sexta-feira, 30 de janeiro de 2015
A Última Pergunta
Logo depois que fiz a resenha d'Os Oceanos de Vênus, o senhor Lélio Falcão me enviou, pelo facebook, uma mensagen dizendo "Lê este continho aí do Asimov. Eu passei quase um dia inteiro com os cabelo da nuca em pé, de tão foda que é!" e, claro, um link para o tal conto. Como todo bom conto que se preze, A Última Pergunta é um texto curto, conciso e direto, sem enrolações. Rápido de ler, e extremamente instigante desde o início.
É importante observar que a visão um tanto quanto atrasada de tecnologia presente no conto (em que Asimov imaginava computadores "portateis" com o tamanho de uma pequena sala) está intimamente ligada ao fato de que ele foi escrito em 1956, quando computadores eletromecânicos com uma memória de 64 palavras, pesando 300 quilos tinham dado lugar à monstruosidades de 3 toneladas, e e apenas tinham começado a ter suas válvulas termiônicas substituídas por transistores. Portanto, considerando a tecnologia da época, é lógico pensar que era preciso mais tamanho para aumentar a capacidade de cálculo. Circuitos integrados, que permitiram a miniaturização dos computadores, só foram inventados em 1969, e o conceito de computador pessoal só teve início 10 anos depois do conto ser escrito, com o advento do Programma 101, que ainda era bem distante de qualquer coisa semelhante à um computador que pudesse realmente oferecer respostas como imaginado no conto. De fato, é patente que Asimov imaginou computadores que seriam evoluções diretas do computador de cartões - o que é extremamente natural, considerando que essa era a tecnologia vigente na época, e mesmo extrapolações mirabolantes não teriam outras bases solidas que não sido bastante difíceis de ir muito além disso.
Sim, todo esse texto é meramente pra ilustrar o que asimov tinha à disposição para imaginar um computador que pudesse eventualmente evoluir e tornar-se auto-suficiente. Foi uma pequena lição que eu gostaria de ter lido antes de ter entrado no conto, então estou fazendo esse favor por outros leitores - apesar dessa parte nem de longe ser o principal no conto, acreditem, faz diferença.
Bom, depois dessa pequena visita à história da computação, aqui vai o link do conto, A Última Pergunta!
Em tempo: Links são coisas que quebram e sáo tiradas da rede. então, se alguém notar que esse link não está funcionando, por favor deixe um comentário pra eu poder tentar arrumar isso o mais rápido possível, certo?
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quinta-feira, 29 de janeiro de 2015
Os Oceanos de Vênus
Achei esse livro numa das minhas recentes visitas à Montecristo. Faziam dois meses que eu não colocava meus pés lá, e enquanto passeava pelo lugar - quase num tipo de ritual pra reconhecer o terreno, como quando a gente faz perguntas corriqueiras e sem importância pra um amigo que não vemos há muito tempo - enxerguei um livro com um grande ISAAC ASIMOV na lombada. Puxei, e, não reconhecendo o título, dei uma rápida folheada pra verificar se não era um livro de contos. Não era. E ainda era bem curto. 145 páginas. Certamente serviria como uma ótima leitura pré-sono.
Admito que, quando comecei a ler, me decepcionei. A narrativa era lenta, com irritantes "Lucky Starr falou:", "Lucky Starr perguntou:", "Bigman disse:", "O homem moreno disse:", "Lucky starr respondeu:" antes de cada diálogo, quase como se fosse uma descrição de uma peça. Isso me fez largar o livro por quase uma semana, logo depois do primeiro capítulo. Eu tinha alguns livros de história pra ler, então podia tentar ele outra hora. E uma semana depois, lá fui eu de volta pro livro.
Vencidos os primeiros dois capítulos, que eu considerei irritantemente arrastados, por conta da narrativa estranha, o livro começou a ficar interessante. É um mistério passado em uma Vênus oceânica, onde cidades subaquáticas em forma de domo são morada dos humanos naquele planeta. Há um prefácio no livro (que depois descobri que vem sendo adicionado à todas as reimpressões desde 1978) explicando que, quando o livro foi escrito (em 1953!) acreditava-se que Vênus fosse realmente um planeta coberto por água, então não, Asimov não estava sendo displicente em suas pesquisas, apenas não tinha dados concretos sobre o assunto e especulou.
