segunda-feira, 30 de julho de 2012

Imbolc


Imbolc ou Imbolg deriva do irlandês arcaico i mbolg, "no ventre", ou à oimelc "leite das ewe"referindo-se à gravidez das ewe (uma região da Irlanda). É um festival gaélico que marca o início da primavera. 

Esse festival foi observado na Irlanda gaélica, nas Highlands escocesas e na ilha de Man durante a idade média, e possui referências na mitologia irlandesa, especificamente no Ciclo de Ulster. 

Imbolc também é, as vezes, referido como Candlemas, uma nomenclatura arcaica pra a festividade de Nossa Senhora da Candelária, pois no hemisfério norte a festividade foi cristianizada em favor de Maria. Como nas tradições católicas não existe a necessidade de refletir as questões sazonais das festividades, a Candelária é celebrada em 2 de fevereiro no hemisfério sul - época em que Imbolc é festejada no hemisfério norte. 

Wiccans celebram uma variação de Imbolc como uma das quatro Festividades dos Fogos, que são as quatro festividades que ficam entre as grandes Festividades das Estações, perfazendo os oito Sabás da Roda do Ano. Em algumas tradições neopagãs, que geralmente utilizam não apenas o calendário solar mas também o lunar como base de suas tradições, Imbolc é celebrado na lua cheia mais próxima do ponto central entre Yule (celebrado no Solstício de Inverno) e Ostara (festividade do Equinócio de Primavera). 

Nos covens Dianistas, Imbolc é chamado também de Brigid (associada à divindade de mesmo nome ou à Santa Brigida), e é a época tradicional das iniciações. Também é conhecido como Festival da Noiva. Mesmo em Covens mistos, Imbolc é um festival feminino, e creio que muitos covens possuem uma tradição de que esse Sabá seja festejado apenas por mulheres. 

Imbolc é a festividade do recomeço. É quando a terra está se recuperando do inverno, e o Sol se fortalecendo para a primavera. Época de festas alegres, tochas e fogueias, comidas condimentadas e de sabores marcantes. 

Para aqueles que tratam da terra, Imbolc é uma época de começar a aragem da terra e o plantio.

Para mim, particularmente, Imbolc sempre foi o inpicio do ano, de fato. Todos os planos feitos em Yule começam a germinar e mostrar suas primeiras folhas nessa época. É um momento de ver o que funcionou, quais planos devem ser adubados e regados, e quais simplesmente são fracos demais para vingar. Costuma ser uma das épocas mais felizes da Roda, porque é onde eu posso ver o que eu posso esperar até o próximo inverno, depois da espera morosa de que o inverno acabe. 

Amanhã é Imbolc. Vou sentar na frente de um bom fogo com um licor e muitos chocolates, alguns bons fumos especialmente preparados, um pão caseiro extremamente temperado e, provavelmente, um pedaço de bolo muito doce. E se eu tiver paciência, farei um bom café de caldeirão, pra aquecer ainda mais! 


quinta-feira, 26 de julho de 2012

Terminando de por ordem na casa

Há algum tempo, a Julia me disse que não conseguia fazer postagens aqui por causa dos pré-requisitos pedidos pelo blogger. Na época, eu dei uma olhada e acabei não descobrindo se era possível que as pessoas fizessem postagens anonimamente. Pois bem, ontem à noite, o Woods andou por aqui, e reclamou a mesma coisa. Daí fizemos uma busca pela internet, e, finalmente, descobri como desbloquear comentários anônimos!

Agora há uma opção de resposta anônima, mas eu gostaria que os comentadores do blog deixassem registrados seus nomezinhos! Essa opção também existe! Basicamente, quando selecionar Responder, aparece um campo Comentar Como, selecione Nome/URL, digite um nome, sem necessidade alguma de colocar um URL. Pronto!

Aproveitando o momento, gostaria de convidar os amigos blogueiros para linkar seus blogs aqui (na verdade, eu nem sei fazer isso, mas espero que algum blogueiro mais experiente possa me auxiliar com isso)!

Ah, e sim, o contador zerou, então eu chutei um número próximo ao que estava...

Agora vão lá fazer comentários no blog deste apedeuta que vos escreve!

terça-feira, 17 de julho de 2012

O lenhador sóbrio


Da série 'Momentos inesquecíveis nas Gaylands'.

