quinta-feira, 30 de junho de 2011

Shakespeare II


Apesar da lacuna de postagens no blog, não houve, nem de perto, uma lacuna no meu hábito de leitura - um hábito quase compulsivo, alias.

De fato, houveram alguns bons livros, entre outros que considero menos do que recomendáveis - é o problema de ser um leitor compulsivo... - além de algumas histórias em quadrinhos que lí entre Longe é um Lugar que Não Existe e O Último Reino.

Um dos únicos livros realmente dignos de nota que lí nesses últimos meses foi Rei Lear, do bom e velho bardo inglês balançador de lanças - só eu gosto dessa "tradução adaptada"? - apesar de eu ter lido, também, uma tradução da Megera Domada.

Então, pra não fazer feio e não deixar nenhuma obra de fora, vamos à uma breve resenha dessas duas obras.

Eu lí, em algum lugar - não vou lembrar onde... - que Rei Lear é uma Ode à Loucura. Eu considero a peça uma Ode à Falcidade, no entanto. Praticamente todos os personagens mentem sobre sí mesmos, suas identidades, intenções e/ou planos. Até onde me lembro, apenas o própro Lear e seu bobo-da-corte de estimação não escondem aquilo que pensam - e um é doido e o outro maluco...

Além disso, diferente de outras obras que já lí de Shakespeare, eu me perdi algumas vezes na leitura dessa peça. Os personagens têm planos tão intrincados e há tantas tramas e sub-tramas que me parece bem fácil se perder dentro da peça, de modo que em determinado momento, depois de precisar voltar a ler alguns trechos do livro com mais atenção, precisei parar de ler a peça simplesmente como um passa-tempo, e realmente me concentrar mais na leitura.

O final da peça me surpreendeu bastante, e eu adorei a conclusão da peça, simplesmente um banho-de-sangue absolutamente inesperado!

Já no caso da Megera Domada, as coisas foram bem diferentes. A peça é uma comédia. Talvez por questõs de cronolocalização, eu simplesmente achei a peça entediante, e também extremamente sexista. Uma peça chata, rasa e sem grandes atrativos. E com um final excessivamente "Mas hein?!?" com um tipo de "moral da história" as avessas, com Catarina, a megera do título, declarando que se submeteu e que isso é o ideal para uma mulher casada. Reforço: É uma peça anacrônica, com sérios problemas de sexismo...

Em tempo: A tradução que tenho do Rei Lear é de 1906 (sim, mil novecentos e seis; não digitei errado!) enquanto a tradução d'A Megera Domada que lí era bem mais recente, feita por Millor Fernandes. E talvez essa simples questão seja um dos fatores mais importantes: Enquanto Rei Lear tinha um linguajar antiquado, que me soou mais convincente, a versão de Millor tinha um linguajar mais coloquial, e ainda, uma certa adaptação nas "piadas" para ser mais agradável ao gosto do público brasileiro contemporâneo.

Em última análise, Rei Lear é uma grande peça, e recomendo à quem puder que a leia. Já a Megera eu deixaria de lado em prol de muitas outras obras do bardo inglês.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Acrilic on Canvas


Num momento de mais pura depressão, entre um martelinho de Velho Barreiro com Underberg e outro, baixei a disografia da Legião Urbana - uma excelente trilha sonora pra momentos de depressão!

E já no segundo álbum da banda, (Dois), cantei com Renato Russo uma música que acertou em cheio aquilo que estava sentindo.

Sim, é provável que eu ser um pintor meia-boca tenha me feito ter mais simpatia pela música, e mais provável ainda que a tela que terminei essa semana (que ilustra essa postagem, numa qualidade muito aquém do que eu gostaria...) tenha ajudado muito pra essa escolha, mas enfim...

Então, aqui vai a letra de Acrilic on Canvas, que expressa perfeitamente como me sinto no momento:

Acrilic on Canvas
Legião Urbana
Composição : Dado Villa-Lobos / Renato Russo / Renato Rocha / Marcelo Bonfá

É saudade, então
E mais uma vez
De você fiz o desenho mais perfeito que se fez
Os traços copiei do que não aconteceu
As cores que escolhi entre as tintas que inventei
Misturei com a promessa que nós dois nunca fizemos
De um dia sermos três

Trabalhei você em luz e sombra
E era sempre, Não foi por mal
Eu juro que nunca quis deixar você tão triste
Sempre as mesmas desculpas
E desculpas nem sempre são sinceras
Quase nunca são

