Como todos devem saber, eu não gosto de mangá. Apesar do meu principal problema com o estilo ser a cultura otaku que se desenvolveu por aqui nos últimos anos, que basicamente considera que mangá e anime são as maiores dádivas para a humanidade e não tem nenhum tipo de conhecimento de mundo fora do seu fandon. Considero o estilo absolutamente auto-contido - ou seja, otakus amam anime e mangá e se contentam com isso, uma vez que estes simplesmente não abrem possibilidade para que seus fãs se interessem por mais nada (exceto, talvez, outros produtos baseados da franquia, como jogos).
É obvio que isso é uma generalização, mas infelizmente conto nos dedos as pessoas que conheci que se intitulam otakus e com quem eu consigo manter uma conversa minimamente interessante sem dezenas de referências e comparações à mangolices: "porque no bleach...", "Ela parece a Saori Kido!", "é, como no one piece!". É enervante.
Mas eu mesmo já assiti bons animes (Legends of Lodoss Wars, Cowboy Beebop) e gostei de uns poucos mangás (Mai, a Garota Sensitiva e... Hum... Ok. Foi só esse, mesmo), mas o volume de lixo no qual eles estavam envolvidos era preocupante. Além das considerações estéticas - não só de desenhos, mas também no que diz respeito à diálogos - há também a questão de cultura que eu sempre acho extremamente alienígena e, principalmente, os finais geralmente cheios de LSD!
Oh, bm, estou derivando do que vim escrever. Mas falar de qualquer coisa mangalóide gera esse impulso automático de ligar o modo Ódio.
*suspira*
Mas, bem, como eu disse, há alguns bons mangás por aí. E, surpreendentemente, um deles é nacional! Provavelmente (não tão surpreendentemente) um dos títulos de HQs mais bem-sucedido da contemporaneidade brasileira é justamente nesse estilo. Digo que não é tá surpreendente porque, considerando o público otaku que vêm crescendo alarmantemente no país nos últimos anos, e considerando que esse público engole qualquer coisa da escola amarela de HQs sem precisar digerir, é compreensível que uma história em estilo mangá tenha sido tão bem recebida.
(sim, eu tive uma pequena recaída de Ódio)
*suspira*
Holy avengers, criado por Marcelo Cassaro, um dos maiores incentivadores para o crescimento do RPG no país, e Erica Awano, uma competente desenhista da escola mangazeira (eu não saberia dizer o que mais ela fez, e quais são suas influências, uma vez que essa obra é tudo que já vi da mulher) é uma leitura interessante. Com 42 edições, além de alguns especiais ao longo do caminho, ela conta uma história que se passa Arton, o mundo-cenário de tormenta, o RPG brasileiro com mais material lançado até hoje. A trama faz algumas modificações importantes no cenário, além de algumas revelações também importante, e mistura novos personagens com velhos PDMs consagrados - todos completamente adaptados para o estilo mangá, com direito à mechas, armaduras com pedras brilhantes, muitas garotas padronizadas com pouca roupa (em maior ou menor grau) e personagens masculinos com cara de galã e cérebro de minhoca - ou cara e cérebro de dinossauro, no caso do Tork.
O desenrolar da trama é bem amarrado, apesar de algumas coisinhas serem bem forçadas - como em qualquer campanha de RPG, alias... - mas definitivamente os personagens pecam pelo excesso. Apesar de bem construídos, eles são todos estereótipos ou paradoxos completos. A quantidade de "piadas" sexuais, geralmente sexistas, também me incomodaram um pouco, além do tom cômico em uma trama com uma profundidade dramática teoricamente muito alta. Um casamento deveras infeliz, que definitivamente não me agradou.
Mas os vilões são bem interessantes! Na verdade, são a parte mais interessante da história - apesar de algumas ações completamente descabidas e sem sentido acontecerem aqui e ali, simplesmente para que a natureza "vilânica" deles ficasse bem visível...
A trama quase compensa a maioria dos pecados da história, e o plano maligno bem engendrado mantem a história andando e o leitor interessado, nem que seja pra saber "o que vem á seguir".
REVELAÇÕES DA TRAMA À SEGUIR!!!
Eu, particularmente, pulei a maioria dos diálogos que obviamente tratavam de amenidades ou do amor incondicional de Sandro por Lizandra - certamente o ponto mais fraco da trama, e que, na verdade, fez o meu interesse pela história ir decaindo ao longo da leitura. Quando finalmente Sanro diz "eu te amo" pra Lizandra, e ela brilha como um projeto de Edward ao sol da manhã, eu quase desisti do troço, mas faltavam três edições pro final da história... Considerando que ambos tinham se encontrado três vezes, e que não trocaram mais do que uma hora de conversa nesse tempo todo, além de Lizandra ter matado Sandro em um dos encontros, achei o "amor" dos personagens um pelo outro não só absurdo, mas tosco e bobo. Creio que esse é um dos poucos casos em que "Yet a better love history than twillight" não se aplica...
FIM DAS REVELAÇÕES DA TRAMA!!!
Antes de terminar, gostaria de propor um exercício de resistência aos leitores. Façam pesquisas no google images por Niele cosplay. Tem poucas personagens com cosplays tão ruins - provavelmente porque a própria personagem é mais ofensiva do que interessante... - quanto ela.
