguntar: Mais alguém enxerga um Grimch com uma cara safadinha desenhado naquela lua...?)
Bom, o livro começa estranho, com pessoas num futuro distante não sendo capazes de ter uma conversa funcional, com delírios bizarros e argumentações sem sentido. Tem uma citação ao livro do Vogt, Slan, logo no começo do segundo capítulo, o que eu admito ter achado uma coincidência bastante relevante já que li Slan a pouco mais de um mês atrás.
No decorrer do livro, descobrimos que o protagonista - e mais meia dúzia de caras de um tal Círculo interno - são mutantes, auto-proclamados de superiores (tem uma tirada com o Super-Homem e suas cuecas vermelhas quando o protagonista está explicando o nome) capazes de lerem "irradiações" das pessoas, algo como saber o que as pessoas estão sentindo e, de forma limitada, o que eles estão pensando. Um deles, particularmente poderoso, consegue enviar imagens, em condições ideais. Eles são, também, tecnicamente mais inteligentes do que humanos normais. O protagonista, um gênio da manipulação genética, criador de clones artificiais, e em torno de quem a trama gira por conta de toda sua genialidade, demonstra o tempo todo que a tal superioridade da raça é uma falácia. A leitura de Irradiações é completamente inútil: a maioria das pessoas confunde ele, e os que sabem que eles podem usar o poder basicamente "não irradiam" ou irradiam informações erradas de propósito. De fato, em geral a capacidade de ler "irradiações" é mais um fardo do que um benefício, já que eles não controlam a recepção, o que é bastante problemático quando alguém está morrendo e irradia desespero além do que o cara pode suportar... Além disso, apesar de ser um "gênio", o cara não tem conhecimento de mundo, tudo precisa ser explicado nos mínimos detalhes pra ele porque ele não é capaz de fazer extrapolações. Pra fechar com chave de ouro, os tais Superiores têm ataques de psicose regulares. Ah, e são estéreis. Te falo em superioridade...
Mas o fato dos Superiores na verdade serem bem mais instáveis do que os humanos nem é o grande problema do livro. O grande problema é a pegada humanitária. O livro passa o tempo todo passando lições de moral sobre a humanidade, as escolhas das maiorias e das minorias, a influência das ações de uns na vida dos outros... É uma chateação sem fim! E apesar da trama principal ser o conflito entre três "raças", o livro é mais parado do água de poço. Eklund, aparentemente, tem uma queda por filosofia que simplesmente destrói a narrativa mais solta de Anderson. Quando as coisas começam a ficar interessantes, lá vamos nós pra outra reflexão sobre humanidade, sentido da vida e coisas do gênero...
Os Herdeiros da Terra é, na minha opinião, um livro ruim. Sem sentido, com um final que deixa tudo no ar, e o caminho até o final é basicamente uma viagem filosófica através de uma sociedade futurista que não é explicada. Basicamente, um livro sem fundamento.
Meu gosto por Poul Anderson não foi estragado por esse livro - de fato, esse livro só serviu pra eu saber que o tal Gordon Eklund é um autor à ser evitado.
Mas, no caso desse livro específico, não foi o estilo típico do autor que me levou a escolher esse livro pra ler, mas sim curiosidade. Primeiro, o livro tem dois autores (Gordon Eklund tmabém assina o livro), e livros escritos à "quatro mãos" não são tão comuns assim - o último que eu li foi Belas Maldições, há tanto tempo atrás que o Café com Letra nem existia ainda! Além disso, conhecendo bem o estilo de Anderson - mesmo que só em traduções - eu queria ver se conseguia perceber alguma diferença na escrita por conta de um segundo autor. Além de tudo isso, tem um pseudo-Flash Gordon na capa; o nome do segundo autor é Gordon... Pensei "será que tem alguma sacadinha marota aí aí?".
(além disso, preciso perguntar: Mais alguém enxerga um Grimch com uma cara safadinha desenhado naquela lua...?)
Bom, o livro começa estranho, com pessoas num futuro distante não sendo capazes de ter uma conversa funcional, com delírios bizarros e argumentações sem sentido. Tem uma citação ao livro do Vogt, Slan, logo no começo do segundo capítulo, o que eu admito ter achado uma coincidência bastante relevante já que li Slan a pouco mais de um mês atrás.