Depois de pensar por um minuto, achei que era uma péssima idéia ir fazer lenha logo após beber uma lata de cerveja. Decidi sentar, ler um pouco de internet, tirar o alcool do sangue. Tomei um café, comi um pedaço de peixe, tomei um segundo café fumando um bom cigarro.

Só então, lá me fui eu fazer lenha.

Depois de sentar o machado em um par de escoras de lage, peguei a machadinha pra picar uns galhos verdes. Tranquilo, não exige força, só jeito.

Lá pelo meio do galho, dou um golpe de mal jeito, com força demais. Puxo a perna de apoio pra trás, pra não perder um pedaço do joelho, acerto com o cabo da machadinha na coxa, perco o equilíbrio, dou passo de ré, piso em um pedaço do galho que acabei de cortar que rola pra frente e arremessa minha perna pro ar, caio com o cóccix no tronco de cortar lenha e atinjo uma tábua com pregos com as costas.

Giro todo dolorido no chão, tentando perceber quantos ossos saíram quebrados da estripulia. Nenhum, aparentemente.

Nesse momento meu cusco vem, todo sorridente, na minha direção. Enquanto eu esbravejo e penso que o miserável vai me lamber a cara toda graças ao fato de eu estar no chão, meio indefeso contra linguadas, uma das minhas gatas pula na minha cara e começa a atacar meu cabelo!

Arranco o gato da minha cabeça, olho em volta procurando o cachorro babão, e vejo o miserável, ainda rindo, sair correndo com meu celular nos dentes, lépido e faceiro!

Não quebrei nem um osso, os pregos só marcaram minhas costas, a gata arranhou de leve minha testa, e meu celular só ficou meio babado. Podia ter sido MUITO pior!

Mas com certeza, na próxima vez, quando eu beber uma cerveja, vou mandar todo o resto pra puta que o pariu e tomar uma boa bebedeira!

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Escolha

É primavera!

Nessa época do ano, posso sentir a vida renascendo por debaixo da mortalha branca do inverno. Sim, todos sentimos isso, alguns mais forte, outros mais fraco. Mas eu sou uma sacerdotisa. Eu sinto não só a vida renascendo nas flores que se abrem, nos pássaros jovens e nos insetos que voltam a voar ao redor. Eu sinto isso da terra, subindo pelos meus pés quando ando descalça na grama. Sinto nas mãos quando toco um tronco de árvore. Sinto no rosto quando bebo um gole de água do rio. A vida flui em mim, para mim. E, em breve, ela fluirá de mim.

Neste ano, durante as festividades, eu vou escolher alguém.

Eu sei, porque eu ví, num sonho. Somos ensinadas a entendê-los desde jovens, e muitos dos meus sonhos são claros como lembranças recentes.

É primavera, e estamos todos felizes nos preparando para o festival do plantio. É uma época feliz porque estamos finalmente todos reunidos fora de nossas casas, longe do frio e nos preparando para a fartura que estamos plantando agora.

Todos estão aqui. Aqueles de quem eu gosto mais e menos, os que eu amo, e até algumas pessoas que eu poderia odiar. Mas hoje, nós estamos todos felizes demais para simplesmente não nos amarmos todos mutuamente, sem restrições.

Porque é primavera, e o inverno passou.

As garotas mais jovens trançam galhos de flores azuis, amarelas e vermelhas, em grinaldas que saem presenteando para quem passa por elas. Elas gritam e sorriem e parecem fadas dançando ao som dos raios de sol. Os meninos mais jovens brincam com os cordeiros que acabaram de nascer, e enquanto eu e as moças mais velhas ajudamos a preparar e carregar os bolos e pães da festa, os rapazes carregam madeira e fazem jogos de força, enquanto olham para nós, tentando chamar a atenção.

E estão conseguindo.

Para mim é fácil sentir o pulso que vibra poderosamente entre nosos grupos, com as quase mulheres tentando parecer grtaciosas e os quase homens tentando parecer mais másculos. É natural, e já vi isso muitas vezes, nos últimos anos. Este ano, no entanto, é diferente, porque eu própria sinto o mesmo impulso, pela primeira vez.

Minha mãe diz que é a idade. Que chegou minha hora de deixar de ser criança e me tornar mulher. Creio que ela está certa. Meu corpo tem me dado avisos à esse respeito, e é chegada a hora. Essa é a ordem natural das coisas.

***

O inverno se foi, e é hora de semear.

