Apesar da lacuna de postagens no blog, não houve, nem de perto, uma lacuna no meu hábito de leitura - um hábito quase compulsivo, alias.
De fato, houveram alguns bons livros, entre outros que considero menos do que recomendáveis - é o problema de ser um leitor compulsivo... - além de algumas histórias em quadrinhos que lí entre Longe é um Lugar que Não Existe e O Último Reino.
Um dos únicos livros realmente dignos de nota que lí nesses últimos meses foi Rei Lear, do bom e velho bardo inglês balançador de lanças - só eu gosto dessa "tradução adaptada"? - apesar de eu ter lido, também, uma tradução da Megera Domada.
Então, pra não fazer feio e não deixar nenhuma obra de fora, vamos à uma breve resenha dessas duas obras.
Eu lí, em algum lugar - não vou lembrar onde... - que Rei Lear é uma Ode à Loucura. Eu considero a peça uma Ode à Falcidade, no entanto. Praticamente todos os personagens mentem sobre sí mesmos, suas identidades, intenções e/ou planos. Até onde me lembro, apenas o própro Lear e seu bobo-da-corte de estimação não escondem aquilo que pensam - e um é doido e o outro maluco...
Além disso, diferente de outras obras que já lí de Shakespeare, eu me perdi algumas vezes na leitura dessa peça. Os personagens têm planos tão intrincados e há tantas tramas e sub-tramas que me parece bem fácil se perder dentro da peça, de modo que em determinado momento, depois de precisar voltar a ler alguns trechos do livro com mais atenção, precisei parar de ler a peça simplesmente como um passa-tempo, e realmente me concentrar mais na leitura.
O final da peça me surpreendeu bastante, e eu adorei a conclusão da peça, simplesmente um banho-de-sangue absolutamente inesperado!
Já no caso da Megera Domada, as coisas foram bem diferentes. A peça é uma comédia. Talvez por questõs de cronolocalização, eu simplesmente achei a peça entediante, e também extremamente sexista. Uma peça chata, rasa e sem grandes atrativos. E com um final excessivamente "Mas hein?!?" com um tipo de "moral da história" as avessas, com Catarina, a megera do título, declarando que se submeteu e que isso é o ideal para uma mulher casada. Reforço: É uma peça anacrônica, com sérios problemas de sexismo...
Em tempo: A tradução que tenho do Rei Lear é de 1906 (sim, mil novecentos e seis; não digitei errado!) enquanto a tradução d'A Megera Domada que lí era bem mais recente, feita por Millor Fernandes. E talvez essa simples questão seja um dos fatores mais importantes: Enquanto Rei Lear tinha um linguajar antiquado, que me soou mais convincente, a versão de Millor tinha um linguajar mais coloquial, e ainda, uma certa adaptação nas "piadas" para ser mais agradável ao gosto do público brasileiro contemporâneo.
Em última análise, Rei Lear é uma grande peça, e recomendo à quem puder que a leia. Já a Megera eu deixaria de lado em prol de muitas outras obras do bardo inglês.