No decorrer do livro, descobrimos que o protagonista - e mais meia dúzia de caras de um tal Círculo interno - são mutantes, auto-proclamados de superiores (tem uma tirada com o Super-Homem e suas cuecas vermelhas quando o protagonista está explicando o nome) capazes de lerem "irradiações" das pessoas, algo como saber o que as pessoas estão sentindo e, de forma limitada, o que eles estão pensando. Um deles, particularmente poderoso, consegue enviar imagens, em condições ideais. Eles são, também, tecnicamente mais inteligentes do que humanos normais. O protagonista, um gênio da manipulação genética, criador de clones artificiais, e em torno de quem a trama gira por conta de toda sua genialidade, demonstra o tempo todo que a tal superioridade da raça é uma falácia. A leitura de Irradiações é completamente inútil: a maioria das pessoas confunde ele, e os que sabem que eles podem usar o poder basicamente "não irradiam" ou irradiam informações erradas de propósito. De fato, em geral a capacidade de ler "irradiações" é mais um fardo do que um benefício, já que eles não controlam a recepção, o que é bastante problemático quando alguém está morrendo e irradia desespero além do que o cara pode suportar... Além disso, apesar de ser um "gênio", o cara não tem conhecimento de mundo, tudo precisa ser explicado nos mínimos detalhes pra ele porque ele não é capaz de fazer extrapolações. Pra fechar com chave de ouro, os tais Superiores têm ataques de psicose regulares. Ah, e são estéreis. Te falo em superioridade...
Mas o fato dos Superiores na verdade serem bem mais instáveis do que os humanos nem é o grande problema do livro. O grande problema é a pegada humanitária. O livro passa o tempo todo passando lições de moral sobre a humanidade, as escolhas das maiorias e das minorias, a influência das ações de uns na vida dos outros... É uma chateação sem fim! E apesar da trama principal ser o conflito entre três "raças", o livro é mais parado do água de poço. Eklund, aparentemente, tem uma queda por filosofia que simplesmente destrói a narrativa mais solta de Anderson. Quando as coisas começam a ficar interessantes, lá vamos nós pra outra reflexão sobre humanidade, sentido da vida e coisas do gênero...
Os Herdeiros da Terra é, na minha opinião, um livro ruim. Sem sentido, com um final que deixa tudo no ar, e o caminho até o final é basicamente uma viagem filosófica através de uma sociedade futurista que não é explicada. Basicamente, um livro sem fundamento.
Meu gosto por Poul Anderson não foi estragado por esse livro - de fato, esse livro só serviu pra eu saber que o tal Gordon Eklund é um autor à ser evitado.
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terça-feira, 13 de outubro de 2015
As Vozes de Marte
Quando comprei os dois livros do Vogt que resenhei aqui, comprei também alguns outros livros da coleção Argonautas que foram, digamos, mais "garantidos". Um par de Arthur C. Clarks e um Ray Bradbury, que decidi ler pra tirar o gosto ruim que A Guerra dos Deuses me deixou na boca.
Esse livro é, como todos os outros livros do Bradbury que li até agora, uma coletânea de contos. Não consegui achar nada em comum entre todos os contos, apesar de um punhado deles ter um sotaque irlandês - alguns se passam na Irlanda, outros tem personagens de lá. Como também é comum nos livros de contos de Bradbury, o tema, humor e ânimo de cada conto é bastante particular. Assim, dos dez contos presentes no livro, nunca há como escolher um "melhor". Há, em geral, aquele que "funciona melhor" dependendo do estado de espírito do leitor, penso.
No caso desse livro, o conto que lhe dá título foi uma idéia que eu, particularmente, achei inspirada. Uma interessante mistura de Frankenstein com Dr. Jeckil e Mr. Hide em algum lugar de Marte. Coisa fina. 'Sim, Todos Nos Reuniremos Junto ao Rio' também é espetacular. É um daqueles contos em que Bradbury veste seus mais confortáveis sapatos de caminhada e te leva pra dar uma volta por alguma cidadezinha pacata perdida no tempo. Mas, definitivamente, 'Brisa de Verão, Vento de Inverno' foi, pra mim, o conto mais 'adequado'. Não me identifiquei com nenhum dos personagens em particular, mas sim com todos eles! E é uma discussão muito bem tratada e levantada com uma leveza impar sobre o pré-conceito. Sem falar, é claro, da excelente narrativa - que sempre esta presente nos livros de Bradbury.
Definitivamente, um excelente livro! Rápido, fácil, mas nem um pouco simples; exatamente o que se espera de um livro de Bradbury.
Leitura fortemente recomendada!
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quinta-feira, 8 de outubro de 2015
A Guerra dos Deuses
A Guerra dos Deuses (the book of Ptath no original) é um livrinho de bolso que recentemente comprei com uma leva de outros livros de ficção científica - junto com outro livro do mesmo autor, E. A. Van Vogt, Slan, que resenhei aqui recentemente.