Um punhado de homens está comigo trabalhando na semeadura. É um trabalho leve, depois de arar os campos. Mas o sol da primavera é pesado para nós, acostumados com o frio das geadas e com o sol esqualido que perfurava as densas neblinas invernais. Mas estamos todos felizes, falando alto e até mesmo cantando. Hoje a noite celebramos o festival da primavera, e as mulheres nos esperam com

pães e cerveja, e nós dançaremos, beberemos e celebraremos o retorno da vida.

Eu digo a mim mesmo que o ciclo da vida é como o das estações, e que a morte que o inverno trás é substituida pelo renascer da vida na primavera. Eu deveria saber disso melhor do que todos os homens ao meu redor, pois sou o druida da vila. Mas não consigo sentir o prazer que outrora traziam os pequenos momentos como este, de semear, de estar na companhia dos meus irmãos e irmãs, de saber que a primavera chegou.

Meu coração pesa.

No inverno anterior ao último, perdi minha esposa para o frio. Eu disse meu último adeus à ela na noite dos mortos, e a ví feliz, do outro lado do véu que separa os mundos. Ela seguirá o rumo natural de sua roda, e eu deveria fazer o mesmo. Mas até agora, não fui capaz.

quem sabe nesse festival? Deixarei na mão dos deuses decidirem.

Por agora, devo me concentrar no meu trabalho.

***

É primavera!

O festival teve inicio pouco antes do cair da noite quente e seca, deliciosa. Uma leve brisa deixa o ar carregado de aromas de flores, vinhos e bolos. Tudo tem cheiro e gosto doce! Todas as pessoas riem e se divertem. Eu danço com as moças e rapazes da minha idade, rio alto e bebo muito. Conheço ervas e sortilégios para que o hidromel não turve meu raciocínio, mas nessa noite não usei nenhum. Quero me embriagar sentir o pulso da vida fluindo livremente pelo meu corpo!

Alguns homens tocam seus tambores e sopram suas flautas, e uma das sacerdotisas mais velhas dedilha uma cítara magistralmente. A música começou tímida, mas agora é tocada de forma quase frenética, com os próprios músicos saltando e dançando! Se estão fora de compasso uns com os outro, ninguém nota. O ritmo de um músico mais persistente leva os outros a segui-lo, e no fim todos estão tocando mais ou menos a mesma melodia.

E ao seu redor, nos cantamos e dançamos!

Eu estou leve com a cerveja, mas mantenho uma parte dos meus pensamentos lúcida o suficente para procurar. Eu sei que escolherei alguém hoje, e  estou curiosa para saber quem será. Há muitas moças e rapazes aqui hoje. Alguns daqui, outros das vilas próximas, e alguns de locais mais remotos, pequenos demais para terem festividades adequadas. Estamos todos eufóricos, e alguns já formaram casais, alguns mais timidamente, outros de forma mais declarada. Outros parecem não se importar com isso, e simplesmente dançam e bebem.

***

É noite.

Assisto de longe enquanto os homens e mulheres da minha vila, e alguns de vilas vizinhas, cantam e dançam ao redor do fogo, embalados pela cerveja. Sinto o cheiro doce dos bolos que as moças prepararam para a festividade, mas me falta vontade de experimentá-los. O próprio hidromel tem um gosto insípido esta noite.

Me sinto deslocado no meio de toda essa alegria. e só não me recolhi porque os homens veriam como mau sinal se o druida não estiver presente nas festividades de primavera até o amanhecer.

Foi numa destas festividades que a conheci, alguns anos atrás.

Não tivemos filhos.

Me sinto tão vazio.

Talvez seja hora de escolher um dos jovens para tomar o meu lugar e entrar na floresta para não mais...

***

Alegria!

Danço e rodo, e grito as letras das músicas que conheço numa voz totalmente bêbada, e rio junto com os outros jovens ao meu redor! Todos sabem o que estamos fazendo, e essa liberdade é tão boa! Minha cabeça está leve, e já não me importo em procurar, o que certamente me levará a uma escolha acertada! Somente danço e giro, de mãos dadas com os rapazes e moças que ainda não encontraram seus pares, e deixo a alegria de estar simplesmente vida tomar conta do meu corpo, do meu coração!

E danço!

***

Frio.

Agora uns poucos jovens, ainda frenéticos, dançam perto do fogo, ao som de músicos incansáveis. Reconheço apenas uma jovem sacerdotisa entre eles.

