quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Dragons of Autumn Twilight

Há muito tempo eu queria ler essa série. É uma daquelas coisas sobre as quais todos os jogadores de RPG ouve e fica curioso pra conhecer - mais ou menos como Não Faça Acordos com o Dragão, exceto que Dragonlance é bem mais antigo e bem mais conhecido entre RPGistas.

Dragonlance começou como um projeto para um cenário de AD&D em que os dragões seriam mais relevantes do que os cenários já clássicos na época (como Forgotten Realms, Mystara e Greyhawk) que tinham dragões, mas como meros monstros coadjuvantes - na verdade, muitas campanhas de D&D nunca figurariam um dragão, já que eles são criaturas muito poderosas e a maioria dos grupos não atinge o nível necessário pra enfrentar um deles. Assim, Dragonlance foi desenvolvido com a proposta de criar um cenário onde dragões fossem um dos componentes que fizessem parte das engrenagens que fazem o cenário funcionar. E nisso, o livro é extremamente bem sucedido!

De fato, o livro é bem sucedido em tudo. Tem uma trama atraente, personagens interessantes, um cenário rico e é muito bem escrito. Na verdade, eu preciso admitir que o livro é muito melhor do que eu esperava. Sempre achei que grande parte da fama dos livros entre os RPGistas se desse pelo fato de serem livros que falam de um cenário de RPG, e me surpreendeu positivamente perceber que não, o livro é bom como literatura, como história, não apenas como "um livro sobre D&D".

Alias, falando sobre esse ser "um livro sobre D&D", conta a lenda que esses livros foram baseados em uma campanha que teria sido posteriormente novelizada. Nunca imaginei que algo assim pudesse funcionar até ler esse primeiro livro. Mas funciona! E é divertidíssimo ver situações de jogo dentro da história - decisões ruins, falhas críticas, sucessos decisivos, magias... Todos esses pequenos detalhes são perceptíveis para um jogador de RPG durante a leitura, e achei fantástico como Weiss e Hickman conseguiram traduzir isso de forma tão perfeita no livro.

Pra mim, a melhor parte do livro é o Raistlin. Além de ser o meu personagem favorito - torçam os narizes, mas ele é ótimo dentro do seu anti-heroísmo - o fato dele posar de grande mago fodão enquanto toca Luz, Detectar Magia e Mãos Flamejantes (e uma Teia, olha só!) entre outras magias de nível baixo é fantástico. Weiss e Hickman fazem ele parecer poderoso e medonho mesmo sendo só um mago de nível baixo, com Constituição negativa e praticamente nenhuma capacidade combativa. Não sei se o personagem foi construído dessa forma pelos autores ou se o jogador que interpretava ele era muito bom!

Leitura fortemente recomendada!

segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

All Consuming Fire

Sherlock Holmes encontra Dr. Who e ambos enfrentam Azathot. Sim, é uma salada de frutas entre histórias de detetive, horror e ficção científica - tudo dentro do clima de "humor" meio nonsense de Dr. Who.

É meio difícil pensar em algum nerd que não vá gostar desse audio book. Além de ser muito mais curto do que audio books tradicionais (tem cerca de uma hora e meia de duração, com algumas curiosidades no final do arquivo), o que certamente facilita bastante pra quem não consegue ficar focado em audios de 25 horas ou mais (dependendo do livro) a história mistura três franquias ridiculamente famosas - só abarcaria mais nerds se tivesse o Kirk ou o Vader na história... E nem seria tão ridiculamente absurdo assim, pensando bem!

A história é simples e direta, como um episódio de série, sem grandes subtramas, e vai tão direto ao ponto quanto possível, sem enrolações.

Eu gosto muito de Sherlock Holmes e sou um apreciador dos Mythos de Lovecraft também, e achei ambos muito bem representados na história. Não gosto de Dr. Who, mas acredito que, principalmente porque é uma história dele, afinal de contas, os fãs da série devem gostar da história tanto ou mais do que eu.

uma pequena nota: achei o som menos do que ideal. As músicas são altas demais, e algumas partes das falas ficam confusas por conta da quantidade de efeitos sonoros. Não é realmente um grande problema, mas eu precisei ajustar o volume algumas vezes pra achar o ponto ideal pra ouvir sem ser incomodado.

