quinta-feira, 29 de maio de 2014

Holy Avengers

Como todos devem saber, eu não gosto de mangá. Apesar do meu principal problema com o estilo ser a cultura otaku que se desenvolveu por aqui nos últimos anos, que basicamente considera que mangá e anime são as maiores dádivas para a humanidade e não tem nenhum tipo de conhecimento de mundo fora do seu fandon. Considero o estilo absolutamente auto-contido - ou seja, otakus amam anime e mangá e se contentam com isso, uma vez que estes simplesmente não abrem possibilidade para que seus fãs se interessem por mais nada (exceto, talvez, outros produtos baseados da franquia, como jogos).

É obvio que isso é uma generalização, mas infelizmente conto nos dedos as pessoas que conheci que se intitulam otakus e com quem eu consigo manter uma conversa minimamente interessante sem dezenas de referências e comparações à mangolices: "porque no bleach...", "Ela parece a Saori Kido!", "é, como no one piece!". É enervante.

Mas eu mesmo já assiti bons animes (Legends of Lodoss Wars, Cowboy Beebop) e gostei de uns poucos mangás (Mai, a Garota Sensitiva e... Hum... Ok. Foi só esse, mesmo), mas o volume de lixo no qual eles estavam envolvidos era preocupante. Além das considerações estéticas - não só de desenhos, mas também no que diz respeito à diálogos - há também a questão de cultura que eu sempre acho extremamente alienígena e, principalmente, os finais geralmente cheios de LSD!

Oh, bm, estou derivando do que vim escrever. Mas falar de qualquer coisa mangalóide gera esse impulso automático de ligar o modo Ódio.

*suspira*

Mas, bem, como eu disse, há alguns bons mangás por aí. E, surpreendentemente, um deles é nacional! Provavelmente (não tão surpreendentemente) um dos títulos de HQs mais bem-sucedido da contemporaneidade brasileira é justamente nesse estilo. Digo que não é tá surpreendente porque, considerando o público otaku que vêm crescendo alarmantemente no país nos últimos anos, e considerando que esse público engole qualquer coisa da escola amarela de HQs sem precisar digerir, é compreensível que uma história em estilo mangá tenha sido tão bem recebida.

(sim, eu tive uma pequena recaída de Ódio)

*suspira*

Holy avengers, criado por Marcelo Cassaro, um dos maiores incentivadores para o crescimento do RPG no país, e Erica Awano, uma competente desenhista da escola mangazeira (eu não saberia dizer o que mais ela fez, e quais são suas influências, uma vez que essa obra é tudo que já vi da mulher) é uma leitura interessante. Com 42 edições, além de alguns especiais ao longo do caminho, ela conta uma história que se passa Arton, o mundo-cenário de tormenta, o RPG brasileiro com mais material lançado até hoje. A trama faz algumas modificações importantes no cenário, além de algumas revelações também importante, e mistura novos personagens com velhos PDMs consagrados - todos completamente adaptados para o estilo mangá, com direito à mechas, armaduras com pedras brilhantes, muitas garotas padronizadas com pouca roupa (em maior ou menor grau) e personagens masculinos com cara de galã e cérebro de minhoca - ou cara e cérebro de dinossauro, no caso do Tork.

O desenrolar da trama é bem amarrado, apesar de algumas coisinhas serem bem forçadas - como em qualquer campanha de RPG, alias... - mas definitivamente os personagens pecam pelo excesso. Apesar de bem construídos, eles são todos estereótipos ou paradoxos completos. A quantidade de "piadas" sexuais, geralmente sexistas, também me incomodaram um pouco, além do tom cômico em uma trama com uma profundidade dramática teoricamente muito alta. Um casamento deveras infeliz, que definitivamente não me agradou.

Mas os vilões são bem interessantes! Na verdade, são a parte mais interessante da história - apesar de algumas ações completamente descabidas e sem sentido acontecerem aqui e ali, simplesmente para que a natureza "vilânica" deles ficasse bem visível...

A trama quase compensa a maioria dos pecados da história, e o plano maligno bem engendrado mantem a história andando e o leitor interessado, nem que seja pra saber "o que vem á seguir".

REVELAÇÕES DA TRAMA À SEGUIR!!!

Eu, particularmente, pulei a maioria dos diálogos que obviamente tratavam de amenidades ou do amor incondicional de Sandro por Lizandra - certamente o ponto mais fraco da trama, e que, na verdade, fez o meu interesse pela história ir decaindo ao longo da leitura. Quando finalmente Sanro diz "eu te amo" pra Lizandra, e ela brilha como um projeto de Edward ao sol da manhã, eu quase desisti do troço, mas faltavam três edições pro final da história... Considerando que ambos tinham se encontrado três vezes, e que não trocaram mais do que uma hora de conversa nesse tempo todo, além de Lizandra ter matado Sandro em um dos encontros, achei o "amor" dos personagens um pelo outro não só absurdo, mas tosco e bobo. Creio que esse é um dos poucos casos em que "Yet a better love history than twillight" não se aplica...

FIM DAS REVELAÇÕES DA TRAMA!!!

Antes de terminar, gostaria de propor um exercício de resistência aos leitores. Façam pesquisas no google images por Niele cosplay. Tem poucas personagens com cosplays tão ruins - provavelmente porque a própria personagem é mais ofensiva do que interessante... - quanto ela.

Ora, vejam. eu estava realmente me concentrando pra fazer uma crítica favorável à Holy Avenger, mas não adiantou. A medida que pensei sobre a série, depois de ler, me dei conta que, realmente, não gostei. Algumas boas idéias, é verdade, mas a maior parte do recheio, realmente, ficou muito insosso.

Enfim! Vendeu bem, e tem fãs até hoje. Cassaro e Awano devem estar satisfeitos!

2 comentários:

  1. Comecei a ler a pouco tempo Holy Avenger e identifiquei os mesmos problemas, mas no fundo tem seu valor.

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    1. Sim, a trama é boa, e o final é bem interessante, mas infelizmente os personagens são rasos como pires e têm motivações muito fracas.

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