Esse é um livrinho de bolso, da coleção Argonauta - escrito em lusitano, mas como era um livro suficientemente antigo, não afetou a leitura. Interessante como o lusitano antigo é mais parecido com o brasileiro do que o português de portugal contemporâneo - ou há uma preocupação de agradar os dois públicos com essas publicações da coleção Argonauta, não sei.
Mas enfim! Vamos ao livro em si!
A Guerra dos Deuses - alias, uma das poucas traduções que eu achei melhores que o original; se o livro se chamasse "O Livro de Ptath", eu provavelmente não teria comprado. A Guerra dos Deuses ficou commuito mais apelo. Apesar de eu ter comprado o livro mais pela ilustração da capa... - é um livro interessante, cheio de boas idéias. Infelizmente, todas elas mal utilizadas... Pthat, o nosso protagonista, é um Deus redivivo membro de uma tríade de divindades ancestrais. Aparentemente, o livro se passa na terra, em um futuro muito, muito distante - 200 milhões de anos no futuro, ou algo assim. Os problemas começam por aí. 200 milhões de anos no futuro, nosso sol já vai ter entrado em supernova, e a vida na terra não vai mais ser possível. Ok, não é um livro de hard fiction, mas me incomodou o uso de números tão grandes sem necessidade. Alias, falando em números grandes, outro ponto problemático é a quantidade de gente no planeta: Os três reinos cuja população é mencionada no livro, Gowonlane (aparentemente a antiga Austrália) e o Accadistran (a antiga Europa) e Nushirvan (a antiga América do Norte) têm, respectivamente, 54 mil milhões de pessoas, 19 mil milhões de pessoas e 5 mil milhões de pessoas. Só aí temos um total de 78 bilhões de pessoas - 11 vezes a população da terra atual! Considerando que a tecnologia do planeta aparentemente retornou à agricultura básica, com animais sendo a maior fonte de energia mecânica do planeta (não existem veículos motorizados, nem é mencionado qualquer tipo de indústria) como se alimenta essa quantidade de gente E animais? E estamos falando de três dos continentes do planeta - a América do Sul, vastamente populada, não entra nessa matemática, mas dá pra imaginar que ela tenha uma população considerável, já que é um reino importante. Vamos dizer, 7 mil milhões de pessoas. Imaginem a população atual, vivendo TODA na América do Sul! Todas as pessoas da Asia, Europa, EUA enfim, morando na América do sul! E é importante notar que a Amazônia não só ainda existe nesse cenário como não tem moradores! Cara, de onde sai a comida pra toda essa gente...?
Bom, "detalhes" matemáticos à parte, outra coisa que me incomodou foi o fato de que, 200 milhões de anos no futuro, nosso Ptath renasce sem memória e então é infundido por Ineznia, uma das outras duas deusas, com as memórias de um soldado americano de 1944. Esse sujeito, é claro, salva o dia, numa paródia bizarra de Pocahontas: chamem um americano pra ele salvar o mundo quando, obviamente, os nativos locais não são capazes disso! E o pior é que, antes do tal soldado aparecer, a gente quase simpatiza com Ptath, o desmemoriado...
Pior ainda, é a mensagem de fé que fecha o livro, no melhor estilo "só Jesus Salva". Totalmente desnecessário.
Bom, idas e vindas, A Guerra dos deuses é um livreco lamentável, que desperdiça boas idéias com uma mentalidade tacanha e peca em verossimilhança pra adicionar números astronômicos na tentativa de deixar o leitor estupefato. Depois de dois livros totalmente descartáveis do senhor Van Vogt, ele definitivamente entrou pra minha lista de "autores à serem evitados".
Esse é um livrinho de bolso, da coleção Argonauta - escrito em lusitano, mas como era um livro suficientemente antigo, não afetou a leitura. Interessante como o lusitano antigo é mais parecido com o brasileiro do que o português de portugal contemporâneo - ou há uma preocupação de agradar os dois públicos com essas publicações da coleção Argonauta, não sei.
Mas enfim! Vamos ao livro em si!