Decido me aproximar, pra esquentar meu corpo cansado.

Alguns dos rapazes e moças acabarão solitários esta noite, como sempre acontece, e escolherei um deles para ser meu novo aprendiz, amanhã. Por hora, apenas verei seus rostos mais de perto.

***

Cansaço.

Finalmente ele toma conta de mim. Meu corpo reclama do ritmo frenético, e eu acabo caindo sentada perto de alguém. Olho para ver quem é, e me surpreendo com o rosto do nosso druida. Ele é um homem jovem mas por causa das coisas que aprendeu e viveu, tem um semblante duro e um ar triste que fazem com que pareça um ancião.

Tento levantar, mas minhas pernas não me obedecem.

Acabo abraçado com ele.

E então, eu a vejo!

***

Cansaço.

sento em um tronco perto do fogo. Mal tomo um gole do hidromel que quueceu nas minhas mãos, a jovem sacerdotisa que dançava entre os outros jovens cai ao meu lado.

Ela está completamente bêbada. Tento estender a mão para ajuda-la a levantar, mas ela parece não notar. Cambaleia, e acaba caindo sobre mim.

e então, eu a vejo!

***

Seu cabelo é muito escuro, e as roupas brancas estão sujas e manchadas. Ela olha na minha direção, mas não diretamente pra mim.

É uma ameaça.

Exijo que minha mente se foque nos meus ensinamentos, em busca de uma resposta.

ela vem rápida e brutal, quando percebo que ela está olhando na minha direção, para o druida!

***

É uma visão fugaz. Eu vejo a jovem de cabelos negros me encarando por um momento, mas sei que ela está aqui por mim.

Mas sequer tenho tempo de refletir sobre isso.

Seu hálito tem cheiro de cerveja. Os lábios estreitos são rígidos, tensos. A língua é aspera. E o gosto é doce e inesperado como um raio de sol em meio à chuva.

Ela draga meus sentidos. Confuso, correspondo como posso, tentando reter aquele momento para sempre. O solo some sob meu peso.

Então, tão repentino como chegou, ela se vai. Se afasta. Eu assisto ela dançar por entre os músicos, como uma fada. E me perco naquele momento.

***

Eu faço o que é preciso.

Não, eu faço o que desejo!

Afasto o frio com um beijo, uma promessa. Aproveito cada instante daquele momento, insuflando paixão, e recebendo o mesmo em retorno.

Sinto que movo sua roda em uma nova direção, e sinto que a roda da minha própria vida é movida na mesma direção.

Abro os olhos e ela não está mais lá. O encantamento foi quebrado.

Me afasto, sentindo uma confusão nova tomando meu corpo.

É Mágico!

***

É Mágico!

***

Estou confusa!

***

Estou confuso!

Sinto a minha roda da vida girar, veloz, numa nova direção!

Como quando um punhado de hervas aromáticas é lançada sobre as brasas de uma fogueira quase morta, eu me sinto reacender!

***

Vou sentar perto das moças que não encontraram um par. Todas riem, pois apesar de tudo, estamos todos felizes.

apesar da confusão, estou feliz!

Olho na direção do druida. Nossos olhares se encontram.

Eu fiz minha escolha.

***

Eu a fito, longe, junto das outras moças. Sinto um calor suave, uma paixão que, mansamente, se aninha em mim. Eu me sinto escolhido.

E aceito sua escolha.

***

Eu estou apaixonada.

***

Eu estou apaixonado.








Toda a vida recomeçou.

É primavera.

E a roda das nossas vidas gira.

terça-feira, 10 de julho de 2012

Contrabando

Aparício Silva Rillo


 
Vai o barco de farinha 
cruzando o velho Uruguai.
 
Vaqueano dessas cruzadas 
vem na popa um índio moço 
manejando o varejão.
 
Vem atento e vem pensando:
Vou deixar do contrabando, 
não e vida pra um cristão.
Hoje eu vim porque o menino 
deu sumiço na chupeta 
e aquele piá trompeta 
saiu louco de chorão...
 
Sorri o moço da popa 
porque no bolso da roupa 
traz o bico pro piá.
 
Ouve um tiro, de repente, 
vindo da banda de lá!  
Foi o tiro de sinal.
 
Já no mais o tiroteio 
se acendeu no macegal, 
pipocando seco e feio 
como entrechoque de guampas 
no entrevero do rodeio 
no dia em que se dá sal.
 