Preparei a minha tela
Com pedaços de lençóis que não chegamos a sujar
A armação fiz com madeira
Da janela do seu quarto
Do portão da sua casa
Fiz paleta e cavalete
E com lágrimas que não ficaram com você
Destilei óleo de linhaça
Da sua cama arranquei pedaços
Que talhei em estiletes de tamanhos diferentes
E fiz, então, pincéis com seus cabelos
Fiz carvão do baton que roubei de você
E com ele marquei dois pontos de fuga
E rabisquei meu horizonte

E era sempre, Não foi por mal
Eu juro que não foi por mal
Eu não queria machucar você
Prometo que isso nunca vai acontecer mais uma vez
E era sempre, sempre o mesmo novamente
A mesma traição

Às vezes é difícil esquecer:
"Sinto muito, ela não mora mais aqui"

Mas então, por que eu finjo
Que acredito no que invento?
Nada disso aconteceu assim
Não foi desse jeito
Ninguém sofreu

É só você que me provoca essa saudade vazia
Tentando pintar essas flores com o nome
De "amor-perfeito"
E "não-te-esqueças-de-mim"

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Crônicas Saxônicas - O Último Reino


Parece que foi uma vida atrás que fiz minha última postagem aqui... Não faz nem meio ano, mas eu sempre me sinto traindo quando passo um mês sem realizar uma tarefa que costumo fazer com regularidade - como tomar um café no Aquários, jogar uma horinha de Temple of Elemental Evil, fumar um charuto com o Valim...

E, além disso, para um blog que vai fazer dois anos (mês que vem!), cinco meses são quase um quarto da vida! Acho que é hora defazer as pazes com o Bloco de Notas...

Enfim, estou me desviando do assunto!

Apesar de estar me sentindo um traidor, cá estou para - ao menos para mim mesmo - me redimir um pouco! Tenho umas quantas coisas para comentar - andei lendo Shakespeare, algumas boas HQs e alguns outros livros e contos bem aleatórios... - mas decidi começar com este livro escrito por Bernard Cornwell.

Então, vamos nós!

Quando comecei a ler o livro - na introdução do mesmo! - eu comecei a torcer o nariz. Vemos, alí, o ponto de vista dos saxões em relação aos noruegueses. A figura pintada desses vikings me pareceu muito... Simplória. Eles aparecem como bárbaros covardes e ináptos. Ao menos, até a última página da introdução... Como eu disse, é o ponto de vista dos saxões! Logo no final desse capítulo introdutório, os noruegueses destróem a imagem que os saxões têm deles massacrando um pequeno exército na base da tática de guerrilha! Quando eu terminei de ler a introdução, eu sabia que eu estaria diante de um livro que ia gostar! E Cornwell não me decepcionou! O livro é emocionante! As batalhas são vívidas, e é possível, as vezes, estar com Uhtred, o protagonista do livro, quando ele toma o remo de um drakkar. O livro é envolvente, e Uhtred é um personagem fácil de se gostar. Basicamente, é um saxão com sangue quente, que se apaixona pelo modo de vida noruegues quando é raptado ainda pequeno por Ragnar, um líder de guerra viking, e criado como seu filho por quase uma década. Há, claro, muito mais a ser dito sobre ele, mas eu sempre detestei spoillers. Prefiro comentar depois, com quem já leu o livro. Eu me identifiquei muito com as dúvidas, as escolhas e a paixão feroz e passageira que Uhtred demonstra ao longo do livro. É interessante pensar em um adolescente num tempo em que o termo não existe, e Cornwell consegue criar muito bem o coração arredio do "quase homem" Uhtred enquanto ele se constrói.

Finalmente, como último comentário, preciso expôr minha alegria com o conteúdo absolutamente anti-católico do livro! Todos, absolutamente TODOS os padres são homens fracos, lamuriantes e delirantes! O mais fantástico nisso tudo é que Cornwell não está fazendo uma crítica, mas sim um retrato sobre aqueles homens - certamente com alguma licença poética, como com todos os outros personagens do livro - o que me deixava eventualmente com um canto da boca levantando pensando "como é que as pessoas não vêem com essa clareza óbvia?" Uma das minhas passagens favoritas do livro é o defrontamento da fé cristã com a lógica norueguesa, em que todos eles (os noruegueses) se comprometem em se batizar se o bispo de um monastério atacado por eles (ainda os noruegueses) conseguir realizar o mesmo milagre de são Sebastião! Simplesmente Hilário!