A Guerra dos Deuses - alias, uma das poucas traduções que eu achei melhores que o original; se o livro se chamasse "O Livro de Ptath", eu provavelmente não teria comprado. A Guerra dos Deuses ficou commuito mais apelo. Apesar de eu ter comprado o livro mais pela ilustração da capa... - é um livro interessante, cheio de boas idéias. Infelizmente, todas elas mal utilizadas... Pthat, o nosso protagonista, é um Deus redivivo membro de uma tríade de divindades ancestrais. Aparentemente, o livro se passa na terra, em um futuro muito, muito distante - 200 milhões de anos no futuro, ou algo assim. Os problemas começam por aí. 200 milhões de anos no futuro, nosso sol já vai ter entrado em supernova, e a vida na terra não vai mais ser possível. Ok, não é um livro de hard fiction, mas me incomodou o uso de números tão grandes sem necessidade. Alias, falando em números grandes, outro ponto problemático é a quantidade de gente no planeta: Os três reinos cuja população é mencionada no livro, Gowonlane (aparentemente a antiga Austrália) e o Accadistran (a antiga Europa) e Nushirvan (a antiga América do Norte) têm, respectivamente, 54 mil milhões de pessoas, 19 mil milhões de pessoas e 5 mil milhões de pessoas. Só aí temos um total de 78 bilhões de pessoas - 11 vezes a população da terra atual! Considerando que a tecnologia do planeta aparentemente retornou à agricultura básica, com animais sendo a maior fonte de energia mecânica do planeta (não existem veículos motorizados, nem é mencionado qualquer tipo de indústria) como se alimenta essa quantidade de gente E animais? E estamos falando de três dos continentes do planeta - a América do Sul, vastamente populada, não entra nessa matemática, mas dá pra imaginar que ela tenha uma população considerável, já que é um reino importante. Vamos dizer, 7 mil milhões de pessoas. Imaginem a população atual, vivendo TODA na América do Sul! Todas as pessoas da Asia, Europa, EUA enfim, morando na América do sul! E é importante notar que a Amazônia não só ainda existe nesse cenário como não tem moradores! Cara, de onde sai a comida pra toda essa gente...?
Bom, "detalhes" matemáticos à parte, outra coisa que me incomodou foi o fato de que, 200 milhões de anos no futuro, nosso Ptath renasce sem memória e então é infundido por Ineznia, uma das outras duas deusas, com as memórias de um soldado americano de 1944. Esse sujeito, é claro, salva o dia, numa paródia bizarra de Pocahontas: chamem um americano pra ele salvar o mundo quando, obviamente, os nativos locais não são capazes disso! E o pior é que, antes do tal soldado aparecer, a gente quase simpatiza com Ptath, o desmemoriado...
Pior ainda, é a mensagem de fé que fecha o livro, no melhor estilo "só Jesus Salva". Totalmente desnecessário.
Bom, idas e vindas, A Guerra dos deuses é um livreco lamentável, que desperdiça boas idéias com uma mentalidade tacanha e peca em verossimilhança pra adicionar números astronômicos na tentativa de deixar o leitor estupefato. Depois de dois livros totalmente descartáveis do senhor Van Vogt, ele definitivamente entrou pra minha lista de "autores à serem evitados".
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quinta-feira, 10 de setembro de 2015
Slan
Quando eu li o título desse livro, eu pensei automaticamente em Slanns - apesar de saber que obviamente não tinha nenhuma relação. Realmente, não tem - eu procurei algum tipo de possível co-relação entre as das raças por toda a leitura, e não há nenhuma. então não procurem esse livro pelo fandon, Warhammers!
Um aviso: Haverão revelações sobre a trama ao longo dessa resenha - o livro foi escrito em 1940, em primeiro lugar, e em segundo, é muito difícil falar sobre as minhas impressões sem revelar algumas partes da trama.
Dito isso, vamos à resenha em si:
Slan é sobre uma raça de mutantes descobertos 400 anos antes do começo da história narrada no livro (por um cientista chamado S. Lan, daí o nome da raça). Os Slans são humanos com capacidades físicas e mentais muito superiores às dos humanos, mais fortes, mais rápidos, muito mais inteligentes e com uma capacidade de aprendizado muito superior à dos humanos, principalmente por conta de serem capazes de ler pensamentos. Fisicamente, além de algumas diferenças internas - eles tem dois corações, por exemplo - eles diferem dos humanos por apresentarem, na cabeça, uma série de vibrissas, que são os órgãos responsáveis por sua capacidade de telepatia - e o modo mais simples de reconhecê-los.
Graças as suas capacidades, os Slans se consideraram, em algum momento, como os líderes de direito
da raça humana, o que levou à uma guerra entre as duas raças. Os Slans foram derrotados, e subsequentemente perseguidos e exterminados. Mas aparentemente a mutação responsável pela criação dos Slans é natural dos seres humanos, e volta e meia aparece algum deles por aí. E o livro conta, justamente, a história de um deles, Jomny, um jovem Slan em busca da verdade, de outros de sua raça e, claro, de sobrevivência em um mundo que o odeia.
