domingo, 12 de fevereiro de 2017

Eu, Robô

Como nos últimos meses estou bastante envolvido com a produção dos livros da terceira edição do Mighty Blade, tenho tido pouca oportunidade pra ler - apesar de, inversamente, o tempo que passo na mesa de desenho tem me proporcionado muita oportunidade pra ouvir audio books.

Mas isso não quer dizer, obviamente, que eu não tenha lido sempre que possível. Significa apenas que minha pilha de livros está pegando um pouco mais de poeira, enquanto eu seleciono à dedo aqueles livro que eu realmente tenho muita vontade de ler, ao invés de simplesmente pegar o primeiro livro da pilha, como fiz tantas vezes.

E um dos grandes clássicos da literatura de ficção científica como Eu, Robô, é, claro, sempre um alvo atraente demais, mesmo quando o sujeito tem pouco tempo pra ler.

Eu, Robô, é uma das coisas mais divertidas que eu já li. De verdade. A estrutura do livro é uma coisa fenomenal. Ele segue uma entrevista de um repórter com Susan Calvin, a mais renomada cientista de robôs de sua época - que é logo em seguida da criação dos cérebros positrônicos e o início da produção em massa de robôs. Assim, o livro é separado em contos, enquanto Calvin conta histórias sobre esses primeiros anos da indústria da robótica, algumas de segunda mão, outras que ocorreram com ela.

Assim, esse é um livro de contos com pessoas diversas, passado em épocas diversas, mas com um fio condutor em comum - além, é claro, do (provavelmente óbvio) fato de serem todas histórias sobre robôs.

Apesar de ter um filme de mesmo nome, tecnicamente baseado nesse livro, não há nenhuma similaridade entre Eu, Robô (livro) e Eu, Robô (filme). Há uma cena do filme que faz referência ao conto Pobre Robô Perdido, mas é só. Até os personagens que aparecem no filme são completamente diferentes. A doutora Calvin do filme é uma mulher jovem e atraente (como praticamente todas as mulheres de blockbusters), enquanto no livro ela já é uma senhora de idade considerável quando a U.S Robôs e Homens Mecânicos começam a produzir robôs em escala considerável - e é notoriamente uma mulher sem atrativos físicos ou intelectuais. Além disso, ela não tem mais apreço por robôs do que teríamos por um computador de última geração: são lidos e nós adoramos, mas definitivamente devem ser destruídos se ameaçarem alguém, enquanto no filme ela é uma defensora ferrenha dos direitos dos robôs, rangendo dentes toda vez que alguém arranha uma máquina. Mas a pior parte do filme, pra mim, é o complexo de Frankenstein - contra o qual Asimov sempre foi contra. Nenhum livro dele jamais fez menção à robôs como ameaças, como é tão popular em filmes como Matrix e Exterminador do Futuro. Para Asimov, robôs nunca seriam capazes de apresentar qualquer tipo de "revolta contra a humanidade" de forma alguma, e todos os seus contos deixam bem claro que, mesmo o mais tresloucado robô seria incapaz de ferir um ser humano.

Como um pequeno adendo pessoal, eu sempre concordei com essa idéia de Asimov, e acho que a histeria ao redor de "robôs que exterminarão a humanidade" é uma bobagem sem tamanho. Interessante para livros e filmes, sem dúvida, mas quando o complexo de Frankenstein aparece em entrevistas com relação à Inteligências Artificiais sendo desenvolvidas, me irrita profundamente.

Um segundo adendo pessoal, referente à capa: Que desgraça é essa? Eu precisei escannear o troço pra mostrar, porque não achei na rede uma imagem dessa capa. Pra além dos problemas anatômicos que podem ser ignorados - afinal é um robô, não um humano - e da cara de Spaceghost platinado, tem aquelas... Coisas redondas dos lados da cabeça do robô, que eu honestamente não sei o que são. Fico na dúvida se é parte do maquinário do fundo ou uma tentativa frustrada de uma chave daquelas de dar corda em brinquedos. Mas a impressão que eu tenho, independente da idéia do ilustrador, é que é um maldito par de argolas super-crescidas. Sim, é um robô e nem tem orelhas, mas eu não consigo ver nada além de brincos enormes...

Enfim!

Independente da capa tenebrosa - como é uma capa dura, estou seriamente pensando em reencapar - ainda é um grande livro! Leitura fortemente recomendada!

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