sexta-feira, 14 de agosto de 2009
Hellblazer
Bom, admito que nunca coloquei as mãos em um só número da revista (certo, não é completamente verdade; já peguei em duas delas, certa feita... Mas enfim!), mas lí todas as histórias via .cbr, um programinha que acho que foi realmente criado pra ler HQs scanneadas em formato de imagem, ao invez do incômodo pdf. Talvez seja um erro admitir isso, talvez não.
Ok, não vou começar à divagar...
Vamos nos ater à auto-proposição: Falar sobre Constantine e Hellblazer.
John Constantine faz parte do imaginário de todos os leitores de histórias em quadrinhos com mais de 15 anos - ou pelo menos, costumava ser assim, "no meu tempo"... - mas poucos tinham a oportunidade de realmente ler suas histórias em Hellblazer, o que tornava o personagem um mito muito maior, alias.
Eu sempre imaginava Constantine como um mago capaz de mover o mundo se quisesse, detentor de poderes cósmicos ultra-mega-super fodônicos! Quando finalmente pude ler Sandman, que é basicamente a parte mitológica do universo vertigo, fiquei imaginando Constantine anando por aí, disparando "bolas de fogo pelos olhos e raios pelo cú", ultrapassando as barreiras do Sonhar, invadindo qualquer lugar no Inferno, dando surras no Estrela da Manhã e coisas assim.
Claro, isso se devia muito pelo meu histórico de leitor de HQs de super-heróis, que me fizeram uma lavagem cerebral. Levei muuuitos anos pra pensar em HQs sem associa-las à capas coloridas e cuecas usadas sobre as calças, mas isso é conversa pra outro artigo.
De volta à Hellblazer.
Baixei as 50 primeiras edições de Hellblazer e comecei a ler, ávido para conhecer os super-poderes do ultra-mega poderoso John Constantine. E que decepção.... Depois das primeiras 10 edições, quase desiti da leitura. Era idiota, tratando com voodoo, fantasmas do vietnan e um sujeito com crise existêncial antes do fim do primeiro arco de histórias da própria revista? Ah, por favor!
Mas eu tinha aquelas outras 40 edições ocupando espaço no meu HD, e não consegui deixar de pensar nelas, por alguns dias. E, num momento de profundo nothing more to do, acabei sentando na frente do micro pra continuar a ler. Bom, o que posso dizer? Acho que é a partir dalí que Hellblazer se torna realmente bom... Temos algumas edições com um visual mais psicodélico, as origens de Constantine, seus primeiros contatos com o sobrenatural, Newcastle, mitos urbanos, magia xamântica... Constantine torna-se hippie, deixa a barba crescer, se perde, se reencontra, corta o cabelo... Muda! É uma pessoa viva, com anseios, um monte de problemas, amores mal resolvidos, vícios... E não tem poderes ultra-mega destruidores, longe disso! Resolve quase tudo apanhando muito e usando conhecimento sobre o oculto. Delano - o primeiro roteirista- faz o personagem tomar forma e vida de maneira absolutamente fabulosa! De uma homenagem à Sting, John vai se tornando um personagem palpável, vivo. Eu diria que ele é até mais humano do que muitas pessoas que vejo por aí, caminhando pela rua...
Eu ri muito, lendo Constantine madrugada adentro, assim como falei um bocado sozinho, chingando, admirando e torcendo por ele. E chorei, algumas vezes. Não que eu seja um sujeito durão, um macho que não demonstra sentimentos, mas eu não chorava com uma leitura há um bom punhado de anos.
Sobre o roteiro...
O primeir roteirista da revista é Jamie Delano. Ele tem um certo problema de ritmo no início, mas no fim das contas, acredito que a marcha forçada em que ele leva as primeiras edições tem seu mérito, adiante.
Garth Ennis assume o roteiro na edição 41, e dá início ao arco Hábitos Perigosos, que foi de onde saiu o odioso filme adaptado pro cinema, com o Neil no papel do Ocultista inglês. Imagino que Hellblazer devia fazer parte de uma mitologia de HQs adultas, nessa altura, e devia ter muito roteirista querendo escrever Constantine. Bom, Delano tinha feito um excelente trabalho durante as primeiras quarenta edições que escreveu, e certamente dar continuidade sem trocar os pés pelas mãos seria trabalho árduo. Mas era o Garth Ennis, afinal! E ele foi magistral! Seu primeiro arco de histórias muda tudo, depois ele faz o maior rebuliço na vida do mago, e cria várias situações inusitadas - embora ele acabe levando o inglês para os EUA, e criando algumas histórias muuuto estadunidenses pro meu gosto, ainda assim, são boas histórias.
Paul Jenkins, o terceiro roteirista fixo de Hellblazer, traz Constantine para mais perto do chão. Temos muitas histórias de fantasmas, aqui. Assombrações, arcos mais curtos, personagens marcantes, e histórias que repercutem nas edições posteriores, de modo bem consistente.