Apesar de um tanto melodramático, Slan tem algumas qualidades. Nada acontece como o esperado. A maioria do conhecimento que Jomny tem é modificado ao longo da trama, em uma reviravolta espetacular. O problema aqui é que isso acontece tantas vezes ao longo do livro - praticamente cada informação que jomny descobre é revelada como uma mentira alguns capítulos mais adiante - que acaba se tornando um pouco chato. No fim, o final do livro acaba ficando extremamente previsível por conta disso.
alias, o final é muito mal explicado. Eu tive que ler os capítulos finais duas vezes, e admito que não entendi direito algumas coisas bastante relevantes. Vogt também decide joga por terra algumas coisas bem legais que construiu ao longo da trama bem no finalzinho do livro, o que estragou um bocado algumas coisinhas que eu tinha realmente gostado da história, e que não precisavam ser mexidas pra tornar a história verossímil ou eficiente.
O livro também parece uma crítica à perseguição contra os judeus durante a Segunda Grande Guerra: um povo perseguido, praticamente exterminado mas ainda considerado "dono do poder" por estar infiltrado em altos escalões do governo.
Não é um livro particularmente bom, do meu ponto de vista, e eu não recomendo a leitura dele particularmente. A visão do futuro de Vogt, ao menos nesse livro, é um tanto obtusa e a tecnologia beira a magia em alguns casos (transmissores mentais, anéis de energia infinita, raios desintegradores) e em outros ainda está na idade média (mídia impressa, revistas na base da apalpadela, inexistência de equipamentos de segurança de qualquer tipo), o ue cria uma série de situações inusitadas.
Em tempo: Estou lendo outro livro do E. A. Van Vogt que está me parecendo bem mais interessante, justamente por misturar magia e tecnologia. Provavelmente vai funcionar melhor, considerando o estilo do autor.
Um aviso: Haverão revelações sobre a trama ao longo dessa resenha - o livro foi escrito em 1940, em primeiro lugar, e em segundo, é muito difícil falar sobre as minhas impressões sem revelar algumas partes da trama.
Dito isso, vamos à resenha em si:
Slan é sobre uma raça de mutantes descobertos 400 anos antes do começo da história narrada no livro (por um cientista chamado S. Lan, daí o nome da raça). Os Slans são humanos com capacidades físicas e mentais muito superiores às dos humanos, mais fortes, mais rápidos, muito mais inteligentes e com uma capacidade de aprendizado muito superior à dos humanos, principalmente por conta de serem capazes de ler pensamentos. Fisicamente, além de algumas diferenças internas - eles tem dois corações, por exemplo - eles diferem dos humanos por apresentarem, na cabeça, uma série de vibrissas, que são os órgãos responsáveis por sua capacidade de telepatia - e o modo mais simples de reconhecê-los.
Graças as suas capacidades, os Slans se consideraram, em algum momento, como os líderes de direito
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Uma ilustração de capa mostrando as vibrissas dos Slans |
Apesar de um tanto melodramático, Slan tem algumas qualidades. Nada acontece como o esperado. A maioria do conhecimento que Jomny tem é modificado ao longo da trama, em uma reviravolta espetacular. O problema aqui é que isso acontece tantas vezes ao longo do livro - praticamente cada informação que jomny descobre é revelada como uma mentira alguns capítulos mais adiante - que acaba se tornando um pouco chato. No fim, o final do livro acaba ficando extremamente previsível por conta disso.
alias, o final é muito mal explicado. Eu tive que ler os capítulos finais duas vezes, e admito que não entendi direito algumas coisas bastante relevantes. Vogt também decide joga por terra algumas coisas bem legais que construiu ao longo da trama bem no finalzinho do livro, o que estragou um bocado algumas coisinhas que eu tinha realmente gostado da história, e que não precisavam ser mexidas pra tornar a história verossímil ou eficiente.
O livro também parece uma crítica à perseguição contra os judeus durante a Segunda Grande Guerra: um povo perseguido, praticamente exterminado mas ainda considerado "dono do poder" por estar infiltrado em altos escalões do governo.
Não é um livro particularmente bom, do meu ponto de vista, e eu não recomendo a leitura dele particularmente. A visão do futuro de Vogt, ao menos nesse livro, é um tanto obtusa e a tecnologia beira a magia em alguns casos (transmissores mentais, anéis de energia infinita, raios desintegradores) e em outros ainda está na idade média (mídia impressa, revistas na base da apalpadela, inexistência de equipamentos de segurança de qualquer tipo), o ue cria uma série de situações inusitadas.
Em tempo: Estou lendo outro livro do E. A. Van Vogt que está me parecendo bem mais interessante, justamente por misturar magia e tecnologia. Provavelmente vai funcionar melhor, considerando o estilo do autor.
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sexta-feira, 14 de agosto de 2015
Robin Hood
Uma versão da clássica história do príncipe dos ladrões publicada pela Companhia das Letrinhas.
