quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Os Náufragos do Ar - A Ilha Misteriosa

Sempre tive uma curiosidade enorme de ler A Ilha Misteriosa, porque sabia que o livro concluía a história do Capitão Nemo, narrando seu destino depois dos acontecimentos narrados em Vinte Mil Léguas Submarinas, um livro que li ainda adolescente e que me deixou boas lembranças.

Infelizmente, porém, essa edição da editora Villa Rica - da qual eu nunca tinha ouvido falar, alias - contém apenas a primeira - e extremamente chata - parte do livro. Sem qualquer aviso de que se trata de uma versão parcial da obra, o livro me enganou lindamente.

Por alguma razão misteriosa, a editora decidiu por bem dividir a obra em dois -ou mais, não pesquisei - volumes. Sim, tem um "I" ali, depois do "subtítulo" do livro (eu só percebi isso agora, quando escaneei a capa pra ilustrar essa postagem. Uma escolha infeliz de cores esconde essa informação de maneira magistral. É quase um "onde está Wally"! Pior, a cena retratada na capa mostra, justamente, um dos últimos eventos da história, que obviamente não está presente no livro! Em nenhum momento desse primeiro volume há qualquer indício de que o vulcão explosivo da capa apresenta algum perigo aos náufragos - de fato, em um dado momento do livro, eles passeiam por dentro da cratera do vulcão, completamente inativo! Mancada feia, Vila Rica!

O livro, nessa versão estripada, narra a chegada e a "colonização" da ilha pelos náufragos, apenas, apresentando inúmeros mistérios - como o misterioso salvamento de Cyrus, o lider da expedição e a "criatura" do lago que salva Top, o cão grupo - que só serão revelados nos volumes seguintes. Bastante frustrante. Alias, falando no salvamento de Top, ele é atacado por uma criatura terrivelmente perigosa, uma "vaca-marinha" (na verdade, um dugongo) de uns... 14 quilos Considerando que um dugongo nasce com um peso que varia de 20 à 35 quilos, essa "terrível fera" devia ser um aborto morto-vivo, pelo peso. Um dos inúmeros erros do livro, que converte algumas medidas, como as de peso (e erram ao fazer isso) mas não distâncias, mantendo as milhas originais do livro. Uma confusão.

A Ilha Misteriosa trata do "naufrágio" de um grupo de cinco prisioneiros de guerra americanos, que, durante a guerra da sesseção escapam das tropas sulistas usando um balão, mas são pegos por um furacão que os joga em algum ponto do hemisfério sul, próximo à Nova Zelândia ("próximo" significa cerca de 2.500 quilômetros, nesse caso). O grupo, liderado pelo engenheiro Cyrus Smith, consegue, em meio ano, não só sobreviver na ilha (aparentemente abandonada) mas também criar uma colônia com duas habitações, com direito à paredes de tijolos, fornos, forjas, ferramentas de aço e até nitroglicerina! Sim, os caras são ninjas!

No decorrer da história (não contada nesse livro) eles acabam resgatando outro náufrago em uma ilha próxima, Ayrton (personagem de outro livro de Verne, Os Filhos do Capitão Grant), encontram e treinam um orangotango, enfrentam um ataque pirata e, finalmente, descobrem a presença do capitão Nemo na ilha - que no climax do livro, acaba sendo destruída pela erupção do Monte Franklin, um vulcão não tão inativo quanto se pensava. Sim, a segunda parte da história é bem mais eletrizante do que a primeira, o que me faz refletir no porque de dividir a obra em duas... Editoras. Nunca vou entender o que acontece dentro delas...

Enfim!

Aqueles que tiverem acesso à este livro e sua(s) continuação(ões) ou uma versão integral da Ilha Misteriosa podem ter certeza que é uma obra interessantíssima, particularmente se for lido em seguida de Vinte Mil Léguas submarinas.

Essa versão da editora Villa Rica, no entanto, por todos os problemas citados acima, não merece atenção. Há versões integrais da obra publicadas em português em diversas épocas, então não é exatamente uma dificuldade de se encontrar uma boa tradução integral, tanto em livrarias quanto em sebos. Sugiro fortemente que seja preferida uma versão com ilustrações - vindos da obra original - que são de encher os olhos!