Enfim! Escutem e divirtam-se!

sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

The Amber Spyglass

Concluindo a trilogia de livros His Dark Material, de Phillip Pullman, The Amber Spyglass segue o clima do livro anterior, The Subtle Knife, deixando ainda mais para trás a narrativa do primeiro livro. Novamente, aqui, Pullman foca nas questões de dimensões paralelas e se concentra em explicar o funcionamento da "poeira", além de explorar mais a fundo os anjos e a Autoridade.

Como bônus, nesse terceiro audio book temos o próprio autor lendo algumas passagens, especificamente as introduções do livro, que são excertos de textos de outros autores. Bastante interessante.

Antes de falar do livro em si, preciso fazer uma pequena observação: dois capítulos desse livro estavam nos arquivos de audio do livro anterior, The Subtle Knife, o que certamente confundiu bastante a coisa toda. Acho, inclusive, que os dois capítulos "dobrados" ficaram no lugar dos capítulos originais do livro, porque em nenhum momento eu encontrei uma explicação de como Mary Mallone acabou atravessando a barreira das dimensões - ela cita isso nesse terceiro livro, mas nunca explica. E pelo que percebi da narrativa de Pullman, ele não costuma deixar nada fora do lugar. Então a resenha daquele livro pode ter sido prejudicada por conta disso - mas duvido que mudasse muito minha opinião sobre o livro como um todo.

De fato, assim como não gostei do segundo livro, muito distante da narrativa do primeiro, também não gostei desse terceiro livro, por motivos diferentes. Já esperava que a narrativa se focasse mais na "poeira" e nas dimensões paralelas, como no livro anterior, mas uma série de coisinhas nesse livro me desagradaram.

E sim, vou falar sobre isso, então, aviso: Revelações sobre a trama adiante.

*** REVELAÇÕES SOBRE A TRAMA ADIANTE ***

Três coisas especificamente me incomodaram no livro. A primeira, menos importante, foi a adição de um Demônio para Will. Não entendi nem como nem porque ele passou a ter um Demônio "desperto", e achei ainda mais tolo isso acontecer tão no final da estória. Me pareceu tão... Inútil. Pareceu que Pullman quis criar um vínculo maior entre Will e Layra através de uma natureza mais semelhante, só pra que a separação forçada dos dois fosse ainda mais traumática.

O segundo problema pra mim é a série de personagens que simplesmente não têm razão de existir. O tal padre assassino (Luiz, acho), que a gente acompanha durante todo o livro, simplesmente morre sem fazer nenhuma diferença pra história - nenhuma diferença MESMO! Mary Mallone, apesar de criar a Luneta do título, também não faz nada pela história, além de ocupar espaço - mesmo porque a luneta não tem nenhum impacto na trama, de qualquer modo. Os Mulefas são totalmente desnecessários na história, e só estão lá pra explicar de onde vieram e como são diferentes das outras formas de vida, mais nada. Me parece que a existência desse eixo inteiro da tramas só serve pra ocupar espaço no livro, sem nenhum motivo.

A terceira coisa que me incomodou - e isso, sim, me incomodou bastante! - é a Autoridade. Um anjo (que foi um humano seis mil anos atrás), colocado no lugar de Deus pra governar a existência, com milênios de existência, capaz de ler sentimentos humanos, brilhar como uma lâmpada fosforescente e liderar hordas de Anjos, além de ter um castelo voador. E daí ele é seduzido por uma mortal e, como se isso não fosse idiota o suficiente,  derrotado no braço por dois humanos sem nenhum tipo de treinamento marcial - dois cientistas! Serio? Sou a criatura mais poderosa do universo, mas como posso ser derrotado por qualquer um, vou deixar meu castelo e ir, sozinho, matar esse sujeito porque essa humana gostosa (e sabidamente mal-caráter) vai me ajudar. Uhum. Certamente Metatron não foi colocado no cargo de administrador por conta da sua inteligência, nem sua capacidade de liderança ou seu bom senso. Alias, como ele não apresenta nenhuma qualidade, fica difícil levar a sério que ele era o sujeito malvado no fim da história. Bem difícil... Ele é impulsivo, belicoso, arrogante, lascivo, emotivo... Como um sujeito com seis mil anos de idade, com todos esses defeitos, consegue não só permanecer vivo mas comandar todo o exército mais poderoso da criação é um mistério que desafia qualquer explicação que eu tenha sido capaz de extrapolar!

*** FIM DAS REVELAÇÕES SOBRE A TRAMA ***

Esperava bem mais dessa trilogia, principalmente porque o primeiro livro é muito bom. Uma pena.