Comprei esse livro pelas ilustrações, na verdade. Não são particularmente inspiradas, mas tem alguma coisa legal. Achei interessante que o livro faz uma série de apontamentos históricos. Na verdade, a história em si, fica meio que em segundo plano, contada em pequenos capítulos no meio de um monte de curiosidades sobre possíveis origens da lenda, o modo de vida da época, cruzadas e até um mapa explicando a floresta de Sherwood e seus arredores. O livro termina com um apanhado geral sobre a evolução da lenda, desde suas origens medievais em baladas e poemas até suas adaptações pro cinema.
A história em si apresenta uma série de variações com relação ao que eu conhecia - ou, pelo menos,
não lembrava. Começando pelo nome do protagonista, que eu lembrava de ser Robin de Loxley, não Robert de Huntington. Além disso a disputa com o xerife de Notthinghan é, inicialmente, por conta do ponto-de-vista diverso com relação aos pobres e como estes devem ser tratados. Além disso há um sir Richard de Lee que eu não lembrava de ter visto em livros ou filmes - mas minha memória pode estar me traindo.
Outra mudança digna de nota diz respeito ao Frei Tuck: o sujeito é uma montanha de brutalidade, que basicamente humilha Robin dando um banho nele, depois defendendo suas flechas com um escudo, combatendo de igual pra igual com ele na esgrima e finalmente derrotando os homens de fusô com uma matilha de cães de guerra! E o sujeito não bebe uma gota de alcool em todo o livro! Completamente diferente de qualquer outra versão do personagem que eu conhecesse.
Não posso deixar de comentar, também, que o combate mais intenso do livro, de Robin contra sir Guy, ocorre com o vilão vestindo uma roupa de... Cavalo. A descrição, no livro, é até meio sinistra:
"Os dois [Robin e Joãozinho] não haviam se afastado muito quando avistaram um homem alto e forte encostado numa árvore. Uma pele de cavalo o envolvia, a cabeça e a crina cobrindo-lhe o rosto, a cauda pendendo a suas costas. Na mata vizinha um papa-figo trinava seu triste canto."
Infelizmente, a ilustração ficou meio... engraçada, com sir Guy parecendo estar vestindo um pijama de cavalo - e o ilustrador ainda omitiu a cauda do cavalo descrita no livro, o que deixaria a coisa ainda mais engraçada...
Apesar das diferenças em relação à história que eu conhecia, fiquei relativamente satisfeito com o
livro. Ilustrações regulares, bastante informação histórica com muitas fotos inclusas. Um bom livro pra inspirar uns desenhos, que era o que eu esperava dele.
De fato, logo depois de ler o livro, não consegui resistir à fazer uma versão de Sir Guy de Gisbourne usando sua pele de cavalo!
(nota de pesquisa: o tal robe de couro de cavalo, chamado de capull-hyde, era usado em espetáculos de pantomima, e era um talismã de coragem e proteção)
Comprei esse livro pelas ilustrações, na verdade. Não são particularmente inspiradas, mas tem alguma coisa legal. Achei interessante que o livro faz uma série de apontamentos históricos. Na verdade, a história em si, fica meio que em segundo plano, contada em pequenos capítulos no meio de um monte de curiosidades sobre possíveis origens da lenda, o modo de vida da época, cruzadas e até um mapa explicando a floresta de Sherwood e seus arredores. O livro termina com um apanhado geral sobre a evolução da lenda, desde suas origens medievais em baladas e poemas até suas adaptações pro cinema.
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A última flecha de Robin Hood |
A história em si apresenta uma série de variações com relação ao que eu conhecia - ou, pelo menos,
não lembrava. Começando pelo nome do protagonista, que eu lembrava de ser Robin de Loxley, não Robert de Huntington. Além disso a disputa com o xerife de Notthinghan é, inicialmente, por conta do ponto-de-vista diverso com relação aos pobres e como estes devem ser tratados. Além disso há um sir Richard de Lee que eu não lembrava de ter visto em livros ou filmes - mas minha memória pode estar me traindo.
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Frei Tuck e seus cães de guerra dando uma lição nos homens de fusô |
Não posso deixar de comentar, também, que o combate mais intenso do livro, de Robin contra sir Guy, ocorre com o vilão vestindo uma roupa de... Cavalo. A descrição, no livro, é até meio sinistra:
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Robin em sua luta final contra Guy em seu pijama de cavalo |
Infelizmente, a ilustração ficou meio... engraçada, com sir Guy parecendo estar vestindo um pijama de cavalo - e o ilustrador ainda omitiu a cauda do cavalo descrita no livro, o que deixaria a coisa ainda mais engraçada...
