terça-feira, 31 de maio de 2016

Stonehenge

Atenção: Essa será uma resenha longa e analítica, com um monte de dados históricos e com algumas reflexões pessoais acerca do livro e de seu tema. Resumidamente: Comprido e chato. Mas pelo menos, não vai ter nenhum spoiler, então fiquem tranquilos com relação à isso - já é alguma coisa, certo? 

Primeiro, um pouco com relação à minha história pessoal com esse livro - o resto vai se desenvolver a partir daí: 

Consegui minha cópia de Stonehenge diretamente do Oscar, lá da Montecristo - e depois de já tê-lo agradecido pessoalmente, esse é meu reconhecimento público! De fato, eu queria há muito tempo ler esse livro. Foi através dele que conheci Bernard Cornwell, e sem ter ouvido falar sobre esse livro em particular, anos atrás, eu provavelmente nunca teria tido as conversas que me levaram à descobrir seus outros livros. Então, muito grato, Oscar, por finalmente permitir que eu lesse o livro que me fez conhecer o meu autor contemporâneo favorito!

Fiquei sabendo da existência do livro Stonehenge por conta de uma pesquisa que fiz sobre druidismo alguns anos atrás. Stonehenge era uma das literaturas recomendadas em praticamente todos os lugares que falavam sobre a associação dos Druidas com o círculo de pedras que dá nome ao livro. O que me leva à algumas explicações que me parecem necessárias sobre o monumento megalítico: 

Com relação ao nome: Stone é fácil, uma das palavras mais reconhecíveis do inglês. "Henge", por outro lado, é arcaica, e apesar de ter ganho muitos usos ao longo do tempo, acabou se tornando um termo extinto no inglês - talvez até por ter sentidos demais... Originalmente, ao que parece, o termo era usado como sinônimo de "forca" e suas derivações. Depois, foi associada à erguer, suspender, levantar, pendurar... E finalmente caiu em desuso. Então Stonehenge, numa tradução do inglês arcaico, seriam "pedras suspensas", nome dado por conta das placas em formato de lintel que compõem o monumento. 

Depois, com relação à origem: Esse monumento é da idade do bronze, em algum ponto cerca de quatro ou cinco mil anos atrás - Cornwell aponta que as datações dizem que ele é de cerca de 3.000 A.C., mas alguns pesquisadores dizem que ele é uns mil anos mais recente que isso. Não se sabe ao certo qual o objetivo de sua construção - nem para que finalidade era usado. 

Onde: fica nas planícies de Salisbury, próximo a Amesbury, no condado de Wiltshire, no Sul da Inglaterra - tanto Salisbury quanto Amesbury aparecem no livro de Cornwell: a primeira como uma colina sagrada, a segunda como Cathallo, a cidade vizinha de Ratharrym, que por sua vez é a cidade ao lado da qual é construído Stonehenge. 

No tocante aos Druidas: As pesquisas no local apontam que houve intensa atividade druídica em Stonehenge, mas como os druidas só chegaram àquela região por volta de 1.200 A.C., eles certamente já tropicaram com o local em amplo estado de degeneração, e nada tiveram a ver com sua construção - de fato, eles aparentemente não moveram uma única pedra de lugar! 


Bom, após toda essa conversa sobre Stonehenge, o monumento, vamos à Stonehenge, o livro! 

Antes de mais nada, é importante observar que o livro se passa na idade do bronze, na época da criação de Stonehenge - que, obviamente, não é chamado por seu nome contemporâneo nem uma única vez durante o livro. Isso significa que, pra maioria, nenhum elemento do livro é familiar. Esse é tanto um ponto positivo quanto negativo no livro: se por um lado não reconhecemos nada da cultura com a qual Cornwell lida no livro (afinal, quantos aí leram livros ou assistiram filmes passados na idade do bronze?) por outro lado é absolutamente incrível ver toda a cultura se desfraldando diante dos olhos a medida que o livro avança. 

E acredito que isso tenha muito a ver com a reação das pessoas que eu conheço que tiveram a oportunidade de ler o livro. Todas elas (foram quatro, que eu me lembre) leram uma parte dele e acabaram deixando-o de lado. Sim, elas desistiram dele. Todas forma unânimes: o livro é chato. Eu acredito que o problema do livro seja justamente o cenário. Quem já leu Cornwell sabe que ele faz excelentes descrições de batalhas e retrata muito bem a cultura dos locais onde suas tramas se passam. Mas é importante observar que os livros dele geralmente se passam em ambientes amplamente familiares: Europa do século 19 na série Sharp, ilhas britânicas tomadas por vikings nas Crônicas Saxônicas e a Europa medieval dominada pela igreja na trilogia do Graal. Mesmo quem não é um especialista em história conhece um monte de livros, filmes e jogos passados nesses cenários - ou amplamente baseados nesses cenários - o que nos coloca em uma posição confortável enquanto leitores. Cornwell não precisa descrever cada pormenor de uma cidade medieval pra que nossa imaginação complete o cenário. O mesmo vale para um bando de vikings fazendo um cerco ou mosqueteiros fazendo fumaça com seus rifles. Agora, idade do bronze... Não lembro de nenhum filme ou livro que se passe nessa época - se alguém lembrar, por favor, coloque nos comentários, este blogueiro agradece! 

No entanto, Corwell faz um excelente trabalho recriando o período histórico onde se dá a construção do monumento que nomeia o livro, e apesar de haverem poucas certezas com relação à Stonehenge, seja nos métodos usados para sua construção ou sua finalidade, Cornwell cria uma série de extrapolações, baseadas em pesquisas e em "achismos" pessoais que geram uma narrativa interessantíssima para explicar a Dança dos Gigantes. É interessante notar que, como há pouquíssimos achados arqueológicos ao redor de Stonehenge, Cornwell usa praticamente todos, amarrados de forma magistral. De fato, a trama toda do livro é excelente, com uma história sólida e narrada de modo magistral. 

O livro trata de xamanismo, principalmente, e do medo dos homens com relação aos deuses (ou seja: todos os fenômenos inexplicáveis ao redor deles, que na idade do bronze, eram muitos!) e isso é parte central da construção do monumento. Eu gostei, particularmente, do fato dele ter incluído no livro ilustrações das várias fases da construção do templo, seguindo com exatidão todas as descobertas com relação à ele, mesmo que obviamente tenha extrapolado os motivos e, suspeito, algumas questões cronológicas. Mas, é claro, como se sabe tão pouco sobre o local, não é particularmente importante o quão acurado histórica, religiosa e arqueologicamente o livro está correto - afinal, é uma ficção, não um tratado científico - apesar de, claro, uma boa quantidade de acuidade histórica sempre ser esperado dos trabalhos de Cornwell.

Então, a conclusão sobre o livro, do meu ponto de vista, é de uma excelente narrativa com um cenário muito bem desenvolvido, sobre um tema que não se sabe praticamente nada de forma concreta - e que, apesar de ser o título do livro, serve como pano-de-fundo de uma trama muto mais interessante. 

Eu não recomendaria Stonehenge como primeiro livro de Cornwell para nenhum leitor, exceto aqueles interessados especificamente em um romance passado na idade do bronze (o que provavelmente é algo difícil de encontrar) já que ele parece muito diferente da narrativa mais típica do autor. 

Mas recomendo fortemente a leitura para qualquer um interessado em um cenário totalmente diferente do usual! Pra esses, Stonehenge é um prato cheio! 

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