sábado, 4 de junho de 2016

Até Mais, e Obrigado Pelos Peixes

Depois de uma breve pausa para ler Stonehenge, voltei à Trilogia de Cinco do Guia do Mochileiro das Galáxias, pra terminar de ler ela dessa vez. Eu já tinha lido uma versão desse livro, "Adeus, valeu o peixo", publicada em Portugal - e como todos sabem (se não sabem, agora saberão) eu tenho sérias dificuldades em ler livros em idioma lusitano porque muitas vezes eu não entendo perfeitamente o que os tradutores querem dizer e as palavras ou semânticas completamente diferentes entre as duas línguas portuguesas acabam me catapultando pra fora do livro, impedindo uma imersão na leitura.

Quando li o livro pela primeira vez, portanto, culpei a língua lusitana pelo fato de ter achado o livro tão ruim - particularmente comparado com os outros três. Ledo engano. O livro é ruim mesmo, até em bom idioma tupiniquim.

Até Mais, e Obrigado Pelos Peixes tem três grandes problemas: A descaracterização dos personagens (subitamente Arthur Dent se torna um galã auto-confiante absolutamente hábil e capaz), um romance automático e sem sentido e a falta de nexo geral do livro, incluindo a lógica sem lógica do desaparecimento dos golfinhos.

Sim, porque ninguém explica porque diabos os golfinhos foram embora. "porque a terra estava pra ser destruída, oras!" diz alguém. Ok, seria válido, se os próprios golfinhos aparentemente não tivessem feito alguma coisa que impediu isso! O que eles fizeram nunca fica claro, no fim das contas - mas sabemos que foram eles por conta dos aquários presenteados à pessoas aleatórias. Que é outro problema. Porque eles deram os aquarios de presente pro Arthur - um humano sem nenhuma importância - pra Fenchurch - outra humana sem importância, exceto por ter descoberto alguma coisa que também não fica clara sobre o que é, apesar de ser aparentemente importante - e pro Wonko - que, esse sim, tinha pelo menos alguma ligação com os golfinhos - não faz sentido algum.

Ok, coisas sem sentido algum fazem parte dos livros do Guia do Mochileiro das Galáxias, mas mesmo as coisas sem sentido tem alguma lógica - geralmente distorcida. Mas essa história dos aquários eu realmente não entendi.

Alias, não entendi o papel da Fenchurch no livro, além de ser um par romântico pro Arthur, em um dos romances mais água com açúcar, gratuitos, sem razão de ser e desnecessários de todos os livros que eu já li. Sim, eu já passei por "casais destinados", mas em geral esses casais estavam em livros extremamente ruins e com uma história absolutamente medonha.

O que, pensando bem, é exatamente o caso aqui...

Douglas Adams disse que seu editor cobrou muito dos prazos, e por conta disso o resultado do livro ficou aquém do que ele gostara. Uma boa desculpa, mas eu fico imaginando quanto a mais de livro ele ia precisar pra fazer essa história ficar um pouco menos espinhosa, e definitivamente creio que só funcionaria se ele fosse totalmente reescrito.

Bom, vamos ver se Praticamente Inofensiva consegue ao menos fechar essa trilogia (de cinco volumes) de uma forma que salve um pouco a dignidade dos três primeiros livros apesar desse quarto volume tenebroso.

Aceito críticas e defesas efusivas nos comentários, mas duvido que alguém consiga me convencer de que esse livro vale o papel no qual foi impresso.

2 comentários:

  1. Ano passado li todos os livros do Guia e não gostei do que li. Não sei se criei expectativa demais ou se os livros são ruins mesmo.. Fico me perguntando pq o lance da toalha surgiu de uma trilogia tão sem graça..

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    1. Eu concordo parcialmente contigo. Gosto dos dois primeiros livros, na verdade, mas os outros realmente não me agradaram tanto. Acredito que muito do hype em torno dos livros é por conta dos fãs de Dr. Who, que acabam idolatrando o Adams também - e, não sei como nem porque, Dr. Who tem muitos fãs! Mas os livros têm algumas sacadas interessantes. Apesar do Adams só explorar mesmo o uso da toalha em livros posteriores (o Ford Prefect faz um uso dela no quinto livro que deixaria o Indiana Jones querendo aposentar o chicote!) ela acaba sendo um ícone levado ao longo da série, e como é um objeto cotidiano, que todo mundo tem, é simples de andar com uma pra cima e pra baixo, diferente de um sabre-de-luz ou um tricorder, se alguma outra fonte tivesse sido usada como inspiração pra essa história. É uma série boa, mas não fantástica. Do meu ponto-de-vista, é indispensável pra bons nerds, porque já faz parte da estrutura cultural desse grupo - que se tornou bastante heterogêneo contemporaneamente. E mesmo não tendo gostado, conhecer permite discutir o assunto, até pra poder falar mal com propriedade!

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