sexta-feira, 13 de junho de 2014

Livro das Bestas

Primeiramente, gostaria de deixar claro que por Bestas entenda-se animais, e não pessoas imbecís. É importante manter isso em mente - quando eu peguei o livro pela primeira vez, foi mais porque achei que era alguma livro de humor, pra ser sincero.

Segundo, fica aqui meu descontentamento com a tradução de nomes. O autor do livro é um tal Lúlio, cujo primeiro nome é Raimundo. Possivelmente algum nordestino, foi o que pensei num primeiro momento. Sim, foi um pensamento bastante preconceituoso, mas foi o meu primeiro pensamento, de fato. Meu cérebro tem uma grande tendência ao preconceito.

Mas seguindo adiante: Quando li a apresentação, vi que o livro tinha sido escrito em 1286. Hum... Não haviam nordestinos chamados Raimundo, nessa época. Talvez Porãs ou Tupinambás, mas certamente, não Raimundos. Ok, então não foi um nordestino quem escreveu o livro.

Seguindo adiante, em Vida do Autor, descobri que na verdade, o autor se chamava Ramon Llull. Pois é. Um catalão do século XIII que, graças à uma estranha mania dos brasileiros de traduzir nomes, acabou ficando com o nome de um nordestino genérico. Não consigo entender a razão pra isso, mas deve haver alguma. Ou não.

Sobre o livro em si - que tem só noventa páginas, mas que tem um terço de introduções (são quatro, no total) e a história, em sí, ocupa apenas 60 páginas. Em formato A5. Pois é, acho que ia ser feio publicar um livro de pensamento medieval com somente sessenta e quatro páginas. Em A5, quero reforçar.

Bom, mas então, do que trata o livro, em suas minguadas sessenta páginas? Ora, é uma espécie de manual de boa conduta para governantes, parte de um livro maior (chamado de "livro das maravilhas") cujo caráter não fica explicito nesse livro. O capítulo das Bestas é basicamente uma narrativa sobre a eleição e o início do reinado de um leão em um determinado reino, que abusa de fábulas para exemplificar cada ação dos animais durante o reinado do tal leão. Aparentemente a única maneira de se considerar um argumento válido, para o autor, é criar - ou aproveitar de outra fonte - uma alegoria que faça seus interlocutores refletirem sobre o assunto. Algumas são bem interessantes, mas a maioria é chata e, devo admitir, lá pela metade do livro, toda vez que uma frase começava com "-Aconteceu que, em tal lugar..." eu já revirava os olhos em espasmos incontroláveis. Isso me fez levar quase uma semana pra ler um livreco de sessenta páginas.

É claro que, em se tratando de um livro do século XIII, a moral cristã é o condutor do livro, e nada acontece sem o desejo do deus católico. Vencem batalhas aqueles que são mais tementes à ele (e, claro, todos o são, ou nem apareceriam no livro) e só nos seus ensinamentos se consegue sabedoria. Esse foi um outro motivo que me fez considerar a leitura extremamente penosa - e ajudou na demora pra terminar as tais 60 páginas. Em A5.

É importante observar que comprei esse livro porque, na enganosa introdução (uma delas...) lê-se: "exemplo notável da tradição de bestiários medievais, o Livro das Bestas faz parte de uma obra maior de título Félix, ou Livro das Maravilhas." Obviamente, eu esperava algo como uma versão medieval do Livro dos Seres Imaginários, do Jorge Luis Borges (alias, tenho que reler e resenhar esse livro!). Uma lamentável interpretação errada do que a introdução queria dizer.

O livro não é de todo inútil. Tem algumas notas de pé de página interessantes sobre a cultura catalã medieval, e isso é sempre interessante. Mas fica aqui minha dica: se for ler esse livro, fique só nas notas de pé de página.

2 comentários:

  1. Respostas
    1. Acho que e me divirto mais escrevendo resenhas dos livros que eu NÃO gostei... É um caso de estudo. Ou não...

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