Mas voltando à história em si:
O livro é bastante "Sherlockesco" no que diz respeito à solução do mistério. Pistas são deixadas ao longo do livro, e o leitor pode ir concluindo certas coisas em conjunto com Lucky Starr, o nosso herói. O problema é que isso demora bastante à ficar óbvio. Ora, como é que o leitor vai saber que os hábitos alimentares dos sapos venusianos não são amplamente conhecidos por todos no sistema solar, em um universo onde as viagens interplanetárias são comuns? É preciso esperar que algumas dessas dicas com relação à realidade específica do cenário nos sejam entregues para que possamos começar a juntar fatos por nós mesmos. epois disso, descobrir os mistérios e levantar suposições fica bastante interessante, e a história completamente estapafúrdia (envolvendo computadores portáteis de 12 quilos, moda venusiana, sapos de seis patas e um bocado de vaselina) começa a ficar simpática.
Ainda prefiro os livros de mistérios de Conan Doyle e os livros de ficção sessão-da-tarde de Poul Anderson, mas definitivamente esse livro de Asimov - parte de uma série, pelo que me disse o Oscar lá da Montecristo - definitivamente faz uma ótima mistura dos dois elementos.
Apesar das ressalvas - com relação à narrativa meio bizonha do primeiro capítulo e a falta de conhecimento sobre o saber comum do cenário - é um livro que vale a leitura.
Admito que, quando comecei a ler, me decepcionei. A narrativa era lenta, com irritantes "Lucky Starr falou:", "Lucky Starr perguntou:", "Bigman disse:", "O homem moreno disse:", "Lucky starr respondeu:" antes de cada diálogo, quase como se fosse uma descrição de uma peça. Isso me fez largar o livro por quase uma semana, logo depois do primeiro capítulo. Eu tinha alguns livros de história pra ler, então podia tentar ele outra hora. E uma semana depois, lá fui eu de volta pro livro.
Vencidos os primeiros dois capítulos, que eu considerei irritantemente arrastados, por conta da narrativa estranha, o livro começou a ficar interessante. É um mistério passado em uma Vênus oceânica, onde cidades subaquáticas em forma de domo são morada dos humanos naquele planeta. Há um prefácio no livro (que depois descobri que vem sendo adicionado à todas as reimpressões desde 1978) explicando que, quando o livro foi escrito (em 1953!) acreditava-se que Vênus fosse realmente um planeta coberto por água, então não, Asimov não estava sendo displicente em suas pesquisas, apenas não tinha dados concretos sobre o assunto e especulou.
Mas voltando à história em si:
O livro é bastante "Sherlockesco" no que diz respeito à solução do mistério. Pistas são deixadas ao longo do livro, e o leitor pode ir concluindo certas coisas em conjunto com Lucky Starr, o nosso herói. O problema é que isso demora bastante à ficar óbvio. Ora, como é que o leitor vai saber que os hábitos alimentares dos sapos venusianos não são amplamente conhecidos por todos no sistema solar, em um universo onde as viagens interplanetárias são comuns? É preciso esperar que algumas dessas dicas com relação à realidade específica do cenário nos sejam entregues para que possamos começar a juntar fatos por nós mesmos. epois disso, descobrir os mistérios e levantar suposições fica bastante interessante, e a história completamente estapafúrdia (envolvendo computadores portáteis de 12 quilos, moda venusiana, sapos de seis patas e um bocado de vaselina) começa a ficar simpática.
Ainda prefiro os livros de mistérios de Conan Doyle e os livros de ficção sessão-da-tarde de Poul Anderson, mas definitivamente esse livro de Asimov - parte de uma série, pelo que me disse o Oscar lá da Montecristo - definitivamente faz uma ótima mistura dos dois elementos.
Apesar das ressalvas - com relação à narrativa meio bizonha do primeiro capítulo e a falta de conhecimento sobre o saber comum do cenário - é um livro que vale a leitura.
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domingo, 18 de janeiro de 2015
Caçando Carneiros
Esses tempos minha mãe foi à livraria comprar um livro pra dar de presente, e, assim como eu, não conseguiu se controlar e acabou comprando livros pra ela também. Ela chegou a me ligar pra perguntar se eu tinha sugestões, mas eu admito que naquele momento eu estava enfiado no trabalho e minha cabeça estava completamente em branco pra sugestões. Ela acabou comprando um livro de um tal Haruki Murakami, depois de uma pesquisa na internet - ah, as maravilhas do mundo moderno... Depois de ler o tal livro, ela me emprestou, dizendo que era bem divertido. Eu não tenho muito apreço pela cultura japonesa contemporânea, como mangás e animes (principalmente porque detesto otakus, mas isso já é outra conversa), e desconfiei que não ia morrer de amores por literatura japonesa. Mas, como eu já li vários livros sobre o Japão ou cultura japonesa escritos por ocidentais, achei que podia dar uma chance pros autores amarelos - além do mais o livro não era muito volumoso, o que foi bastante encorajador.
