domingo, 3 de outubro de 2021

Starship Troopers

 


Esses tempos, conversando com o doutor professor Marco Antônio Collares, à quem eu posso contar entre meus amigos pessoais desde longa data, falamos sobre grandes filmes, que, mesmo sendo ruins, nós adorávamos e defendíamos com unhas e dentes. Tropas Estelares foi citado, e como eu adoro o filme, não pude deixar de defende-lo - embora, claro, meu interlocutor concordasse que era um excelente filme. Como parte da trívia sobre o filme, adicionei que o livro do qual ele deriva, embora bastante diferente em tom e ritmo, também era excelente. O douto que participava comigo do diálogo se mostrou surpreso em saber que havia um livro que dera origem ao filme. Eu enfatizei que era um excelente livro, escrito no fim da década de cinquenta, ganhador de prêmios e que eu lera com fascínio quinze ou mais anos antes, e que talvez fosse hora de reler a obra. 

Minha versão do milênio passado - que leu a obra pela primeira vez - era um entusiasta do militarismo, ainda francamente frustrado por não ter podido ingressar no exército e seguir os passos do avô - que lutou na segunda guerra mundial - e que estudava com interesse história militar, armas e exércitos de diversas épocas e culturas. Provavelmente muito do meu entusiasmo com relação ao livro vem de um apego sentimental àqueles ideias que, certamente, na época, fizeram a leitura do livro parecer uma versão utópica do futuro. 

Não que o atual leitor - ou, nesse caso, ouvinte - da obra tenha desgostado do livro. De forma alguma. Ainda é uma grande obra, um romance de formação dentro de um cenário de ficção científica, em que a humanidade se uniu sob uma organização altamente militarista totalmente livre de preconceitos raciais e culturais, que permite que apenas aqueles que serviram o exército possam votar uma vez reformados, com críticas contundentes contra o comunismo e delinquência juvenil. De fato, há muitas discussões filosóficas sobre moral, responsabilidade e humanitarismo ainda ecoam fortemente comigo. Além disso, as descrições sobre as armaduras, naves e estratégias militares renovaram meu entusiasmo para trabalhar em materiais sobre ficção científica e space opera. 

Mas, certamente, o livro tem recebido fortes críticas ao longo dos anos, e embora Heinlein tenhas sido um veterano do exército e sabidamente entusiasta do militarismo - Starship Troopers foi escrito, aparentemente, como resposta ao cancelamento de testes nucleares pelos Estados Unidos alguns anos antes - ainda há muito material interessante para ser discutido dentro da obra, tanto por aqueles que são favoráveis ou contrários à visão do autor. 

Acredito que a obra ainda é extremamente valiosa, não só pelo aspecto histórico - criando a primeira unidade de "soldados em armaduras robóticas" da ficção - mas pelas discussões filosóficas e sociais levantadas pelo protagonista. Concordando ou discordando delas, elas são extremamente válidas, ainda hoje, e podem gerar não apenas uma excelente reflexão mas também muitos argumentos interessantes. 

Em tempo: Starship Troopers é um romance de formação, e nós vemos Rico amadurecer e se desenvolver no cenário ao qual ele é exposto. o livro traz, portanto, uma propaganda militarista, mostrando o quanto é ideal uma sociedade moldada pela disciplina e o companheirismo militares, mas ela levanta muitas outras questões, referentes não só à visão de Heinlein, mas também às implicações sociais nos outros estratos da sociedade ao redor dele. 

Com uma mente aberta e prontidão para reflexão, essa é, definitivamente, uma leitura fortemente recomendada! 

Post Scriptum 1: quando eu fui ler o livro, tinha a lembrança de que a narrativa era, na verdade, anti-militarista, e levei algum tempo ao longo da obra pra perceber o contrário. Provavelmente reflexo da versão cinematográfica do filme, que satiriza os aspectos mais militaristas da obra com bastante eficiência. 

Post Scriptum 2: escutei este audiobook no youtube. Não sei o quanto isso é legal, mas está lá, e vou aproveitar pra deixar o link à seguir. 




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