quinta-feira, 22 de maio de 2014

Ninja


Fazia muito tempo que eu não chegava perto de qualquer tipo de material com conexão com o oriente, principalmente devido ao meu crescente ranço com relação aos otakus. No entanto, durante alguns anos, no final da minha adolescência, eu tinha verdadeira admiração pela história e pela cultura oriental. O estudo dessas áreas simplesmente foi se embaçando com o tempo, devido à invasão dos animes e mangás na nossa cultura, e o consequente aumento dessa forma de sub-inteligência chamada de otakus.

Mas eis que fui convidado por um amigo para jogar Legends of the Five Rings, um RPG  focado na cultura oriental e que não tem o insosso sabor dos imensos olhos mangalóides. Já tinha dado uma flertada com o cenário anos atrás, e fiquei admirado com o cenário. Quando a oportunidade de jogar - com um grupo de pessoas com o mesmo gosto duvidoso que o meu, ou seja, com pouca atração por otakuzices - me foi oferecida, aceitei prontamente!

No entanto, fazia tanto tempo que eu não tinha contato com a cultura oriental, que admito que me senti um pouco deslocado quando comecei a pensar nos conceitos básicos do personagem.

Para me aclimatar, baixei Sete Samurais, do Kurosawa - que baita filme! - e, claro, fui atrás de algum livro pra ler. A primeira coisa que pulou na minha frente foi Ninja, de um tal Eric Von Lustbader. Nunca tinha lido nada do autor, e já tinha visto esse mesmo livro (com seu selinho de 'Best Seller") em mais de um balaião por aí. Apesar das mais de 500 páginas, o livrinho custava meros 3 reais, e acabei passando a mão nele. Não podia ser tão ruim, afinal. Poderia? Eu esperava que não, porque a possibilidade de enfrentar uma monstruosidade de 500 páginas de literatura ruim realmente não é uma projeção interessante...

Mas eis que, apesar do nome, o livro é bem bom! Apesar do nome que provavelmente afasta a maioria dos leitores, graças depois àquela onda maluca de ninjaexploitation da década de oitenta, a obra é bem agradável de ler. É um thriller bem escrito, passado em duas épocas distintas: o verão californiano de 1980 e o japão pós-guerra de 1945 até 1963. Com uma estrutura de cinco capítulos - nomeados em homenagem ao Go Rin no Sho de Miyamoto Musashi, sendo os quatro primeiros divididos entre os dois momentos distintos do livro e o último capítulo concluindo a obra, o leitor vai conhecendo o protagonista da obra, o mestre de Kenjutsu Nicholas Linnear, filho de um coronel inglês das forças de ocupação do japão e sua esposa Cheong, uma chinesa com descendência japonesa, e a ligação entre sua adolescência no japão e uma estranha cadeia de assassinatos na costa dos EUA mais de vinte anos depois.

Apesar do nome, o livro é, na verdade, um grande tratado de kenjutsu - com óbvios exageros com realção ao que praticantes dessa arte-marcial são capazes de realizar, mas ainda assim, suficientemente verossímil para não ofender a inteligência do leitos. Com uma exploração muito bem feita da cultura japonesa e seus valores durante a crise que se seguiu à segunda guerra, alternado com uma história policial no melhor estilo Massacre no Bairro Japonês - incluindo algumas (bem escritas) cenas de sexo - o senhor Lustbader cria nesse livro uma excelente obra, com personagens interessantes e carismáticos, usnado alguns clichês bem-vindos com algumas idéias realmente novas (pra época, que fique claro) em uma trama muitíssimo bem amarrada.

O único pecado do livro são suas últimas duas páginas, que, após uma conclusão bastante satisfatória da obra, criam um gancho aparentemente inserido às pressas para uma continuação. Não chega à ser um problema. O leitos simplesmente deve fechar o livro (ou ignorar os acontecimentos) quando Liinnear atende o telefone faltando duas páginas para o final do livro. Simples.

Esse livro é o início de uma série - que eu provavelmente nunca vou tentar ler, porque é muito possível que a continuação da história não consiga atingir a qualidade desse primeiro volume.

Em tempo: enquanto lia a obra lá pela Montecristo, antes de uma aula, o Oscar me perguntou o que eu andava lendo, e trocamos algumas idéias sobre o livro. Ele nunca leu Ninja, mas me informou que o autor, o tal Lustbader, é o autor de uma outra série de livros que viraram filmes. Alguém aí conhece a saga do senhor Bourne? Pois é, são baseados em uma série de livros desse mesmo cara! Assim, quem já viu a série, pode ter uma boa idéia das capacidades marciais do senhor Linnear - é só substituir armas de fogo e armas improvisadas por uma brilhante a afiada katana!

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