domingo, 14 de setembro de 2014

Cantiga do Inferno

Demônios espreitam nas copas das árvores
Olhos vermelhos na boca de lobo
Cultos noturnos de ácido e fogo.

A cantiga do inferno destoa da graça
O poeta maldito apresenta a oferenda.

Súcubos bailam em vestes de freiras
Íncubos uivam nas esquinas da morte
O pacto escrito em cera vermelha.

A cantiga do inferno destoa da graça
O poeta maligno entrega a oferenda.

Cenobitas entendem as mãos em convite
O cubo se abre e revela a mazela
Os cravos do cordeiro transpassam o crânio.

A cantiga do inferno destoa da graça
O poeta de Barker entrega a oferenda.

Duendes e fadas e agulhas em festa
Do sonho alquímico despertam a mandingueiras
Apolo na rima, Dionísio nas veias.

A cantiga do inferno destoa da graça
O poeta marginal entrega a oferenda.

A lua congelante recolhe seu brilho
Hórus se apronta detrás da montanha
Ébrio, o poeta recolhe suas vestes.

A cantiga do inferno destoa da graça
Lúcifer, orgulhoso, revoga a oferenda.

“Por que me ofertas, ó rato de esgoto?
Tens sangue nas mãos, tens pecado, que nojo!
Dá-me os santos para divino desgosto.”

A cantiga do inferno destoa da graça
O poeta baldio retira a oferenda.

O passo da noite é irregular e neblino
É estar no limite entre céu e inferno
A oferenda promessa imerge no limbo.

A cantiga do inferno não toca de graça
O poeta vaga em eterna tristeza.

Rody Cáceres

4 comentários:

  1. Já ouvimos juntos esta cantiga, lembra?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Eu tentei fortemente lembrar de onde eu ouvi essa cantiga, mas não consegui. E ainda não lembro, mesmo com o teu comentário. Tens como reforçar um pouco em que ocasião foi?

      Excluir
  2. Sim, tenho. Ouvimos do próprio Rody, no Poesia no Bar.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Isso! Lá no Monaghans! Eu sabia que tinha escutado ela ao vivo!

      Excluir