Este calhamaço - com quase 820 páginas de leitura - me foi dado de presente de aniversário, e demorou três longos meses para ser lido até o fim.
É fato que ele competiu com a leitura paralela de várias coletâneas de contos de ficção científica que li no mesmo período, mas grande parte dessa demora se deve ao desenvolvimento da narrativa.
Um momento!
Péssimo início!
Creio que seria muito mais produtivo falar da história do livro e depois passarmos à parte, digamos, mais enfadonha - mas não vamos criar más expectativas! Tudo melhora no final!
Segue o baile!
A inglesa Susanna Clarke nos apresenta nesse volume uma Inglaterra do início do século 19 com uma pequena diferença da Inglaterra da nossa história: A magia existe.
A partir dessa premissa, e tendo as guerras napoleônicas como pano-de-fundo, Jonathan Strange & Mister Norrell nos leva à uma interessantíssima viagem através dos eventos que culminam com a redescoberta da magia inglesa.
Sim, redescoberta. Apesar da magia existir, os integrantes da Sociedade Culta dos Magos de York nos deixam claro, desde a primeira página do livro, que a magia inglesa é um assunto teórico, e não prático. Mas eles se deparam com Mister Norrell, um mago prático, como não havia há mais de dois séculos na Inglaterra!
Este é o ponto de partida para a narrativa de como Mister Norrell e Jonathan Strange vão trazer de volta o antigo esplendor da magia à Inglaterra.
O livro é dividido em três grandes tomos, o primeiro destinado à nos apresentar Mr. Norrell, o segundo à Jonathan Strange e o terceiro aos feitos de John Uskglass, o Rei Corvo, o maior mago da Inglaterra.
O problema dessa divisão de tomos é que, bem, Norrell é um grande chato! Metódico e controlador, ele dá o tempo do primeiro tomo, que é muito lento e - porque não dizer - desestimulante.
Mas para aqueles pacientes - ou teimosos - o suficiente para vencerem o primeiro tomo do livro, há uma leitura muito interessante nos dois tomos seguintes.
O segundo tomo nos apresenta Strange, um mago dinâmico e de opinião forte. Neste volume a história realmente toma forma, e muitas pontas soltas do primeiro tomo são atadas, criando uma tapeçaria interessantíssima que nos levam à algumas respostas - e muitas outras perguntas!
O último tomo fecha o livro magistralmente, com uma narrativa muito mais ágil, terminando de atar as últimas pontas ainda soltas, explicando ao angustiado leitor o destino de todos os personagens do livro - sim, há um momento em que eu achei que Susanna Clarke simplesmente não ia explicar metade das tramas paralelas (e elas são muitas!) e fiquei muito apreensivo! Mas a autora não desaponta, e cria um final excelente, fechando a história de modo magistral.
Um excelente retrato de como teria sido o comportamento adequado de um mago cavalheiro durante o conturbado renascimento da magia inglesa, este livro foi uma grata surpresa e um "interruptor" que ligou meu interesse em livros de fantasia urbana!
Ah, deixem-me fazer um par de notas finais que, apesar de não serem essenciais, eu não quero deixar de fora:
Primeiro, este é obviamente este é um livro fortemente calcado em pesquisa histórica, escrito por uma inglesa sobre sua terra natal. Fica claro que há uma série de nuances culturais que são virtualmente impossíveis para quem não tem uma boa base sobre história e/ou cultura inglesa perceber todos os sub-entendidos do livro. Isso não é um defeito, de forma alguma, é apenas uma característica relevante.
Segundo, o livro é ilustrado. Pobremente, na minha opinião, por um desenhista (que não consegui determinar se teria um nome...) de pouca técnica e incapaz de passar a magnitude, a força ou a sutileza dos momentos ilustrados. O livro teria ficado melhor sem as ilustrações, na minha opinião. E sim, pra mim este detalhe é um defeito notável do livro.