Mala suerte!
O barco vinha chegando, 
e a cargo do contrabando 
com mais dez braças de rio, 
tinha subido a picada, 
da picada pra carreta, 
e daí pro caminhão.
 
Ouve um grito de: - Lã fresca, 
o Nico se lastimou!
Mas ninguém botou tenência 
no sentido deste grito, 
porque a coisa vinha preta 
sob o tendal de balaços 
que a guarda ajena estendeu.
 
Cada bala que cruzava 
debochava de assobio!
 
Quando o barco deu no porto 
no lado de cá do rio, 
o pessoal ganhou o mato, 
na picada se sumiu.
O barco ficou sozinho 
na madrugada e no rio.
 
Digo mal: ficou o Nico 
sobre um saco de farinha 
que um balaço espedaçou. 
Tinha um lenço maragato 
na brancura da farinha 
onde o índio se apoiou.
 
Foi quando a manhã surgiu, 
mostrando o sangue do Nico 
pingando dentro do rio ...
 
Menino, cala esta boca, 
não demora chega o Nico, 
vai-te trazer outro bico
que é pra tu não chorar mais.
 
Veio a manhã, veio a tarde,
veio a boieira luzir.
Veio a noite grande e morta,
A china veio pra porta,
E nada do Nico vir!
 
Veio um dia, 
mais um dia, 
veio outro dia depois
 
Ao pé de uma lamparina 
vela em silencio uma china 
que de chorar se cansou.
 
Numa cama de pelego 
choraminga sem sossego 
um piazito babão.
 
Choraminga!  Choraminga!
... porque o pai não trouxe o bico, 
e o que tinha se extraviou ...

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Sonhos

Ainda esses dias, falei sobre os meus pesadelos. Com a permissão (concedida, meritíssimo!) de me auto-copiar:

"Sofro de pesadelos desde que me lembro. Na verdade, eu raramente sonho - conto nos dedos de uma mão todos os sonhos que tive, excluídos os pesadelos, entre recorrentes e totalmente novos e inéditos..."

Bom, descobri que isso nem é verdade. Eu só consigo lembrar de três sonhos que tive nos últimos dez anos. 


O primeiro, de algum ponto entre 2005 e 2007, gerou a História em Quadrinhos que foi minha última postagem. Sim, eu sonhei em quadrinhos. A história toda, sete páginas. Aqui está a "história por trás da história" (e mais alguns detalhes), apesar da HQ completa só aparecer na minha postagem anterior, como eu disse.

Nessa época, eu estava sozinho, e não estava em uma boa fase de leitura, que só começou algum tempo depois. Então não faço ideia de qual foi o gatilho.

O segundo sonho que me lembro é uma imagem, de uma mulher, a minha namorada na época, em algum ponto em 2010. Lembro de acordar chorando por ter tido aquele sonho. Foi tão bom! Um sentimento de paz e uma tranquilidade me invadiram por dias depois daquilo. Era só uma imagem, dela, sentada em uma poltrona, lendo, numa sala cor de creme, usando um vestido branco, meio transparente. Uma luz difusa entrava na cena por uma janela de cortinas (também cor de creme)  que deixava a silhueta dela marcada. A cortina e o vestido as vezes se moviam com uma brisa muito leve, e as vezes ela virava as páginas e movia a cabeça, lendo. Ainda pretendo fazer um quadro dessa imagem, assim que tiver uma modelo adequada.

O terceiro sonho que recordo me veio ontem. Depois de uma longa conversa telefônica, peguei no sono muito cedo. E me veio esse diálogo, entre pai e filho. Não foi exatamente em quadrinhos, como da primeira vez, mas era quase. Havia algum movimento, mas era pouco. Passei a tarde de hoje fazendo o storyboard - já com diálogos - do que se mostrou uma boa HQ. Não sei se ótima, mas boa, certamente. É um diálogo conciso, que faz sentido.

Acredito que o que gerou esse sonho foi essa minha vontade imensa de ser pai. E uma pequena esperança de que isso ainda aconteça, um dia. Não tenho certeza.

O fato é que a história está aqui, agora, pronta pra ser desenhada. 28 páginas. Uma promessa de um novo projeto. Algo pra me manter ocupado nas horas de ócio entre um trabalho e outro. Uma história que eu não vou deixar que o tempo estrague, como a última.

É muito bom me sentir inspirado novamente!