quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

O Espadachim de Carvão

Um amigo meu mencionou esse livro um par de vezes - uma quando ainda estava lendo, e outra quando terminou de ler. Não foram exatamente menções entusiasmadas, mas sim algo como "uma curiosidade".

Eu, pessoalmente, nunca tinha ouvido falar no autor, e admito que fiquei surpreso ao final da leitura quando fiz uma procura pelo sujeito e descobri que ele tinha uma boa quantidade de coisas publicadas. Considerando que eu não tinha ouvido falar do trabalho dele em lugar algum - e tirando esse livro como base - só posso concluir que o fato dele trabalhar pra gente de calibre é o que permite que ele publique tanta coisa. Benefícios da fama/Quem Indique, aparentemente.

Não que o livro em si seja de todo ruim. Ele tem uma história geral quase boa, mas infelizmente há uma série de furos de roteiros difíceis de não perceber, além de vários problemas de estilo.

Aviso: Vou fazer algumas revelações sobre a trama nos próximos dois parágrafos (mais um desabafo do que qualquer outra coisa, na verdade), antes de ir adiante com a análise do livro. Como sempre, há um grande aviso sobre o início e o fim do trecho onde há revelações sobre a trama, então, se não tiver lido e não quiser receber alguma informação relevante sobre o livro, desça até o fim das revelações da trama e continue a leitura.

*** REVELAÇÕES SOBRE A TRAMA! ***

Se as espadas eram capazes de encontrar umas as outras através de um brilho fraco, como caralhos o sujeito, depois de ter ficado com elas por 7 anos, nunca, nunca notou isso? Sério, tu precisa ser completamente incapaz de ver pra não perceber luminescência vindo do cabo da tua espada quando está solitário, no porão de um navio pobremente iluminado - durante uma viagem de duas semanas! Alias, no primeiro combate do livro, ele enfrenta um grupo de assassinos e o combate termina em campo aberto, à noite, sem iluminação, e uma das espadas fica presa no corpo de um dos assassinos e ele precisa tirar, apoiando o pé no corpo e puxando a lâmina. No escuro. Sem tochas. Focado na espada. E ele não percebeu que ela brilhava. Tá bem.

Isso sem contar que o pai dele, nos sete anos em que ele teve as espadas, não mencionou em nenhum momento que elas eram relíquias... Alias, falando em pai dele, preciso dizer que considerando que eles são divindades capazes de prender outras divindades em prisões de cristal, criar vida, controlar o ambiente ao redor, viverem por milhares de anos, serem capazes de respirar sob a água, sem contar terem 10 metros de altura (sem contar todos os poderes que eles provavelmente tem e não foram mencionados) fica difícil engolir que ele foi morto por um grupo de assassinos bárbaros que foram logo em seguida derrotados por um sujeito com duas espadas - em 3 segundos.

** FIM DAS REVELAÇÕES SOBRE A TRAMA! ***

Além dos problemas envolvendo a trama em si, a narrativa tem uma série de problemas próprios. O escritor começa com descrições extremamente pedantes sem nenhum objetivo exceto de "parecer poético" - e que, obviamente, só servem pro leitor revirar os olhos.

"A pouca luminosidade que penetrava no depósito graças às brechas e falhas na madeira das paredes, porta e janela, perfurando as trevas como lanças pálidas querendo feri-lo."

"a lâmina de osso despertou com um silvo ao deslizar no forro da bainha, implorando que sua superfície perfeitamente branca logo fosse maculada."

Desnecessariamente rebuscado. Claro, isso dura umas 10 páginas. Depois o autor esquece completamente que estava fazendo essas descrições pedantes (e obviamente impossíveis de manter ao longo de um livro inteiro) e começa a escrever de maneira "normal". Elas servem só pra incomodar o leitor de arrancada. Péssima idéia.

Outro problema sério de estilo é o fato do autor trocar o tipo de fonte, espaçamento, usar caixa alta e abusar de múltiplos pontos no final de sentenças - vários "!!" e uma infinidade de "?!". Ninguém falou pra ele que ele estava escrevendo um livro, não digitando na internet... A escrita tem características tão esquizofrênicas que se torna incomoda de ler - pra alguém que gosta de ler livros, ao menos.

Finalmente, o livro tem algumas idéias que são interessantes, mas mal executadas. O autor não usa metros, ao invés disso usa passos pra medir distâncias e cascos pra medir comprimentos - o problema é que um casco tem uma medida de um palmo mais ou menos, seja lá quanto um palmo tenha - o meu tem 25 centímetros, então eu passei a usar essa medida. Daí quer toda vez que o autor te dá uma medida, tu precisa converter isso baseado no teu tamanho de palmos. Bem chato durante a leitura e acaba com a imersão. Bom trabalho criando uma identidade pro cenário, péssimo trabalho ao apresentá-la ao leitor.

Alias, o cenário é o ponto alto do livro. Tem uma mitologia toda própria, uma série de características tradicionais interessantes - por exemplo: Armas são feitas de Ambärr (material extraído dos ossos do animal de mesmo nome), ou de madeira. Não há menções À armas de metal. Conceito interessantíssimo. Além disso, há uma infinidade de raçass no cenário, apesar de, pra mim, os nomes longos terem sido um problema pra memorizar o que era o que, considerando que elas eram bem diferentes entre si.

Infelizmente, os pontos positivos nem de longe conseguem suplantar os negativos. O livro é, sem muitos rodeios, ruim. Trama interessante mas muito mal conduzida, personagens sem carisma, cenário mal explorado e escrita irregular. Não pretendo voltar a ler Affonso Solano, e não recomendo.

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