Caçando Carneiros é uma narrativa niilista com uma boa dose de surrealismo, que gira em torno de uma caçada à um carneiro misterioso, como o título sugere. Há muitas objetificações, um pouco de fetichismo e um mercantilismo duro e frio e o livro é marcado por uma impessoalidade marcante - os personagens do livro não possuem nomes, por exemplo; alguns têm apelidos, como "Rato" ou "J", e outros ganham nomenclaturas de acordo com suas funções, como "o chefe" ou o "doutor carneiro". As relações dos personagens entre sí é bastante vazia e o autor faz um grande esforço em trazer exemplos de outras pessoas cuja vida aparentemente não tem sentido (algumas das quais não fazem diferença alguma para a trama, como a Garota que Dormia com Qualquer Um).
Quero crer que essas características sejam uma espécie de crítica à sociedade japonesa contemporânea, mas não tive o entusiasmo pra fazer uma pesquisa sobre o assunto.
Achei o livro extremamente lento e arrastado, com mutos capítulos que aparentemente não possuem nenhum sentido prático exceto por criar um clima ainda mais desolador ao livro. Eu, como apreciador de boas tramas, objetividade, concisão e idéias inteligentes, achei o livro extremamente lento, enfadonho e, honestamente, sem sentido. O final tem o mesmo tom niilista supracitado, com um desfecho scooby-doo - em que tudo podia ter sido resolvido de outra forma, mais rápida e limpa, mas por um motivo totalmente inexplicável nossos homens de negócios, objetivos e concisos durante todo o livro, resolveram fazer as coisas do modo mais demorado, confiando em um estranho pra fazer algo sumamente importante "porque sim". Vai contra a lógica da natureza dos personagens como um todo, além de jogar um balde de água fria nas expectativas do leitor, porque dá uma explicação que não convence e deixa em aberto o destino da maioria dos personagens.
Um ótimo livro pra depressivos chegarem às vias de fato. E talvez para japoneses.
Mas Caçando Carneiros foi um livro que comprovou o meu desgosto pelo modo de vida japonês contemporâneo e por aqueilo que eles produzem. foi, definitivamente, uma confirmação para minha convicção de que não há vida inteligente no Japão - não o que eu considero vida inteligente, pelo menos.
Caçando Carneiros é uma narrativa niilista com uma boa dose de surrealismo, que gira em torno de uma caçada à um carneiro misterioso, como o título sugere. Há muitas objetificações, um pouco de fetichismo e um mercantilismo duro e frio e o livro é marcado por uma impessoalidade marcante - os personagens do livro não possuem nomes, por exemplo; alguns têm apelidos, como "Rato" ou "J", e outros ganham nomenclaturas de acordo com suas funções, como "o chefe" ou o "doutor carneiro". As relações dos personagens entre sí é bastante vazia e o autor faz um grande esforço em trazer exemplos de outras pessoas cuja vida aparentemente não tem sentido (algumas das quais não fazem diferença alguma para a trama, como a Garota que Dormia com Qualquer Um).
Quero crer que essas características sejam uma espécie de crítica à sociedade japonesa contemporânea, mas não tive o entusiasmo pra fazer uma pesquisa sobre o assunto.
Achei o livro extremamente lento e arrastado, com mutos capítulos que aparentemente não possuem nenhum sentido prático exceto por criar um clima ainda mais desolador ao livro. Eu, como apreciador de boas tramas, objetividade, concisão e idéias inteligentes, achei o livro extremamente lento, enfadonho e, honestamente, sem sentido. O final tem o mesmo tom niilista supracitado, com um desfecho scooby-doo - em que tudo podia ter sido resolvido de outra forma, mais rápida e limpa, mas por um motivo totalmente inexplicável nossos homens de negócios, objetivos e concisos durante todo o livro, resolveram fazer as coisas do modo mais demorado, confiando em um estranho pra fazer algo sumamente importante "porque sim". Vai contra a lógica da natureza dos personagens como um todo, além de jogar um balde de água fria nas expectativas do leitor, porque dá uma explicação que não convence e deixa em aberto o destino da maioria dos personagens.
Um ótimo livro pra depressivos chegarem às vias de fato. E talvez para japoneses.
Mas Caçando Carneiros foi um livro que comprovou o meu desgosto pelo modo de vida japonês contemporâneo e por aqueilo que eles produzem. foi, definitivamente, uma confirmação para minha convicção de que não há vida inteligente no Japão - não o que eu considero vida inteligente, pelo menos.
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