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

The Heritage of Shannara

 Continuando com minha pequena aventura no cenário de Shannara, aqui vai a resenha da mais recente série de livros escritos por Terry Brooks para o cenário.

The Heritage of Shannara é uma quadrilogia de livros que se passa cerca de 300 anos depois da série original, composta por  The Scions of Shannara, The Druid of Shannara, The Elf Queen of Shannara e The Talismans of Shannara. Eu pretendia fazer uma resenha de cada livro, mas no final do primeiro volume fica claro que apesar de estar em quatro livros separados, essa série - assim como as séries que Brooks escreveu depois de sua trilogia original - é uma grande história única, e não faria sentido fazer uma resenha de cada um deles separadamente.

Heritage of Shannara é o primeiro arco de histórias passada depois da trilogia original (Sword, Elfstones e Wishsong) em ordem cronológica. Nessa saga, acompanhamos os quatro herdeiros da linhagem Shannara/Ohmsferd lidando com a última busca ditada pelo espírito de Alanon, o último dos Druidas. Eles devem lidar com uma nova ameaça que está infestado as Four Lands (eu realmente gostaria de achar uma tradução legal pra isso, mas "Quatro Terras" parece coisa de universo alternativo da DC Comics...), trazer os elfos de volta (sim, os elfos de Shannara estão SEMPRE fugindo/se escondendo/metendo a cabeça na areia e fodendo tudo no processo...) e ainda restabelecer a ordem dos Druidas - que, com Alanon, que era o último druida, morto há mais de 300 anos, significa criar uma nova ordem meio que do nada, na verdade.

Cada um dos três primeiros livros acompanha um dos herdeiros em sua busca particular, enquanto o quarto e último livro mostra o desfecho da história, com as explicações que não foram dadas ao longo dos livros anteriores, a maioria das explicações de porquês/comos as coisas aconteceram e como os herdeiros irão lidar com suas descobertas e com os resustados de suas buscas.

Uma das coisas que eu gostei muito nessa série foi o fato de Brooks ter trazido de volta todos os elementos da trilogia original de uma forma ou outra. Temos a Espada de Shannara, a Espada de Leah, as Pedras Ellficas originais, um possuidor do Wishsong, um druida solitário, três grupos em busca de três objetivos que vão mudar a história do mundo... É quase um remake, mas não se enganem, é uma história completamente diferente, apesar de todos os pontos em comum! E isso é o mais divertido em Heritage of Shannara!

Na verdade, depois de demorar algum tempo pra entender que tudo tinha mudado em termos de política das Four Lands - os anões escravizados, os elfos fugindo DE NOVO!, um grande exército humano dominando tudo e impondo suas leis tirânicas... - e que grande parte disso era, outra vez, maquinação de uma força maligna - muito embora dessa vez a tal força maligna aparentemente sabe o que está fazendo e tem um plano conciso e eficiente - o que me tomou boa parte do primeiro livro, o resto da história na verdade foi extremamente divertido. Em retrospecto, na verdade, eu acho que gostei mais dessa história do que dos três livros originais. Adoro quando o autor explora o cenário e faz o leitor pensar "Ei, eu lembro disso, lá daquele outro livro!"

Minha única crítica é que a história é muito enrolada. Muitos acontecimentos parecem tomar muito mais tempo do que o necessário, e certamente a história podia ter sido comprimida em três livros - ou, na verdade, se eu estivesse lendo os livros físicos, provavelmente acharia desperdício de capas a história não estar em um volume único.

Então, fora a encheção de lingüiça - que não é particularmente exagerada - e do maldito plot dos elfos fugindo e se escondendo em um lugar bizarro mais uma vez - que, isso sim, já cansou... - essa é uma boa história, com personagens interessantíssimos e um excelente uso do cenário desenvolvido ao longo dos outros livros!

Praqueles interessados em conhecer Shannara, definitivamente esse é um livro indicado pra tanto!