Minha sugestão é ler o primeiro livro e esquecer que tem mais dois volumes na série. Seriamente.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

O Espadachim de Carvão

Um amigo meu mencionou esse livro um par de vezes - uma quando ainda estava lendo, e outra quando terminou de ler. Não foram exatamente menções entusiasmadas, mas sim algo como "uma curiosidade".

Eu, pessoalmente, nunca tinha ouvido falar no autor, e admito que fiquei surpreso ao final da leitura quando fiz uma procura pelo sujeito e descobri que ele tinha uma boa quantidade de coisas publicadas. Considerando que eu não tinha ouvido falar do trabalho dele em lugar algum - e tirando esse livro como base - só posso concluir que o fato dele trabalhar pra gente de calibre é o que permite que ele publique tanta coisa. Benefícios da fama/Quem Indique, aparentemente.

Não que o livro em si seja de todo ruim. Ele tem uma história geral quase boa, mas infelizmente há uma série de furos de roteiros difíceis de não perceber, além de vários problemas de estilo.

Aviso: Vou fazer algumas revelações sobre a trama nos próximos dois parágrafos (mais um desabafo do que qualquer outra coisa, na verdade), antes de ir adiante com a análise do livro. Como sempre, há um grande aviso sobre o início e o fim do trecho onde há revelações sobre a trama, então, se não tiver lido e não quiser receber alguma informação relevante sobre o livro, desça até o fim das revelações da trama e continue a leitura.

*** REVELAÇÕES SOBRE A TRAMA! ***

Se as espadas eram capazes de encontrar umas as outras através de um brilho fraco, como caralhos o sujeito, depois de ter ficado com elas por 7 anos, nunca, nunca notou isso? Sério, tu precisa ser completamente incapaz de ver pra não perceber luminescência vindo do cabo da tua espada quando está solitário, no porão de um navio pobremente iluminado - durante uma viagem de duas semanas! Alias, no primeiro combate do livro, ele enfrenta um grupo de assassinos e o combate termina em campo aberto, à noite, sem iluminação, e uma das espadas fica presa no corpo de um dos assassinos e ele precisa tirar, apoiando o pé no corpo e puxando a lâmina. No escuro. Sem tochas. Focado na espada. E ele não percebeu que ela brilhava. Tá bem.

Isso sem contar que o pai dele, nos sete anos em que ele teve as espadas, não mencionou em nenhum momento que elas eram relíquias... Alias, falando em pai dele, preciso dizer que considerando que eles são divindades capazes de prender outras divindades em prisões de cristal, criar vida, controlar o ambiente ao redor, viverem por milhares de anos, serem capazes de respirar sob a água, sem contar terem 10 metros de altura (sem contar todos os poderes que eles provavelmente tem e não foram mencionados) fica difícil engolir que ele foi morto por um grupo de assassinos bárbaros que foram logo em seguida derrotados por um sujeito com duas espadas - em 3 segundos.

** FIM DAS REVELAÇÕES SOBRE A TRAMA! ***

Além dos problemas envolvendo a trama em si, a narrativa tem uma série de problemas próprios. O escritor começa com descrições extremamente pedantes sem nenhum objetivo exceto de "parecer poético" - e que, obviamente, só servem pro leitor revirar os olhos.

"A pouca luminosidade que penetrava no depósito graças às brechas e falhas na madeira das paredes, porta e janela, perfurando as trevas como lanças pálidas querendo feri-lo."

"a lâmina de osso despertou com um silvo ao deslizar no forro da bainha, implorando que sua superfície perfeitamente branca logo fosse maculada."

Desnecessariamente rebuscado. Claro, isso dura umas 10 páginas. Depois o autor esquece completamente que estava fazendo essas descrições pedantes (e obviamente impossíveis de manter ao longo de um livro inteiro) e começa a escrever de maneira "normal". Elas servem só pra incomodar o leitor de arrancada. Péssima idéia.

Outro problema sério de estilo é o fato do autor trocar o tipo de fonte, espaçamento, usar caixa alta e abusar de múltiplos pontos no final de sentenças - vários "!!" e uma infinidade de "?!". Ninguém falou pra ele que ele estava escrevendo um livro, não digitando na internet... A escrita tem características tão esquizofrênicas que se torna incomoda de ler - pra alguém que gosta de ler livros, ao menos.

