sexta-feira, 21 de abril de 2017

Uma Estranha Família

Uma Estranha Família - Lembranças de um Lugar do Passado, é a, no mínimo, inusitada tradução do livro From the Dust Returned.

Adoraria entender porque o título, tão simples, foi traduzido de modo tão... Rebuscado. Um título bizarro, com direito à subtítulo - que alias, não faz sentido, apesar de eu QUASE conseguir entender a lógica se eu pensar muito, muito fortemente sobre a história do livro, mas definitivamente não sobre a história NO livro.

De acordo com Bradbury, no prefácio dessa edição, ele levou cerca de 55 anos pra escrever esse livro, reunindo partes de um projeto antigo, meio ressuscitado, costurando contos aqui e ali até chegar em seu formato final. Esse formato final é, basicamente, uma série de contos - alguns longos, outros com menos de uma página, servindo simplesmente como cola entre uma parte e outra do livro - alguns inéditos, outros revisados e alguns simplesmente reutilizados. Reconheci três dos contos do livro, vindos de outras coletâneas do autor, se bem que com algumas pequenas alterações (particularmente nos nomes dos personagens, locais e datas, pelo que pude perceber).

From the Dust Returned (prefiro não usar o bizarro nome traduzido) é uma longa saga de uma família de criaturas sobrenaturais, que contém vampiros, fantasmas, múmias e bruxas, contada da perspectiva de Timothy, o único humano normal entre os Elliots. "Família", no entanto, é um termo que eu não tenho certeza se é aplicável, apesar de ser atestado como tal no próprio texto. A coletânia de criaturas tem esse nome, mas não parece haver qualquer tipo de vínculo real entre cada um dos "parentes" da casa - além, claro, de suas naturezas sobrenaturais. Eu diria que eles são mais uma espécie de guilda, um juntamento de criaturas com características comuns, de eras e locais diferentes. Pelo menos foi o que me pareceu.

De fato, achei o livro como um todo meio desconjuntado. A família Elliot não parece uma família (mesmo que seja "fora dos padrões" ou "desajustada", como quiserem), e o livro em si não conta exatamente uma história. No fim é só um conjunto de contos, meio mal amarrados, que não tem começo, meio ou fim. Além disso, o estilo de escrita do livro varia de um lirismo meio nonsense em algumas partes, pra narrativas mais formais em outras partes, concreto aqui, psicodélico ali, conciso acolá, poético mais adiante. Na minha opinião, infelizmente - porque eu realmente gosto de Bradbury - esse livro simplesmente não funciona.

A edição da Ediouro merece ser mencionada, por seu capricho. A capa é linda, o interior tem algumas ilustrações no clima certo, e o livro veio até mesmo com um marcador de página próprio. Bom trabalho. Exceto, claro, pela tradução bizonha do título.

Juntando tudo, não é um livro que eu recomende. Leitura desparelha, que não é bem um livro nem uma coletânea de contos. O livro termina com uma impressão de "tá, mas e aí? Alguma coisa nessa história não devia fazer algum sentido?" e o personagem principal, Timothy, bem como quase todos os outros personagens, não tem um destino definido no final das contas. De fato, apesar de ser o personagem mais proeminente do livro, Timothy faz pouco mais do que aparecer aqui e ali no livro, sem ter realmente qualquer tipo de importância.

Infelizmente, um livro do Bradbury que eu definitivamente "desrecomendo".

segunda-feira, 17 de abril de 2017

Jaguadarte

Era briluz.
As lesmolisas touvas roldavam e reviam nos gramilvos.
Estavam mimsicais as pintalouvas,
E os momirratos davam grilvos.

"Foge do Jaguadarte, o que não morre!
Garra que agarra, bocarra que urra!
Foge da ave Fefel, meu filho, e corre
Do frumioso Babassura!"

Ele arrancou sua espada vorpal
e foi atras do inimigo do Homundo.
Na árvore Tamtam ele afinal
Parou, um dia, sonilundo.

E enquanto estava em sussustada sesta,
Chegou o Jaguadarte, olho de fogo,
Sorrelfiflando atraves da floresta,
E borbulia um riso louco!

Um dois! Um, dois! Sua espada mavorta
Vai-vem, vem-vai, para tras, para diante!
Cabeca fere, corta e, fera morta,
Ei-lo que volta galunfante.

"Pois entao tu mataste o Jaguadarte!
Vem aos meus braços, homenino meu!
Oh dia fremular! Bravooh! Bravarte!"
Ele se ria jubileu.

Era briluz.
As lesmolisas touvas roldavam e relviam nos gramilvos.
Estavam mimsicais as pintalouvas,
E os momirratos davam grilvos.



 - Tradução de Jabberwocky de Lewis Carroll por Augusto de Campos