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Minha versão de Guy em seu capull-hyde |
livro. Ilustrações regulares, bastante informação histórica com muitas fotos inclusas. Um bom livro pra inspirar uns desenhos, que era o que eu esperava dele.
De fato, logo depois de ler o livro, não consegui resistir à fazer uma versão de Sir Guy de Gisbourne usando sua pele de cavalo!
(nota de pesquisa: o tal robe de couro de cavalo, chamado de capull-hyde, era usado em espetáculos de pantomima, e era um talismã de coragem e proteção)
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quarta-feira, 22 de julho de 2015
Mona Lisa Overdrive
Mona Lisa Overdrive é o terceiro livro da Trilogia Sprawl, que encerra os eventos iniciados em Neuromancer - encerra, alias, de modo absolutamente magistral! A última página simplesmente vira a coisa toda de cabeça pra baixo, abrindo tantas possibilidades que dá uma certa tristeza em saber que Gibson não fez mais uma trilogia explorando o cenário adiante.
Em termos de narrativa, Mona Lisa Overdrive segue a mesma lógica de Count Zero, com três protagonistas com percrusos distintos, cuja interligação só vai ficando clara a medida que a trama avança. Diferente de Count Zero, no entanto, os três protagonistas não são todos "novos jogadores", com a presença de praticamente todos os personagens dos livros anteriores fazendo uma aparição - ou pelo menos sendo mencionados- ao longo da história. Alguns deles com desenvolvimentos bastante interessantes!
O cenário do Sprawl também é bastante explorado aqui, com visitas á Inglaterra cyberpunk, o deserto químico de Dog Solitude e outras charmosas localidades dos EUA - geralmente numa viagem de Wiz proporcionado por uma das protagonistas, Mona.
Com muitas referências aos livros anteriores, Mona Lisa Overdrive funciona perfeitamente como um fim de história, explorando o potencial do cenário e os desdobramentos de eventos que começaram em Neuromancer e se desenvolveram ao longo de Count Zero.
A Trilogia Sprawl terminou, e me deixou completamente orfão. Devo assar alguns dias lendo apenas livros de RPG e de história/mitologia, antes de escolher a próxima obra literária, já que depois dessa pequena saga, duvido que qualquer outra leitura não pareça insossa e sem vida.
Apesar de Neuromancer ser, certamente, o melhor dos três livros, eu recomendo fortemente a leitura de toda a trilogia, sem medo. Uma ótima história extremamente bem contada!
Em termos de narrativa, Mona Lisa Overdrive segue a mesma lógica de Count Zero, com três protagonistas com percrusos distintos, cuja interligação só vai ficando clara a medida que a trama avança. Diferente de Count Zero, no entanto, os três protagonistas não são todos "novos jogadores", com a presença de praticamente todos os personagens dos livros anteriores fazendo uma aparição - ou pelo menos sendo mencionados- ao longo da história. Alguns deles com desenvolvimentos bastante interessantes!
O cenário do Sprawl também é bastante explorado aqui, com visitas á Inglaterra cyberpunk, o deserto químico de Dog Solitude e outras charmosas localidades dos EUA - geralmente numa viagem de Wiz proporcionado por uma das protagonistas, Mona.
Com muitas referências aos livros anteriores, Mona Lisa Overdrive funciona perfeitamente como um fim de história, explorando o potencial do cenário e os desdobramentos de eventos que começaram em Neuromancer e se desenvolveram ao longo de Count Zero.
A Trilogia Sprawl terminou, e me deixou completamente orfão. Devo assar alguns dias lendo apenas livros de RPG e de história/mitologia, antes de escolher a próxima obra literária, já que depois dessa pequena saga, duvido que qualquer outra leitura não pareça insossa e sem vida.
Apesar de Neuromancer ser, certamente, o melhor dos três livros, eu recomendo fortemente a leitura de toda a trilogia, sem medo. Uma ótima história extremamente bem contada!
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Willian Gibson
quarta-feira, 8 de julho de 2015
Count Zero
Dando sequencia à Trilogia Sprawl, terminei ontem de ler Count Zero - Mona Lisa Overdrive, aqui vou eu!
O segundo livro da trilogia, sequencia direta de Neuromancer, Count Zero tem uma narrativa bastante diferente de seu predecessor - e certamente bem menos impacto, mas obviamente poucas coisas podem ter tanto impacto quanto um livro que dá início a um novo gênero literário. Enquanto Neuromancer seguia as desventuras de Case, um ex-cowboy de console em suas desventuras no universo da Sprawl, Count Zero tem uma dinâmica consideravelmente diferente, com três protagonistas completamente diferentes entre si, com objetivos e percursos diversos e que, aparentemente, não têm nada em comum - e cujo envolvimento, é claro, vai se tornando aparente ao longo do livro.