Finalmente, o livro tem algumas idéias que são interessantes, mas mal executadas. O autor não usa metros, ao invés disso usa passos pra medir distâncias e cascos pra medir comprimentos - o problema é que um casco tem uma medida de um palmo mais ou menos, seja lá quanto um palmo tenha - o meu tem 25 centímetros, então eu passei a usar essa medida. Daí quer toda vez que o autor te dá uma medida, tu precisa converter isso baseado no teu tamanho de palmos. Bem chato durante a leitura e acaba com a imersão. Bom trabalho criando uma identidade pro cenário, péssimo trabalho ao apresentá-la ao leitor.

Alias, o cenário é o ponto alto do livro. Tem uma mitologia toda própria, uma série de características tradicionais interessantes - por exemplo: Armas são feitas de Ambärr (material extraído dos ossos do animal de mesmo nome), ou de madeira. Não há menções À armas de metal. Conceito interessantíssimo. Além disso, há uma infinidade de raçass no cenário, apesar de, pra mim, os nomes longos terem sido um problema pra memorizar o que era o que, considerando que elas eram bem diferentes entre si.

Infelizmente, os pontos positivos nem de longe conseguem suplantar os negativos. O livro é, sem muitos rodeios, ruim. Trama interessante mas muito mal conduzida, personagens sem carisma, cenário mal explorado e escrita irregular. Não pretendo voltar a ler Affonso Solano, e não recomendo.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

His Dark Materials - The Subtle Knife

Ok. Tenho bastante coisa pra falar sobre o segundo livro da série His Dark Materials do Philip Pullman, então sem enrolações, vamos direto ao assunto.

E já aviso que, apesar de serem mantidas dentro do estritamente necessário, vão haver revelações sobre a trama nessa resenha.

Primeiro, esse livro é completamente diferente do primeiro. Não tem o elemento steampunk do primeiro, ao invés disso focando em viagens entre dimensões paralelas, principalmente uma versão da terra dos anos 80 e uma cidade italiana cheia de fantasmas. Ou seja, se o clima steampunk foi um dos atrativos do primeiro livro, esteja avisado pra uma coisa completamente diferente aqui.

Além disso, o clima é completamente diferente. O ritmo é mais lento, a história é muito mais focada na protagonista (e no novo protagonista) e os personagens secundários praticamente desaparecem. Sim, eles estão lá, mas não são mais um universo vivo ao redor dos personagens, criando tramas e impulsionando a história. Além disso eles cumprem seus papéis de forma estoica e depois desaparecem completamente da história. Fim de papo, nada de gastar linhas com personagens não essenciais.

Além disso tudo, Pullman joga uma série enorme de novos elementos na história (novas raças, novas realidades inteiras, novas visões sobre os elementos já vistos no primeiro livro...) e não explica absolutamente nada. Nada, mesmo! Quer saber alguma coisa a mais sobre Dust? Bom, não tem nada nesse livro. Eles revolvem sobre o assunto sem adicionar nada de novo.  Quer saber onde foi parar Lorde Asriel? Ou qual o plano dele? Ou o plano de Miss Coulter? Nenhuma resposta aqui. Esse livro só adiciona mais perguntas, complica os elementos já existente, adiciona bizarrices novas e não avança a trama nem uma linha.

E eu não gostei do ritmo do livro. De uma história clássica de fantasia, com um ritmo de balada heróica, o livro se torna basicamente a relação entre duas crianças sem nenhum tipo de curiosidade até a metade - sério, eu queria muito pegar os protagonistas pelos ombros e balançar eles pra ver se saia uma criança de verdade ali de dentro! Eles são basicamente adultos pequenos, exceto quando a trama exige que eles hajam como crianças. Duvido que o Pullman tenha tido filhos - e se teve, tenho pena das pobres crianças...

A segunda metade do livro fica mais parecida com o primeiro, com elementos mais familiares à história, alguns personagens resgatados do primeiro livro e uma tentativa muito sem vontade de fazer a história voltar a andar - ainda que aos tropeções. Mas depois do desgaste da primeira metade do livro, eu admito que ia ser necessário um esforço muito grande do autor pra me fazer entrar no ritmo outra vez - e isso simplesmente não acontece.

Conclusão: o livro é chato, os protagonistas são inverossímeis, a trama é praticamente auto-contida. Quero ler o terceiro livro e descobrir se Pullman dá algumas respostas ou se ele vai simplesmente ficar empurrando a história com a barriga, como fez nesse livro. De fato, acredito que, se algumas respostas forem dadas no terceiro livro, esse livro do meio pode se tornar completamente desnecessário.
Possivelmente um dos piores livros que eu já li - e olha que eu leio um bocado de livros ruins de propósito...