Ora, vejam. eu estava realmente me concentrando pra fazer uma crítica favorável à Holy Avenger, mas não adiantou. A medida que pensei sobre a série, depois de ler, me dei conta que, realmente, não gostei. Algumas boas idéias, é verdade, mas a maior parte do recheio, realmente, ficou muito insosso.
Enfim! Vendeu bem, e tem fãs até hoje. Cassaro e Awano devem estar satisfeitos!
quinta-feira, 29 de maio de 2014
quinta-feira, 22 de maio de 2014
Ninja
Fazia muito tempo que eu não chegava perto de qualquer tipo de material com conexão com o oriente, principalmente devido ao meu crescente ranço com relação aos otakus. No entanto, durante alguns anos, no final da minha adolescência, eu tinha verdadeira admiração pela história e pela cultura oriental. O estudo dessas áreas simplesmente foi se embaçando com o tempo, devido à invasão dos animes e mangás na nossa cultura, e o consequente aumento dessa forma de sub-inteligência chamada de otakus.
Mas eis que fui convidado por um amigo para jogar Legends of the Five Rings, um RPG focado na cultura oriental e que não tem o insosso sabor dos imensos olhos mangalóides. Já tinha dado uma flertada com o cenário anos atrás, e fiquei admirado com o cenário. Quando a oportunidade de jogar - com um grupo de pessoas com o mesmo gosto duvidoso que o meu, ou seja, com pouca atração por otakuzices - me foi oferecida, aceitei prontamente!
No entanto, fazia tanto tempo que eu não tinha contato com a cultura oriental, que admito que me senti um pouco deslocado quando comecei a pensar nos conceitos básicos do personagem.
Para me aclimatar, baixei Sete Samurais, do Kurosawa - que baita filme! - e, claro, fui atrás de algum livro pra ler. A primeira coisa que pulou na minha frente foi Ninja, de um tal Eric Von Lustbader. Nunca tinha lido nada do autor, e já tinha visto esse mesmo livro (com seu selinho de 'Best Seller") em mais de um balaião por aí. Apesar das mais de 500 páginas, o livrinho custava meros 3 reais, e acabei passando a mão nele. Não podia ser tão ruim, afinal. Poderia? Eu esperava que não, porque a possibilidade de enfrentar uma monstruosidade de 500 páginas de literatura ruim realmente não é uma projeção interessante...
Mas eis que, apesar do nome, o livro é bem bom! Apesar do nome que provavelmente afasta a maioria dos leitores, graças depois àquela onda maluca de ninjaexploitation da década de oitenta, a obra é bem agradável de ler. É um thriller bem escrito, passado em duas épocas distintas: o verão californiano de 1980 e o japão pós-guerra de 1945 até 1963. Com uma estrutura de cinco capítulos - nomeados em homenagem ao Go Rin no Sho de Miyamoto Musashi, sendo os quatro primeiros divididos entre os dois momentos distintos do livro e o último capítulo concluindo a obra, o leitor vai conhecendo o protagonista da obra, o mestre de Kenjutsu Nicholas Linnear, filho de um coronel inglês das forças de ocupação do japão e sua esposa Cheong, uma chinesa com descendência japonesa, e a ligação entre sua adolescência no japão e uma estranha cadeia de assassinatos na costa dos EUA mais de vinte anos depois.
Apesar do nome, o livro é, na verdade, um grande tratado de kenjutsu - com óbvios exageros com realção ao que praticantes dessa arte-marcial são capazes de realizar, mas ainda assim, suficientemente verossímil para não ofender a inteligência do leitos. Com uma exploração muito bem feita da cultura japonesa e seus valores durante a crise que se seguiu à segunda guerra, alternado com uma história policial no melhor estilo Massacre no Bairro Japonês - incluindo algumas (bem escritas) cenas de sexo - o senhor Lustbader cria nesse livro uma excelente obra, com personagens interessantes e carismáticos, usnado alguns clichês bem-vindos com algumas idéias realmente novas (pra época, que fique claro) em uma trama muitíssimo bem amarrada.
O único pecado do livro são suas últimas duas páginas, que, após uma conclusão bastante satisfatória da obra, criam um gancho aparentemente inserido às pressas para uma continuação. Não chega à ser um problema. O leitos simplesmente deve fechar o livro (ou ignorar os acontecimentos) quando Liinnear atende o telefone faltando duas páginas para o final do livro. Simples.
Esse livro é o início de uma série - que eu provavelmente nunca vou tentar ler, porque é muito possível que a continuação da história não consiga atingir a qualidade desse primeiro volume.
Em tempo: enquanto lia a obra lá pela Montecristo, antes de uma aula, o Oscar me perguntou o que eu andava lendo, e trocamos algumas idéias sobre o livro. Ele nunca leu Ninja, mas me informou que o autor, o tal Lustbader, é o autor de uma outra série de livros que viraram filmes. Alguém aí conhece a saga do senhor Bourne? Pois é, são baseados em uma série de livros desse mesmo cara! Assim, quem já viu a série, pode ter uma boa idéia das capacidades marciais do senhor Linnear - é só substituir armas de fogo e armas improvisadas por uma brilhante a afiada katana!
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