Eu, particularmente, não costumo gostar de ler livros assim. Gente demais, muitos personagens secundários pra tu manter a atenção e mudanças de pontos-de-vista que precisam de readaptação constante à leitura. MAS! Mas, mas, mas, Gibson sendo o grande escritor que é, consegue fazer essa mecânica funcionar lindamente, mantendo a leitura deslizando suave e fluida o tempo todo. Os personagens secundários não são tão numerosos quanto se poderia esperar, e como no caso de Neuromancer, extremamente bem construídos.
Gibson também se mantém explorando o cenário aqui como no livro anterior, mostrando novas facetas do seu pequeno mundo, enquanto envolve o personagem em uma daquelas clássicas histórias cyberpunks onde há traições e falsas alianças em cada esquina, numa trama cheia de anjos, espíritos e corporações manipuladora.
"Opa, como assim, anjos e espíritos numa 'clássica história cyberpunk'?" Ora, amiguinhos, eu não vou entregar essa cabeça numa bandeja dourada! Leia o livro e vai perceber que faz total sentido!
Em tempo: O livro, é claro, é cheio de referências e expressões, a maioria explicadas no glossário que figura no final da obra. Uma delas, no entanto, me deixou confuso logo de cara, e acho útil para futuros leitores da obra - que por ventura tenham a mesma quantidade de cultura inútil quanto eu... - falar no assunto. Eu conhecia por hotdogger um cara que faz algo espetacular quando alguma coisa simples e eficiente seria suficiente. Um exibicionista. Mas no universo da Sprawl, hotdogger é simplesmente um aspirante a cowboy de console. Nem mais, nem menos. Apesar de eu achar que isso fica bem óbvio no decorrer do livro, pra quem nunca tinha ouvido a expressão, achei que cabia aqui a explicação - facilita bastante as coisas!
Agora, se tu não sabe o que cowboy de console significa, nem devia estar lendo essa resenha! Vá ler Neuromancer logo, seu wilson!
O segundo livro da trilogia, sequencia direta de Neuromancer, Count Zero tem uma narrativa bastante diferente de seu predecessor - e certamente bem menos impacto, mas obviamente poucas coisas podem ter tanto impacto quanto um livro que dá início a um novo gênero literário. Enquanto Neuromancer seguia as desventuras de Case, um ex-cowboy de console em suas desventuras no universo da Sprawl, Count Zero tem uma dinâmica consideravelmente diferente, com três protagonistas completamente diferentes entre si, com objetivos e percursos diversos e que, aparentemente, não têm nada em comum - e cujo envolvimento, é claro, vai se tornando aparente ao longo do livro.
Eu, particularmente, não costumo gostar de ler livros assim. Gente demais, muitos personagens secundários pra tu manter a atenção e mudanças de pontos-de-vista que precisam de readaptação constante à leitura. MAS! Mas, mas, mas, Gibson sendo o grande escritor que é, consegue fazer essa mecânica funcionar lindamente, mantendo a leitura deslizando suave e fluida o tempo todo. Os personagens secundários não são tão numerosos quanto se poderia esperar, e como no caso de Neuromancer, extremamente bem construídos.
Gibson também se mantém explorando o cenário aqui como no livro anterior, mostrando novas facetas do seu pequeno mundo, enquanto envolve o personagem em uma daquelas clássicas histórias cyberpunks onde há traições e falsas alianças em cada esquina, numa trama cheia de anjos, espíritos e corporações manipuladora.
"Opa, como assim, anjos e espíritos numa 'clássica história cyberpunk'?" Ora, amiguinhos, eu não vou entregar essa cabeça numa bandeja dourada! Leia o livro e vai perceber que faz total sentido!
Em tempo: O livro, é claro, é cheio de referências e expressões, a maioria explicadas no glossário que figura no final da obra. Uma delas, no entanto, me deixou confuso logo de cara, e acho útil para futuros leitores da obra - que por ventura tenham a mesma quantidade de cultura inútil quanto eu... - falar no assunto. Eu conhecia por hotdogger um cara que faz algo espetacular quando alguma coisa simples e eficiente seria suficiente. Um exibicionista. Mas no universo da Sprawl, hotdogger é simplesmente um aspirante a cowboy de console. Nem mais, nem menos. Apesar de eu achar que isso fica bem óbvio no decorrer do livro, pra quem nunca tinha ouvido a expressão, achei que cabia aqui a explicação - facilita bastante as coisas!
Agora, se tu não sabe o que cowboy de console significa, nem devia estar lendo essa resenha! Vá ler Neuromancer logo, seu wilson!
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