sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Pedaços do Passado

Revirando hoje minha pasta de documentos - sempre achei que isso fosse coisa de gente "adulta", mas na verdade tenho ela desde o meu segundo grau - por um documento que vou precisar nos próximos dias, acabei aproveitando a oportunidade pra escrafunchar um pouco no que tinha ali.

Acontece que, além de documentos, eu guardo tudo o que tem um certo valor sentimental na tal pasta. Foi interessante reencontrar algumas coisas, das quais eu nem lembrava, na verdade.

As mais relevantes - ou interessantes - em ordem cronológica, são:

Janeiro de 1914: Certidão de nascimento do meu avô, escrita a mão (Sim, escrita toda a mão! Numa caligrafia entendível, alias!) diretamente de um cartório de São Lourenço.

Algum momento entre 1900 e 1950 (não sei precisar a data de forma alguma, então vou dar um bom espaço de tempo aí): Recorte de jornal amarelado com fotos do meu bizavô e tio-avô, com a seguinte legenda:

"Estaspando o <<O TEMPO>> na sua edição de aniversário os cliches do coronel Estevam Ziglia e João Ziglia Filho, adeantados rizicultores Rio Grandenses, presta uma homenagem justa a dois homens de trabalho, laboriosos e empreendedores a quem o município deve não resta dúvida uma bela página de serviços em pról da sua vida econômica."

Não conheço o jornal, e mesmo fazendo algumas pesquisas internet afora, não consegui descobrir nenhum jornal com o nome O Tempo no Rio Grande do Sul (tem um jornal com esse nome em Minas, mas obviamente não é o mesmo)

Engraçado que ao lado dessas fotos tem uma notícia bizarra:
"Depois da lua de mel veio a lua de fél - no oitavo dia do consorcio, o casalzinho alarmou a pensão com gritos e ferimenttos
Rio, 17 (A.N) - Na manhã de hoje verificou se numa pensão, situada na rua Afonso Pena 148, uma tragédia passional da qual foram protagonistas um funcionário do Colégio Militar e sua esposa, com quem estava casado faz apenas oito dias.
Realizados os esponsais, o casal de noivos foi alegre e feliz habitar aquela pensão e hoje pela manhã, quando menos se esperava, a cena de sangue fez perturbar a alegria que naquela casa reinava.
A jovem, que se chama Maria Helena Continentino *falta uma parte do jornal* funcionária do Banco do Brasil, como *falta um pedaço do jornal* -rada banhada em *falta um pedaço do jornal* - pertou a pedir *falta um pedaço do jornal* o marido a *fim do que tenho da notícia*

Não sei se as pessoas se mataram ou não, mas admito que sempre fico curioso quando releio esse pedaço de jornal com a foto dos meus antepassados estampada.


06 de Setembro de 1984: Uma pequena folha amarelada, com um poema infantil escrito pela minha avó, com um desenho meu (o da esquerda; notem como eu já era bom em desenhar mãos!) e um dela (a cabeça flutuante da direita).

27 de Setembro de 1990: certificado de conclusão do curso de desenho J.A. Sempre sinto muita vergonha quando vejo a terrível assinatura que eu usava na época...

20 de Setembro de 1990 à 30 de Maio de 1994: Certificados de passagens de faixa Nihon Karate Kiokai (Shotokan). Só tenho três deles, infelizmente, de 5º, 7º e 8º Kyu. Os outros se perderam no tempo.

10 de Junho de 1997: Certificado de participação no curso de iniciação aos quadrinhos, ministrada por ninguém menos do que André Macedo! Um dia ainda mando enquadrar esse troço!

23 de Outubro de 1997: Certificado de participação na Feira de Ciências Feira Mix. Nome terrível, mas me lembro como achei divertido participar de uma feira de ciências! Pra mim isso era coisa de filme, até então - tinha até um vulcãozinho que expelia chocolate derretido!

18 de Agosto de 1998: Comprovante de compra do meu primeiro carro, com o qual posteriormente me acidentei e que me fez desenvolver um terror de dirigir. Engraçado que eu sempre achei que tinha comprado esse carro depois de 2000. Bom, documentos tão aí pra provar que a gente tá errado, né?

Fins de 1999: Lista de aprovados no vestibular pra Artes Visuais, com o meu nome e do um penca de outras pessoas que eu ainda mantenho contato!

20 de Outubro de 2000: Crachá de vendedor de seguros. Pois é, já vendi seguros de vida.

Algum ponto entre 2002 e 2004: Conversas escritas com uma colega de aula durante a faculdade. Algumas são absolutamente insólitas. Uma hora tenho que transcrever algumas aqui! Lembro que eu e essa minha colega tínhamos uma fascinação por nos "corresponder" durante as aulas. Sentávamos um do lado do outro e ficávamos escrevendo e desenhando. E não, nenhum interesse romântico envolvido.

10 de Outubro de 2006: Resultado de exame de gravidez (negativo) da minha namorada na época. Me lembro como foi terrível esperar por esse resultado. Ficou só entre agente, e acho que nunca cheguei a contar pra ninguém que tivemos que fazer esse exame. Bom 10 anos depois, acho que não tenho mais vergonha alguma de admitir que já passei por isso uma vez (e só uma, até hoje).

entre 1998 e 2009: Cartas. Não lembrava que eram tantas. As primeiras eram de completos desconhecidos - eu simplesmente escrevia cartas, escolhia nomes aleatoriamente na lista telefônica e enviava. Alguns deles responderam. Nunca recebi mais de uma resposta da mesma pessoa, por esse processo. Ainda assim, foi uma experiência interessante. Depois tem algumas cartas de amor, trocadas com minha primeira namorada. Essas, não eram enviadas pelo correio - as vezes a gente escondia as cartas no meio das coisas do outro, e esperava pra ver quanto tempo ia levar pra serem encontrada. Depois algumas cartas internacionais (usei o mesmo método das primeiras cartas, mas dessa vez mandei pra fora do país). Me correspondi com um português e uma russa que morava em Amsterdã por algum tempo. Nenhuma das outras cartas que eu enviei tiveram respostas (e eu nem lembro quantas foram), mas esses dois me renderam alguns anos de conversas. Finalmente, mais cartas com outra namorada. Essas eram trocadas pelo correio, mesmo ela morando em Pelotas, inicialmente, embora depois ela tenha se mudado e tenhamos nos correspondido por algum tempo ainda. São poucas, mas foi interessante reler e ver como a paixão inicial se transformou em um carinho profundo mesmo depois de termos terminado.

Oh, sim, há mais lembranças dentro daquela pasta de documentos (como todos os certificados de participação de exposições, os recibos de pagamento da sala onde funcionou o Estúdio 9, mais documentos muito, muito velhos de alguns de meus antepassados, o brazão da família Gay, fotos 3x4 de várias épocas diferentes da minha vida...) mas estes citados acima foram os que hoje, me trouxeram algumas lembranças mais "agudas", digamos.

Além disso, que graça teria se eu falasse de todas as coisas legais que uma pasta de documentos pode conter de uma vez só?

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