quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Contos Fantásticos - O Horla e outras histórias


Na última visita à casa da minha avó, depois de dar uma revirada na biblioteca da anciã, arrebatei uma braçada de livros que me interessaram ou que tive curiosidade de ler. Esse livro específico, peguei como uma espécie de coringa: um livro de contos é sempre algo que eu simplesmente posso desistir de ler depois do fim da primeira história - como, efetivamente, aconteceu com um outro livro que veio nessa mesma leva - sem dor de consciência. Explico: Como eu já disse aqui, detesto desistir de um livro no meio, e geralmente, depois de ter me decidido a ler alguma história, vou até o fim, mesmo que em supremo sofrimento. Livros de contos não são diferentes, é claro, mas têm o benefício de ter várias histórias curtas, geralmente de teor semelhante, o que significa que tendo lido um ou dois contos, eu posso ter uma idéia se quero ou não ler outras histórias do mesmo autor dentro daquela mesma proposta. O supracitado livro do qual eu desisti, é de um autor que eu gosto, mas tinha um teor religioso que não me agradou; assim, depois de terminado o primeiro conto, desisti do resto das histórias que viriam à seguir.

Mas estou me perdendo do foco. De volta ao livro que está no título dessa postagem:

Esse livro de bolso me chamou a atenção pela capa - como é muito comum de acontecer comigo. Apesar da ilustração não apresentar nenhum atrativo, eu tinha uma vaga lembrança de já ter lido o nome Guy de Maupassant em algum lugar. E apesar de não saber do que se tratava "O Horla", o título também me atraiu. Histórias fantásticas são sempre interessantes, afinal!

Mas, diferente do fantástico usual, com magia, animais fantásticos e o material do qual se fazem as lendas, os elementos fantásticos descritos nesses contos são, como é descrito no prefácio:

"(...) aqueles onde existe 'a hesitação experimentada por um ser que só conhece as leis naturais face a um acontecimento aparentemente sobrenatural'. Contos avessos à fé absoluta e à incredulidade total (...)".

Há, é claro, elementos obviamente sobrenaturais no livro. Fantasmas, monstros e criaturas inexplicáveis. Mas estes não são o foco das histórias: a hesitação de crença que eles causam sim.

No total, são 11 contos relativamente curtos - com exceção a'O Horla (segunda versão), que é bem mais longo do que os outros - com focos distintos. 'O Lobo' e 'A Mãe dos Monstros' são dois contos excelentes, enquanto os outros são moderados, bons mas não particularmente inspirados - ao menos não para o paradigma contemporâneo. Mas o grande conto do livro é, como bem diz o título, O Horla. As duas versões estão presentes no livro, e apesar da segunda suplantar e expandir a primeira, esta também é interessante pela questão do ponto-de-vista.

Como todos os leitores usuais do blog sabem, eu raramente faço comentários sobre a trama, para não prejudicar possíveis surpresas, mas admito que é bastante difícil não fazê-lo nesse caso, para exprimir o meu espanto e admiração por O Horla. Não posso deixar de apontar, no entanto, uma semelhança de sensação desta história com a obra de Lovecraft; horror na sua melhor expressão.

Fica, então, minha sugestão para aqueles que puderem que leiam, ao menos, O Horla (segunda versão) se mais nada do autor. Vale cada página virada!

Em tempo: Depois de ler esse livro, fui verificar a lista de obras do autor e, apesar do nome ter me soado familiar, não lembro de ter lido nada dele anteriormente. Mas essa pequena obra foi mais do que suficiente para eu poder dizer que ao menos um punhado de boas histórias Guy de Maupassant escreveu.

2 comentários:

  1. Cara gosto muito do Horla, li as duas versões do conto e acabei gostando muito da forma como o autor consegue colocar uma duvida sobre a sanidade do personagem ao relatar os acontecimentos.
    Parabéns pelo texto.
    Se puder, depois dá uma olhada no curta que gravei, baseado no conto "O Horla". O link é: https://www.youtube.com/watch?v=2Ytpx_d0o3I

    Grande abraço!

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  2. A idéia do vídeo é interessante. Mas, diferente do conto, a sanidade do personagem no curta é o ponto focal. Além disso, fora a "impressão" dele, não há nenhuma evidência que a coisa (que o protagonista chama de Horla sem nenhuma explicação) exista, o que também é um tanto quanto diferente do conto - onde o personagem faz uma série de testes e cria várias teorias sobre o que está acontecendo. Acho que o vídeo ficou muito cru nesse aspecto, o que torna a experiência como tendo sido apenas fruto da loucura do personagem muito evidente - o que, claro que esta é uma abordagem perfeitamente válida.

    Em tempo: Nos contos do Maupassant, eu nunca cheguei a duvidar da sanidade do personagem. Em nenhum momento me passou pela cabeça que o Horla fosse uma invenção da mente do personagem - o que, alias, cria uma leitura completamente diferente do conto.

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