quinta-feira, 16 de julho de 2020

Grunhidos e reclamações de isolamento social

Quem me conhece sabe que eu não sou de reclamar (na verdade, eu geralmente sou o otimista chato do rolê....) e que o Café com Letra não é o ambiente onde eu exponho muito a minha vida cotidiana, mas putamerda, PUTAMERDA, essa semana tá foda!

Eu sou tabagista inveterado, tendo fumado por mais da metade da minha vida. Graças à isso, uma parte da minha grana fica separada especificamente pra fumo - uns 20 pila por mês, atualmente, porque desde que começou o distanciamento social e a Taverna do Valhalla fechou, eu estou reduzido à fumo de palheiro e um eventual cigarro de presente que algum amigo deixa por aqui quando me visita  (o famoso "cimidão") porque não dá pra tentar manter um patamar muito elevado em tempos de crise; é só pra manter o vício, mesmo. Eu calculo isso muito bem porque, com a grana extremamente apertada desde o começo da pandemia, eu preciso fazer um racionamento eficiente de fumo pra não ficar sem. Quem tem algum vício sabe que ficar em abstinência em situações de tensão - e essa maldita pandemia tá sendo estupidamente tensa! - é um troço que faz o cara ficar irritado  por nada, sem conseguir se concentrar e planejar de maneira decente.

"Tá, mas porque o cara tá falando sobre o vício dele em cigarros? Qual é o ponto dessa conversa?" pergunta alguém lendo essa publicação.

Bom, vamos aos acontecimentos da semana. Me acompanhem.

Eu estou sem o meu trabalho de praxe, que era a Taverna do Valhalla (pra quem não sabe, sim, era uma taverna, taverna mesmo, o mais medieval que eu consegui recriar) e pra pagar as contas, estou fazendo a única coisa que eu sei fazer de forma profissional: ilustrações. Mas como eu estava com muito pouca prática em trabalhar com trabalho de encomenda - e o ritmo atual definitivamente não está ajudando nisso - as duas ilustrações que eu peguei esse mês (que obviamente não serão suficientes pra pagar as contas, mas isso é outra história) me levaram vários dias dias pra resolver. Não só por conta da falta de prática, mas também do nervosismo, da insegurança e da tensão causadas pela completa falta de dinheiro e da pandemia em sí. Daí que meu atelier fica num jardim de inverno, e como tem feito dois graus negativos durante as noites por aqui, trabalhar depois que o sol se põe tá impossível porque paredes de metal e vidro não são uma boa opção pra isolar do frio. Decidi mudar o atelier pra sala, onde fica a lareira da casa, e fechar o jardim de inverno pra ter menos roubo de calor de lá. A idéia era poder entrar noite adentro trabalhando, pondo um foguinho na lareira se o frio começasse a arrepiar, ao invés de correr pra cama quando perco a sensação dos pés ai pelas 8 da noite.

Segunda-feira, então, resolvi fazer a mudança do atelier. Trouxe o micro antes de tudo e quando fui ligar o troço, nem sinal de vida. Entrei em pânico, já que em isolamento social, essa coisa barulhenta (meu micro tem um problema no cooler e faz uma barulheira infernal quando está frio) é meu maior contato com outros humanos, pra não dizer que, sem ele, eu nem sequer tenho como trabalhar. Meche daqui, torce dali, era o cabo de energia. Tá, sem grana nenhuma sequer pra comer direito, pensei "fodeu". Num ato de puro desespero, resolvi vasculhar a casa e, num desses acasos, achei um cabo velho perdido em uma gaveta esquecida - e o troço funcionou! Micro voltou a vida e eu só perdi toda a segunda-feira de trabalho. Tenso, mas podia ser pior.

Terça, pra tentar não perder tempo, decidi que ia trabalhar na mesa de desenho que ainda estava no jardim de inverno e só trazer a sacana pra sala no fim da tarde, quando estivesse frio demais pra seguir trabalhando. Trabalhei bem ao longo do dia, e quando o frio começou a se apresentar, decidi que era hora de parar o trabalho, preparar um café quentinho e levar a mesa pra sala. Quando fui mover a quatro-pernas, plec! Quebrou um apoio do tampo. Ok, tenho uma segunda mesa, que estava embaixo de um monte de tralhas na taverna. Sem pânico. Fui dormir porque tava escuro, frio e chuvoso demais pra pensar em traszer a mesa da Taverna pra casa (são prédios separados por uns cinco metros, mas frio, chuva e escuridão, depois de já ter quebrado uma mesa, não me pareceram condições com as quais eu queria lidar naquele momento).

Na quarta, comecei o translado da segunda mesa. Perdi um baita pedaço do dia nisso, porque a mesa estava debaixo de pilhas de livros e caixas de tralhas da Taverna, e eu precisei reorganizar tudo em outros lugares pra que não ficasse tudo esparramado juntando bicho. Mas apesar disso, consegui trazer a mesa sem incidentes, instalei ela e consegui terminar e mandar o desenho pro cliente logo antes de anoitecer - o cliente não gostou do resultado e eu estou de volta na mesa às voltas com a ilustração, porque, obviamente, o dia não podia ter sido tão bom assim. 

Hoje, antes de começar a trabalhar, decidi trazer o roteador pra perto do micro. Até ontem, estava usando o wi-fi dele, mas a internet fica uma lerdeza sem fim, e mudar um roteador de sala não é uma coisa muito complexa, certo? Tava trazendo o troço, quando, no meio da função, as gatas atacaram o fio da internet, eu me desequilibrei, cai e, no processo, pisei na ponteira do fio, obviamente esmigalhando o treco debaixo dos meus cento e trinta quilos. Foi-se o fio de 10 metros - que vem lá da Taverna, faz um monte de voltas e termina no outro lado da casa. Daí tive que enjambrar com um fio que tem metade do comprimento, e tá esticado no meio da casa, dividindo o lugar em duas partes - e como entra pela porta que eu mais uso pra ir ao pátio, certo que eu vou trupicar nele e derrubar o micro todo no processo, não tenho nenhuma dúvida disso.... Além disso, o roteador não gostou do plugue do cabo novo, e não funcionou de modo algum, então estou sem roteador, com o fio ligado direto no micro, o que significa que não tenho internet no celular, a menos que eu vá lá pra Taverna, onde fica o roteador central....

Óbvio que no meio dessa confusão toda, eu no nervosismo, fumei feito um navio a vapor navegando pelo Mississípi, e meu fumo acabou uma semana antes do que eu previa.
Agora tou aqui, sem fumo, com uma ilustração pra fazer, com o entusiasmo de um cágado manco e a tensão mais elevada do que os fios da companhia de energia elétrica, como todo e qualquer viciado em abstinência.

E não, nada disso tem qualquer relevância ou pertinência para o blog, mas porra, eu precisava desabafar um pouco!

Post Scriptum: Originalmente, fiz essa publicação - menos extensa e detalhada - no facebook, mas fui convencido por uma amiga à postar aqui (espero que ela venha dar um oi!). Aparentemente, as pessoas se identificam com esse tipo de situação, e eu achei que não ia doer trazer um pouco da minha vida pessoal pra cá. Mesmo porque, daqui uns dois anos, quando eu tiver esquecido completamente dessa pandemia, vai ser interessante ler um relato do cotidiano dessa época tão.... Surreal que a gente tá vivendo no país.

Pós Post Scriptum (??): Sempre gostei da expressão "grunts and rants", mas definitivamente ela não tem a mesma graça em português, como dá pra perceber pelo título dessa publicação....

Um comentário:

  1. Oi! Claro que eu ia aparecer para te prestigiar! Esperando pelo próximo post!

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