Warren Ellis escreve alguns arcos longos depois de Jenkins, descartando tudo o que havia sido escrito até então, usando muito mais o "mito" de constantine do que o que havia sido previamente sido escrito, criando novos personagens, tratando mais com mitos urbanos do que qualquer outra coisa, e deixando Constantine mais "livre" pra usar seus poderes místicos, ao invez de puro conhecimento oculto.
Brian Azzarello é o roteirista atual da revista, e eu não quero desmerecer o sujeito, mas infelizmente Marcelo Fruzin, o desenhista atual, simplesmente não se encaixa no esquema das coisas e isso atrapalha muito o roteiro de Azzarello, no meu ponto de vista. É como ler uma HQ da marvel, só que o personagem principal é um super-herói sem poderes. Sim, Fruzim tem um bom estilo, mas considerando o tipo de desenhista que primava pelo realismo e uso de luz e sombra nas primeiras 120 edições, ele simplesmente se perde. Faz o Constantine ter umas expressões "demoníacas", com sobrancelhas arqueadas e sombras pra realçar o seu ar de mistério, mas deixa o sujeito parecendo uma caricatura do Ash! Além disso, por edições inteiras, não vemos o Constantine de Fruzin acender um cigarro sequer...
...E sobre o desenho
Aproveitando o encejo, vou terminar este artigo falando um pouco sobre os principais desenhistas de Hellblazer.
John Ridgway, o primeiro desenhista, não era fantástico, mas era bom. Era realista, detalhista, e seu trabalho foi realmente prejudicado pelas cores "super-heroísticas" do final da década de 80.
Mark Bukinghan faz um trabalho muito decente, também, nas quase 20 edições que desenha. Nada demais, mas pelo menos cria uma atmosfera que segue a mesma linha de Ridgway.
Dave McKean faz uma pequena participação na revista em apenas dois números, mas a sua primeira participação, atada à um dos primeiros argumentos de Granth Morryson na revista, "Hold Me" é, na minha opinião, a melhor história antes do arco "Hábitos Perigosos". McKein fez várias capas de Hellblazer, antes e depois de sua participação como desenhista.
Depois de alguns desenhistas bem sofríveis que não fizeram mais do que participações tapa-buraco na revista, Willian Simpson é o desenhista que assume o mago ingês. Ele alterna algumas edições com Steve Dillon, que acaba assumindo a revista logo depois. Simpson é bom, e Dillon não parece muito à vontade no começo, mas acaba fazendo um bom trabalho quando assume em definitivo.
Sean Phillips, o último bom desenhista de Hellblazer, é o meu favorito. Ele usa e abusa de luz e sombra, alto contraste, tem um traço anguloso mas realista, e permeia as histórias com um ar sombrio absolutamente perfeito. Fico feliz que ele tenha desenhado um bom número de edições de Hellblazer.
Warren Pleece, o desenhista seguinte, é fraco. Ele é cartunesco demais, um desenhistazinho lugar-comum que não adiciona nada à revista. Ele não é tão destrutivo quanto os desenhistas posteriores, mas é uma espécie de "arauto do apocalipse".
Jonh Higgins, o substituto de Pleece, deixa Constantine com queixo de super-herói, e faz desenhos caricatos demais. O eixo Pleece-Higgins desfere um golpe duro em Constantine, mudando seu traço definitivamente, do realista para o cartunesco-contemporâneo, de um modo que parece irreversível. Marcelo Fruzim assume Hellblazer depois de Higgins, e eu já falei mal dele, não vou gastar mais linhas com o sujeito.
Como um último comentário, Tim Bradstreet desenhou uma única história do Constantine, o que foi fantástico e ao mesmo tempo triste, porque foi alí no meio do eixo Pleece-Higgins, e deu uma saudade dos bons desenhistas antigos...
Mas, a despeito dos desenhistas atuais, Hellblazer é 100% fantástico até alí o número 120. Depois a qualidade cai um pouco, mas não deixa de ser uma excelente leitura!
Pra quem tem paciência de ler no computador, ou a sorte de botar as mãos, Hellblazer é um dos melhores quadrinhos mensais ainda produzido!
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Engraçado, acabei de terminar o arco do Paul Jenkins. Não entendo de desenho, mas detesto a arte do Sean Philips. Principalmente os rostos, em alguns momentos parece que ele teve preguiça de fazer bem feito. enquanto que o Warren Pleece me pareceu mais aceitável.
ResponderExcluirMeu problema com o Pleece é que ele não funcioana, pra mim, dentro de Hellblazer, onde as histórias são mais, digamos, "adultas". Ele deve ser um bom desenhista pra histórias de super-heróis (particularmente de equipes adolescentes, a lá teen titans) do meu ponto de vista. Com relação ao Sean Philips, eu gostei muito do trabalho dele na revista por conta do ar sóbrio do desenho do sujeito. Ele não é perfeito, mas dentro da proposta de Hellblazer, acho ele sensacional.
ExcluirÉ importante notar, que todas as críticas contidas nessa resenha dizem respeito APENAS à Hellblazer. Nenhum dos elogios e críticas com relação aos desenhistas e roteiristas se aplicam à outras publicações.